Polêmica no ninho da corujaPreservação de seis aves cancelou festa de Réveillon em CapãoIsabel Marchezan | isabel.marchezan@zerohora.com.br
Há três dias, elas são o assunto em Capão da Canoa. Primeiro, foram protegidas e admiradas pela comunidade local. Ontem, ameaçadas de morte.
As duas corujas que cavaram seu ninho em um cômoro de areia próximo à Praça do Farol causam polêmica na praia desde que se tornaram a razão do cancelamento do show de fogos de artifícios no Réveillon. É que o ninho onde crescem os quatro filhotes foi instalado a cerca de oito metros do local onde tradicionalmente é acionado o foguetório de Ano-Novo.
Às 23h55min de segunda-feira, a prefeitura de Capão da Canoa anunciou que não poderia apresentar o show pirotécnico em razão da existência do ninho das seis corujas. No momento, a prefeitura calcula que mais de 100 mil pessoas aguardavam pelo espetáculo anunciado.
Chamado por moradores e veranistas durante a tarde de segunda-feira, quando era montado o aparato para a festa da virada, o 1º Batalhão Ambiental da BM, com sede em Xangri-lá, chegou à orla por volta das 18h30min e solicitou aos trabalhadores que mudassem os fogos de lugar. Conforme o comandante do batalhão, major Luiz Eduardo Ribeiro Lopes, foram "centenas" de ligações pedindo que se evitasse a perturbação às aves.
- Houve resistência do pessoal em mudar o local - relatou Lopes.
Diante disso, os brigadianos exigiram a licença ambiental concedida pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) para a realização do evento, mas esta não foi apresentada. O prefeito de Capão da Canoa, Jairo Marques (PDT), disse que nunca foi exigida da prefeitura licença ambiental para o show de fogos, que acontece "sempre no mesmo lugar" há pelo menos cinco anos. Segundo ele, só era necessária a anuência dos bombeiros (que verificam as condições de segurança da instalação dos fogos de artifício).
- Se eles tivessem mudado o local, não teríamos exigido a licença. Temos bom senso de ver se não há danos ao ambiente - ponderou Lopes.
Como não foi apresentado o documento da Fepam, a Brigada propôs que um biólogo da prefeitura fizesse um laudo autorizando o show pirotécnico, o que também não foi providenciado. Às 22h, o show foi interditado e, às 23h30min, conforme o major, os brigadianos apreenderam o mecanismo de detonação dos fogos.
Pagamento pelo show será definido hoje
O prefeito diz ter sido comunicado do problema por servidores da prefeitura e de terautorizado a troca de lugar dos fogos às 21h. Mas não havia mais tempo hábil para desmontar e montar novamente o equipamento. O proprietário da Distribuidora de Fogos Tiro e Cor, Orli Franzoi, justificou que a instalação das cinco toneladas de rojões na tarde de segunda-feira demorou seis horas, capazes de proporcionar o espetáculo de 15 minutos.
- Foi uma atuação lamentável da Brigada. Estragaram a expectativa de milhares de pessoas - reclamou Jairo Marques.
- No ano que vem, não temos como avisar a todos que estavam aqui, um por um, que a festa vai acontecer de novo. As pessoas deixaram de ir para outras praias onde haveria fogos para ver o show ali - afirmou o vice-presidente do Sindicato dos Hotéis, Bares e Restaurantes do Litoral Norte, Francelino da Silveira.
Às 23h55min, o público foi comunicado de que não haveria fogos e recebeu a notícia com vaias. Muita gente deixou a praia, mas uma multidão seguiu acompanhando o show.
A Tiro e Cor, de Nova Trento (SC), foi contratada pela prefeitura por licitação e cobraria R$ 24,7 mil pelo show de fogos. O valor só seria quitado após a execução do serviço, o que será discutido hoje com a empresa. Orli Franzoi afirmou que mandou recolher o produto, e seu reaproveitamento dependerá das condições em que for recebido.
FONTE:
http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a1723707.xml&template=3898.dwt&edition=9054§ion=67