Maio de 1997. O primeiro mandato do presidente Fernando Henrique se encaminhava para o final e tramitava no Congresso projeto de emenda constitucional que visava a permitir que presidentes disputassem uma reeleição. O bloco oposicionista entrou em campo através de agressiva mobilização lançada com o objetivo de desacreditar o governo. Pela estratégia, se a emenda viesse a ser aprovada, FHC iria para o pleito moralmente destroçado. Foram divulgadas, inclusive, gravações feitas por um certo Senhor X, que se tornou, por semanas, o mais famoso anônimo da história do país. Nelas, o referido cavalheiro, dotado de extraordinária capacidade de extrair confissões voluntárias de parlamentares corruptos, desmascarava o processo de compra de votos que teria sido posto em marcha para aprovar o projeto. Resultado da votação: 318 votos a 17, Fernando Henrique saiu ileso do episódio, venceu o pleito no ano seguinte e nós vamos morrer sem saber quem era e se de fato existiu o tal Senhor X.
É muito pouco provável que o leitor lembre desses eventos que ocuparam as manchetes nacionais há exatos oito anos. No entanto, eles me vieram à mente ao tomar conhecimento da pressão desencadeada sobre o Congresso durante a coleta de assinaturas para a constituição da CPI que investigará as denúncias de corrupção na EBCT. Não estivemos perante um misterioso Senhor X a gravar confissões extraídas por benéficas e misteriosas influências siderais. Não. O que tínhamos - e continuamos tendo - é a poderosa confluência, ostensiva, visível, publicamente assumida, de duas tropas de choque - a do Lula e a do Collor - contra a CPI. "Não tem mais pão-de-ló nem cafuné" para quem votar contra o governo, proclamava um vice-líder da bancada governista. Ou seja, há pão-de-ló e há cafuné para quem não assinou o pedido de CPI, para quem dele retirou sua adesão e para quem se aplicar em paralisa-la nos meandros regimentais.
Em vez de um anônimo qualquer, cinco ministros do governo, os senhores V, W, X, Y e Z, foram destacados para cabalar votos, estimular desistências e armar mecanismos de recompensa ou revide, usando para isso recursos públicos e tendo como objetivo evitar a investigação parlamentar sobre determinado setor da administração federal.
Estou convencido de que esse fato é muito mais grave do que aquele que estará sob investigação. Caberia perfeitamente, aliás, criar uma CPI para investigar as manobras montadas para evitar essa CPI.
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