É caro ser pobre: o "custo Brasil"
Cândido Prunes -
Quem percorresse os classificados de veículos de jornais brasileiros e americanos no último domingo, 5 de junho, poderia avaliar o peso exato do chamado "custo Brasil". Por exemplo, um automóvel da marca Mercedes-Benz, em Nova Iorque, sai por R$ 822,00 (oitocentos e vinte e dois reais) mensais, em 39 prestações (além de uma entrada de R$ 9.872,00). O mesmo veículo financiado no Brasil custa R$ 8.534,42 (oito mil quinhentos e trinta e quatro reais e quarenta e dois centavos) mensais, em 36 prestações (e uma entrada de R$ 65.372,80). Sim, é exatamente isto: o "leasing" nesse caso custa o décuplo no Brasil.
A comparação é válida pois um veículo dessa marca é importado tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Os preços ficam, no entanto, completamente díspares devido ao "custo Brasil". Nem o fabricante nem os importadores são tomados por uma cupidez mórbida contra os consumidores brasileiros. A carga tributária e a ineficiência do Poder público são os grandes vilões.
Os problemas começam com o frete marítimo. A menor densidade de tráfego entre o Brasil e Alemanha eleva o custo. As condições precárias dos portos brasileiros dispensam maiores comentários. As dificuldades do desembaraço aduaneiro também são notórias no Brasil (sem contar as greves e operações "padrão"). Os impostos que recaem sobre os produtos importados, especialmente automóveis, representam mais de 50% de seu preço. O transporte rodoviário até as revendas também é mais oneroso no Brasil devido ao estado de conservação das estradas e os riscos, inclusive de roubo de carga. Depois que o veículo importado enfrentou a "maratona tributária" entre o porto e a revenda brasileira, começa outra ligada ao seu financiamento. Além de taxas de juros estratosféricas, a atividade financeira é uma das que pagam mais impostos no Brasil. Esses custos todos são, evidentemente, repassados para o consumidor final.
Por isso, a classe média brasileira, escorchada por impostos e sacrificada por serviços públicos ineficientes, é obrigada a pagar na aquisição de um carro popular (o conhecido "pé-de-boi") o que a norte-americana desembolsa por um veículo de luxo.
O pior é que esse exemplo poderia ser multiplicado para inúmeros produtos, inclusive aqueles destinados ao consumo popular. Como se vê, custa muito caro ser pobre no nosso país.