“No primeiro dia que fui à igreja (...). No final do culto o pastor disse: ‘Gente, eu estou recebendo uma revelação do espírito santo de que um varão entre vocês recebeu hoje a unção (...)’. Quando eu estava saindo, ele me segurou pelo braço: ‘Ei, rapaz... Ta fugindo do compromisso com o senhor?’. Ele sabia que era eu...”
“Outro dia na igreja, o pastor nos convocou para uma oração para curar Fulana, que sofria de leucemia. Começamos a orar, a mulher caiu no chão em prantos, disse que sentiu pontadas na coluna, era o espírito santo operando...”
“Wesley (pastor) foi lá em casa quinta feira para orarmos (...). Ele perguntou: ‘Esse é o quarto da sua irmã? Vamos orar aqui. (...) começamos a orar, minha irmã desmaiou, expulsamos o demônio (...), depois ela disse que sentiu um peso saindo das costas(...). Você acha que eu estou mentindo? (...) Seria bom ir lá para ver né? ‘Não, seria bom se acontecesse em qualquer lugar com qualquer pessoa’(...).”
“Outro dia Wesley me perguntou por que eu estava faltando algumas reuniões da igreja. Respondi que estou sem dinheiro para abastecer o carro pra sair de casa, minhas despesas são contadas na ponta do lápis. Ele me contou que quando viajou para Caruaru (PE) apareceu uma oportunidade para cuidar de uma igreja e de lá e ele tiraria três vezes mais do que tira aqui (João Pessoa). Mas foi para lá sem consultar ao senhor, pra saber se devia ou não ir. Depois ele me disse que sua vida ficou muito complicada, que ele não tinha mais paz com a família, então voltou para João Pessoa. Então ele percebeu que aquilo não era o que o senhor queria para ele, e desde que voltou para casa, teve paz, mesmo tirando menos. Então me disse ‘Walber, não tente fugir do caminho que o senhor planejou pra você, ou vai ser pior.’”
Essas são algumas dentre outras história que ouço de um crente evangélico, amigo de infância. Pessoas que falam em línguas, pessoas que traduzem as línguas. A irmã dele, que estava endemoniada, certa vez afirmou que viu pratos e panelas voando na casa do vizinho (na época, o pastor Wesley). Ela tem trinta anos, mas tem o juízo frouxo, titica de galinha. O tal demônio só se apossa dela. Nunca vi ele nem ninguém que não têm o miolo mole possuído (incluindo eu). Só pessoas fracas do juízo e altamente sugestionáveis são passíveis de ter esse comportamento ridículo. Quanto ao tal pastor que recebeu a revelação do espírito santo de que Walber havia recebido a tal unção, não lhe havia sido revelado pelo senhor o nome dele.
A tal Fulana supostamente curada de leucemia (estranho nenhum médico ou pesquisador ter se interessado pelo caso dela), levanta um monte de questões. Se eles acreditam com tanta veemência assim que o senhor jesus cura enfermos de câncer (e outras doenças, obviamente), por quê pagam planos de saúde? Porque ele me justificou a cura da tal fulana assim, citando as promessas de jesus (...em meu nome curarão os enfermos impondo as mãos sobre eles).
Quanto ao pastor Wesley, eu diria que não sei qual é o mais canalha dos dois: o tal senhor por infernizar a vida dele só por ter ido atrás de mais dinheiro ou o próprio Wesley por ameaçar o pobre do Walber com histórias medonhas sobre o caráter divino (ou a falta dele) em caso de desobediência, ou melhor desvio do caminho traçado por ele que temos que seguir, apesar do livre arbítrio, senão vai ser pior. Eu tenho bons motivos para supor que a história real seja bem menos horripilante do que ele afirmou.
Sou ateu desde que me entendo por gente. Durante muito tempo achei que eu tinha algum problema (provavelmente também pelo fato de não ter conhecido nenhum ateu na adolescência) por não me deixar levar por histórias fantásticas de mágica e de possessões demoníacas ou divinas. Ou por achar absurdo a opressão religiosa, onde nós nascemos pecadores e temos que passar a vida pedindo perdão por termos nascido, perdão por sermos do jeito que somos mesmo sem ter tido culpa nem ter pedido para nascer, perdão por viver e perdão por sentir prazer.
Tópico: deus e o demônio por toda parte (Lida 462 vezes)