O presidente da Bolívia, Evo Morales, explicou que defende a plantação de coca porque para os bolivianos "é sagrada" e "ajuda a suportar a vida a 4.000 metros de altitude".
"Eu não defendo o narcotráfico, defendo uma plantação que em nossa cultura é benéfica, ajuda a suportar a fadiga e a vida a 4.000 metros de altitude", disse Morales em uma entrevista publicada neste domingo pelo jornal italiano "La Repubblica".
Morales, que está hoje na Itália, onde recebeu um prêmio do centro Pio Manzú --entidade dirigida pelo Prêmio Nobel da Paz 1990 e ex-presidente soviético Mikhail Gorbachev--, disse que o que ele defende são "as plantações legais".
"Combato a idéia da extinção forçada da planta de coca, que para nós é sagrada, é um presente de Deus", disse.
"Nós não consumimos cocaína, esse é um problema de vocês, nós consumimos uma infusão de folhas, também as mastigamos e as usamos em remédios, além de fazer um bolo", explicou ao jornal.
Durante sua estadia na Itália, Morales se reunirá em Roma com a comunidade boliviana e com autoridades italianas, entre os quais estão o presidente da República, Giorgio Napolitano, o chefe de governo, Romano Prodi, e o presidente da Câmara dos Deputados, Fausto Bertinotti.
Além disso, o presidente boliviano, que é apaixonado por futebol, irá na terça-feira (30) a Trigoria, nas redondezas da capital, onde treina o clube de futebol Roma, para falar sobre sua campanha contra a Fifa, que proibiu partidas internacionais a mais de 3.000 metros de altura.
"Nosso estádio em La Paz está a 3.600 metros", comentou.
Na entrevista, o presidente latino-americano também traçou um balanço de seus dois anos no poder e falou de sua relação privilegiada com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
"Temos nacionalizado o gás e isso nos permitirá investimentos em projetos maiores em diversos programas sociais: o primeiro já colocamos em prática, que dá hoje a todos os idosos uma renda", afirmou.
"Depois iniciamos a reforma agrária: tiramos as terras não cultivadas dos latifundiários e as demos aos camponeses indígenas", disse.
Sobre a Venezuela, Morales disse que foi "o primeiro país a demonstrar sua amizade concreta quando pela primeira vez foi eleito na Bolívia um presidente indígena".
"Temos uma situação econômica semelhante, ou seja, com grandes recursos naturais, e compartilhamos alguns programas sociais como o de assistência sanitária gratuita das missões dos médicos cubanos e a perspectiva do socialismo", indicou.
Questionado sobre as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), Morales disse que "estas deveriam entregar suas armas porque o mundo pode mudar com a democracia" e porque "já não é mais tempo de lutas armadas".
O presidente boliviano também se queixou do tratamento dado a ele ou a algum membro de seu governo quando precisam ir às Nações Unidas. "Na última vez, nos impediram de aterrissar no [aeroporto] JFK com a desculpa de que havia muito trânsito e às vezes negam vistos aos ministros", disse.
"Parece que se divertem complicando nossa vida: hoje não temos problemas com os norte-americanos, mas com seu governo que atua de forma imperialista e contra a liberdade e a soberania de outros povos", comentou.
Sobre sua campanha de tirar a sede da ONU de Nova York, Morales explicou o que deveria mudar: "o Vaticano iria para Nova York e as Nações Unidas para Roma".
Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u340561.shtml