« Online: 15 de Novembro de 2007, 01:50:09 »
Eu gostaria de discorrer das implicações de uma pessoa, evangélica, muçulmana ou católica e talvez até fundamentalista de sua religião* porventura almeje concentrar-se no curso de psicologia ou um profissional atuante da área porém, devoto. Esta questão eu penso que procede.
Primeiro que tenho conhecimento de perto deste fato e uma observação particular que me leva à curiosidade. Não uma curiosidade ao ponto de indicar alguém a um psicólogo(a) cuja inclinação mística e transcedental é evidente por professar uma fé, mas um caso confuso entre o limite da pura crença e da maneira de lidar com conflitos emocionais que sabemos não ter nada de paranormal ou provocados por 'espíritos'.
Diferentemente de outras áreas profissionais onde existem um limite muito bem definido entre convicções de ordem pessoal e o que o trabalho do indivíduo exige, o trabalho de uma pessoa de qualquer área de saúde mental se não tiver o bom senso de separar as coisas, fica uma situação quase de doutrinação. Porém, a grande maioria das áreas profissionais, eu sei que independe do que o profissional acredita ou deixa de acreditar. Por exemplo, na área das engenharias.
Para um engenheiro civil, não é importante para o contratante e as pessoas envolvidas em um empreendimento imobiliário, a fé das pessoas que serão beneficadas com o projeto ou mesmo com a convicção de fé de seus executores. Isso por que áreas consideradas como exatas, talvez assim denominadas justamente por não envolver os aspectos subjetivos ou emocionais das pessoas, são focadas na objetividade dos meios e a finalidade a que se destina.
Claro que quando alguém tem forte convicção de alguma ideologia ou ponto de vista, deixa transpirar de alguma forma esta convicção mas é bem menos relevante que a convicção de um profissional em ter de lidar com questões subjetivas e íntimas de outrem. Como negar que tempos atrás os distúrbios mentais como a esquizofrenia eram uma manifestação e provas irrefutáveis de "espíritos imundos" ?
Não me surpreenderia com a falta de limite entre crenças ou supertições e o tratamento racional dos distúrbios das pessoas. A ignorância cria mais fantasmas do que a ciência pode refutar. A fantasia é ilimitada. Ninguém está isento de em algum momento passar a ter ilusões ou delírios mesmo em se tratando de um profissional da área de saúde mental. A mente tem capacidade de criar manifestações virtuais de coisas ou objetos. http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI411294-EI238,00.html
Isto a ciência já conhece já faz algum tempo e inclusive, até simula as "manifestações espirituais" utilizando instrumentos computacionais e o próprio cérebro do sujeito.
http://ich.unito.com.br/oldsite/cerebro/cn04.htm
Sei que em momentos de fraqueza, muitas pessoas são bem mais vulneráveis ás opiniões e são induzidas facilmente seja por amigos ou quando procuram tais profissionais pagos pra ouvir suas lamúrias. Neste caso, quando alguém é investido na confiança de guardar segredos íntimos, que eu acho uma forma covarde de colocar suas paixões como verdade.
Como disse, não é o caso propriamente de áreas consideradas 'exatas' mesmo que fatores emocionais também estejam envolvidos nestas áreas como motivação ou entusiasmo, relacionamento interpessoal, facilidade de resolver conflitos e o agir de forma pró-ativa. Ainda assim, mesmo havendo ordem emocional, as tendências de pontos de vista de diferentes áreas têm ciência de que existe uma coisa bem objetiva chamada competitividade e neste mundo competitivo, espaço pra meras especulações de caráter pessoal é irrelevante por serem conflitivas. Mas quero voltar atenção no caso destas pessoas que têm como função ouvir as pertubações alheias.
Após a primeira pancada na igreja que foi dada quando os astrônomos como Nicolau Copérnico o qual afirmou que a terra não era plana em sua obra 'Sobre os Céus', assim como Galileu ao sistematizar os fenômenos mecânicos, e Johannes Kepler ao formular sistematicamente com grande rigor sobre a órbita da terra e os planetas em torno do sol deixando definitivamente a teoria teocentrista de lado, foi a vez de Charles Darwin. Darwin consternou o mundo ao publicar seu tratado de 'A Origem das Espécies' derrubando a teoria criacionista a qual diz que tudo foi previamente planejado por um ser superior. Foi também a vez de Freud em heresia, dar outra pancada.
Uma vez que o fundador da psicanálise, Sigmundo Freud (Não só Freud como deve haver tantos outros), é de público o seu ateísmo principalmente por aqueles que são da área da psicologia e o qual este quebrou todo o tabu do pecado original, tirou a completa falta de macularidade sexual das fases infantis (Desconheço o termo exato), apontou os instintos do homem como uma força que move tudo dentre outras coisas, é notório que suas idéias postuladas são incompatíveis com os dogmas religiosos.
Acho quase que também é incompatível alguém tão arraigado a uma religião, caminhar de todo o modo racional sem no entanto dar indicações ao suposto paciente que no seu 'âmago' há algum espírito que o desvia do caminho 'correto' e em última análise, encaminhá-lo a uma igreja. Esse seria ao meu ver, encaminhar alguém com problemas psíquicos á igreja, o cúmulo da incompetência de um profissional e também mais provável falta de ética. Porém, nada impediria de tal religioso(a)-psicólogo(a) fora de seus consultórios, indicasse informalmente o 'perturbado' ao seu templo de preferência.
Nada demais se não fosse um estudioso da mente humana. O que torna, no meu ponto de vista, uma deslealdade com aquilo que investiu na carreira e conhece os caminhos irracionais que levam o homem a cometar loucuras. A grande implicação negativa que eu acho, é fazer da bíblia a prescrição, o espírito santo a cura do mal e jesus como salvação.
*Afinal os fundamentalistas são os que mais acreditam firmemente em sua fé e não fazem concessões, mas é outra questão..
« Última modificação: 15 de Novembro de 2007, 01:55:00 por forced_existence »

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Um resto azul de sono ainda me ilude, mais visível se torna o meu fantasma, turvo entre a névoa da metamorfose.
Respiro este leve ar que sustenta o mundo, minha vida nada mais que este respiro, meu olhar nada mais do que esta procura...
Este o mundo a que vim, de pedra e sonho..