Autor Tópico: A mentira das Universidades Públicas  (Lida 2752 vezes)

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Offline Eu

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A mentira das Universidades Públicas
« Online: 02 de Fevereiro de 2008, 15:58:08 »
Da universidade aos cursos profissionalizantes de terceiro grau

Reinaldo Azevedo em seu blog escreveu:

A universidade, mesmo pública, se “supletivou” para atender à demanda de quem, de fato, não teria condições intelectuais de acompanhar um curso de terceiro grau. E as particulares, do ProUni, estão é oferecendo um serviço de concessão de diploma. O governo injeta dinheiro nas mantenedoras, e elas expedem cartuchos para futuros motoristas de táxi com terceiro grau.

Percorrendo os corredores e submundos dessa imensa máquina de desperdício de dinheiro público e fábrica de pseudo-intelectuais chamada Ensino Superior (sic) há sete anos, posso assinar embaixo e assegurar que a afirmação dele é uma verdade empírica facilmente comprovável para quem conhece o ambiente universitário brasileiro e tem algum nível de conhecimento e cultura. Dizem que finalmente os negros, pobres e alunos de escola pública estão tendo vez, e que isso justificaria a gastança do país em ensino de terceiro grau num país onde grande parte da população mal consegue entender um texto simples de trinta linhas.

Esse analfabetismo funcional não está restrito aos rincões de pobreza e às vilas e favelas das grandes cidades. Está muito presente dentro da própria universidade, principalmente nos cursos de menor concorrência. O nível de raciocínio e conhecimento dos alunos é sofrível, a maioria não consegue entender o que lê e com isso passa período após período, disciplina após disciplina sem aprender absolutamente nada.

E por que não temos índices massivos de repetência? Perguntarão os incrédulos. Simples: porque o nível das universidades é medíocre. Muitos professores definem o nível de exigência das disciplinas que ministram em função do nível dos alunos. Se eles constatam que exigir o mínimo necessário para que se tenha um conhecimento básico fará a maioria reprovar, eles simplesmente rebaixam o nível para possibilitar que os coitadinhos injustiçados pelo sistema possam ir adiante. Perde o aluno ruim, que vai perder alguns anos de sua vida na universidade para depois virar um desempregado quando bem poderia ter investido tempo e dinheiro em algo que lhe garantisse futuramente um emprego melhor, e perde o bom aluno, que se sente desmotivado pela pouca exigência e termina se habituando à mediocridade dos colegas de curso.

Nossas universidades não passam de cursos profissionalizantes, e de péssima qualidade, diga-se de passagem. E vamos parar com essa estupidez de que "universidade é para todos". Para todos coisíssima nenhuma! As universidades, em qualquer nação instruída e avançada econômica, intelectual e tecnologicamente, são centros de excelência destinados a formar a elite intelectual do país. Devem receber os melhores, sem distinção social ou racial, e prepará-los para serem os melhores. A universidade nunca foi nem deve ser democrática, e sim meritocrática. Quem não tem estofo intelectual para fazer uma graduação que se contente com outros tipos de formação. Qual é a vantagem intrínseca de dar um diploma de curso superior para alguém que não aprendeu nada e jamais será capaz de exercer com competência o trabalho em seu campo? Para podermos bater no peito e dizer que temos prostitutas, faxineiras, garçons e taxistas com diploma universitário, como faz um determinado paiseco do Caribe, que mesmo tendo tanta pretensão há mais de cinqüenta anos não consegue se sustentar por si e depende da benevolência de outras nações para não morrer de fome?

Offline Luis Dantas

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Re: A mentira das Universidades Públicas
« Resposta #1 Online: 02 de Fevereiro de 2008, 16:03:03 »
Já é mesmo hora de denunciar esse estado de coisas.
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Em 18 de janeiro de 2010, ainda não vejo motivo para postar aqui. Estou nos fóruns Ateus do Brasil, Realidade, RV.  Se a Moderação reconquistar meu respeito, eu volto.  Questão de coerência.

Offline Herf

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Re: A mentira das Universidades Públicas
« Resposta #2 Online: 02 de Fevereiro de 2008, 20:34:38 »
E ainda querem dobrar o número delas.

Offline Dodo

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Re: A mentira das Universidades Públicas
« Resposta #3 Online: 02 de Fevereiro de 2008, 21:11:57 »
Eu concordo com ele, mas tenho a péssima impressão de ser mais uma crítica calcada no pensamento de que o "lulismo" é um entidade que empurra o país para a mediocridade. Esse pensamento é perigoso porque dá a impressão de que saindo  o Lula, tudo volta ao normal.
Nossos governantes, independenetes da sua ideologia, sempre se mostraram simpáticos a políticas de cunho social e de resgate da cidadania.
Não creio que o estago desapareça tão cedo.
« Última modificação: 02 de Fevereiro de 2008, 21:19:16 por Dodo »
Você é único, assim como todos os outros.
Alfred E. Newman

Offline Luis Dantas

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Re: A mentira das Universidades Públicas
« Resposta #4 Online: 02 de Fevereiro de 2008, 21:13:53 »
Nossos governantes, independenetes da sua ideologia, sempre se mostraram simpáticos a políticas de cunho social de resgate da cidadania.
Não creio que o estrago desapareça tão cedo.

Quem me dera fosse essa uma política de cunho social de resgate de cidadania... está mais para demagogia acomodada e destrutiva mesmo.
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Em 18 de janeiro de 2010, ainda não vejo motivo para postar aqui. Estou nos fóruns Ateus do Brasil, Realidade, RV.  Se a Moderação reconquistar meu respeito, eu volto.  Questão de coerência.

Offline Dodo

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Re: A mentira das Universidades Públicas
« Resposta #5 Online: 02 de Fevereiro de 2008, 21:20:41 »
Editei o texto, destaquei as palavras...eu estava tendo ser irônico!! :P :P
Você é único, assim como todos os outros.
Alfred E. Newman

Offline Dimitri

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Re: A mentira das Universidades Públicas
« Resposta #6 Online: 03 de Fevereiro de 2008, 01:30:25 »
Humm... estas medidas podem ser definidas como populistas? Ou nem tanto?

Offline Oceanos

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Re: A mentira das Universidades Públicas
« Resposta #7 Online: 03 de Fevereiro de 2008, 02:08:23 »
Waldon, por favor, quando você postar notícias, procure postar o link da fonte também.


Sobre o texto, se alguém já estudou ou deu aula em universidade particular, sabe que é a pura verdade...

Danieli

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Re: A mentira das Universidades Públicas
« Resposta #8 Online: 03 de Fevereiro de 2008, 03:46:43 »

Offline Andersøn

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Re: A mentira das Universidades Públicas
« Resposta #9 Online: 03 de Fevereiro de 2008, 19:12:53 »
O ponto mais questionável do texto é a afirmação de que as "universidades, em qualquer nação instruída e avançada econômica, intelectual e tecnologicamente, são centros de excelência destinados a formar a elite intelectual do país". Se este for o objetivo das universidades, pouco (ou nenhum) conhecimento científico sairá delas.

O conhecimento científico que se produz em uma universidade não deveria ser visto como algo para ajudar uma "nação" ou formar "elites intelectuais" (apesar de acontecer). O objetivo dos centros de pesquisa universitários, que é o conhecimento científico, não pertence a um país, indústria ou a interesses econômicos. Tal raciocínio muda o foco da pesquisa científica - que é bom sempre lembrar -, é o de compreender a natureza (se fosse avaliada pela "utilidade" do conhecimento que se obtém, deixaria de ser ciência).

Agora, se o autor critica a formação universitária de pessoas que aprende pouco, que "mal consegue entender um texto simples de trinta linhas", é porque tais universidades não têm como interesse ensinar seus alunos a pensar. As universidades são vistas (por seus donos) como empresas, que como qualquer outra tem como objetivo lucrar, neste caso comercializando conhecimentos técnicos, (passando a idéia de que está) formando mão-de-obra especializada.

Uma instituição de ensino que tem como objetivo apenas passar algum tipo de conhecimento técnico não precisa necessariamente ensinar as pessoas a pensar (me vêm à mente as forças policiais). Mais complicado é a idéia de que apenas os "melhores" e que possuem "estofo intelectual" deveriam cursar universidades, pelos seus méritos. Pois pergunto, seriam "melhor" em quê? Melhores para produzir ciência? Ou para contribuir e manter interesses ideológicos do país e de empresas? O texto parece dar margem à segunda opção, pois até a expressão "elite intelectual" se adapta melhor...

Outro aspecto é que separar um grupo pessoas que são "melhores" para cursar universidades deixa implícito que os incapazes não sabem pensar, ler e compreender "um texto simples de trinta linhas", assim devendo se contentar com "outros tipos de formação" (seriam as prostitutas, faxineiras, garçons e taxistas?).

Se isto for verdadeiro - de o conhecimento ser exclusivo de alguns grupos de pessoas, as elites intelectuais -, restarão modos de pensar menos exigentes de ver o mundo para os sem "estofo intelectual" (seriam as religiões?). Então de que adiantam fazer publicações de ciência para o público não-especializado, laboratórios para crianças e sites como este?
Se a liberdade significa alguma coisa, será sobretudo o direito de dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir.
George Orwell

Offline -Huxley-

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Re: A mentira das Universidades Públicas
« Resposta #10 Online: 04 de Fevereiro de 2008, 00:14:58 »
Reinaldo Azevedo é formado na USP. Se ele diz que "nossas universidades não passam de cursos profissionalizantes, e de péssima qualidade", ele ao menos deveria explicar porque temos cinco universidades, todas elas PÚBLICAS, rankeadas entre as 500 melhores do mundo de acordo a Shanghai Jiao Tong University da China: http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2007/08/03/universidades_brasileiras_aparecem_em_ranking_das_500_melhores__950673.html

Os melhores cursos das categorias muito demandadas são oferecidas pelas universidades públicas. Os nossos melhores acadêmicos que vão estudar nas melhores universidades americanas são de universidades públicas. Num recente artigo a uma edição comemorativa da Exame, o economista Gary Becker disse que ele podia sentir a qualidade dessas nossas universidades devido a qualidade dos alunos brasileiros que chegavam a Chicago.
 
O pior dessa conversa do Azevedo é que ele não fornece nenhuma solução. O que vai mudar se deixarmos de gastar dinheiro com as universidades, já que ela é apenas "máquina de desperdício de dinheiro público "? Caso ele não saiba, os pobres quase nunca não chegam às universidades públicas. Os que estão chegando mais nos últimos anos são os alunos de renda média-baixa. Vender as universidades não vai alterar um milímetro a questão do nível do Ensino Superior. Sabe porque? Porque os alunos de renda média-baixa vão continuar fazendo ensino superior, mesmo que pagando mensalidades de faculdades privadas. E se deixarmos de financiar as universidades públicas, qualquer dia desse surge uma "Gol das universidades" para popularizar o ensino superior, ocupando (e de forma sucateativa) a lacuna deixada numa possível privatização total de universidades. Isso iria tornar AINDA PIOR, o que ele já acha ruim. Na faculdade privada média brasileira prevalece o princípio PPP “PagaPropinaPassa”. Nossas faculdades particulares vivem PAGANDO MICO nas avaliações do Enade (http://conjur.estadao.com.br/static/text/61063,1 ), e via de regra, elas são MUITO PIORES que as públicas. Quem não se lembra de uma reportagem do Fantástico de uma faculdade privada que já aprovou um analfabeto no vestibular?

Se o problema for o "desperdício de dinheiro público", então isso pode ser revertido com a melhora da qualidade das nossas universidades e a cobrança de mensalidades de alunos de classe A e B. Agora, deixar de subsidiar a universidade pública seria a PIOR de todas as soluções.



Offline Zizou

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Re: A mentira das Universidades Públicas
« Resposta #11 Online: 06 de Fevereiro de 2008, 15:57:08 »
O que falta ao texto, realmente, é a apresentação de soluções ao problema. A melhoria da qualidade como o Huxley comentou, acredito que esteja vinculada ao trabalho dos professores. Estudo em uma universidade pública faz 6 anos e vejo em alguns professores novos que estão assumindo...uma ponta de esperança! :)
" Meu objetivo é ensinar minhas aspirações a se conformarem com os fatos, em vez de tentar fazer com que os fatos se harmonizem com elas." Thomas Henry Huxley
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Offline jenessecoá

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Re: A mentira das Universidades Públicas
« Resposta #12 Online: 06 de Fevereiro de 2008, 21:29:22 »
eu acho que o texto 'tá meio exagerado e tem lá seus defeitos. mas acho, também, que o ponto que ele toca realmente precisa ser discutido.

sô estudante de faculdade pública, na área de engenharia, e vejo o ensino realmente muito pior do que eu imaginava. daí, insatisfeito com certas coisas e como integrante do diretório lá do centro, acabei indo conversar com alguns professores sobre, por exemplo, a falta de teoria e demonstrações do assunto - em vez de ensinar coisas a serem decoradas e utilizadas só como um instrumento que ninguém sabe bem como funciona. ele, então, me disse que o conteúdo já foi diferente, que antes se ensinava bem mais profundamente, mas de uns tempos pra cá a quantidade de reprovações e reclamações acabou obrigando uma 'mudança'. hoje é tudo mais 'leve', digamos, porque não há interesse nesse tipo de conhecimento. o objetivo lá tem sido outro tipo de coisa - e nisso o centro é referência e ganha prêmio quase todo ano. mas com um ensino cada vez mais fácil em certos pontos, a gente só fica mais e mais atrasado na pesquisa, eu acho.

tudo isso sem contar esse tal de Reuni que foi decretado. não sei o que vocês acham, nem se isso já foi discutido aqui - já que entrei faz pouco-, mas eu vejo isso como um grande problema. querem, agora, elevar as conclusões pra 90%, sendo que elas não alcaçam nem os sessenta - mermo sendo cada mais fácil, que é pro povo passar. imagina como isso tudo vai ficar?
palpiteiro assumido. escrevedor de baboseira aqui, no Quilombo d'Idéia: http://quilombodideia.blogger.com.br

Offline Rodion

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Re: A mentira das Universidades Públicas
« Resposta #13 Online: 06 de Fevereiro de 2008, 21:40:58 »
se você acha que está exagerado, é porque você faz exatas e ele deve fazer humanas. isso explica tudo..
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Offline Dbohr

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Re: A mentira das Universidades Públicas
« Resposta #14 Online: 06 de Fevereiro de 2008, 23:21:08 »
Tudo, não digo. Mas explica muita coisa.

E waldon... dava pra, tipo, comentar alguma coisa nos seus N tópicos que criou até agora? Você solta textos de blogs e de e-jornais e depois some. Nada contra se esse é o seu lance, mas um pouco mais de interação com a galera seria legal. A gente não morde :-)

Offline Zizou

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Re: A mentira das Universidades Públicas
« Resposta #15 Online: 07 de Fevereiro de 2008, 14:59:29 »
Durante minha graduação (estou no mestrado agora), houve uma mudança na estrutura do curso. Sou formado em bacharelado e licenciatura em biologia e o curso agora se dividiu: ou você presta no vestibular para bacharelado ou para licenciatura. Conversando com alguns professores mais chegados, perguntei sobre as mudanças no rendimento dos alunos, já que a relação candidato/vaga entre os dois cursos é quase o dobro, alguns relataram uma diminuição no nível dos alunos após as mudanças. Como todos os professores lecionam nos dois cursos, fiquei curioso em saber agora, se eles alteram alguma coisa da programação dependendo do curso, sem contar as diferenças entre os dois cursos... :|
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Offline Sklogw

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Re: A mentira das Universidades Públicas
« Resposta #16 Online: 07 de Fevereiro de 2008, 15:09:23 »
Vinte anos trabalhando em Universidades públicas me ensinaram uma coisa: não se deve superestimar o poder transformador da UNiversidade na sociedade. É uma utopia meio renascentista imaginar a Universidade como o centro gerador das mudanças sociais, culturais, científicas, políticas, etc. A UNiversidade (pública ou privada, tanto faz) é nada mais que uma engrenagem no complexo mecanismo das relações sociais. Espera-se muito da Universidade, sobretudo a pública, mas dificilmente ela será melhor que a sociedade que a mantém.
"The most ordinary things are to philosophy a source of insoluble puzzles." [Ludwig Boltzmann]

"I venture to think that the people who talk most about it are the people who do least about it. Scientific method is what working scientists do, not what other people or even they themselves may say about it." [Percy W. Bridgman, "Reflections of a Physicist"]

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Offline Hold the Door

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Re: A mentira das Universidades Públicas
« Resposta #17 Online: 07 de Fevereiro de 2008, 15:48:21 »
Durante minha graduação (estou no mestrado agora), houve uma mudança na estrutura do curso. Sou formado em bacharelado e licenciatura em biologia e o curso agora se dividiu: ou você presta no vestibular para bacharelado ou para licenciatura. Conversando com alguns professores mais chegados, perguntei sobre as mudanças no rendimento dos alunos, já que a relação candidato/vaga entre os dois cursos é quase o dobro, alguns relataram uma diminuição no nível dos alunos após as mudanças. Como todos os professores lecionam nos dois cursos, fiquei curioso em saber agora, se eles alteram alguma coisa da programação dependendo do curso, sem contar as diferenças entre os dois cursos... :|
Geralmente o curso de licenciatura é mais "fraco" do que o de bacharelado. Pelo menos na maioria dos cursos de física é assim.

Parece haver a estranha idéia (pelo menos para mim) de que um licenciado não precisa ter uma formação tão sólida quanto um bacharel...
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Offline Dbohr

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Re: A mentira das Universidades Públicas
« Resposta #18 Online: 07 de Fevereiro de 2008, 16:44:47 »
Eu sempre achei essa divisão artificial e tola, Angelo. Como se um Licenciado não tivesse que estudar a base matemática formal da Quântica, e como se um Bacharel não tivesse que conhecer um mínimo de pedagogia para dar aulas.

Mas eu sou meio esquisito, mesmo.

Offline -Huxley-

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Re: A mentira das Universidades Públicas
« Resposta #19 Online: 09 de Fevereiro de 2008, 15:10:30 »
Um recente artigo de Gustavo Ioschpe, colunista da Veja, dá um cala boca definitivo nesse artigo do Reinaldo Azevedo.

Pelo direito à ruindade

"Se o aluno não está em universidade melhor, é sinal de que
não tem condições intelectuais ou financeiras de chegar lá.
A pergunta que faz sentido não é se seria melhor para esse
aluno e para o país que ele cursasse a USP ou a faculdade
da esquina. A pergunta certa: é melhor que ele curse
a faculdade da esquina ou faculdade nenhuma?"

AFP
 
Estudantes da Coréia fazem exame de admissão para a universidade: entre 1980 e 1997, a taxa de matrícula universitária naquele país aumentou 353%. No Brasil, apenas 36%


VEJA TAMBÉM
• Leia a coluna de Gustavo Ioschpe em www.veja.com.br/gustavo
 
Já virou clichê afirmar que a educação é uma das ferramentas estratégicas mais importantes – provavelmente a mais importante – para um povo que queira se desenvolver nos dias que correm. Algumas pesquisas da década de 90, olhando para o crescimento econômico dos trinta anos anteriores, apontavam que a educação secundária era significativa para o crescimento, mas não a primária. É muito provável que os pesquisadores de 2040 identifiquem o ensino superior, e não mais o secundário, como a variável relevante para explicar o desenvolvimento dos países no começo deste milênio. Nos países mais avançados, a educação secundária já foi massificada há tempo, e vários desses países caminham rapidamente para 100% de matrícula no ensino universitário. Segundo os últimos dados da Unesco, a Coréia e a Finlândia já passaram dos 90%; a Suécia, a Dinamarca, os Estados Unidos e a Nova Zelândia já superaram os 80%. A média dos países da América do Norte e da Europa está em 70%. É no nível de ensino superior, portanto, que os países cada vez mais se diferenciarão.

Esse é um fenômeno recente, ocorrido nos últimos 25 anos. Os países que buscavam o desenvolvimento rápido entenderam que a qualificação de suas populações era um caminho obrigatório e trataram de criar mecanismos que permitissem a massificação do conhecimento em seu nível mais alto. Entre 1980 e 1997, por exemplo, a Coréia aumentou sua taxa de matrícula universitária em 353%, a Turquia em 320%, Portugal em 255%, e assim por diante. O resultado é que vários países, inclusive aqueles que partiram de um patamar muito baixo, chegaram aos dias de hoje em condições de sonhar. O Chile, por exemplo, tem atualmente 48% dos seus alunos em idade universitária no ensino superior. O Líbano tem 46%. O Panamá tem 44%, o Uruguai tem 42%, a Venezuela tem 41%. A China vem assombrando o mundo com a rapidez da sua ascensão: de 6% de matriculados em 1999, passou para 22% em 2006.

O Brasil foi mais uma vez a exceção negativa. Apesar de termos universidades tradicionais, no período 1980-1997 aumentamos nossa matrícula em apenas 36%, e mesmo o crescimento acelerado nos últimos dez anos ainda nos deixa com apenas 24% de matrícula no ensino superior. Praticamente um terço dos países desenvolvidos e metade de vários dos nossos vizinhos continentais, portanto.

Estagnamos por três razões. A primeira é a péssima qualidade da educação básica, que gera um número pequeno de concluintes aptos a entrar no ensino superior. A segunda é o estrangulamento do modelo financeiro: as universidades públicas brasileiras estão entre as mais caras do mundo e sua replicação em escala é inviável, e falta renda na população para custear mais ensino privado. Finalmente, faltavam até há pouco opções de cursos superiores mais adaptadas às demandas desse novo contingente de estudantes, que querem programas mais curtos e mais direcionados às necessidades do mercado de trabalho, sem ter interesse em uma formação acadêmica, humanista. Nos países desenvolvidos, entre 15% e 30% da matrícula costuma ser nesses cursos mais curtos e profissionalizantes, contra 4% no Brasil.

Em um cenário como esse, de tremenda defasagem do Brasil em relação ao resto do mundo, deveríamos estar correndo a todo o vapor para recuperar o tempo perdido, focando na melhoria do ensino básico, na expansão das vagas em universidades públicas, na criação de mecanismos de financiamento das universidades privadas e em campanhas antievasão dos alunos já matriculados.

Causa estranheza e certo desalento, portanto, que nesse cenário o Ministério da Educação tenha iniciado uma campanha para monitorar e eventualmente fechar os cursos de baixa avaliação institucional, primeiro na área de direito, agora na área de pedagogia. A ação parte do pressuposto de que esses maus cursos são uma arapuca, que enganam seus alunos oferecendo um ensino que não os prepara para nada. Seriam meras fábricas de diploma, prejudicando seus alunos e pondo em risco a sociedade atendida por seus formandos. É mais um caso do viés ideológico antiliberal contaminando uma área estratégica para o país.

A idéia de que os alunos são enganados não se sustenta. Quem está em idade universitária e já passou por todo o sistema de ensino, e trabalha para poder pagar suas mensalidades (dos sessenta cursos de pedagogia, 57 são privados; todos os oitenta de direito também), não é exatamente um ingênuo, uma criança perdida. Todas as instituições brasileiras passam por um amplo processo de avaliação, tanto externa como por meio de exames feitos pelos próprios alunos, e seus resultados estão disponíveis na internet. Quando um aluno se matricula em um curso barato de uma instituição de pouco prestígio, ele não está atrás de uma posição de presidente de empresa ou de eminência intelectual: ele quer subir um pouco na vida, ganhar um pouco mais. Como em qualquer área, há serviços melhores e piores, com preços correspondentes. Se o aluno não está em universidade melhor, é sinal de que não tem condições intelectuais ou financeiras de chegar lá. Sem a universidade ruim, esse aluno não cursará faculdade alguma. A pergunta que faz sentido não é se seria melhor para esse aluno e para o país que ele cursasse a USP ou a faculdade da esquina. A pergunta certa: é melhor que ele curse a faculdade da esquina ou faculdade nenhuma?

A resposta a essa pergunta é dada de forma categórica pelo mercado de trabalho. Uma pessoa com ensino superior concluído ganha cerca de três vezes mais do que outra que tenha cursado apenas alguns anos do ensino superior, e quase cinco vezes mais do que aquela que cursou somente o ensino secundário. Estudo recente aponta que a taxa de retorno a um diplomado de ensino superior – isto é, o aumento salarial decorrente desse nível de estudo, descontado o seu custo – é de incríveis 19% a 20% ao ano. Educação superior, no Brasil, é melhor do que qualquer investimento – e não precisa ser economista para ter esse conhecimento intuitivo.

A idéia de que universidades, ou o sistema escolar como um todo, possam ser meras fábricas de diplomas é antiga. Sua formulação acadêmica já surgia na década de 70. Faz sentido imaginar que um empregador busque, no meio da incerteza do mercado de trabalho, um indicador para garantir a competência e a confiabilidade do futuro empregado. Um diploma seria esse indicador. A escola não agregaria muito em termos de conteúdo, mas seria mera ferramenta de sinalização, como que dizendo: "pode me contratar. Eu passei dez anos sem bater nas minhas professoras quando tirava nota baixa nem ficar pelado cada vez que me sentia atraído por uma coleguinha. Não vou espancá-lo se não me der um aumento, nem lhe causar processos de assédio sexual". Se essa hipótese fosse correta, os salários das pessoas – com diploma e sem – tenderiam a seguir um padrão aleatório ao longo do tempo, à medida que a produtividade de cada uma determinasse seus ganhos. Em realidade, acontece exatamente o oposto: não só as pessoas com maior instrução recebem maiores salários ao longo de toda a vida como a diferença entre os com e os sem-instrução aumenta com o passar dos anos. O mercado de trabalho não paga maiores salários aos mais instruídos pela beleza do seu diploma: paga mais porque essas pessoas vêm mais preparadas e aprendem mais com a sua experiência profissional. As reportagens e editoriais que reclamam dos bacharéis que viram donos de armazém cometem erro duplo: primeiro, ao retratarem a exceção como se fosse regra; segundo, por não entenderem que é preferível para o país ter um balconista com diploma superior a outro analfabeto.

Os alunos que cursam faculdades ruins não estão sendo enganados nem vitimados. Estão dando duro para galgar o seu degrau na escada social, com poucos recursos e tendo como ponto de partida uma péssima educação de base.

O estado não precisa proteger o cidadão de si mesmo. Melhor seria se o protegesse da inépcia do próprio governo. Teríamos um país muito melhor se nossos líderes voltassem sua atenção para melhorar a área que lhes compete – a educação básica e as universidades públicas – em vez de se preocuparem em limitar a oferta de um serviço já fiscalizado pelo MEC e controlado pelo mercado.

Link: http://veja.abril.com.br/130208/p_100.shtml

Offline Luis Dantas

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Re: A mentira das Universidades Públicas
« Resposta #20 Online: 09 de Fevereiro de 2008, 15:40:46 »
Estagnamos por três razões. A primeira é a péssima qualidade da educação básica, que gera um número pequeno de concluintes aptos a entrar no ensino superior. A segunda é o estrangulamento do modelo financeiro: as universidades públicas brasileiras estão entre as mais caras do mundo e sua replicação em escala é inviável, e falta renda na população para custear mais ensino privado. Finalmente, faltavam até há pouco opções de cursos superiores mais adaptadas às demandas desse novo contingente de estudantes, que querem programas mais curtos e mais direcionados às necessidades do mercado de trabalho, sem ter interesse em uma formação acadêmica, humanista.

E deveriam continuar faltando.  Formação profissionalizante voltada ao mercado de trabalho é tarefa para cursos profissionalizantes, não para ensino superior.   Se não por outro motivo, porque não faz sentido querer impor a quem quer se inserir no mercado de trabalho alguns anos a mais de estudo só por vaidade.

O mínimo que se pode esperar da Academia é que seja Academia.

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Nos países desenvolvidos, entre 15% e 30% da matrícula costuma ser nesses cursos mais curtos e profissionalizantes, contra 4% no Brasil.

Me pergunto o que exatamente ele está chamando de "cursos mais curtos e profissionalizantes" aqui.  Seriam cursos de tecnologia (que são muito raros no Brasil, não sei por que) ou talvez MBAs da vida?

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Em um cenário como esse, de tremenda defasagem do Brasil em relação ao resto do mundo, deveríamos estar correndo a todo o vapor para recuperar o tempo perdido, focando na melhoria do ensino básico,

Isso é certo.  É prioridade, para anteontem.

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na expansão das vagas em universidades públicas,

Por que?  E, principalmente, COMO?  Criar vagas na base da canetada é uma coisa, mas como se cria a infra-estrutura, até mesmo se forma professores universitários quando a situação atual já é tão precária e superestendida?

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na criação de mecanismos de financiamento das universidades privadas

Isso é tão ridículo quanto absurdo.

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e em campanhas antievasão dos alunos já matriculados.

Que tipo de "campanha"?  Não falta aos brasileiros simpatia pela idéia de entrar, continuar ou se formar em cursos superiores.   

A única "campanha" que se faz necessária é criar qualidade verdadeira no ensino básico e médio, de preferência incentivando formação média profissionalizante no processo.

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Causa estranheza e certo desalento, portanto, que nesse cenário o Ministério da Educação tenha iniciado uma campanha para monitorar e eventualmente fechar os cursos de baixa avaliação institucional, primeiro na área de direito, agora na área de pedagogia.

Esse parágrafo não pode ser sério; qual é o problema de querer fechar cursos que não prestam, principalmente em áreas como Direito (onde não faltam vagas) e Pedagogia (que tem importância estratégica permanente)?

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A ação parte do pressuposto de que esses maus cursos são uma arapuca, que enganam seus alunos oferecendo um ensino que não os prepara para nada. Seriam meras fábricas de diploma, prejudicando seus alunos e pondo em risco a sociedade atendida por seus formandos. É mais um caso do viés ideológico antiliberal contaminando uma área estratégica para o país.

Ou seria, se não fossem de fato fábricas de diploma de qualidade duvidosa que prejudicam seus alunos e o País...

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A idéia de que os alunos são enganados não se sustenta. Quem está em idade universitária e já passou por todo o sistema de ensino, e trabalha para poder pagar suas mensalidades (dos sessenta cursos de pedagogia, 57 são privados; todos os oitenta de direito também), não é exatamente um ingênuo, uma criança perdida. Todas as instituições brasileiras passam por um amplo processo de avaliação, tanto externa como por meio de exames feitos pelos próprios alunos, e seus resultados estão disponíveis na internet. Quando um aluno se matricula em um curso barato de uma instituição de pouco prestígio, ele não está atrás de uma posição de presidente de empresa ou de eminência intelectual: ele quer subir um pouco na vida, ganhar um pouco mais. Como em qualquer área, há serviços melhores e piores, com preços correspondentes. Se o aluno não está em universidade melhor, é sinal de que não tem condições intelectuais ou financeiras de chegar lá. Sem a universidade ruim, esse aluno não cursará faculdade alguma.

Não cabe aos alunos assumir a responsabilidade de fiscalizar o ensino superior.  Essa é claramente uma função do Estado.

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A pergunta que faz sentido não é se seria melhor para esse aluno e para o país que ele cursasse a USP ou a faculdade da esquina. A pergunta certa: é melhor que ele curse a faculdade da esquina ou faculdade nenhuma?

Se for para ele se sacrificar pagando mensalidades altas por anos a fio para depois possivelmente nem conseguir qualquer parte do retorno esperado, talvez o melhor seja nem tentar a faculdade da esquina e em vez disso investir em formação profissionalizante séria, não?

O país não precisa de forma alguma de mais "dotôres", e sim de profissionais competentes que não dependem de um certificado vazio.  Não há nada nas palavras "curso superior" que torne alguém magicamente competente e preparado.

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A resposta a essa pergunta é dada de forma categórica pelo mercado de trabalho. Uma pessoa com ensino superior concluído ganha cerca de três vezes mais do que outra que tenha cursado apenas alguns anos do ensino superior, e quase cinco vezes mais do que aquela que cursou somente o ensino secundário.

Um desnível tão acentuado é em si um problema sério que merece muita atenção.  Mas fora isso, será que ele não percebe o óbvio?  Quando a maior parte dos formados vem de faculdades pagas, é claro que os que chegam a concluir faculdade costumam ganhar bem mais... a relação de causa e consequência é bem diferente do que ele insinua, quase inversa até.

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Estudo recente aponta que a taxa de retorno a um diplomado de ensino superior – isto é, o aumento salarial decorrente desse nível de estudo, descontado o seu custo – é de incríveis 19% a 20% ao ano. Educação superior, no Brasil, é melhor do que qualquer investimento – e não precisa ser economista para ter esse conhecimento intuitivo.

Isso porque o mercado, com bons motivos, não confia na competência técnica de quem só tem o ensino médio.  O que mostra o fracasso governamental em cumprir uma de suas obrigações mais básicas, o ensino.  Querer terceirizar essa responsabilidade via subsídio de vagas particulares é uma abominação impensável.

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A idéia de que universidades, ou o sistema escolar como um todo, possam ser meras fábricas de diplomas é antiga. Sua formulação acadêmica já surgia na década de 70. Faz sentido imaginar que um empregador busque, no meio da incerteza do mercado de trabalho, um indicador para garantir a competência e a confiabilidade do futuro empregado. Um diploma seria esse indicador. A escola não agregaria muito em termos de conteúdo, mas seria mera ferramenta de sinalização, como que dizendo: "pode me contratar. Eu passei dez anos sem bater nas minhas professoras quando tirava nota baixa nem ficar pelado cada vez que me sentia atraído por uma coleguinha. Não vou espancá-lo se não me der um aumento, nem lhe causar processos de assédio sexual". Se essa hipótese fosse correta, os salários das pessoas – com diploma e sem – tenderiam a seguir um padrão aleatório ao longo do tempo, à medida que a produtividade de cada uma determinasse seus ganhos. Em realidade, acontece exatamente o oposto: não só as pessoas com maior instrução recebem maiores salários ao longo de toda a vida como a diferença entre os com e os sem-instrução aumenta com o passar dos anos. O mercado de trabalho não paga maiores salários aos mais instruídos pela beleza do seu diploma: paga mais porque essas pessoas vêm mais preparadas e aprendem mais com a sua experiência profissional. As reportagens e editoriais que reclamam dos bacharéis que viram donos de armazém cometem erro duplo: primeiro, ao retratarem a exceção como se fosse regra;

Qual exceção?  O trabalho mais típico dos engenheiros é trabalhar com manutenção de ar condicionado; a maioria dos pós-graduandos que conheço tem ou teve considerável dificuldade em conseguir emprego.  Até mesmo os formados em direito acabam sendo muito mais do que o mercado de fato pede.

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segundo, por não entenderem que é preferível para o país ter um balconista com diploma superior a outro analfabeto.

Não, não é, porque ensino não vem de graça, nem mesmo em faculdades públicas.  E essa forma de apresentar a questão é desonestamente dramática: desde quando a escolha é entre analfabetismo e formação superior?!  Isso só mostra como está descaracterizado o ensino superior...

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Os alunos que cursam faculdades ruins não estão sendo enganados nem vitimados.

Enganados, TALVEZ não.  Mas estão sendo vítimas das contradições de nosso sistema educacional, e extorquidos como consequência.

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Estão dando duro para galgar o seu degrau na escada social, com poucos recursos e tendo como ponto de partida uma péssima educação de base.

ISSO é verdade.  E tem de deixar de ser.

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O estado não precisa proteger o cidadão de si mesmo. Melhor seria se o protegesse da inépcia do próprio governo. Teríamos um país muito melhor se nossos líderes voltassem sua atenção para melhorar a área que lhes compete – a educação básica e as universidades públicas – em vez de se preocuparem em limitar a oferta de um serviço já fiscalizado pelo MEC e controlado pelo mercado.

Se pelo menos HOUVESSE necessidade de mais vagas de Direito ou Pedagogia...
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Offline Oceanos

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Re: A mentira das Universidades Públicas
« Resposta #21 Online: 09 de Fevereiro de 2008, 16:08:59 »
As reportagens e editoriais que reclamam dos bacharéis que viram donos de armazém cometem erro duplo: primeiro, ao retratarem a exceção como se fosse regra; segundo, por não entenderem que é preferível para o país ter um balconista com diploma superior a outro analfabeto.
Uau, já estão precisando alfabetizar o aluno no ensino superior também? A coisa está feia mesmo...

Offline jenessecoá

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Re: A mentira das Universidades Públicas
« Resposta #22 Online: 09 de Fevereiro de 2008, 21:34:44 »
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Não cabe aos alunos assumir a responsabilidade de fiscalizar o ensino superior.  Essa é claramente uma função do Estado.

acho que a questão não é bem fiscalizar. é escolher. é a escolha de um serviço como outro. se eu quero prover um serviço por um preço menor, mermo ele sendo de qualidade inferior, e alguém quer comprar de mim aquilo, por que impedir?

se deixássemos que o governo dissesse sempre quão 'bom' deve ser algo pra que esse algo exista, muita coisa seria proibida. acho que isso é uma ofensa à liberdade de escolhas entre os negociantes de qualquer tipo.
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Offline Luis Dantas

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Re: A mentira das Universidades Públicas
« Resposta #23 Online: 09 de Fevereiro de 2008, 21:55:36 »
se eu quero prover um serviço por um preço menor, mermo ele sendo de qualidade inferior, e alguém quer comprar de mim aquilo, por que impedir?

Mas ninguém impede; há plena liberdade para oferecer serviços de ensino, até mesmo informalmente.

Mas se alguém quer que sejam reconhecidos oficialmente como ensino de nível superior, inevitavelmente haverá algum órgão estatal para dar essa chancela.  Até poderia haver algo mais independente, por que não, como há por exemplo os certificados microsoft para a informática e o TOEFL para a proficiência em língua inglesa.

Nada disso obriga o MEC a tratar fábricas de diplomas como se fossem ensino sério.

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se deixássemos que o governo dissesse sempre quão 'bom' deve ser algo pra que esse algo exista, muita coisa seria proibida. acho que isso é uma ofensa à liberdade de escolhas entre os negociantes de qualquer tipo.

Não é disso que se trata.  O governo tem a obrigação de escolher quais iniciativas de ensino merecem reconhecimento oficial.  Não se pode censurá-lo por querer ter algum critério.

Se alguém acha vantajoso estudar em uma arapuca, nada vai impedir; muitos cursos de teologia existem sem reconhecimento oficial, e isso não ameaça em nada o direito deles continuarem existindo.

Mas chancela oficial, isso não pode vir simplesmente porque há quem queira ter diploma e há quem queira cobrar para concedê-lo  :bravo:
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Offline jenessecoá

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Re: A mentira das Universidades Públicas
« Resposta #24 Online: 09 de Fevereiro de 2008, 22:11:01 »
entendo o que tu quer dizer. o MEC não precisa reconhecer como bom algo que ele não julga assim. certo. mas, pelo que eu li, as faculdades não foram fechadas?
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