Nelson Rodrigues já disse: “Subdesenvolvimento não se improvisa. É obra de séculos”. Uma coisa que percebi é que é mais produtivo conversar com uma batata que persuadir certas pessoas a entenderem uma simples frase de Nelson Rodrigues.
Muitas pessoas crêem que seria possível para uma geração de heróis de mentalidade de país desenvolvido transformar o Brasil numa Suécia da noite para o dia. Segundo esse raciocínio seria possível para os pais do Reino Unido trocarem seus filhos menores com os pais do Irã, e como conseqüência, os índices de terrorismo religioso, teocracia e desigualdade naquele país muçulmano cairiam numa velocidade surpreendente. Como se todos os acontecimentos atuais ocorressem no vácuo blindado de eventos históricos, como se não existisse nenhuma herança institucional limitando reformas ( se hoje temos as absurdas clásulas pétreas da Constituição de 1988, imagine o Irã ), como se as decisões de indivíduos não tivesse uma relação de causalidade com o que eles receberam de educação e instrução na infância e na adolescência.
Aí uma pessoa que discorda de toda essa baboseira é acusada de acreditar que Dom João I é responsável pela eleição de Renan Calheiros e companhia, que se deve culpar os EUA pela polícia corrupta e os militares pelo lixo jogado nas ruas. Quando faltam argumentos, sobram os espantalhos e a ironia de quinta categoria.
Ótimo. Se for para fazer espantalho, vamos fazer outro. O nível de corrupção no Brasil é apenas devido à sem-vergonhice. Esqueçam aumentar o número de medidas que visem coisas como: evitar o excesso de regulamentação e de centralização estatal nas instituições; independência e controle mútuo entre poderes; burocracia regida pelo princípio do mérito; existência de mecanismos institucionalizados que garantam a participação e o controle da sociedade sobre o poder público; criação de instâncias que busquem o maior compartilhamento possível das decisões (consensualismo); imposição de um sistema de crime e castigo que aumenta o risco, na margem, da ação corrupta. Não se muda coisa que é resultado de sem-vergonhice. Aliás, quase todos os países ricos têm corrupção muito baixa por causa do nível de bondade intrínseca do povo.
John Kennedy já disse: “Não pergunte o que o seu país pode fazer por você, mas o que você pode fazer para o seu país”. Eu conheço muitas pessoas que reclamam, reclamam e nada contribuem para que essas mudassem, nem ao menos divulgar para as outras pessoas como as causas da corrupção podem ser mudadas institucionalmente ou indicar os incentivos e os benefícios sociais de mudanças em seu comportamento “lei de Gérson”. Preferem acreditar que mesmo que fizéssemos coisas desse tipo, não adiantaria nada, uma vez que no DNA do brasileiro já vem esse jeito sacana, essa indiferença à cooperação voluntária à sociedade, uma personalidade que só pensa em bunda e bola, e que tolera facilmente o ócio e a corrupção.
Está achando ruim? Para de reclamar e faz melhor do que aqueles mais contribuem ou contribuíram para que isso aqui ainda consiga ser chamado de país e não de lixo. Não adianta criticar se não somos capazes de fazer melhor. E quem dera se eu tivesse o mesmo talento dos melhores homens práticos intelectuais que esse país já teve.