Autor Tópico: Asimov: Utilidade da ciência  (Lida 469 vezes)

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Offline Südenbauer

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Asimov: Utilidade da ciência
« Online: 23 de Novembro de 2007, 17:16:44 »
É destino do cientista enfrentar constantes solicitações para mostrar que seu saber tem alguma "valia". Contudo, pode não ser de nenhum interesse, para ele, que essa "valia" exista; ele pode achar que o deleite de saber, de compreender, de sondar o universo constitua a sua inteira recompensa. Nesse caso, o cientista pode até dar-se ao prazer de desacatar quem quer que seja que peça mais do que isso.

Há o caso famoso de um estudante que perguntou ao filósofo grego Platão, cerca de 370 a.C., para que serviam os teoremas complexos e abstratos que ele estava ensinando. Platão, de imediato, ordenou que um escravo desse ao estudante uma pequena moeda, a fim de que ele não pensasse que havia ganho o conhecimento por nada; a seguir, demitiu-o da escola.

O estudante não precisava ter perguntado, e Platão não precisava ter escarnecido. Quem duvidaria, nos dias de hoje, de que a Matemática tem seus usos? Os teoremas matemáticos, que se afiguram insuportavelmente requintados e alheados em relação a tudo em que um homem sensato possa estar interessado, aparecem como absolutamente necessários a partes altamente essenciais da nossa vida moderna, como, por exemplo, a rede telefônica que interliga o mundo.

Essa história de Platão, famosa ao longo de 2.000 anos, não tornou o assunto mais claro para muita gente. A menos que a aplicação de uma nova descoberta seja clara e atuante, muitos duvidam de seu valor.

Há a história do cientista inglês Michael Faraday, que ilustra este ponto. Ele foi, em seu tempo, muito popular, como conferencista, e também como físico e químico de primeira classe. Em uma de suas palestras, nos anos de 1840, ele ilustrou o comportamento peculiar de um ímã e de uma espiral de fio ligada a um galvanômetro, o qual deveria registrar a presença de uma corrente elétrica.

Para começar, não havia corrente no fio; mas, quando o ímã era introduzido no vão central da espiral, ou bobina, a agulha do galvanômetro se movia para um lado da escala, indicando a passagem de corrente. Quando o íma era retirado do vão da espiral, a agulha pulava para a outra direção, mostrando que a corrente estava, então, fluindo para o lado oposto. Quando o ímã era mantido imóvel, em qualquer posição, dentro da espiral, ou bobina, não havia corrente alguma fluindo, e a agulha ficava imóvel.

Na conclusão da palestra, um membro do auditório se aproximou de Faraday e disse: "Sr. Faraday, o comportamento do ímã e do fio de arame em espiral foi interessante, mas para que poderá servir?".

E Faraday respondeu, polidamente: "Senhor, para que serve uma criança recém-nascida?"

Foi precisamente tal efeito, cuja utilidade se viu questionada tão peremptoriamente por um membro do auditório, que Faraday usou para desenvolver o gerador elétrico que, pela primeira vez, tornou possível produzir eletricidade barata e em grande quantidade. Isto, por sua vez, tornou possível o desenvolvimento da tecnologia elétrica que nos circunda nos dias de hoje, e sem a qual a vida, no sentido moderno, seria inconcebível. A demonstração de Faraday foi uma criança recém-nascida que cresceu e transformou-se num gigante.

Nem mesmo o mais perspicaz dos homens pode sempre julgar o que é útil e o que não é. Nunca houve um homem tão engenhosamente prático no julgamento do que é útil como Thomas Alva Edison, seguramente o maior inventor que jamais viveu; e nós podemos tomá-lo como exemplo.

Em 1868, ele patenteou o seu primeiro invento. Foi um dispositivo destinado a registrar votos mecanicamente. Fazendo uso dele, um membro do Congresso poderia apertar um botão e todos os seus votos seriam instantaneamente registrados e somados. Não havia problema algum, pois o invento funcionava; faltava é vendê-lo. Um membro do Congresso, a quem Edison consultou, entretanto, lhe disse, com sinistro divertimento e horror, que não havia a menor possibilidade de o invento ser aceito, por mais infalivelmente que ele viesse a funcionar.

Uma votação lenta, ao que se afigurava, era, por vezes, uma necessidade política. Alguns congressistas poderiam mudar de opinião no decorrer de uma votação lenta, ao passo que uma votação rápida, num momento de emoção, poderia induzir o congressista a praticar algo indesejável.

Edison, amargurado, aprendeu a sua lição. Depois disso, decidiu nunca mais inventar nada, a menos que se sentisse seguro de que seria necessário e desejado – e não apenas pelo fato de funcionar.

Apegou-se, então, a isso. Até pouco antes de morrer, havia conseguido cerca de 1.300 patentes – 300 delas no espaço de quatro anos, ou uma a cada cinco dias, em média. Sempre se fez guiar pela noção do útil e do prático.

Em 21 de outubro de 1879, Edison produziu a primeira luz elétrica prática, talvez a mais desnorteante das suas invenções (basta-nos apenas sentar-nos junto a uma vela acesa, por alguns momentos, durante uma síncope da energia elétrica, para descobrirmos até que ponto aceitamos a luz elétrica e quanto valor lhe damos).

Em anos sucessivos, Edison trabalhou para melhorar a luz elétrica, e, principalmente, para encontrar modos de fazer o filamento rutilante durar mais tempo antes de "queimar-se". Como era de seu costume, tentou tudo aquilo em que pôde pensar. Um de seus esforços, nas tentativas de errar ou acertar, consistiu em soldar um fio metálico dentro de um tubo de luz elétrica, em cujo interior fizera vácuo, perto do filamento, porém sem tocar nele. O bulbo, ou lâmpada, e o filamento ficaram separados por um pequeno espaço de vácuo.

Edison, a seguir, ligou a energia elétrica, para ver se a presença de um fio metálico faria preservar a vida do filamento rutilante. Não conseguiu, e abandonou a tentativa. Entretanto, notara que uma corrente elétrica fluía do filamento para o fio de arame, através do espaço de vácuo.

Nada, nos vastos conhecimentos de eletricidade prática, de Edison, explicava aquilo; e tudo o que Edison pôde fazer foi observá-lo, registrar o fato em seu livro de notas, e, em 1884, ele mesmo patenteou-o. O fenômeno foi denominado "Efeito de Edison", e foi sua única descoberta nos domínios da ciência pura.

Edison não podia ver utilidade naquilo. Portanto, não prosseguiu trabalhando no caso; deixou correr o marfim, enquanto continuou na caça daquilo que considerava útil e prático.

Nos anos de 1880 e 1890, entretanto, cientistas, que procuravam conhecimento "sem utilidade", o conhecimento pelo simples conhecimento, descobriram que existiam partículas subatômicas (então denominadas "elétrons"); descobriram, igualmente, que a corrente elétrica se acompanhava de um fluxo de elétrons. O "efeito de Edison" era o resultado da habilidade dos elétrons, sob determinadas condições, de viajar, sem impedimento algum, através do vácuo.

http://www.secular.com.br/revista/0601/paraque.html

Offline Herf

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Re: Asimov: Utilidade da ciência
« Resposta #1 Online: 23 de Novembro de 2007, 22:14:36 »
Esse texto não é daquele livro "Asimov Explica"?

Livrinho bom, apesar de antigo.

Offline Südenbauer

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Re: Asimov: Utilidade da ciência
« Resposta #2 Online: 23 de Novembro de 2007, 23:46:35 »
Não sei. Segundo o link é uma introdução para o livro The Greatest Adventure.

 

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