
Projecto terá um total de 350 antenas
As primeiras 42 antenas parabólicas do ambicioso projecto de radiotelescópio Allen estão já a funcionar num vale da Califórnia. Quando estiver completo, o conjunto terá 350 antenas iguais, de seis metros, que funcionarão em grupo, graças a um sistema que inova a recepção da informação e o seu processamento.
O objectivo principal é a busca de sinais de civilizações extraterrestres, o que os cientistas esperam conseguir num espaço de 15 anos. Nesse período, o Allen acumulará mil vezes mais informação do que todos os radiotelescópios juntos, nos últimos 45 anos.
Os radiotelescópios analisam as frequências-rádio do espectro electromagnético. Os objectos astronómicos emitem energia nestas frequências e, no meio de todo o ruído universal, o desafio está em distinguir os sinais naturais e as eventuais mensagens inteligentes.
O novo radiotelescópio não se limitará à busca de inteligência no universo, mas fará outras observações. Os astrónomos esperam poder esclarecer a origem das galáxias e compreender melhor os buracos negros. A máquina vigia pedaços do céu mais depressa do que os radiotelescópios tradicionais e tem capacidade para filtrar interferências. Os avançados modelos de computador em acção neste conjunto permitirão retirar ruído produzido pelo homem e identificar rapidamente os sinais artificiais.
Embora o Allen não tenha por missão exclusiva a busca de civilizações extraterrestres, esta é uma forte motivação em torno do seu financiamento, metade do qual é privado. A sorte também terá um papel relevante. Só na nossa galáxia, calcula-se que haja cem mil milhões de estrelas. Descobrir ali sinais-rádio com padrões inteligentes equivale a encontrar um alfinete em cem mil milhões de palheiros.
Já vimos isto num filme de 1997, Contacto, onde Jodie Foster é uma cientista que trabalha numa obscura estação receptora e que detecta sinais-rádio de uma civilização avançada. Este é o sonho do SETI, um instituto de pesquisa científica que se dedicou à recepção e interpretação dos sinais nestas frequências. Será aliás o SETI e a Universidade de Berkeley que vão operar o conjunto.
Esta busca é também o sonho do fundador da Microsoft, Paul Allen, cuja fundação pagou metade deste projecto, 25 milhões de dólares (cerca de 20 milhões de euros). Paul Allen já explicou que a busca de sinais de civilizações exteriores o interessou desde uma conversa que teve com Carl Sagan, o astrónomo (já falecido) que escreveu o romance em que se baseou o filme Contacto.
O resto da verba é da responsabilidade de dezenas de instituições, nomeadamente a Universidade de Berkeley. Há também dinheiro público envolvido, mas em menor quantidade.
Embora já esteja desde sexta--feira a produzir imagens e a recolher dados, o radiotelescópio Allen levará ainda três anos a ser concluído. As suas primeiras imagens foram mapas de ondas--rádio da galáxia Andrómeda.
A velocidade da análise da informação é o segredo maior desta máquina, que poderá um dia descobrir o impensável.