Autor Tópico: Bebês são capazes de julgar pessoas  (Lida 1633 vezes)

0 Membros e 1 Visitante estão vendo este tópico.

Atheist

  • Visitante
Bebês são capazes de julgar pessoas
« Online: 23 de Novembro de 2007, 14:30:08 »
Mais lenha na fogueira natureza x cultura...

Citar
Bebês são capazes de julgar pessoas

A equipe da Universidade de Yale realizou um estudo envolvendo 12 bebês de seis meses e 16 com dez meses, em que fizeram com que eles assistissem a uma animação com três personagens diferentes.

No desenho, um dos personagens tenta subir o que parece ser uma colina. Um segundo ajuda esse personagem, empurrando-o para cima da colina, e um terceiro o atrapalha, empurrando-o para fora.

Depois de os bebês assistirem à animação várias vezes, os cientistas mostraram a eles dois bonecos de madeira, um parecido com o personagem que ajuda o outro a subir e outro parecido com o que atrapalha.

O resultado foi que todos os bebês de seis meses e 14 dos bebês de dez meses escolheram o boneco do personagem “bonzinho”, que ajuda.

“Nossas descobertas indicam que os humanos realizam avaliações sociais num estágio muito anterior de desenvolvimento do que se pensava, e sustenta a tese de que a capacidade de avaliar indivíduos com base em suas interações sociais é universal e não depende de aprendizado”, dizem os cientistas em um artigo publicado na revista Nature.

Moral

Outros experimentos foram feitos para descartar outras explicações para o comportamento demonstrado pelos bebês, como uma possível preferência dos bebês por ações de empurrar algo para cima ou para baixo ou pela aparência de um dos personagens.

“Nós não podemos dizer se é algo inato, mas podemos dizer que é algo pré-lingüístico”, disse a cientista Kiley Hamlin, que liderou a pesquisa.

“Nós não achamos que esses bebês têm qualquer noção de moral, mas parece ser uma parte essencial da moralidade sentir uma empatia por aqueles que fazem coisas boas e o contrário por aqueles que fazem coisas más – parece ser uma parte importante de um sistema racional e moral que virá depois.”

O fato de crianças tão jovens mostrarem sinais de inteligência social não surpreendeu Hamlin.

Segundo ela, os pais deveriam ter em mente que os bebês são capazes de perceber muita coisa sozinhos.

“Ainda com pouca idade, eles são eficientes criaturas sociais. Eles percebem quem é bom de se ficar junto sem muita ajuda.”

Pesquisas anteriores já haviam mostrado que os bebês, nos seus primeiros seis meses, mostram uma predileção por outros bebês com base na aparência do rosto dos coleguinhas.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/11/071121_bebe_inteligenciarg.shtml

Offline Südenbauer

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 10.297
  • Sexo: Masculino
Re: Bebês são capazes de julgar pessoas
« Resposta #1 Online: 23 de Novembro de 2007, 14:53:16 »
Sem o apoio da neurociência e da psicologia essa pesquisa é só interessante.

Atheist

  • Visitante
Re: Bebês são capazes de julgar pessoas
« Resposta #2 Online: 23 de Novembro de 2007, 15:08:19 »
Esta área de estudo se chama etologia.

Narkus

  • Visitante
Re: Bebês são capazes de julgar pessoas
« Resposta #3 Online: 23 de Novembro de 2007, 15:14:56 »
Não fiquei nem um pouco impressionado...

Tem muita criança que pré-julga com muito mais acertos do que muitos marmanjos por aí.

O costume de adultos subestimar a capacidade de percepção instintiva das crianças talvez seja até benéfica, porque os pais precisam se sentir seguros perante a criança. Ou talvez seja pressões culturais que influenciam nesta forma precipitada dos adultos subestimar os potenciais de percepção das crianças.

Autores como Steven Pinker e até mesmo o biólogo Dawkins já deram umas "palhinhas" sobre isso. Em seus livros já podemos achar suposições com bons embasamentos científico de que as crianças talvez já nasçam pré-dispostas a julgar.

Narkus

  • Visitante
Re: Bebês são capazes de julgar pessoas
« Resposta #4 Online: 23 de Novembro de 2007, 15:15:57 »
Esta área de estudo se chama etologia.
Neste caso seria uma "etologia" humana, pois trata-se de padrões comportamentais visivelmente instintivos, considerando que as crianças não tiveram tempo de assimilar alguma cultura.

Offline Südenbauer

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 10.297
  • Sexo: Masculino
Re: Bebês são capazes de julgar pessoas
« Resposta #5 Online: 23 de Novembro de 2007, 15:43:04 »
Esta área de estudo se chama etologia.
Yep.

Offline Nyx

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 7.758
  • Sexo: Feminino
  • nyx
Re: Bebês são capazes de julgar pessoas
« Resposta #6 Online: 23 de Novembro de 2007, 20:10:38 »
Esta área de estudo se chama etologia.
Neste caso seria uma "etologia" humana, pois trata-se de padrões comportamentais visivelmente instintivos, considerando que as crianças não tiveram tempo de assimilar alguma cultura.

Instintivo?

Elas reconheceram figuras e assimilaram comportamentos.

Isso foi instintivo?

Atheist

  • Visitante
Re: Bebês são capazes de julgar pessoas
« Resposta #7 Online: 23 de Novembro de 2007, 20:23:49 »
Esta área de estudo se chama etologia.
Neste caso seria uma "etologia" humana, pois trata-se de padrões comportamentais visivelmente instintivos, considerando que as crianças não tiveram tempo de assimilar alguma cultura.

Instintivo?

Elas reconheceram figuras e assimilaram comportamentos.

Isso foi instintivo?

Uma vez que não foi aprendido, pois não houve tempo hábil para tanto, se trata de algo inato ou instintivo.

Offline Rodion

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 9.872
Re: Bebês são capazes de julgar pessoas
« Resposta #8 Online: 23 de Novembro de 2007, 20:39:06 »
iêi, viva a natureza humana e os valores absolutos.
"Notai, vós homens de ação orgulhosos, não sois senão os instrumentos inconscientes dos homens de pensamento, que na quietude humilde traçaram freqüentemente vossos planos de ação mais definidos." heinrich heine

Offline Nyx

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 7.758
  • Sexo: Feminino
  • nyx
Re: Bebês são capazes de julgar pessoas
« Resposta #9 Online: 23 de Novembro de 2007, 21:04:48 »
Esta área de estudo se chama etologia.
Neste caso seria uma "etologia" humana, pois trata-se de padrões comportamentais visivelmente instintivos, considerando que as crianças não tiveram tempo de assimilar alguma cultura.

Instintivo?

Elas reconheceram figuras e assimilaram comportamentos.

Isso foi instintivo?

Uma vez que não foi aprendido, pois não houve tempo hábil para tanto, se trata de algo inato ou instintivo.

Yep, mas os bebês assistiram cenas, o que garante que não aprenderam com as cenas?

Atheist

  • Visitante
Re: Bebês são capazes de julgar pessoas
« Resposta #10 Online: 23 de Novembro de 2007, 21:11:06 »
Yep, mas os bebês assistiram cenas, o que garante que não aprenderam com as cenas?

O que você aprende vendo isso?:
Citar
No desenho, um dos personagens tenta subir o que parece ser uma colina. Um segundo ajuda esse personagem, empurrando-o para cima da colina, e um terceiro o atrapalha, empurrando-o para fora.

A cena, pura e simplesmente, não indica o que é certo e o que é errado. Isto é um julgamento que deve ser feito por cada um. Teoricamente, sabemos que é certo ajudar, errado atrapalhar. Mas alguém nos ensinou isso ou sabemos por instinto? A pesquisa mostra que sabemos por instinto.

Offline Buckaroo Banzai

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 38.735
  • Sexo: Masculino
Re: Bebês são capazes de julgar pessoas
« Resposta #11 Online: 27 de Novembro de 2007, 18:23:06 »
Achei meio suspeito. Como poderia ser feita uma avaliação desse tipo, não havendo nem teoria da mente? :hein: ...bem, talvez a criança esteja avaliando apenas como resultado daquela "coisa", sem imputar nela uma mente. Ainda que pareça estar se identificando, empatizando com alguém. Mas a hipótese de funcionar mesmo com "coisas", em vez de bonecos parece ter sido descartada, segundo disseram.

É complicado esse tipo de avaliação com bebês. Há algum tempo, publicaram um artigo propondo que os bebês teriam "cliparts mentais" de aranhas, porque são perigosas, e aos bebês, temê-las instintivamente conferiria vantagem reprodutiva (acho bem mais fácil que humanos adultos inteligentes que cuidam da criança manterem-nas num ambiente mais seguro, e acho que isso atrapalha incalculavemente o coeficiente de fitness que isso poderia ter, se existisse tal variação comportamental).

Fizaram um teste, mostrando imagens de aranhas, e depois ícones de aranhas "certas" e de não-aranhas, com patas ordenadas de forma errada e etc. Os bebês eram capazes de "generalizar", que o ícone de aranha era igual à aranhas, enquanto ícones "aranhóides" com pernas arranjadas de forma anti-natural para aranhas e segmentos corporais errados, etc, não eram vistos como aranhas. E daí, se bem me lembro, concluiram a coisa toda, que os bebês tem medo instintivo de aranhas e "esquemas mentais" de aranhas genéricas.

O problema é que, tanto quanto me lembro, simplesmente avaliaram que os bebês olhavam mais para as pseudo-aranhas do que aos ícones de aranha "de verdade". Isso ocorre porque o bebê fica entediado de ver a mesma coisa repetidas vezes, e presta mais atenção no que é novo, excitante, no caso, os ícones de "não-aranha". Possivelmente, um experimento realizado com figuras icônicas e fotos de carros, e ícones de "pseudo carros", teria o mesmo resultado, e daí concluiriam que nas últimas décadas os bebês desenvolveram um instinto para temer carros, pois estes os atropelam, diminuindo sua aptidão, enquanto os bebês que instintivamente temem carros, se reproduzem mais.

Não sei se esse mesmo mecanismo estaria por trás, só sei que é meio complicado isso. Será que, por exemplo, havia grupos de bebês de controle, na qual os bonecos faziam ações contrárias ou "nulas", e eles não demonstravam preferência por qualquer boneco?


Quanto a "instintividade". Esses bebês nessa idade ficam já em contato com outros bebês e tem interações "sociais", ou praticamente ficam o tempo todo no berço sem contato algum com outros bebês?

Offline Buckaroo Banzai

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 38.735
  • Sexo: Masculino
Re: Bebês são capazes de julgar pessoas
« Resposta #12 Online: 27 de Novembro de 2007, 18:34:26 »
Eu não acho suspeito o resultado em si. Acho que numa idade mais "certa", poderia ser constatado algo equivalente e que levasse à conclusão de um altruísmo natural, e etc. Só acho estranho essa aparente teoria da mente tão precoce, quando o que se pensava era que se desenvolvesse apenas lá pelos 3 anos, um pouco mais cedo quando há irmãos mais velhos de idade aproximada.


Não acho que seja, de qualquer jeito, tanto uma coisa de natureza vs desenvolvimento, acho que é algo que provavelmente tem que ser desenvolvido, e pode ser atrapalhado. Não é "inato" no mesmo sentido de que a pele é inata. Acho que é algo mais "inato" como se pode dizer que a habilidade para linguagem humana é inata. Podem haver problemas de desenvolvimento de linguagem inatos, mas também puramente de desenvolvimento. O pensamento dos bebês já está funcionando, eles estão aprendendo desde que nascem. E provavelmente mais do que se pensava, se essa implicação da teoria da mente ser bem anterior fizer sentido mesmo, se eu não estiver pensando nenhuma bobagem.


Marcon

  • Visitante
Re: Bebês são capazes de julgar pessoas
« Resposta #14 Online: 27 de Novembro de 2007, 20:24:03 »
Também é interessante se lembrar do caso do cavalo que sabia matemática e conhecimentos gerais...

cadê?

Atheist

  • Visitante
Re: Bebês são capazes de julgar pessoas
« Resposta #15 Online: 27 de Novembro de 2007, 21:06:25 »
Também é interessante se lembrar do caso do cavalo que sabia matemática e conhecimentos gerais...

Não, ele não sabia, ele percebia quando o criador dava sinais sutis do momento de parar de contar, é diferente.

Atheist

  • Visitante
Re: Bebês são capazes de julgar pessoas
« Resposta #16 Online: 27 de Novembro de 2007, 21:19:13 »
Achei meio suspeito. Como poderia ser feita uma avaliação desse tipo, não havendo nem teoria da mente? :hein: ...bem, talvez a criança esteja avaliando apenas como resultado daquela "coisa", sem imputar nela uma mente. Ainda que pareça estar se identificando, empatizando com alguém. Mas a hipótese de funcionar mesmo com "coisas", em vez de bonecos parece ter sido descartada, segundo disseram.

É complicado esse tipo de avaliação com bebês. Há algum tempo, publicaram um artigo propondo que os bebês teriam "cliparts mentais" de aranhas, porque são perigosas, e aos bebês, temê-las instintivamente conferiria vantagem reprodutiva (acho bem mais fácil que humanos adultos inteligentes que cuidam da criança manterem-nas num ambiente mais seguro, e acho que isso atrapalha incalculavemente o coeficiente de fitness que isso poderia ter, se existisse tal variação comportamental).

Fizaram um teste, mostrando imagens de aranhas, e depois ícones de aranhas "certas" e de não-aranhas, com patas ordenadas de forma errada e etc. Os bebês eram capazes de "generalizar", que o ícone de aranha era igual à aranhas, enquanto ícones "aranhóides" com pernas arranjadas de forma anti-natural para aranhas e segmentos corporais errados, etc, não eram vistos como aranhas. E daí, se bem me lembro, concluiram a coisa toda, que os bebês tem medo instintivo de aranhas e "esquemas mentais" de aranhas genéricas.

O problema é que, tanto quanto me lembro, simplesmente avaliaram que os bebês olhavam mais para as pseudo-aranhas do que aos ícones de aranha "de verdade". Isso ocorre porque o bebê fica entediado de ver a mesma coisa repetidas vezes, e presta mais atenção no que é novo, excitante, no caso, os ícones de "não-aranha".

Bom, um experimento bem conduzido mostraria cada imagem por igual período. A não ser que fosse facultado aos bebês olhar o tempo que quisesse para cada imagem.

Agora, o que pode acontecer, é que os bebês, olhando para as imagens de pseudo-aranhas estivessem passando mais tempo observando por pensar ser algo conhecido mas não bater com a imagem exata...


Citar
Possivelmente, um experimento realizado com figuras icônicas e fotos de carros, e ícones de "pseudo carros", teria o mesmo resultado, e daí concluiriam que nas últimas décadas os bebês desenvolveram um instinto para temer carros, pois estes os atropelam, diminuindo sua aptidão, enquanto os bebês que instintivamente temem carros, se reproduzem mais.


Bom, há experimentos com chimpanzés que desmentem isso.

Chimpanzés, como humanos, parecem ter medo instintivo de cobras. Pegou-se então chimpanzés criados em cativeiro, que nunca haviam visto cobras na vida e mostraram vídeos de outros chimpanzés tendo reações de medo e adversidade às cobras. O resultado foi que quando viram uma cobra, eles sabiam que era perigoso. Seria aprendizado?

Fizeram um teste utilizando uma imagem de flores e mostrando os chimpanzés tendo as mesmas reações de antes, com medo e tal. Será que os chimpanzés agora temiam flores? Sim, mas por um curto espaço de tempo, extremamente menor do que o que ficou gravado em relação às cobras. Seria aprendizado ou instinto?

Por que um criança brinca com arma de fogo de brinquedo e tem medo de inseto ou aranhas ou cobras de brinquedo?

Citar
Não sei se esse mesmo mecanismo estaria por trás, só sei que é meio complicado isso. Será que, por exemplo, havia grupos de bebês de controle, na qual os bonecos faziam ações contrárias ou "nulas", e eles não demonstravam preferência por qualquer boneco?

É uma boa pergunta. No entanto, o que explicaria a reação dos bebês ao escolherem o bonzinho?


Citar
Quanto a "instintividade". Esses bebês nessa idade ficam já em contato com outros bebês e tem interações "sociais", ou praticamente ficam o tempo todo no berço sem contato algum com outros bebês?

Podem até ficar em creches, mas o contato em si com outros bebês é extremamente reduzido, pois não há comunicação. Mesmo que houvesse interação com outros bebês, não faria diferença.

Atheist

  • Visitante
Re: Bebês são capazes de julgar pessoas
« Resposta #17 Online: 27 de Novembro de 2007, 21:22:02 »
Eu não acho suspeito o resultado em si. Acho que numa idade mais "certa", poderia ser constatado algo equivalente e que levasse à conclusão de um altruísmo natural, e etc. Só acho estranho essa aparente teoria da mente tão precoce, quando o que se pensava era que se desenvolvesse apenas lá pelos 3 anos, um pouco mais cedo quando há irmãos mais velhos de idade aproximada.

Quebra de paradigma...

Não acho que seja, de qualquer jeito, tanto uma coisa de natureza vs desenvolvimento, acho que é algo que provavelmente tem que ser desenvolvido, e pode ser atrapalhado.

Qual a diferença?

Não é "inato" no mesmo sentido de que a pele é inata. Acho que é algo mais "inato" como se pode dizer que a habilidade para linguagem humana é inata. Podem haver problemas de desenvolvimento de linguagem inatos, mas também puramente de desenvolvimento. O pensamento dos bebês já está funcionando, eles estão aprendendo desde que nascem. E provavelmente mais do que se pensava, se essa implicação da teoria da mente ser bem anterior fizer sentido mesmo, se eu não estiver pensando nenhuma bobagem.

A não ser que o que realmente é anterior é a parte inata e não aprendida da mente.

Narkus

  • Visitante
Re: Bebês são capazes de julgar pessoas
« Resposta #18 Online: 27 de Novembro de 2007, 21:52:19 »
Eu não tenho muitas memórias de quando eu era bebê, mas lembro que quando eu tinha meus 3-4 anos eu tinha medo de uma titia do colégio. Anos mais tarde vi novamente ela, e realmente... Ela é feia e tem umas "protuberâncias" faciais do tipo: sobrancelhas grossas, proeminentes, olhos pequenos, queixo grande... Se passaria por um homem tranquilo. Eu morria de medo dessa mulher, eu chegava a não querer ir pro colégio pra não passar nem perto dela. Minha sorte é que nunca fui da turma que ela cuidava.

Desde criança eu lembro de fazer julgamentos convictos sem muitas razões, apenas confiando em meus instintos. Expressões faciais, jeito de andar, tom de voz... Desde criança já sabemos interpretar tudo isso, e não é aprendizado não! A gente pode até aprender que palmadas no bumbum dói, fogo queima etc. Mas perceber quando alguém está irritado (embora tente esconder de vc pq não é elegante demonstrar sentimentos negativos na frente de uma criança), perceber que uma pessoa tem tendências mais agressivas etc, isso não se aprende, já nascemos com a tendência a perceber.

Offline Südenbauer

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 10.297
  • Sexo: Masculino
Re: Bebês são capazes de julgar pessoas
« Resposta #19 Online: 28 de Novembro de 2007, 00:20:11 »
Eu não tenho muitas memórias de quando eu era bebê
Normal, o hipocampo ainda não está totalmente formado.

____

Rubens, fala a verdade, aposto que tu e a Nina vivem fazendo algumas experiências com a filhota. Pode dizer... :D

Offline Buckaroo Banzai

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 38.735
  • Sexo: Masculino
Re: Bebês são capazes de julgar pessoas
« Resposta #20 Online: 28 de Novembro de 2007, 02:36:39 »
Também é interessante se lembrar do caso do cavalo que sabia matemática e conhecimentos gerais...

Não, ele não sabia, ele percebia quando o criador dava sinais sutis do momento de parar de contar, é diferente.

Não é bem isso. Na verdade, o dono e os espectadores, inconscientemente, davam a resposta certa ao cavalo. Me pergunto se algo similar não poderia ocorrer. Os pesquisadores ou alguém envolvido, inconscientemente dizer aos bebês qual é o boneco certo.



Achei meio suspeito. Como poderia ser feita uma avaliação desse tipo, não havendo nem teoria da mente? :hein: ...bem, talvez a criança esteja avaliando apenas como resultado daquela "coisa", sem imputar nela uma mente. Ainda que pareça estar se identificando, empatizando com alguém. Mas a hipótese de funcionar mesmo com "coisas", em vez de bonecos parece ter sido descartada, segundo disseram.

É complicado esse tipo de avaliação com bebês. Há algum tempo, publicaram um artigo propondo que os bebês teriam "cliparts mentais" de aranhas, porque são perigosas, e aos bebês, temê-las instintivamente conferiria vantagem reprodutiva (acho bem mais fácil que humanos adultos inteligentes que cuidam da criança manterem-nas num ambiente mais seguro, e acho que isso atrapalha incalculavemente o coeficiente de fitness que isso poderia ter, se existisse tal variação comportamental).

Fizaram um teste, mostrando imagens de aranhas, e depois ícones de aranhas "certas" e de não-aranhas, com patas ordenadas de forma errada e etc. Os bebês eram capazes de "generalizar", que o ícone de aranha era igual à aranhas, enquanto ícones "aranhóides" com pernas arranjadas de forma anti-natural para aranhas e segmentos corporais errados, etc, não eram vistos como aranhas. E daí, se bem me lembro, concluiram a coisa toda, que os bebês tem medo instintivo de aranhas e "esquemas mentais" de aranhas genéricas.

O problema é que, tanto quanto me lembro, simplesmente avaliaram que os bebês olhavam mais para as pseudo-aranhas do que aos ícones de aranha "de verdade". Isso ocorre porque o bebê fica entediado de ver a mesma coisa repetidas vezes, e presta mais atenção no que é novo, excitante, no caso, os ícones de "não-aranha".

Bom, um experimento bem conduzido mostraria cada imagem por igual período. A não ser que fosse facultado aos bebês olhar o tempo que quisesse para cada imagem.

A metodologia consistia em "entendiar" os bebês com imagens de aranhas verdadeiras, e então ver se eles tinham o mesmo tédio pelos ícones de aranha, mostrando que identificaram como iguais, ou se qualquer coisa mais ou menos "aranhóide" teria a mesma atenção.


 

Citar
Citar
Possivelmente, um experimento realizado com figuras icônicas e fotos de carros, e ícones de "pseudo carros", teria o mesmo resultado, e daí concluiriam que nas últimas décadas os bebês desenvolveram um instinto para temer carros, pois estes os atropelam, diminuindo sua aptidão, enquanto os bebês que instintivamente temem carros, se reproduzem mais.


Bom, há experimentos com chimpanzés que desmentem isso.

?



Citar
Chimpanzés, como humanos, parecem ter medo instintivo de cobras. Pegou-se então chimpanzés criados em cativeiro, que nunca haviam visto cobras na vida e mostraram vídeos de outros chimpanzés tendo reações de medo e adversidade às cobras. O resultado foi que quando viram uma cobra, eles sabiam que era perigoso. Seria aprendizado?

Fizeram um teste utilizando uma imagem de flores e mostrando os chimpanzés tendo as mesmas reações de antes, com medo e tal. Será que os chimpanzés agora temiam flores? Sim, mas por um curto espaço de tempo, extremamente menor do que o que ficou gravado em relação às cobras. Seria aprendizado ou instinto?

Acho que foi no "antropólogo em Marte" (ou talvez numa palestra do V. S. Ramachandran, "emerging mind"), que li (ou ouvi) que isso do medo inato das cobras nos macacos ter sido desmentido, mas que por outro lado eles tem medo inato de faces de macacos adultos em expressões ameaçadoras.



Citar
Por que um criança brinca com arma de fogo de brinquedo e tem medo de inseto ou aranhas ou cobras de brinquedo?

[ultra-selecionista] Talvez porque o medo de armas não tenha conferido tanta vantagem reprodutiva, afinal, as armas podem ser consideradas como uma adaptação, uma extensão fenotípica que confere maior fitness, inclusive para matar cobras e outras ameaças reais ao fitness. [/ultra-selecionista]

Na verdade, o meu exemplo do carro não foi uma sugestão de que eles de fato teriam esse instinto (e nem se averiguou medo, apenas atenção diferencial, e especificamente tédio, desatenção, quanto ao objeto que supostamente seria temido de forma inata), mas um exemplo de como o experimento foi mal formulado e não provou nada, podendo provar esse tipo de coisa absurda também.


Citar
Citar
Não sei se esse mesmo mecanismo estaria por trás, só sei que é meio complicado isso. Será que, por exemplo, havia grupos de bebês de controle, na qual os bonecos faziam ações contrárias ou "nulas", e eles não demonstravam preferência por qualquer boneco?

É uma boa pergunta. No entanto, o que explicaria a reação dos bebês ao escolherem o bonzinho?

Talvez, supondo ser exatamente o mesmo mecanismo, o bonzinho aparecesse menos, sendo mais interessante depois do que os "malvado", do qual ele já estava entediado. Ou, alternativamente, como sugeri antes, algum tipo de pantomina inconsciente dos pesquisadores ou de alguém, e ainda, os bonecos ou personagens poderiam talvez ser "intrinsecamente" mais interessantes por algum motivo qualquer (isso é o mais fácil de se testar, e me decepcionaria que não tivesse sido testado, mas não me surpreenderia muito... queria dizer isso duma forma que soasse menos arrogante)

Citar
Citar
Quanto a "instintividade". Esses bebês nessa idade ficam já em contato com outros bebês e tem interações "sociais", ou praticamente ficam o tempo todo no berço sem contato algum com outros bebês?

Podem até ficar em creches, mas o contato em si com outros bebês é extremamente reduzido, pois não há comunicação. Mesmo que houvesse interação com outros bebês, não faria diferença.
[/quote]

Como não? Eles podem ter suas brincadeiras e vontades, inclusive vontades opostas, e/ou colaboração, que forneceriam a matéria prima para se identificar com aquele que tem um objetivo, e simpatizar com aquele que ajuda, e antipatizar com o outro. Não sei, me parece mais plausível que isso ocorra do que um instinto para simpatizar com o primeiro que vem e ajuda alguém que estava fazendo algo primeiro, e antipatizar aquele que atrapalha o que o outro fazia.

Não consigo imaginar isso surgindo por razões de benefício instintivo, porque uma pessoa que faz qualquer coisa e a que a ajudam não são necessariamente pessoas que deveriam, de um ponto de vista de aptidão, merecer simpatia. Um bebê poderia estar, numa situação idêntica, simpatizando com um dois ladrões que unem seus esforços contra o dono verdadeiro de alguma coisa, que poderia até ser ligado a ele (ao bebê), por exemplo. Também parece esquisito demais para surgir por acaso, complexo demais para esse nível, simbólico demais...

E acho que esse "instintinho" é meio esquemático demais para ser generalizado para situações de altruísmo que são diversas, abstratas e complexas, ou, inversamente, demonstra uma capacidade de raciocínio abstrata muito espantosa, se na verdade houver também a capacidade de identificação de situações menos caricatas.


Eu não acho suspeito o resultado em si. Acho que numa idade mais "certa", poderia ser constatado algo equivalente e que levasse à conclusão de um altruísmo natural, e etc. Só acho estranho essa aparente teoria da mente tão precoce, quando o que se pensava era que se desenvolvesse apenas lá pelos 3 anos, um pouco mais cedo quando há irmãos mais velhos de idade aproximada.

Quebra de paradigma...

E como...



Citar
Não acho que seja, de qualquer jeito, tanto uma coisa de natureza vs desenvolvimento, acho que é algo que provavelmente tem que ser desenvolvido, e pode ser atrapalhado.

Qual a diferença?

Não é "inato" no mesmo sentido de que a pele é inata. Acho que é algo mais "inato" como se pode dizer que a habilidade para linguagem humana é inata. Podem haver problemas de desenvolvimento de linguagem inatos, mas também puramente de desenvolvimento. O pensamento dos bebês já está funcionando, eles estão aprendendo desde que nascem. E provavelmente mais do que se pensava, se essa implicação da teoria da mente ser bem anterior fizer sentido mesmo, se eu não estiver pensando nenhuma bobagem.

A não ser que o que realmente é anterior é a parte inata e não aprendida da mente.

A diferença é que algo "menos inato", mais suscetível a desvios de desenvolvimento, aprendizado, me parece mais plausível, mais próximo do que considero ser um tipo de "hipótese nula". Quando falam de natureza vs desenvolvimento, o dizer que algo é do lado "natureza", geralmente quer dizer que não está tão sujeito a desvios do desenvolvimento (ainda que seja possível argumentar que toda essa dicotomia é falsa e etc), não algo como, por exemplo, idioma, sotaque, fluência verbal, que, ainda que tenham seus componentes inatos (afinal, não se ensina idiomas com o mesmo resultado à chimpanzés ou cangurus), são muito mais maleáveis, tidos como sendo do lado do desenvolvimento.

Acho que talvez a maior parte das características da personalidade é desenvolvida, com um cérebro inicial com potencial para diferentes personalidades, em vez de, por exemplo, podermos pegar uma daquelas coisas do tipo indicador Myers-Briggs, arquétipos de Jung, ou sei lá, até o horóscopo, e dizer que para cada coisa desse tipo de categorização há genes por trás, ainda que algo insondável escondido em herança poligênica.

Não que não seja possível haver variação de personalidade não-patológica com base genética; acho só que a "flutuação" fenotípica é mais ampla do que a determinação genética. Ou seja, podemos achar em muitos casos pessoas com genes para uma determinada característica de personalidade que não a tem, e também um bom número, quase tão grande de pessoas com a característica de personalidade, mas sem o gene, e sem ser também um efeito de herança multifatorial ad hoc qualquer, anulando ou causando. Mas algo mais análogo a pessoas que nascem no Brasil tenderem a gostar mais de futebol do que de beisebol.

Isso não se aplica necessariamente a eventuais diferenças entre os sexos, apesar delas serem também "genéticas", porque pode-se dizer que os sexos são determinados por uns poucos genes, mas ao mesmo tempo tem diferenças fisiológicas mais profundas, e essas diferenças são muito mais "proximais" como explicação das eventuais diferenças de personalidade de causa inata, e muito mais fortes que diferenças genéticas mais "ordinárias"; são mais comparáveis com determinação genética de diferenças comportamentais classificáveis como patolagia ou algo parecido, nesse nível.

Offline Buckaroo Banzai

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 38.735
  • Sexo: Masculino
Re: Bebês são capazes de julgar pessoas
« Resposta #21 Online: 28 de Novembro de 2007, 02:51:49 »
Também é interessante se lembrar do caso do cavalo que sabia matemática e conhecimentos gerais...

cadê?

É o "clever (esperto) Hans". Ele ganharia algum doce ou qualquer prêmio sempre que respondesse uma questão correta. As respostas eram dadas em forma de batidas com uma pata no chão, para alternativas. Mas ele não entendia as perguntas.  O cavalo era capaz de perceber na audiência coisas sutis (ou nem tão sutis) da expressão das pessoas, mudanças fisionômicas e gestuais, quando o cavalo estava no limite entre a resposta correta e a errada. Daí resultava que o conhecimento do cavalo refletia o conhecimento da plateia. Se pessoas que não soubessem que a capital do Brasil é Brasília e não Buenos Aires, ele poderia responder como Buenos Aires, se isso fosse o palpite das pessoas mais no campo visual do animal. Na verdade ele era apenas treinado para bater ou não a pata de acordo com o que "mandassem" as expressões das pessoas à sua volta, que ganharia um doce de acordo com isso.

Offline Alegra

  • Nível 40
  • *
  • Mensagens: 4.453
  • Sexo: Feminino
Re: Bebês são capazes de julgar pessoas
« Resposta #22 Online: 28 de Novembro de 2007, 09:54:52 »
Citar
“Nossas descobertas indicam que os humanos realizam avaliações sociais num estágio muito anterior de desenvolvimento do que se pensava, e sustenta a tese de que a capacidade de avaliar indivíduos com base em suas interações sociais é universal e não depende de aprendizado”, dizem os cientistas em um artigo publicado na revista Nature.

Não sei se entendi bem pois parece-me tudo tão óbvio!  como assim não depende de aprendizado???  :o   Para mim ensinamos ao bebê o certo e o errado desde que o bebê nasce! e nem damos por isso as vezes!
Só o ato de poder comer nas horas certas (de 2 em 2 horas) já o condiciona a não chorar de fome nos intervalos. Só aí ele já está aprendendo a hora certa de comer.
E com seis meses já estão fartos de ouvir "não faça isso", "não pode aquilo", etc. e sabem bem que vão ouvir um elogio quando fazem bem e um raspanete quando fazem errado. Até um cachorrinho aprende isso quanto mais um humano!

Esses "bichinhos" são muito mais espertos do que a gente imagina....e o que eles aprendem com mais facilidade e rapidez é nos manipular... :lol: são uns craques!


Já sinto sua falta. Vá em paz meu lindo!

 

Do NOT follow this link or you will be banned from the site!