Autor Tópico: Por que crer?  (Lida 1527 vezes)

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Offline Luis Dantas

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Por que crer?
« Online: 26 de Janeiro de 2008, 09:50:34 »
Ontem recebi minha cópia do Tractatus Logico-Philosophicus de Wittgenstein pelo correio.  É um livro bem diferente do que eu esperava pelo que ouvi falar; pequeno a ponto de mal o texto principal ter mais páginas do que as introduções somadas com o apêndice, e lógico, direto e despretensioso ao extremo.  Acho que no fundo eu esperava algo similar a um texto arcano, e é exatamente isso o que o Tractatus não tenta ser.

Mas o choque serviu para me fazer perceber uma coisa: como a lógica é impopular.  E, sendo eu quem sou, um dos primeiros exemplo que me vieram à cabeça foi a falta de lógica da idéia de reencarnação e como esse é exatamente o apelo dela.

Aí me lembrei da minha história acadêmica e a de amigos e conhecidos meus que realmente se dedicaram a aprender. E percebi que pelo menos que se refere a expectativas parentais, a forma como se aborda o ensino superior é francamente irracional.  Uma mãe passa talvez vinte anos convivendo com os próprios filhos e ensinando a eles o básico da sobrevivência doméstica, e nem sempre consegue bons resultados apesar de muitos outros estarem presentes na vida dos filhos e poderem ajudar a suprir os pontos de deficiência.

E no entanto, misteriosamente, neste tempo em que o ensino básico está em tão franca decadência e os pais mais distantes e sobrecarregados do que nunca, acha-se muito natural que quatro anos em uma faculdade particular (em condições de ensino muitas vezes precárias) façam, para usar uma frase famosa, "toda a diferença"

A verdade é que isso não pode acontecer exceto talvez em circunstâncias muito raras e excepcionais; não se pode ser duas coisas incompatíveis ao mesmo tempo.  Não se pode ter passado a vida toda aprendendo a estar em paz diante das dificuldades dos próprios familiares em pensar logicamente e se expressar corretamente na língua portuguesa para então cursar 250 créditos noturnos e passar a ser um advogado competente, que dirá um bom filósofo, antropólogo ou engenheiro de software (não menciono medicina porque sei que nesse caso há muito mais do que 250 créditos).  Não sem romper com o passado, o que na prática significa abandonar a família e as expectativas da mesma.  Ou, quem sabe, desenvolvendo algum tipo de psicopatologia de cisão de raciocínio.

Quanto mais se aposta em grandes conquistas, mais é preciso estar disposto a renunciar para ter essa chance.  Realmente é simples assim.  Existem grandes e maravilhosos campos de conhecimento a se explorar, mas dedicação tem seu preço, e a harmonia e saúde do ambiente familiar também tem.  Escolhas tem de ser feitas.  Se queremos que nossos filhos sejam mais sábios do que nós, devemos antes de mais nada aceitar nossa própria ignorância relativa e nos perguntar que papel podemos realisticamente ter nesse futuro que pretendemos construir.  E, se temos alguma seriedade nessa proposta, vamos perceber bem cedo que as escolhas difíceis surgem desde o início.  Se por um lado é bom poder falar que se tem um filho doutor, por outro é doloroso perceber que não há como entender o que ele faz em seu ofício, muito menos como dividir experiências de vida profissional com ele ou de acompanhar a mudança do campo profissional.

Não acho que seja coincidência que em muitos casos de verdadeiros acadêmicos (não portadores de diploma, mas acadêmicos mesmo - pessoas que aprenderam a ser competentes em uma ou mais disciplinas acadêmicas e a ter algo de útil a contribuir nela) que conheço a conquista não foi propriamente deles individualmente, mas do ambiente familiar em que cresceram e viveram antes e durante a formação.  Exemplo conta, e conta muito.  Diálogo idem.

No fundo tudo é muito lógico e claro.  Mas pode ser também difícil de aceitar, principalmente em uma realidade sócio-econômica como a brasileira, que tem desigualdades de oportunidade tão cruéis.  Imagino que por isso idéias malucas como a de uma "reencarnação premiada" acabam se inserindo; o brasileiro tem uma afinidade cultural pela idéia do trampolim, do atalho, do pára-quedas para a oportunidade não-merecida.

Então crê.  Crê não porque tem fé, mas porque sabe que não pode ter.  Crê que uma faculdade noturna fará de seu filho "alguém" porque sabe que não será o ambiente de gritaria, ignorância e truculência em que ele foi criado que terá esse poder.  Crê que vai ganhar na loteria porque precisa acreditar.  Crê que votar em um político demagogo para depois pedir um emprego diretamente a ele é o melhor para seu futuro.  Crê porque não tem fé e não sabe como conquistar a verdadeira fé.

Há o lugar-comum de que pessoas de ciência abandonam a fé (religiosa).  Mas percebo agora que a recíproca talvez seja mais verdadeira ou pelo menos mais reveladora: A fé (ou mais exatamente, a crença interesseira) é que costuma abandonar a razão e seu frutos preciosos, a lógica e a ciência.  Por que esta teria de fazer sozinha a reconciliação?
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Offline Luis Dantas

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O que se é, o que se aprendeu a ser
« Resposta #1 Online: 26 de Janeiro de 2008, 10:18:41 »
Os fãs de anime e mangá deste fórum já sabem que o povo japonês tem uma variedade rica de formas de tratamento que descreve com exatidão o grau de intimidade e até mesmo o tipo de sentimento que se tem pela pessoa a quem nos referimos.  Outra característica notável do Nihongo, a língua japonesa, é o hábito de tratar as pessoas pelo sobrenome e só então mencionar o primeiro nome (muitas vezes a ordem é invertida nas versões ocidentais das obras de ficção).

São duas importantes pistas para uma análise antropológica de como funciona a visão de mundo típica japonesa.  Para o japonês é importante mostrar respeito para com quem se fala, e é pelo menos tão importante deixar claro quanta simpatia se tem ou se tenta ter.  Fala-se muito sobre as obrigações dos relacionamentos pessoais no Japão, mas eles também tem essa outra e necessária faceta: são ao mesmo tempo oportunidades constantes de dizer aos outros o quanto gostamos (ou deixamos de gostar) deles, o quanto nos sentimos próximos ou distantes deles.

Dizer o nome de família antes do nome pessoal tem um efeito psicológico sutil, mas importante; insinua que a pessoa é moldada a partir de sua origem, o que reflete bem certas escolas de pensamento e é particularmente adequado para a mentalidade de dependência recíproca do Japão.  O japonês aprende desde cedo que ele não "é" alguém; mais corretamente, ele expressa uma linhagem; foi trazido até onde está pelos (supostamente valorosos e admiráveis) esforços de seus predecessores e tem a responsabilidade de seguir adiante para abrir caminho para outros.

É uma mentalidade que pode ser levada excessivamente a sério (e não raro o é), mas ainda assim pode ensinar muito a esta cultura extremamente individualista que temos aqui no Brasil, onde virou moda achar que as pessoas "são" independentemente dos fatos e até em desafio aberto a eles... para manter o tema de criação de filhos, deixe-me lembrar que hoje em dia os filhos "são" crianças índigo, "reencarnações com uma missão", hiperativas, bipolares, ou até mesmo, ironicamente, simplesmente "malcriadas".  E de alguma forma misteriosa, espera-se que isso não tenha muito a ver com o ambiente e exemplo que elas encontram...

Todos nós temos algumas escolhas a tomar.  Mas ao mesmo tempo, só podemos usar o material que temos em mãos a cada momento.
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Offline FZapp

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Re: Por que crer?
« Resposta #2 Online: 26 de Janeiro de 2008, 11:19:44 »
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Dizer o nome de família antes do nome pessoal tem um efeito psicológico sutil, mas importante; insinua que a pessoa é moldada a partir de sua origem, o que reflete bem certas escolas de pensamento e é particularmente adequado para a mentalidade de dependência recíproca do Japão.  O japonês aprende desde cedo que ele não "é" alguém; mais corretamente, ele expressa uma linhagem; foi trazido até onde está pelos (supostamente valorosos e admiráveis) esforços de seus predecessores e tem a responsabilidade de seguir adiante para abrir caminho para outros.

Mas justamente essa continuidade não pode ser a base para supor que somos espíritos que reencarnam ?

Isto é, assim como os homens morrem mas a linhagem continua, no caso do individuo, os corpos terminam mas o espirito continua.
--
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Offline Luis Dantas

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Re: Por que crer?
« Resposta #3 Online: 26 de Janeiro de 2008, 13:36:24 »
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Dizer o nome de família antes do nome pessoal tem um efeito psicológico sutil, mas importante; insinua que a pessoa é moldada a partir de sua origem, o que reflete bem certas escolas de pensamento e é particularmente adequado para a mentalidade de dependência recíproca do Japão.  O japonês aprende desde cedo que ele não "é" alguém; mais corretamente, ele expressa uma linhagem; foi trazido até onde está pelos (supostamente valorosos e admiráveis) esforços de seus predecessores e tem a responsabilidade de seguir adiante para abrir caminho para outros.

Mas justamente essa continuidade não pode ser a base para supor que somos espíritos que reencarnam ?

Isto é, assim como os homens morrem mas a linhagem continua, no caso do individuo, os corpos terminam mas o espirito continua.

Nunca pensei nisso.  Parece uma idéia tão absurda.
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Offline Dbohr

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Re: Por que crer?
« Resposta #4 Online: 26 de Janeiro de 2008, 13:38:02 »
Talvez não o espírito "alma individual", mas o espírito dos valores, da tradição.

Offline Luis Dantas

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Re: Por que crer?
« Resposta #5 Online: 26 de Janeiro de 2008, 13:41:33 »
Talvez não o espírito "alma individual", mas o espírito dos valores, da tradição.

NOW we are cooking with gas! :)

Sim, até onde sei é exatamente isso.  Não apenas no Shinto, mas também em outras culturas animistas-paganistas como a maioria das populações indígenas.
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Offline Dbohr

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Re: Por que crer?
« Resposta #6 Online: 26 de Janeiro de 2008, 13:47:47 »
Mas então, me pergunto se não veio de uma "mutação ideológica" em cima disso aí o conceito de reencarnação...

Offline Luis Dantas

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Re: Por que crer?
« Resposta #7 Online: 26 de Janeiro de 2008, 14:01:04 »
Mas então, me pergunto se não veio de uma "mutação ideológica" em cima disso aí o conceito de reencarnação...

Sem dúvida.  E inclusive foi uma mutação bem inicial, pois advém do forte senso de identidade das crianças pequenas.  Como as crianças não conseguem entender que o mundo não existe "para servir a elas", também não conseguem entender por que elas seriam parte de algo maior.  E aí muitas crenças tradicionais são mal compreendidas e levam à reencarnação como conceito religioso.
« Última modificação: 26 de Janeiro de 2008, 15:14:30 por Luis Dantas »
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Offline Dodo

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Re: Por que crer?
« Resposta #8 Online: 26 de Janeiro de 2008, 17:17:29 »
Estava lendo seu texto Luís e, apesar de ser interrompido umas trezentas vezes - minha esposa, tiroteio, briga na rua, etc - consegui terminá-lo.
Gostaria de alguns esclarecimentos:

- a respeito da diferença entre pais e filhos no que tange a carreira acadêmica.

Não seria o oposto também verdadeiro? Filhos que alcançam um status intelectual e acadêmico, também não teriam dificuldades e até uma certa vergonha em assumir a sua origem?

- reencarnação

por mais que eu concorde com você da falta de lógica da reencarnação, eu não consigo deixar de compará-la com os valores da abnegação e do sacrifício tão caro aos católicos, me parece que nesse caso espiritismo e catolicismo se aproximam, como se tívessemos de aceitar tal coisa porque é nosso destino ou Deus quis assim;

- brasileiros - ou seja, nós

Quando você falou do individualismo do brasileiro, eu não pude deixar de pensar que quanto mais uma pessoa se esclarece uma das primeiras mudanças que ela experimenta é o de analisar a questão Brasil e brasileiros como se fosse um expectador, alguém fora da realidade. Isso não é uma crítica a você e a niguém em particular aqui do fórum, isso acontece frequentemente comigo, de repente eu me vejo analisando as coisas de uma maneira tão distante que até parece que estou falando de outro país e não do meu. É algo estranho, porque eu penso que são pessoas eslcarecidas os agentes da mudança e não meros espectadores. É como uma Matrix ao contrário, ao nos libertarmos da mediocridade e ignorância, nos aprisionamos em um casulo.

P.S
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Offline Luis Dantas

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Re: Por que crer?
« Resposta #9 Online: 26 de Janeiro de 2008, 17:23:05 »
- a respeito da diferença entre pais e filhos no que tange a carreira acadêmica.

Não seria o oposto também verdadeiro? Filhos que alcançam um status intelectual e acadêmico, também não teriam dificuldades e até uma certa vergonha em assumir a sua origem?

Cada caso é um caso.  Há quem consiga mas se ressinta do que teve de fazer (ou renunciar) para chegar lá.  É mais ou menos o meu caso.  Outros, é claro, querem mais é fazer propaganda das conquistas que alcançaram "apesar de tudo estar contra eles".  Com toda a razão.

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- reencarnação

por mais que eu concorde com você da falta de lógica da reencarnação, eu não consigo deixar de compará-la com os valores da abnegação e do sacrifício tão caro aos católicos, me parece que nesse caso espiritismo e catolicismo se aproximam, como se tívessemos de aceitar tal coisa porque é nosso destino ou Deus quis assim;

Eu concordo, com a ressalva de que a idéia da reencarnação também pode ser usada para alimentar o orgulho ou simples fantasias delirantes.  Tudo bem que com o sacrificio cristão isso também acontece, mas com reencarnação é mais fácil.

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- brasileiros - ou seja, nós

Quando você falou do individualismo do brasileiro, eu não pude deixar de pensar que quanto mais uma pessoa se esclarece uma das primeiras mudanças que ela experimenta é o de analisar a questão Brasil e brasileiros como se fosse um expectador, alguém fora da realidade. Isso não é uma crítica a você e a niguém em particular aqui do fórum, isso acontece frequentemente comigo, de repente eu me vejo analisando as coisas de uma maneira tão distante que até parece que estou falando de outro país e não do meu. É algo estranho, porque eu penso que são pessoas esclarecidas os agentes da mudança e não meros espectadores. É como uma Matrix ao contrário, ao nos libertarmos da mediocridade e ignorância, nos aprisionamos em um casulo.

É por aí mesmo.  Se você por acaso se interessa pelo assunto, procure ler sobre Dinâmica de Espiral.  Fala sobre as mudanças entre visões inclusivistas e individualistas no crescimento pessoal e organizacional.

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Estou malvado assim? :)
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Offline Dodo

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Re: Por que crer?
« Resposta #10 Online: 26 de Janeiro de 2008, 17:28:25 »
Estou malvado assim? :)

Depois que você mandou um forista sumir do fórum e ele foi fotografado em Marte eu fiquei com medo.
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Alfred E. Newman

Offline Luis Dantas

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Re: Por que crer?
« Resposta #11 Online: 26 de Janeiro de 2008, 17:33:07 »
Eu não mandei, eu pedi.  Se tivesse mandado ele estaria em Plutão... GRRRR!!!
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Danieli

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Re: Por que crer?
« Resposta #12 Online: 26 de Janeiro de 2008, 17:47:38 »
Bom, depois de ler umas três vezes o texto, para entendê-lo, me perguntei. Poucos se auto questionam acerca de seus valores e crenças? Na hora me veio que sim. Mas lendo melhor sobre a relação dos pais e filhos a questão do ensino superior, seria excesso dizer que para todas as coisas da vida nós simplesmente projetamos as nossas visões obtidas anteriormente com erros e acertos, mas me parece claro que quando os pais falam a famosa frase eles tem isso em mente, que o ensino superior é sinônimo de "crescer na vida". Ao menos eu vejo isso em muitas pessoas que são pais e tem filhos que estão nessa fase.
É bem estranho, mas eu concordo com o Dodo, quando eu olho para o Brasil com um outro esclarecimento, não consigo ao menos me comparar as demais pessoas e ao papel que elas prestam na sociedade, não que eu faça melhor ou pior, mas simplesmente porque é singular, as raízes do povo aqui são tão maleitas, que eu no fundo acho que seria melhor recusar o fato de que eu tenho raízes tão maleitas quanto os outros. Mas é preciso encarar a realidade e no mínimo tentar fazer diferente daqui pra frente.

Falei besteira? :|
Pode corrigir, mas seja gentil, por favor  :flor:



Offline Luis Dantas

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Re: Por que crer?
« Resposta #13 Online: 26 de Janeiro de 2008, 18:00:40 »
Bom, depois de ler umas três vezes o texto, para entendê-lo, me perguntei. Poucos se auto questionam acerca de seus valores e crenças? Na hora me veio que sim. Mas lendo melhor sobre a relação dos pais e filhos a questão do ensino superior, seria excesso dizer que para todas as coisas da vida nós simplesmente projetamos as nossas visões obtidas anteriormente com erros e acertos, mas me parece claro que quando os pais falam a famosa frase eles tem isso em mente, que o ensino superior é sinônimo de "crescer na vida". Ao menos eu vejo isso em muitas pessoas que são pais e tem filhos que estão nessa fase.

(qual famosa frase? "Meu filho é doutor"?)

Não é tanto que eu discorde quanto a ser "crescer na vida"; o que me incomoda, e muito, é a pressa em colocar o carro na frente dos bois e esperar que um milagre aconteça.  Já vi muita gente boa desperdiçar anos de sua vida (eu inclusive) para tentar cumprir com expectativas absurdas e até mesmo contraditórias.  E por outro lado, há a questão da descaracterização (já bem avançada) do ensino superior brasileiro.  Chegamos no ponto em que não se espera mais que um bacharal realmente entenda do assunto em que se formou.

Ensino superior é por definição uma conquista de elite. Exige muito sacrifício e muito trabalho de retaguarda.  Se é que é para levar a sério, o que infelizmente está começando a parecer exceção neste país.

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É bem estranho, mas eu concordo com o Dodo, quando eu olho para o Brasil com um outro esclarecimento, não consigo ao menos me comparar as demais pessoas e ao papel que elas prestam na sociedade, não que eu faça melhor ou pior, mas simplesmente porque é singular, as raízes do povo aqui são tão maleitas, que eu no fundo acho que seria melhor recusar o fato de que eu tenho raízes tão maleitas quanto os outros. Mas é preciso encarar a realidade e no mínimo tentar fazer diferente daqui pra frente.

Distanciamento crítico é uma boa coisa, não?


O que significa "maleita"?
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Danieli

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Re: Por que crer?
« Resposta #14 Online: 26 de Janeiro de 2008, 18:03:45 »
O que significa "maleita"?

Mal físico, ou psicológico.

Offline Luis Dantas

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Re: Por que crer?
« Resposta #15 Online: 27 de Janeiro de 2008, 01:09:17 »
Me lembrei de uma coisa: o povo japonês envelhece muito melhor do que o brasileiro.  Não acho que seja coincidência a diferença de posturas diante da relação entre as gerações.
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Offline Dbohr

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Re: Por que crer?
« Resposta #16 Online: 27 de Janeiro de 2008, 08:56:29 »
Pode ser também a qualidade de vida...

Mas já li também que existe uma dicotomia esquisita no Japão sobre pessoas de idade. Enquanto algumas são mesmo respeitadas, outras são tratadas como lixo, ou como um estorvo. Do outro lado, alguns idosos fazem questão de serem um estorvo ao mesmo tempo em que exigem respeito.

Offline Luis Dantas

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Re: Por que crer?
« Resposta #17 Online: 27 de Janeiro de 2008, 10:45:40 »
Dicotomias esquisitas são o Japão. :)
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Re: Por que crer?
« Resposta #18 Online: 27 de Janeiro de 2008, 10:47:44 »
Isso lá é :-)

E cade o Barata Tenno numa hora dessas?

Offline Luis Dantas

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Re: Por que crer?
« Resposta #19 Online: 27 de Janeiro de 2008, 11:34:35 »
Anda sumido.

Me ocorreu que idosos rabugentos são comparáveis a rebeldes adolescentes; ambos representam as parcelas de suas respectivas faixas etárias que não sentem muita gratidão pelo sistema em que estão inseridos.

Eu admiro muito a infra-estrutura social e cultural do Japão, mas é preciso reconhecer que sempre haverá os excluídos e insatisfeitos.

Interessante que enquanto pensava no assunto ontem e hoje eu não conseguia decidir se acho que os brasileiros tem mais fé nas próximas gerações do que os japoneses ou vice-versa.  Mas cheguei à conclusão de que são (via de regra) tipos diferentes de fé nas duas culturas; a do brasileiro é em boa parte uma combinação de fé na "evolução" (palavra usada abusivamente neste país) com algum tipo de crença em justiça divina (formas típicas sendo a crença reencarnacionista espírita e a salvação via Jesus de muitos crentes).  A japonesa tende a ser bem mais próxima do que eu considero verdadeira fé, baseada em atos e escolhas conscientes.
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Offline Shinigami-Ateu

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Re: Por que crer?
« Resposta #20 Online: 28 de Janeiro de 2008, 10:36:27 »
Olá Luis, muito bom seu texto.

Tendo em vista que  grande maioria das familias Brasileiras são destroçadas, são familias que vivem em constante conflito com dificuldades financeiras, famílias formadas por pessoas sem identidade, sem cultura.
Essas familias danificadas geram filhos descompensados emocionalmente, que por sua vez repetem o mesmo erro de seus pais e, assim se segue esse ciclo perverso, mas como escapar desse ciclo?

A educação é vista como uma ferramenta, uma forma de quebrar o ciclo e melhorar a vida do filho, mas como uma pessoa que vive em um verdadeiro inferno em casa, tem que trabalhar o dia todo para ajudar a pagar as contas de casa poderá se dedicar ao aprendizado? E nesse solo fértil que surge os mercenários, os vendedores de ilusão das faculdades particulares, essas instituições vendem sucesso e prosperidade, mas oferecem uma educação mediócre.

Eu sou uma vítima desse sistema, minha mãe se orgulha e grita aos quatro cantos seu feito em ter "dado" educação ao seus filhos, por ter conseguido vencer, mesmo com todas as adversidades, vivendo sem marido.
Eu reconheço todo seu sacrifício, tendo desesperadamente me tornar melhor a cada dia que passa, sei que sou um profissional mediócre, mas não desisto, vou tentar honrar o nome de minha mãe, e quem sabe eu consiga quebrar o ciclo.

Pessoal desculpe desabafo, é que as palavras do Luis me fizeram lembrar de minha vida, realmente não é fácil mudar.
 :'(

"Por que temer a morte? Enquanto eu sou, a morte não é; e, quando ela for, eu já não serei. Por que deveria temer o que não pode ser enquanto sou?”.

Offline Luis Dantas

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Re: Por que crer?
« Resposta #21 Online: 28 de Janeiro de 2008, 10:43:08 »
Olá Luis, muito bom seu texto.

Obrigado.

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Tendo em vista que  grande maioria das familias Brasileiras são destroçadas, são familias que vivem em constante conflito com dificuldades financeiras, famílias formadas por pessoas sem identidade, sem cultura.
Essas familias danificadas geram filhos descompensados emocionalmente, que por sua vez repetem o mesmo erro de seus pais e, assim se segue esse ciclo perverso, mas como escapar desse ciclo?

O único jeito é arregaçando as mangas e procurando ser responsável e realista.  Tendo no máximo dois filhos, abandonando as esperanças vãs de que milagres aconteçam em algum ponto do percurso, e vendo a formação das próximas gerações como uma responsabilidade coletiva, que envolve tios, avós, primos e até irmãos, não apenas pai e mãe.

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A educação é vista como uma ferramenta, uma forma de quebrar o ciclo e melhorar a vida do filho, mas como uma pessoa que vive em um verdadeiro inferno em casa, tem que trabalhar o dia todo para ajudar a pagar as contas de casa poderá se dedicar ao aprendizado?

Em alguns casos é aprendendo a ser insensível para com a própria família.  O que, obviamente, gera problemas sérios de outra natureza.

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E nesse solo fértil que surge os mercenários, os vendedores de ilusão das faculdades particulares, essas instituições vendem sucesso e prosperidade, mas oferecem uma educação mediócre.

Eu sou uma vítima desse sistema, minha mãe se orgulha e grita aos quatro cantos seu feito em ter "dado" educação ao seus filhos, por ter conseguido vencer, mesmo com todas as adversidades, vivendo sem marido.
Eu reconheço todo seu sacrifício, tento desesperadamente me tornar melhor a cada dia que passa, sei que sou um profissional mediócre, mas não desisto, vou tentar honrar o nome de minha mãe, e quem sabe eu consiga quebrar o ciclo.

Pessoal desculpe desabafo, é que as palavras do Luis me fizeram lembrar de minha vida, realmente não é fácil mudar.
 :'(

É por não ser fácil que há mérito.  Eu creio que entendo em linhas gerais como você e sua mãe se sentem e não lhes tiro a razão.
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Em 18 de janeiro de 2010, ainda não vejo motivo para postar aqui. Estou nos fóruns Ateus do Brasil, Realidade, RV.  Se a Moderação reconquistar meu respeito, eu volto.  Questão de coerência.

Offline Shinigami-Ateu

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Re: Por que crer?
« Resposta #22 Online: 30 de Janeiro de 2008, 19:39:03 »
Ontem mais uma vez lembrei-me do seu texto Luis.
Fui a uma "colação de grau" de uma faculdade particular, me espantei como as pessoas ficam alegres, muitas pessoas com faixas com o nome do graduado, alguns chegam a confeccionar camisetas com a foto do dito cujo. Buzinas, apitos e gritos histéricos é o que se pode escutar na maior parte da cerimônia.
Em meio a toda aquela bagunça eu ficava pensando: "-A maioria das pessoas que aqui estão vão passar de estudantes a simples desempregados, mas mesmo assim estão felizes, eu queria saber o motivo?"
Acho que é a alegria do povo brasileiro, pois o povo brasileiro é um povo especial, ele é capaz de rir de si próprio, agora sei porque o Brasil é um dos países com mais pessoas com fé.
Assim como as pessoas tem fé na existência de um deus "oniphodão" que interfere em suas vidas, elas tem fé no milagre de que um curso superior vai fazer de seus filhos pessoas melhores e, por sua vez os graduados tem fé em que, mesmo sem ler um único livro em sua vida acadêmica, sem ter se esforçado, vai conseguir o sucesso profissional e muito dinheiro para comprar seu carro "Tunados" ou colocar silicone.

Acho que só deus para resolver o problema da educação no Brasil, e já que ele não existe.............


 
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Offline Luis Dantas

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Re: Por que crer?
« Resposta #23 Online: 31 de Janeiro de 2008, 11:29:16 »
Me veio uma reflexão sobre o assunto hoje: ter orgulho por ter concluído um curso com muito sacrifício é um tanto comum, mas também é estranho. 

Afinal, supõe-se que o assunto do curto fará parte do cotidiano profissional do formado, e dificuldade em concluir o curso é indício de dificuldade em entender e assimilar a matéria.

O melhor paralelo que posso fazer é ter orgulho de ter tido dificuldade em conseguir carteira de motorista...
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Offline Ricardo RCB.

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Re: Por que crer?
« Resposta #24 Online: 31 de Janeiro de 2008, 11:33:37 »
Talvez o orgulho venha não só da conclusão do curso, mas das dificuldades externas ao curso que o recém formado pode ter enfrentado. Dificuldades econômicas por exemplo.

Talvez seja uma explicação para uma pequena parte dos recém formados.
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