Texto extraído do editorial de um Jornal da minha cidade, crediditado a um estudante.
Achei uma boa reflexão, e, o principal, é que esse jornal é considerado conservador, e abriu espaço a um tópico dito "polêmico".
Apologia do ateísmo O ateísmo é algo presente na sociedade e indica uma posição filosófica racional e cética perante o mundo, dotado de uma visão racionalista e completamente desvinculada de misticismos desnecessários — e em “misticismo” inclui-se também a supervalorizada religião ocidental, o cristianismo. A crença no divino — ou no sobrenatural de maneira geral — é onipresente (com o perdão do trocadilho) em nossa sociedade. Para todos os cantos a serem olhados, há alguém pregando sua própria forma fantástica de criação do universo e sobre como não somos frutos de nucleotídeos autoreplicantes oriundos de uma sopa primitiva, e sim produtos de uma criação planejada por um ser supremo. Os ateus, em diametral oposição a essas pessoas, preferem ater-se ao demonstrável e observável; à ciência da realidade objetiva que explica fenômenos através de leis que podem ser aplicadas em todo e qualquer caso.
Ainda é presente na sociedade o pensamento que a descrença no sobrenatural advém da revolta interior com seu deus pessoal. Tal asserção não poderia ser mais falsa. Na verdade, a consciência atéia é proveniente da análise racional da conjuntura em que se está inserido e do questionamento mais básico — o “por quê?” — tal fazem as crianças com sete anos de idade. O naturalista, ou ateu, é o eterno cientista pueril: aquele que não se contenta em acreditar que as crianças nascem de uma sementinha que o papai planta na barriga da mamãe e, na verdade, querem entender o encontro dos gametas na tuba uterina e a fusão do núcleo deles, com a reunião dos cromossomos homólogos.
Muitos clamarão que a idéia de um deus é necessária para explicar o universo, e que o ateísmo não conseguiria, pela ciência, explicar a origem do universo, por exemplo, já que nem ao menos a origem da vida a tese darwinista a explica com objetividade. O fato é que o ateísmo não tem a pretensão de explicar o mundo de uma vez por todas, mas justamente o contrário: pretende explicá-lo passo a passo, com evidências mutuamente suportáveis e definitivamente não embasadas em opiniões, pessoas ou hipóteses que não resistem ao teste. O ateísmo consiste em uma visão desmistificada do mundo e possui, por princípio básico, a aceitação somente daquilo que possa ser comprovado. Ponto final.
Alguém poderia dizer:
“Ora, mas ateus não podem provar a inexistência de Deus!”. É claro que não podemos! Afinal, nem faz muito sentido dizer
“provar a inexistência”. O ônus da prova cabe ao afirmante e, como há pessoas que afirmam que há um deus, a prova cabe a elas. Se isso ainda é insuficiente, analogamente peço para que qualquer teísta me
“prove a inexistência” de trolls que vivem no subterrâneo de Manhattan. Eles existem, eu já vi, e tenho cinco amigos que confirmam sua existência. O que minha crença possui para ser menos válida que a dos teístas? Por favor, rogo que não caiam em um argumentum
“ad populum”…
Por fim, resta dizer qual a intenção que há em se escrever um texto deste estilo. Minha intenção não é convencer as pessoas de que o ateísmo é o melhor caminho a se seguir — isso seria até idiotice, dado que o ateísmo é uma convicção pessoal e advinda do questionamento interno —, mas sim expor aos teístas que nós não somos demônios bíblicos de rabo e chifre, nem mesmo revoltados com a vida. Somos, sim, pessoas que se preocupam em ter o mínimo discernimento sobre o mundo em que vivemos sem ter de apelar para aquilo que (supostamente) não pode ser compreendido pelas nossas mentes. Se há alguma intenção de conversão, ela é fazer com que aqueles que têm essa tendência naturalista de pensamento tenham a coragem de se assumir descrentes perante essa sociedade hipócrita e intolerante, que se traveste de moralista. Não é vergonha alguma admitir-se errado — e assim o farei tão logo haja evidência para a existência de um deus —, muito menos de professar sua descrença.
Ponho-me à disposição para eventuais respostas que surgirão a esse artigo, afinal, ao contrário do que se professa, política, futebol e religião são discutíveis sim.
Daniel A. B. Modolo é estudante