As belas frivolidades das sociedades abertas30 de January de 2008 por Diogo G.R. CostaEm artigo no Washington Post, Anne Applebaum fala sobre um fascinante aparecimento das beldades do leste europeu a partir de meados dos anos noventa. Com a queda do bloco soviético, a Europa e o mundo descobriram mulheres lindas, até então escondidas pela feiúra totalitária ao seu redor. Não que a democratização tenha retroativamente transformado a estrutura genética das jovens eslavas; mas sim, como diz Applebaum:
"Na União Soviética não havia mercado para a beleza feminina. As revistas de moda não exibiam mulheres bonitas, porque não havia revistas de moda. Nenhuma série de televisão dependia de mulheres bonitas para aumentar sua audiência, porque não se media a audiência…
Havia estrelas de cinema, é claro, mas algumas das mais famosas - penso em Lyubov Orlova, considerada a atriz favorita de Stalin - eram vigorosas e joviais, mas não chegavam a ser sensuais e deslumbrantes."O dirigismo econômico socialista não incentiva a beleza feminina, nem oferece os meios para que essa beleza se manifeste. Nos anos setenta, uma linda jovem bielorrussa não podia se vestir em grande estilo para encantar os salões de Londres. Teria que se contentar em usar roupas de poliéster vagabundo nas esquinas de Minsk.
Os oponentes da sociedade aberta provavelmente dirão que isso mostra como o livre mercado promove valores supérfluos. Mas é óbvio que não estamos falando de um valor exclusivo das sociedades capitalistas. A beleza feminina era valorizada também na União Soviética. A diferença nos países comunistas é que as atividades que recompensam a beleza costumam ser consideradas menos dignas do que aparecer na capa da Vogue.
Outros dirão que esse assunto é uma frivolidade. Anne Applebaum diz que esse assunto é uma frivolidade. Já eu preferia vê-la defender despurodamente a possibilidade de as mulheres escolherem sua aparência e o rumo de suas vidas. Como explicava Ortega y Gasset em Meditações sobre a técnica, a humanidade também se distingue do resto dos animais porque, para nós, o supérfluo se faz necessário. Como as dietas de emagrecimento comprovam, muitas pessoas sacrificam a alimentação pela estética e preferem sentir fome a se sentirem feias.
Mas, mesmo para quem não vê um bem no embelezamento feminino, Applebaum termina dizendo que sua explicação também serve para entendermos outras transformações sociais cujos benefícios são menos disputáveis:
"O mesmo mecanismo que trouxe [a loira siberiana] para seu jantar um dia poderá trazer o médico ucraniano que cura o seu câncer ou o corretor polonês que o enriquece."http://www.ordemlivre.org/blog/