Também é interessante se lembrar do caso do cavalo que sabia matemática e conhecimentos gerais...
Não, ele não sabia, ele percebia quando o criador dava sinais sutis do momento de parar de contar, é diferente.
Não é bem isso. Na verdade, o dono e os espectadores, inconscientemente, davam a resposta certa ao cavalo. Me pergunto se algo similar não poderia ocorrer. Os pesquisadores ou alguém envolvido, inconscientemente dizer aos bebês qual é o boneco certo.
Achei meio suspeito. Como poderia ser feita uma avaliação desse tipo, não havendo nem teoria da mente?
...bem, talvez a criança esteja avaliando apenas como resultado daquela "coisa", sem imputar nela uma mente. Ainda que pareça estar se identificando, empatizando com alguém. Mas a hipótese de funcionar mesmo com "coisas", em vez de bonecos parece ter sido descartada, segundo disseram.
É complicado esse tipo de avaliação com bebês. Há algum tempo, publicaram um artigo propondo que os bebês teriam "cliparts mentais" de aranhas, porque são perigosas, e aos bebês, temê-las instintivamente conferiria vantagem reprodutiva (acho bem mais fácil que humanos adultos inteligentes que cuidam da criança manterem-nas num ambiente mais seguro, e acho que isso atrapalha incalculavemente o coeficiente de fitness que isso poderia ter, se existisse tal variação comportamental).
Fizaram um teste, mostrando imagens de aranhas, e depois ícones de aranhas "certas" e de não-aranhas, com patas ordenadas de forma errada e etc. Os bebês eram capazes de "generalizar", que o ícone de aranha era igual à aranhas, enquanto ícones "aranhóides" com pernas arranjadas de forma anti-natural para aranhas e segmentos corporais errados, etc, não eram vistos como aranhas. E daí, se bem me lembro, concluiram a coisa toda, que os bebês tem medo instintivo de aranhas e "esquemas mentais" de aranhas genéricas.
O problema é que, tanto quanto me lembro, simplesmente avaliaram que os bebês olhavam mais para as pseudo-aranhas do que aos ícones de aranha "de verdade". Isso ocorre porque o bebê fica entediado de ver a mesma coisa repetidas vezes, e presta mais atenção no que é novo, excitante, no caso, os ícones de "não-aranha".
Bom, um experimento bem conduzido mostraria cada imagem por igual período. A não ser que fosse facultado aos bebês olhar o tempo que quisesse para cada imagem.
A metodologia consistia em "entendiar" os bebês com imagens de aranhas verdadeiras, e então ver se eles tinham o mesmo tédio pelos ícones de aranha, mostrando que identificaram como iguais, ou se qualquer coisa mais ou menos "aranhóide" teria a mesma atenção.
Possivelmente, um experimento realizado com figuras icônicas e fotos de carros, e ícones de "pseudo carros", teria o mesmo resultado, e daí concluiriam que nas últimas décadas os bebês desenvolveram um instinto para temer carros, pois estes os atropelam, diminuindo sua aptidão, enquanto os bebês que instintivamente temem carros, se reproduzem mais.
Bom, há experimentos com chimpanzés que desmentem isso.
?
Chimpanzés, como humanos, parecem ter medo instintivo de cobras. Pegou-se então chimpanzés criados em cativeiro, que nunca haviam visto cobras na vida e mostraram vídeos de outros chimpanzés tendo reações de medo e adversidade às cobras. O resultado foi que quando viram uma cobra, eles sabiam que era perigoso. Seria aprendizado?
Fizeram um teste utilizando uma imagem de flores e mostrando os chimpanzés tendo as mesmas reações de antes, com medo e tal. Será que os chimpanzés agora temiam flores? Sim, mas por um curto espaço de tempo, extremamente menor do que o que ficou gravado em relação às cobras. Seria aprendizado ou instinto?
Acho que foi no "antropólogo em Marte" (ou talvez numa palestra do V. S. Ramachandran, "emerging mind"), que li (ou ouvi) que isso do medo inato das cobras nos macacos ter sido desmentido, mas que por outro lado eles tem medo inato de faces de macacos adultos em expressões ameaçadoras.
Por que um criança brinca com arma de fogo de brinquedo e tem medo de inseto ou aranhas ou cobras de brinquedo?
[ultra-selecionista] Talvez porque o medo de armas não tenha conferido tanta vantagem reprodutiva, afinal, as armas podem ser consideradas como uma adaptação, uma extensão fenotípica que confere maior fitness, inclusive para matar cobras e outras ameaças reais ao fitness. [/ultra-selecionista]
Na verdade, o meu exemplo do carro não foi uma sugestão de que eles de fato teriam esse instinto (e nem se averiguou medo, apenas atenção diferencial, e especificamente tédio, desatenção, quanto ao objeto que supostamente seria temido de forma inata), mas um exemplo de como o experimento foi mal formulado e não provou nada, podendo provar esse tipo de coisa absurda também.
Não sei se esse mesmo mecanismo estaria por trás, só sei que é meio complicado isso. Será que, por exemplo, havia grupos de bebês de controle, na qual os bonecos faziam ações contrárias ou "nulas", e eles não demonstravam preferência por qualquer boneco?
É uma boa pergunta. No entanto, o que explicaria a reação dos bebês ao escolherem o bonzinho?
Talvez, supondo ser exatamente o mesmo mecanismo, o bonzinho aparecesse menos, sendo mais interessante depois do que os "malvado", do qual ele já estava entediado. Ou, alternativamente, como sugeri antes, algum tipo de pantomina inconsciente dos pesquisadores ou de alguém, e ainda, os bonecos ou personagens poderiam talvez ser "intrinsecamente" mais interessantes por algum motivo qualquer (isso é o mais fácil de se testar, e me decepcionaria que não tivesse sido testado, mas não me surpreenderia muito... queria dizer isso duma forma que soasse menos arrogante)
Quanto a "instintividade". Esses bebês nessa idade ficam já em contato com outros bebês e tem interações "sociais", ou praticamente ficam o tempo todo no berço sem contato algum com outros bebês?
Podem até ficar em creches, mas o contato em si com outros bebês é extremamente reduzido, pois não há comunicação. Mesmo que houvesse interação com outros bebês, não faria diferença.
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Como não? Eles podem ter suas brincadeiras e vontades, inclusive vontades opostas, e/ou colaboração, que forneceriam a matéria prima para se identificar com aquele que tem um objetivo, e simpatizar com aquele que ajuda, e antipatizar com o outro. Não sei, me parece mais plausível que isso ocorra do que um instinto para simpatizar com o primeiro que vem e ajuda alguém que estava fazendo algo primeiro, e antipatizar aquele que atrapalha o que o outro fazia.
Não consigo imaginar isso surgindo por razões de benefício instintivo, porque uma pessoa que faz qualquer coisa e a que a ajudam não são necessariamente pessoas que deveriam, de um ponto de vista de aptidão, merecer simpatia. Um bebê poderia estar, numa situação idêntica, simpatizando com um dois ladrões que unem seus esforços contra o dono verdadeiro de alguma coisa, que poderia até ser ligado a ele (ao bebê), por exemplo. Também parece esquisito demais para surgir por acaso, complexo demais para esse nível, simbólico demais...
E acho que esse "instintinho" é meio esquemático demais para ser generalizado para situações de altruísmo que são diversas, abstratas e complexas, ou, inversamente, demonstra uma capacidade de raciocínio abstrata muito espantosa, se na verdade houver também a capacidade de identificação de situações menos caricatas.
Eu não acho suspeito o resultado em si. Acho que numa idade mais "certa", poderia ser constatado algo equivalente e que levasse à conclusão de um altruísmo natural, e etc. Só acho estranho essa aparente teoria da mente tão precoce, quando o que se pensava era que se desenvolvesse apenas lá pelos 3 anos, um pouco mais cedo quando há irmãos mais velhos de idade aproximada.
Quebra de paradigma...
E como...
Não acho que seja, de qualquer jeito, tanto uma coisa de natureza vs desenvolvimento, acho que é algo que provavelmente tem que ser desenvolvido, e pode ser atrapalhado.
Qual a diferença?
Não é "inato" no mesmo sentido de que a pele é inata. Acho que é algo mais "inato" como se pode dizer que a habilidade para linguagem humana é inata. Podem haver problemas de desenvolvimento de linguagem inatos, mas também puramente de desenvolvimento. O pensamento dos bebês já está funcionando, eles estão aprendendo desde que nascem. E provavelmente mais do que se pensava, se essa implicação da teoria da mente ser bem anterior fizer sentido mesmo, se eu não estiver pensando nenhuma bobagem.
A não ser que o que realmente é anterior é a parte inata e não aprendida da mente.
A diferença é que algo "menos inato", mais suscetível a desvios de desenvolvimento, aprendizado, me parece mais plausível, mais próximo do que considero ser um tipo de "hipótese nula". Quando falam de natureza vs desenvolvimento, o dizer que algo é do lado "natureza", geralmente quer dizer que não está tão sujeito a desvios do desenvolvimento (ainda que seja possível argumentar que toda essa dicotomia é falsa e etc), não algo como, por exemplo, idioma, sotaque, fluência verbal, que, ainda que tenham seus componentes inatos (afinal, não se ensina idiomas com o mesmo resultado à chimpanzés ou cangurus), são muito mais maleáveis, tidos como sendo do lado do desenvolvimento.
Acho que talvez a maior parte das características da personalidade é desenvolvida, com um cérebro inicial com potencial para diferentes personalidades, em vez de, por exemplo, podermos pegar uma daquelas coisas do tipo indicador Myers-Briggs, arquétipos de Jung, ou sei lá, até o horóscopo, e dizer que para cada coisa desse tipo de categorização há genes por trás, ainda que algo insondável escondido em herança poligênica.
Não que não seja possível haver variação de personalidade não-patológica com base genética; acho só que a "flutuação" fenotípica é mais ampla do que a determinação genética. Ou seja, podemos achar em muitos casos pessoas com genes para uma determinada característica de personalidade que não a tem, e também um bom número, quase tão grande de pessoas com a característica de personalidade, mas sem o gene, e sem ser também um efeito de herança multifatorial ad hoc qualquer, anulando ou causando. Mas algo mais análogo a pessoas que nascem no Brasil tenderem a gostar mais de futebol do que de beisebol.
Isso não se aplica necessariamente a eventuais diferenças entre os sexos, apesar delas serem também "genéticas", porque pode-se dizer que os sexos são determinados por uns poucos genes, mas ao mesmo tempo tem diferenças fisiológicas mais profundas, e essas diferenças são muito mais "proximais" como explicação das eventuais diferenças de personalidade de causa inata, e muito mais fortes que diferenças genéticas mais "ordinárias"; são mais comparáveis com determinação genética de diferenças comportamentais classificáveis como patolagia ou algo parecido, nesse nível.