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Padres negros são minoria no BrasilPara estudiosos, número reduzido está ligado à discriminação internaJosé Maria MayrinkA Igreja está pagando caro pela discriminação contra os negros, de até 60 anos atrás, quando dioceses e congregações religiosas só aceitavam candidatos brancos para o sacerdócio. Se não tivesse havido esse preconceito, que vigorou em muitos seminários e conventos até a edição da Lei Afonso Arinos, de 1951, o clero brasileiro, que tem hoje 17,5 mil padres, poderia ser muito mais numeroso."Em vez dos mil sacerdotes negros atuais, teríamos uns 12 mil", calcula frei David Raimundo Santos, da Ordem dos Frades Menores, autor de um ensaio sobre o tratamento dado aos negros em cinco séculos de evangelização no Brasil. Frei Fabiano Aguilar Satler, que estudou a discriminação de negros na vida religiosa - especialmente na ordem franciscana, à qual pertence - chegou à mesma conclusão. "A discriminação institucional explica a falta de padres, porque até há pouco tempo era pequeno o número de padres negros e mulatos", diz esse frade de ascendência alemã, ao comparar o número de padres negros com o de habitantes.D. José Maria Pires, arcebispo emérito (aposentado) da Paraíba e um dos pioneiros da luta contra a discriminação, acha que a situação melhorou muito nas últimas décadas, mas adverte que ainda existem problemas. "A Igreja não discrimina mais, mas os negros ainda não colheram todos os resultados de uma reação que começou com o Concílio Vaticano II (1962-1965) e ganhou força com reuniões como a de Puebla (1979), onde o episcopado latino-americano advertiu que os afrodescendentes não receberam a atenção que deveriam ter recebido", diz d. José Maria.Militante da causa, o arcebispo da Paraíba, que ganhou os apelidos de d. Pelé e d. Zumbi entre os colegas da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a cujas assembléias comparecia vestindo trajes africanos, continua a brigar, aos 88 anos de idade, em defesa dos negros. "Na próxima terça, vou participar de uma caminhada em João Pessoa para comemorar o Dia da Consciência Negra", anunciou em Belo Horizonte, onde passou a morar depois de se aposentar.Pioneiro na luta, ele diz que apenas fez a sua parte, como afrodescendente. "Quem mais incentivou a resistência contra a discriminação foram homens como o cardeal d. Paulo Evaristo Arns (SP), d. Hélder Câmara (Olinda e Recife) e o bispo d. Pedro Casaldáliga (de São Félix do Araguaia)."Ex-aluno dos padres lazaristas em Diamantina (MG), d. José Maria diz que sofreu discriminação como seminarista, padre e bispo. "Logo que entrei no seminário, fui posto de castigo pelo padre disciplinário juntamente com um colega com quem havia brigado. Quando o reitor perguntou o que havia acontecido, o disciplinário respondeu: ?Aquele é de boa família, o negro é que não presta?, inocentando o branco e jogando a culpa em mim."O bispo de Bagé (RS), d. Gílio Felício, de 58 anos, responsável pela Pastoral Afro-Brasileira na CNBB, que está assumindo a coordenação da Seção Afro-Americana do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), pertence a uma geração mais recente, menos preconceituosa, mas também enfrentou barreiras. "Quando eu quis entrar no seminário em Santa Cruz do Sul (RS), a direção rejeitou meu pedido, porque parecia estranho que um menino negro que engraxava sapatos e vendia jornal nas ruas pretendesse ser padre." Ele foi estudar em um colégio dos irmãos maristas e só foi admitido no seminário um ano mais tarde."Na véspera de minha ordenação, em 1978, ocorreu em uma paróquia da periferia de Santa Cruz do Sul outro incidente que poderia ser considerado discriminação, mas que atribuo à falta de informação das pessoas, sem nenhuma maldade. Quando uma senhora comentou que eu era o negrinho que seria ordenado padre, outra disse que, se isso acontecesse, ela não queria ver nem a minha sombra à sua porta. As duas mulheres não imaginavam que eu falasse alemão e pudesse entender o que estavam falando." Tempos depois, a mulher o convidou para fazer o casamento de uma filha.MUDANÇAA CNBB, o Celam e a Santa Sé apóiam a pastoral afro e reafirmam, em documentos, sua opção preferencial pelos indígenas e negros, mas há dioceses que não seguem a orientação.Para o padre Jurandyr Azevedo Araújo, secretário da Pastoral Afro-Brasileira da CNBB, só agora está começando a haver mais respeito pela diversidade cultural na Igreja. Não por concessão da hierarquia, mas graças à luta de bispos, padres e freiras negros que se reúnem para discutir sua situação e reivindicar seus direitos.Dos 430 bispos brasileiros, só 12 são negros. Os padres não passariam de mil, a julgar por um levantamento quantitativo feito pelo Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (Ceris) junto às dioceses, ordens e congregações.
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Minha avó (católica fervorosa, teve vários arranca-rabos com meu irmão crentão) detestava negros e se justificava na própria religião.