Autor Tópico: Cientista alemão divide Nobel de Física com pesquisador francês  (Lida 798 vezes)

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Offline Worf

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Cientista alemão divide Nobel de Física com pesquisador francês
« Online: 09 de Outubro de 2007, 23:56:32 »
Cientista alemão divide Nobel de Física com pesquisador francês
 
Modernos discos rígidos e tocadores de MP3 não seriam possíveis sem as pesquisas do físico alemão Peter Grünberg e do pesquisador francês Albert Fert, que dividem o Prêmio Nobel de Física deste ano.


Dois anos após a premiação do pesquisador bávaro Theodor Hänsch, novamente um cientista alemão é agraciado com o Prêmio Nobel de Física. Neste ano, Peter Grünberg, do Centro de Pesquisas de Jülich, divide o prêmio da Real Academia Sueca de Ciências com o pesquisador francês Albert Fert, da Universidade de Paris, pela descoberta da Magnetoresistência Gigante (GMR).

Grünberg e Fert descobriram, em 1988, o Efeito Magnetoresistivo Gigante (efeito GMR). O efeito permitiu o desenvolvimento de novos leitores de informação em pequenos discos rígidos, provocando um salto no desenvolvimento da capacidade de armazenamento dos drives não somente de computadores pessoais, mas também de tocadores de vídeo e de MP3.

"A indústria de iPod e MP3 não existiriam sem suas descobertas", explicou Borje Johansson da Academia Sueca de Ciências. Grünberg se demonstrou bastante alegre, mas não muito surpreso com a notícia do prêmio.

Ligação esperada

"Como já recebi muitas condecorações, perguntavam-me várias vezes 'quando vem finalmente o grande prêmio final?'", respondeu Grünberg, nesta terça-feira (09/10), no Centro de Pesquisas de Jülich, afirmando que estava em seu escritório quando a ligação de Estocolmo chegou. "Porque se sabe que a ligação de Estocolmo chega, geralmente, por volta das 11h30min da manhã", acrescentou o cientista com uma piscada de olho.

Grünberg nasceu em 1939 e trabalha desde 1972 no Instituto de Pesquisa de Corpos Sólidos do Centro de Pesquisas de Jülich. Em suas pesquisas fundamentais, ele se ocupou de camadas magnéticas microscópicas, descobrindo a Magnetoresistência Gigante, em 1988.

No mesmo ano e independentemente de Grünberg, Albert Fert, descobria a GMR. Fert, pesquisador da Universidade de Paris Sul e da empresa Thales, é um ano mais velho que seu colega alemão. A GMR foi patenteada, primeiramente, por Grünberg.

Mega e gigabites

A partir dos anos de 1990, a indústria começou a usar a patente da GMR. Em 1997, a IBM produzia comercialmente o primeiro drive que aproveitava o efeito GMR. Com o aumento da quantidade de dados, mais e mais mega e gigabites tiveram que ser armazenados em menor local.

Estas informações só podem ser acessadas, quando lidas por sensores de campos magnéticos. A quantidade de informação armazenada pode aumentar sensivelmente quando os sensores magnéticos são melhorados.

Vale a pena pesquisar na Alemanha?

Tal melhora foi possibilitada através das pesquisas de Grünberg e Fert. Segundo o Centro de Pesquisas de Jülich, o volume de negócio produzido com os resultados de tais pesquisas chega hoje a 100 bilhões de euros.

Achim Bachem, presidente do conselho diretor do Centro, afirmou que o reconhecimento do Prêmio Nobel a Grünberg é "dos mais belos momentos pelo qual passou o Centro de Pesquisas de Jülich desde a sua fundação".

Perguntado se valeria a pena pesquisar na Alemanha, Grünberg respondeu "Sim, definitivamente". Suas pesquisas não receberam, inicialmente, grande atenção das firmas alemãs, mas esta situação já haveria mudado. O pesquisador afirmou ainda que destinará o prêmio no valor de 1,42 milhão de euros para sua família e para que "finalmente possa pesquisar sem ter que fazer um pedido de ajuda de pesquisa para qualquer bagatela".(ca)

http://www.dw-world.de/dw/article/0,,2815567,00.html

Offline Dbohr

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Re: Cientista alemão divide Nobel de Física com pesquisador francês
« Resposta #1 Online: 10 de Outubro de 2007, 06:50:52 »
Legal e tal. Mas será que sou eu, ou vocês também tiveram a sensação que esse prêmio foi meio underwhelming, meio borocochô?

Offline Dr. Manhattan

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Re: Cientista alemão divide Nobel de Física com pesquisador francês
« Resposta #2 Online: 10 de Outubro de 2007, 09:43:25 »
Não foi não, Dbohr. Eu já esperava que essa dupla ganhasse o Noble faz tempo. O fato (que não tem sido enfatizado nas notas de imprensa) é que existe por traz desse efeito existe uma física nova
e interessante:
Os sistemas GMR são filmes finos magnéticos (Ni ou Co, por exemplo) intercalados por filmes metálicos
(espaçadores) não-magnéticos (Cu). Isso faz com que exista uma interação de troca de longo alcance
que acopla a magnetização dos filmes magnéticos. O sinal dessa interação oscila com a distância (espessura do espaçador), de forma que ela pode do tipo ferromagnética ou antiferromagnética.
Daí que, dependendo da espessura do espaçador, a magnetização dos filmes pode "preferir" ficar
alternada em cada filme. Isto é, as "camadas pares" têm magnetização pra direita, as "ímpares" para
a esquerda. A resistência do sistema como um todo surge do espalhamento dos elétrons, que
vai depender do spin dentro dos filmes magnéticos. A maneira mais simples de visualizar isso
é como um circuito com resistências em paralelo: uma para os spins "up" e outra para os "down".
Quando se aplica um campo magnético, a magnetização de todos os filmes fica paralela, e é como se uma
das resistências subitamente ficassse muito menor. Daí a magnetoresistência gigante.

A interação entre os filmes é um efeito de muitos corpos, devido aos elétrons de condução. Eles
carregam a informação da magnetização de um filme para o outro, intermediando uma interação efetiva
entre os filmes. Uma outra forma de se obter esse tipo de sistema é usando as chamadas válvulas de
spin, que também são baseadas num efeito muito interessante. Vou dar aula agora, mas depois posso
escrever mais.

P.S. É, também trabalho com isso.

P.P.S. O centro de pesquisa onde o Grunberg trabalha é fantástico. Parece a "Black Mesa Complex" do
jogo Half Life :hihi:
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Alan Watts

Offline Dbohr

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Re: Cientista alemão divide Nobel de Física com pesquisador francês
« Resposta #3 Online: 10 de Outubro de 2007, 10:12:12 »
Citar
P.S. É, também trabalho com isso.

Hehehehehehe! Puxa, eu estava começando a me sentir um ignorante :-)

Bom, valeu pelo esclarecimento. Comente mais depois de sua aula, então.

Offline n/a

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Re: Cientista alemão divide Nobel de Física com pesquisador francês
« Resposta #4 Online: 10 de Outubro de 2007, 13:35:24 »
Tinha um brasileiro envolvido na publicação do artigo (no grupo francês) que deu origem ao prêmio, vocês viram?

Offline Südenbauer

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Re: Cientista alemão divide Nobel de Física com pesquisador francês
« Resposta #5 Online: 10 de Outubro de 2007, 15:30:01 »
Tinha um brasileiro envolvido na publicação do artigo (no grupo francês) que deu origem ao prêmio, vocês viram?
Da UFRGS, não?

Offline Dbohr

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Re: Cientista alemão divide Nobel de Física com pesquisador francês
« Resposta #6 Online: 10 de Outubro de 2007, 15:34:01 »
Tinha sim. Não lembro o nome ou a Universidade, mas li sobre ele no blog de ciências da UOL.

Offline Dr. Manhattan

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Re: Cientista alemão divide Nobel de Física com pesquisador francês
« Resposta #7 Online: 10 de Outubro de 2007, 16:11:36 »
É o Baibich:

Citação de: Physical Review Letters
Phys. Rev. Lett. 61, 2472 - 2475 (1988)

Giant Magnetoresistance of (001)Fe/(001)Cr Magnetic Superlattices

    M. N. Baibich *, J. M. Broto, A. Fert, F. Nguyen Van Dau, and F. Petroff
    Laboratoire de Physique des Solides, Université Paris-Sud, F-91405 Orsay, France

    P. Eitenne, G. Creuzet, A. Friederich, and J. Chazelas
    Laboratoire Central de Recherches, Thomson CSF, B.P. 10, F-91401 Orsay, France

Received 24 August 1988

We have studied the magnetoresistance of (001)Fe/(001)Cr superlattices prepared by molecularbeam epitaxy. A huge magnetoresistance is found in superlattices with thin Cr layers: For example, with tCr=9 Å, at T=4.2 K, the resistivity is lowered by almost a factor of 2 in a magnetic field of 2 T. We ascribe this giant magnetoresistance to spin-dependent transmission of the conduction electrons between Fe layers through Cr layers.

fonte: http://prola.aps.org/abstract/PRL/v61/i21/p2472_1

O que eu ia comentar a mais é sobre a válvula de spin. Nesse caso, você tem
dois filmes magnéticos (de Ni, por exemplo) separado por uma camada não-magnética (como
cobre). Só que um deles está depositado sobre um antiferromagneto. Por um processo ainda
não muito bem compreendido, a magnetização do filme em contato com o antiferromagneto
fica "presa" (pinned) em uma direção. Isto é, é mais fácil mudar a direção de magnetização de
um dos filmes do que do outro (esse é o chamado efeito de "exchange bias"). Daí o nome válvula.
O efeito de magnetoresistência gigante também ocorre nesse sistema. Esse efeito está sendo
explorado no desenvolvimento de novas memórias RAM, as chamadas MRAM. Elas vão mudar a
forma de lidarmos com computadores, pois não são voláteis. Ou seja, não vai ser preciso "dar o
boot" no computador cada vez que o ligarmos.

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Alan Watts

Offline SnowRaptor

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Re: Cientista alemão divide Nobel de Física com pesquisador francês
« Resposta #8 Online: 11 de Outubro de 2007, 09:16:31 »
O que eu achei interessante no Nobel deste ano é que se trata de um trabalho com tantas, mas tantas, mas tantas aplicações diretas que pode despertar o interesse de muita gente "de fora" na Física. Pra divulgação (decente) esse prêmio é um prato cheio!

Vou ler direito o Scientific Background depois do meu exame de ingresso na pós graduação...
Elton Carvalho

Antes de me apresentar sua teoria científica revolucionária, clique AQUI

“Na fase inicial do processo [...] o cientista trabalha através da
imaginação, assim como o artista. Somente depois, quando testes
críticos e experimentação entram em jogo, é que a ciência diverge da
arte.”

-- François Jacob, 1997

 

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