Autor Tópico: Conservação ambiental através do livre-mercado  (Lida 2046 vezes)

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Offline Buckaroo Banzai

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Conservação ambiental através do livre-mercado
« Online: 10 de Fevereiro de 2008, 05:26:58 »
Preservação das espécies e ecossistemas

Bisões são bovídeos americanos razoavelmente similares aos bois usados como gado em muitos sentidos, mas foram praticamente extintos num período bem curto. No século dezenove, as pessoas passavam de trem ao lado das manadas nas quais atiravam pelas janelas dos vagões janelas mantando os animais como uma forma sádica de diversão, sem que fossem aproveitados para qualquer outra coisa.

Esse cenário é praticamente impensável com cabeças de gado que tenham seus proprietários, porque, pela lei, as pessoas não podem simplesmente sair atirando no gado das pessoas. Talvez então, se os bisões tivessem tido donos, sua população não teria declinado até o nível que declinou, não precisando dos esforços conservacionistas de iniciativa privada de um indivíduo, James "Scotty" Phillip.

Numa segunda nota de memória falha, me lembro de uma manchete de algo como que, reservas indígenas preservam tanto quanto zonas de conservação "pura"; acho que foi a Anna que postou essa notícia em algum fórum.

Será que a propriedade privada das riquezas naturais, de modo geral, não seria uma maneira mais eficaz de preservação? Por exemplo, será que a proteção que há para com o gado bovino e outros, não poderia existir também para elefantes? Atualmente não são de ninguém, e são mortos aos montes, indiscriminadamente, para extração de marfim de alguns indivíduos - causando inclusive a diminuição das presas dos elefantes via seleção "natural", agravando ainda mais a situação, já que agora o marfim é mais raro, logo mais valioso, e mais elefantes tem que ser mortos para que se possa ter a mesma quantidade.

Eu não sei muito a respeito, mas me parece que os crocodilos são um caso um tanto similar ao que poderia ser com os elefantes; na Flórida, quase foram extintos para fabricação de bolsas e etc, mas isso levou a valorização e então as pessoas começaram a criá-los comercialmente, o que elevou as suas populações (se não me engano é mais ou menos isso).

Eu não sei bem como pensam que poderia ocorrer com indivíduos de espécies migratórias e os oceanos. Acho que talvez fosse mais ou menos como se diversas pessoas fossem acionistas, ou algo parecido.



Meio ambiente limpo

Nos EUA, nos idos do século XVII/XVIII, se não me engano, se uma dona de casa estivesse lavando as roupas e essas ficassem sujas pela fumaça da chaminé de uma fábrica, ela podia ir a justiça e denunciar isso, e a fábrica era obrigada a dar um jeito, o que era resolvido geralmente com chaminés mais altas, jogando a fumaça para mais longe. Apesar de ser rudimentar, parece um embrião promissor de uma forma de defesa do meio ambiente mais eficiente do que a que temos.

Conforme a população crescesse, apenas aumentar a chaminé eventualmente não adiantaria, e as fábricas seriam obrigadas, para respeitar o ar das outras pessoas, a dar um jeito de sujar menos o ambiente para não serem processados. Vejo alguma dificuldade aqui em se determinar quem é que está sujando o ar, uma vez que haveriam diversas fábricas e a fumaça se misturaria e se dispersaria, mas acho que isso talvez pudesse ser contornado, como com talvez a obrigatoriedade da implementação de "marcadores" (ou mera deteção, caso eles já existam de certa forma) da fumaça, ou algo assim. Também vejo o possível problema de, digamos, uma corporação muito poluente simplesmente ter dinheiro para comprar um rio, lago, ou parte do mar e sujar o quanto quiser. Por outro lado talvez seja meio duvidoso que as pessoas quisessem vender, se usassem a água ou soubessem que seria esse o fim. Também teria a questão sobre se alguém poderia em algum segmento de um rio fazer uma barragem para conter a água, fazendo com que o restante seja praticamente apenas uma vala ou um córrego com uma fração muito menor da água que tinham antes.

Mas fora isso, defendem os ambientalistas libertários, o livre-mercado teria incentivado tecnologias mais ecológicas e não teríamos os problemas que temos hoje. Walter Block acha que não haveria risco até do buraco na camada de ozônio, por exemplo, porque o aumento de radiação seria um tipo de agressão e os responsáveis deveriam ser punidos e etc. Eu concordo em parte, mas também vejo problemas adicionais. Nesse caso da camada de ozônio e coisas similares, a "agressão" é dispersa e tardia. Geralmente é necessário uma projeção do que irá acontecer. Como por exemplo, o buraco da camada de ozônio mesmo, teve o seu aumento contido antes de continuar aumentando pela adesão ao protocolo de Montreal. Ele começou a regredir levemente, mas ainda não tivemos efeitos catastróficos que alguns talvez requisitassem como justificativa para medidas de reparo. Talvez se pudesse fazer uma analogia com um bêbado no volante, que não pode dirigir, independentemente de não ter atropelado ou batido ainda, mas apenas por uma risco considerável de fazê-lo pelo que se sabe dos efeitos do álcool sobre o cérebro. Ou se talvez a camada de ozônio em si fosse privatizada :histeria:

Também há um tanto a questão de disparidades de poder, como no caso relatado no filme da Erin Brockovich e similares. Mas pode ser usado para os dois lados, de certa forma, uma vez que as pessoas conseguiram alguma forma de restituição, mas precisa haver ainda o governo para aplicar a justiça. Ainda nas disparidades de poder, há a questão dos grandes poluidores e quem realiza os estudos imparciais; por outro lado, nas recentes questões ambientais, governos, como a administração Bush jr. e o governo da China, foram igualmente ou até mais responsáveis por deturpar a ciência em prol de uma "agenda", sendo o governo Bush jr. consistentemente anti-científico em diversos sentidos, como no caso de evolução e reduzir o acesso de informações sobre métodos contraceptivos ao público.

Numa nota paralela, possivelmente totalmente não relacionada, ouvi dizer que na Rússia houve uma lei que obrigava a fábricas que usassem a água de rios, a despejar a água "antes" do ponto em que captavam, assim, se quisessem captar água limpa, teriam que despejar água limpa. Nem sei se isso é verdade.



Reciclagem e lixo

Um problema que os ambientalistas comumente apontam é que coisas mais nocivas para o ambiente são muitas vezes favorecidas pelo mercado por serem mais baratas do que as outras opções, que seriam mais caras. Defensores do livre-mercado dizem que isso é uma falha do mercado, ao estatizar o saneamento básico, para onde vai o lixo. Se houvessem depósitos de lixo privados, eles defendem, os seus donos teriam diferentes tarifas de acordo com os tipos de lixo mais nocivos para o seu terreno, porque os tipos de lixo mais nocivos diminuem o valor de venda do terreno. Isso eventualmente teria algum impacto no valor dos produtos na outra ponta, uma sacola de papel, supostamente mais ecologicamente correta por ser biodegradável, seria mais barata do que sacolas de plástico, porque elas, ainda que fossem mais ou igualmente baratas na compra, seriam mais caras para nos livrarmos delas.

Segundo eles, isso não ocorre com a situação onde o governo cuida do lixo, e não tem prejuízos ou interesses no tipo de lixo que aceita no terreno, podendo aceitar qualquer tipo de lixo pelo mesmo preço, não havendo incentivo em termos de custo, de valores reais, para produção mais limpa.








Média:

* [Econtalk] Yandle on the Tragedy of the Commons and the Implications for Environmental Regulation
October 29, 2007, Featuring Bruce Yandle
- Bruce Yandle of Clemson University and George Mason University's Mercatus Center looks at the tragedy of the commons and the various ways that people have avoided the overuse of resources that are held in common. Examples discussed include fisheries, roads, rivers and the air. Yandle talks with EconTalk host Russ Roberts about the historical use of norms, cooperative ventures such as incorporating a river, the common law, and top-down command-and-control regulation to reduce air and water pollution.

Download MP3 (38.7 MB)


* [Mises.org] Walter Block - Environmental Problems, Libertarian Solutions - Recorded at the 1990 ISIL World Libertarian Convention [54:48] (MP3, 102MB)

Offline Partiti

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Re: Conservação ambiental e o livre-mercado
« Resposta #1 Online: 10 de Fevereiro de 2008, 15:02:33 »
Sobre isso de reciclagem, há aterros sim que são privados. Mas diferenciar a taxa pelo tipo do lixo é impossível sem separação prévia do lixo, e mesmo assim aquilo de plástico/vidro/papel/orgânico não separa de verdade o que é nocivo ou não.

E ninguém compra um terreno que foi um aterro, pelo menos não antes de passar uns 100 anos dele fechado. A depreciação é completa, praticamente.

Resumindo, não tem como o mercado auto-regular na reciclagem, tem que haver uma regulação externa, senão só vamos reciclar alumínio e olhe lá.
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Offline Buckaroo Banzai

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Re: Conservação ambiental e o livre-mercado
« Resposta #2 Online: 10 de Fevereiro de 2008, 15:59:39 »
Acho que foi na França, "construíram" um campo de golfe onde antes era um aterro sanitário. Ao mesmo tempo, é um tipo de usina de gás natural, devido aos gases emanados da decomposição do lixo. Não sei se é privado ou estatal, mas acho que teria viabilidade comercial, tanto como campo de golfe (ou outra coisa que se considerasse viável ter sobre um aterro) e pela geração de gás.

A reciclagem também não é de toda desejável, eu não sei exatamente os detalhes, mas diversas coisas, como vidro e acho que também o papel, são mais caros e anti-ecológicos/poluentes se reciclados. Se a associação de "caro" for suficientemente forte com o que é anti-ecológico, então se teria uma regulação automática, e mais próxima do ideal. Agora, o que ocorre com a regulação é que coisas anti-ecológicas promovidas como ecológicas (como reciclagem de papel, acho) tem subsídio estatal. E ao mesmo tempo, gera-se empregos com esse tipo de coisa, quando talvez já pudesse ter investido esses recursos em um tipo de geração de empregos que não fosse danosa ao ambiente.


Offline Partiti

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Re: Conservação ambiental através do livre-mercado
« Resposta #3 Online: 10 de Fevereiro de 2008, 16:29:34 »
Acho que foi na França, "construíram" um campo de golfe onde antes era um aterro sanitário. Ao mesmo tempo, é um tipo de usina de gás natural, devido aos gases emanados da decomposição do lixo. Não sei se é privado ou estatal, mas acho que teria viabilidade comercial, tanto como campo de golfe (ou outra coisa que se considerasse viável ter sobre um aterro) e pela geração de gás.

Pode até ser. Mas o principal é que a venda do terreno do aterro só é possível depois de algum tempo para o lixo assentar, além de que o terreno não serve para se construir nada em cima, perdendo muito do valor inicial. É o que eu disse, a depreciação é quase completa, nenhum investidor considera a venda do terreno do aterro para outra coisa depois que o aterro fica cheio.

Citar
A reciclagem também não é de toda desejável, eu não sei exatamente os detalhes, mas diversas coisas, como vidro e acho que também o papel, são mais caros e anti-ecológicos/poluentes se reciclados. Se a associação de "caro" for suficientemente forte com o que é anti-ecológico, então se teria uma regulação automática, e mais próxima do ideal. Agora, o que ocorre com a regulação é que coisas anti-ecológicas promovidas como ecológicas (como reciclagem de papel, acho) tem subsídio estatal. E ao mesmo tempo, gera-se empregos com esse tipo de coisa, quando talvez já pudesse ter investido esses recursos em um tipo de geração de empregos que não fosse danosa ao ambiente.

Bom, eu estava justamente pensando em reciclagem "boa", que não é feita por ser cara. Um exemplo que já cheguei a estudar na faculdade é o de lâmpadas fluorescentes, que não são recicladas por ser um processo muito caro, porém o descarte delas é bastante contaminante, por causa do mercúrio e outros elementos.

O ponto é que o maior determinante na decisão pela reciclagem é o custo do processo pelo qual o elemento reciclado é submetido versus o custo de se produzir um novo. O mercado sempre buscará o mais barato, é fato, independente de efeitos secundários como custo de aterros ou coisas do tipo, que sempre impactam pouco ou nada no preço final do produto.
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Offline Rodion

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Re: Conservação ambiental através do livre-mercado
« Resposta #4 Online: 10 de Fevereiro de 2008, 19:26:44 »
curiosidade quanto aos búfalos: devido à diminuição da população humana que está acontecendo no meio oeste norte-americano e problemas que podem vir a ocorrer com a falta de imigração, fala-se em levar os búfalos de volta pra lá.
Citar
There is a somewhat drastic alternative. In the 1980s two academics from Rutgers University suggested turning the plains into a “buffalo commons”, where the animals that grazed the area before white immigration would be encouraged to return. The idea was so unpopular that its authors occasionally had to be protected by police. But it is nonetheless coming to pass.

Buffalo meat is leaner than beef, and thus well suited to contemporary health worries. Partly as a result, the buffalo are coming back: some 62,000 were slaughtered between January and November last year, a 17% rise over a year earlier. Of the plains states, only North Dakota has openly mulled turning over large tracts of land to the furry megafauna. But other areas, including eastern Colorado, have preserved grasslands and are touting their natural resources and history—a vivid one of brutal treks and Indian massacres.

http://www.economist.com/world/na/displaystory.cfm?story_id=10534077

naturalmente, na forma de rebanhos privados.
"Notai, vós homens de ação orgulhosos, não sois senão os instrumentos inconscientes dos homens de pensamento, que na quietude humilde traçaram freqüentemente vossos planos de ação mais definidos." heinrich heine

Nigh†mare

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Re: Conservação ambiental através do livre-mercado
« Resposta #5 Online: 11 de Fevereiro de 2008, 00:54:10 »
Se com regulação estatal não há conservação ambiental, como poderia o "livre-mercado" promovê-la?

As "idéias" projetadas no texto já são passíveis de aplicação; por que, então, precisaria haver um "mercado livre" para funcionarem?

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Conservação ambiental através do livre-mercado
« Resposta #6 Online: 11 de Fevereiro de 2008, 01:04:51 »
Bem, como coloquei no post inicial.... algumas dessas coisas aparentemente funcionam, quando há mercado, propriedade privada por trás (como no caso dos búfalos e dos jacarés), mas não dá certo quando não há um mercado de verdade, como no caso dos elefantes, que não são possuídos por ninguém; e eles não são de ninguém, tanto quanto julgo saber, porque são "públicos", são protegidos pelo estado e essa caça é proibida. Talvez se os territórios onde vivem os elefantes fossem privatizados, bem como os elefantes, eles pudessem ser caçados de maneira mais sustentável, sem risco de extinção e etc.

Claro, ainda haveriam os problemas análogos a roubo de propriedade privada de qualquer modo. Eu não estou dizendo que nada disso é perfeito, mas não é algo que me salta aos olhos como absurdo, mas como bastante atraente, e por isso estou colocando em discussão.

Nigh†mare

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Re: Conservação ambiental através do livre-mercado
« Resposta #7 Online: 11 de Fevereiro de 2008, 02:12:57 »
Bem, como coloquei no post inicial.... algumas dessas coisas aparentemente funcionam, quando há mercado, propriedade privada por trás (como no caso dos búfalos e dos jacarés), mas não dá certo quando não há um mercado de verdade, como no caso dos elefantes, que não são possuídos por ninguém; e eles não são de ninguém, tanto quanto julgo saber, porque são "públicos", são protegidos pelo estado e essa caça é proibida.
No seu exemplo: É uma diferença conceitual, apenas: os jacarés privados é que não são de ninguém, exceto do seu possuidor, ao passo que os elefantes "são" de todos. Os jacarés privados não são mais jacarés, são coisas, e estão sujeitos à vontade de mercado de seus donos. Quando acabar a demanda, ou quando aparecer atividade mais rentável, acabam-se os jacarés. O que muda entre um e outro é meramente a proteção de que gozam; mas os jacarés, por privados que sejam, não pertencem mais ao que se possa chamar de "meio ambiente".


Talvez se os territórios onde vivem os elefantes fossem privatizados, bem como os elefantes, eles pudessem ser caçados de maneira mais sustentável, sem risco de extinção e etc.
Não se pode chamar isso de conservação ambiental.

Claro, ainda haveriam os problemas análogos a roubo de propriedade privada de qualquer modo. Eu não estou dizendo que nada disso é perfeito, mas não é algo que me salta aos olhos como absurdo, mas como bastante atraente, e por isso estou colocando em discussão.
Entendo. Mas pense que o principal objetivo do mercado é o lucro, e a única coisa que impede o mercado de devorar o que puder para transformar em lucro é a regulação social/estatal.

Não fosse isso, a DuPont estaria até hoje despejando CFCs no mercado, e as pequenas indústrias estariam usando deles em larga escala (ainda hoje o fazem; ainda hoje é preciso fiscalização para evitar que se vendam aparelhos de ar-condicionado automotivos à base de CFCs).

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Conservação ambiental através do livre-mercado
« Resposta #8 Online: 11 de Fevereiro de 2008, 12:36:12 »
Eu acho que você está arbitrariamente excluindo essa situação dos animais e ambientes sobre a condição de propriedade como conservação do meio ambiente ou dos seres. Não me parece fundamentalmente dizer que se alguém conhece uma pessoa via algum desses serviços de agências de encontros/namoro, um desses orkuts pagos, que daí não poderia resultar amor, porque a "relação aí não é mais uma relação, é um produto", e etc.

Eu não estou dizendo que não devesse haver qualquer regulação social/estatal (ainda que alguns certamente o façam), apenas que, nessas situações especificamente, e potencialmente em outras, me parece que o mercado acabou sendo (ou seria) mais eficiente em matéria de preservação, do que o estado. E não faço tanto a distinção entre sociedade e estado ou mercado, acho que ambos são aspectos ou dispositivos da sociedade.

Quanto aos CFCs, e questões similares, haveria relamente mais complicação em se definir a coisa em matéria de propriedade num sentido mais comum do termo, e acho que o modo libertário de encarar seria via aquela coisa de não-agressão, como acho que mencionei inclusive. Mais ou menos como um bêbado não pode dirigir, apenas pelo alto risco de vir a ferir alguém (creio que mesmo a maioria dos libertários mais radicais concordam com isso, mas posso estar enganado). Diga-se de passagem, o protocolo de Montreal, controlando o CFC, foi acatado pelo Reagan, o que pode ou não ter alguma relevância no lado ideológico da questão toda.

Offline Herf

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Re: Conservação ambiental através do livre-mercado
« Resposta #9 Online: 11 de Fevereiro de 2008, 17:49:31 »
Bem, como coloquei no post inicial.... algumas dessas coisas aparentemente funcionam, quando há mercado, propriedade privada por trás (como no caso dos búfalos e dos jacarés), mas não dá certo quando não há um mercado de verdade, como no caso dos elefantes, que não são possuídos por ninguém; e eles não são de ninguém, tanto quanto julgo saber, porque são "públicos", são protegidos pelo estado e essa caça é proibida.
No seu exemplo: É uma diferença conceitual, apenas: os jacarés privados é que não são de ninguém, exceto do seu possuidor, ao passo que os elefantes "são" de todos. Os jacarés privados não são mais jacarés, são coisas, e estão sujeitos à vontade de mercado de seus donos. Quando acabar a demanda, ou quando aparecer atividade mais rentável, acabam-se os jacarés. O que muda entre um e outro é meramente a proteção de que gozam; mas os jacarés, por privados que sejam, não pertencem mais ao que se possa chamar de "meio ambiente".
Acho que isso poderia ser resolvido obrigando o proprietário a não extinguí-los. Quero dizer, poderia-se dar a ele liberdade para explorar comercialmente os animais da forma que bem entendesse, contanto que mantesse uma certa quantidade deles vivos.
« Última modificação: 11 de Fevereiro de 2008, 18:09:00 por Herf »

Rhyan

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Re: Conservação ambiental através do livre-mercado
« Resposta #10 Online: 11 de Fevereiro de 2008, 17:56:23 »
Imagino que se as praias fossem privadas desde cedo, hoje elas seriam mais limpas.

Nigh†mare

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Re: Conservação ambiental através do livre-mercado
« Resposta #11 Online: 11 de Fevereiro de 2008, 18:58:23 »
Bem, como coloquei no post inicial.... algumas dessas coisas aparentemente funcionam, quando há mercado, propriedade privada por trás (como no caso dos búfalos e dos jacarés), mas não dá certo quando não há um mercado de verdade, como no caso dos elefantes, que não são possuídos por ninguém; e eles não são de ninguém, tanto quanto julgo saber, porque são "públicos", são protegidos pelo estado e essa caça é proibida.
No seu exemplo: É uma diferença conceitual, apenas: os jacarés privados é que não são de ninguém, exceto do seu possuidor, ao passo que os elefantes "são" de todos. Os jacarés privados não são mais jacarés, são coisas, e estão sujeitos à vontade de mercado de seus donos. Quando acabar a demanda, ou quando aparecer atividade mais rentável, acabam-se os jacarés. O que muda entre um e outro é meramente a proteção de que gozam; mas os jacarés, por privados que sejam, não pertencem mais ao que se possa chamar de "meio ambiente".
Acho que isso poderia ser resolvido obrigando o proprietário a não extinguí-los. Quero dizer, poderia-se dar a ele liberdade para explorar comercialmente os animais da forma que bem entendesse, contanto que mantesse uma certa quantidade deles vivos.
Sim, mas onde entra o livre mercado auto regulável nesse contexto em que é preciso o Estado intervir, impondo tal tipo de obrigações?

Nigh†mare

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Re: Conservação ambiental através do livre-mercado
« Resposta #12 Online: 11 de Fevereiro de 2008, 19:18:46 »
Eu acho que você está arbitrariamente excluindo essa situação dos animais e ambientes sobre a condição de propriedade como conservação do meio ambiente ou dos seres. Não me parece fundamentalmente dizer que se alguém conhece uma pessoa via algum desses serviços de agências de encontros/namoro, um desses orkuts pagos, que daí não poderia resultar amor, porque a "relação aí não é mais uma relação, é um produto", e etc.
Analogia falsa. Preservar elefantes na forma de alvos de caçadores está muito longe de ser preservação do "meio-ambiente". O Estado vende um terreno para um explorador da caça de elefantes, mas este explorador não quer saber das hienas nem dos leopardos que tem por lá, aliás, ele nem tem interesse nesses animais dentro da nova propriedade. O que impediria ele de extinguir os bichinhos não interessantes? Regulação e fiscalização estatal? Por que a regulação seria mais eficiente nesse contexto?

Eu não estou dizendo que não devesse haver qualquer regulação social/estatal (ainda que alguns certamente o façam), apenas que, nessas situações especificamente, e potencialmente em outras, me parece que o mercado acabou sendo (ou seria) mais eficiente em matéria de preservação, do que o estado. E não faço tanto a distinção entre sociedade e estado ou mercado, acho que ambos são aspectos ou dispositivos da sociedade.
Então onde entra o livre-mercado?

Quanto aos CFCs, e questões similares, haveria relamente mais complicação em se definir a coisa em matéria de propriedade num sentido mais comum do termo, e acho que o modo libertário de encarar seria via aquela coisa de não-agressão, como acho que mencionei inclusive. Mais ou menos como um bêbado não pode dirigir, apenas pelo alto risco de vir a ferir alguém (creio que mesmo a maioria dos libertários mais radicais concordam com isso, mas posso estar enganado). Diga-se de passagem, o protocolo de Montreal, controlando o CFC, foi acatado pelo Reagan, o que pode ou não ter alguma relevância no lado ideológico da questão toda.
Em matéria de preservação ambiental, nada é mais eficaz do que a criação de reservas ambientais. Iniciativa privada nenhuma em lugar nenhum do mundo seria mais eficaz que essas reservas. Tente matar um besouro em Fernando de Noronha.

Offline Herf

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Re: Conservação ambiental através do livre-mercado
« Resposta #13 Online: 11 de Fevereiro de 2008, 19:53:46 »
Sim, mas onde entra o livre mercado auto regulável nesse contexto em que é preciso o Estado intervir, impondo tal tipo de obrigações?
Bem, na verdade eu concordo com o que você disse sobre os animais acabarem extintos caso a utilidade comercial deles seja também extinta, em um lugar onde eles sejam totalmente privatizados sem qualquer regulação. O livre mercado atua fazendo com que o proprietário crie os animais, tirando do estado essa tarefa, e em troca permite-se que ele os explore comercialmente.

Mas, nesse caso, o proprietário não passaria de uma "ferramenta" utilizada em prol da preservação ambiental. Quero dizer, a propriedade dos animais não seria um "fim em si própria", como o é a propriedade de uma casa, por exemplo, mas apenas um meio para o fim da preservação ambiental. Daí entraria o estado impedindo que ele matasse todos os animais, apesar de serem "dele".

Nigh†mare

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Re: Conservação ambiental através do livre-mercado
« Resposta #14 Online: 11 de Fevereiro de 2008, 21:34:20 »
Sim, mas onde entra o livre mercado auto regulável nesse contexto em que é preciso o Estado intervir, impondo tal tipo de obrigações?
Bem, na verdade eu concordo com o que você disse sobre os animais acabarem extintos caso a utilidade comercial deles seja também extinta, em um lugar onde eles sejam totalmente privatizados sem qualquer regulação. O livre mercado atua fazendo com que o proprietário crie os animais, tirando do estado essa tarefa, e em troca permite-se que ele os explore comercialmente.

Mas, nesse caso, o proprietário não passaria de uma "ferramenta" utilizada em prol da preservação ambiental. Quero dizer, a propriedade dos animais não seria um "fim em si própria", como o é a propriedade de uma casa, por exemplo, mas apenas um meio para o fim da preservação ambiental. Daí entraria o estado impedindo que ele matasse todos os animais, apesar de serem "dele".
E em que ponto isso seria melhor que a criação de reservas ambientais?


Offline Dodo

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Re: Conservação ambiental através do livre-mercado
« Resposta #16 Online: 12 de Fevereiro de 2008, 15:29:04 »
Você não vê, de forma geral, mais descaso com o que é público do que com o que é privado?

E muito .... parece que as pessoas não tem percepção do quanto sai caro ter algo "de graça".
Você é único, assim como todos os outros.
Alfred E. Newman

Nigh†mare

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Re: Conservação ambiental através do livre-mercado
« Resposta #17 Online: 12 de Fevereiro de 2008, 19:58:40 »
Você não vê, de forma geral, mais descaso com o que é público do que com o que é privado?
Não vi descaso nos parques nacionais que já visitei. Não há lixo, não se pode arrancar uma flor...

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Conservação ambiental através do livre-mercado
« Resposta #18 Online: 13 de Fevereiro de 2008, 21:22:35 »
E seria viável que toda terra sem dono fosse um imenso parque nacional com a mesma eficiência? Qual a diferença desse estado de parque nacional e esse em que há extração de madeira ilegal e etc, apesar de proibida pelo estado?

Nigh†mare

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Re: Conservação ambiental através do livre-mercado
« Resposta #19 Online: 13 de Fevereiro de 2008, 21:41:06 »
E seria viável que toda terra sem dono fosse um imenso parque nacional com a mesma eficiência?
Depende da vontade da sociedade. Os 170 milhões de reais desviados pelo Lalau serviriam para bancar seguranças/fiscais suficientes para vigiar a Amazônia por décadas. Ou não dariam?

Qual a diferença desse estado de parque nacional e esse em que há extração de madeira ilegal e etc, apesar de proibida pelo estado?
Não entendi.

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Conservação ambiental através do livre-mercado
« Resposta #20 Online: 14 de Fevereiro de 2008, 17:01:43 »
E seria viável que toda terra sem dono fosse um imenso parque nacional com a mesma eficiência?
Depende da vontade da sociedade. Os 170 milhões de reais desviados pelo Lalau serviriam para bancar seguranças/fiscais suficientes para vigiar a Amazônia por décadas. Ou não dariam?

Não sei... mas também acho que isso cai um tanto em outro aspecto, acho que coisas públicas tendem mais à corrupção do que as privadas. Justamente porque não é de quem administra; em coisas privadas, não é interessante aos donos roubar deles mesmos, ou deixar que roubem deles. Já coisas públicas, "não são de ninguém".


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Qual a diferença desse estado de parque nacional e esse em que há extração de madeira ilegal e etc, apesar de proibida pelo estado?
Não entendi.

Bem, há todo o desmatamento nas notícias, e etc. Que é ilegal; se é ilegal, provavelmente é porque a terra não é das pessoas que estão fazendo essa extração e etc, ou seja, pública (se não sou muito mais ignorante do que imaginava ser).

Qual é a diferença técnica desses parques públicos que são eficientes em conservação e o restante das terras, também públicas (imagino) que é alvo de exploração irresponsável/insustentável? Simplesmente um perímetro mais vigiado?

Offline Rodion

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Re: Conservação ambiental através do livre-mercado
« Resposta #21 Online: 14 de Fevereiro de 2008, 18:20:09 »
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Bem, há todo o desmatamento nas notícias, e etc. Que é ilegal; se é ilegal, provavelmente é porque a terra não é das pessoas que estão fazendo essa extração e etc, ou seja, pública (se não sou muito mais ignorante do que imaginava ser).
não necessariamente. praqueles lados a questão fundiária é meio complicada vez ou outra, mas não é esse o combustível do desmatamento. sei que há uma lei que exige que os proprietários conservem 80% da vegetação nativa, o que é como um limite de velocidade de 40km/h em uma rodovia expressa; um convite ao desrespeito. tanto que alguns proprietários estavam exigindo a diminuição da área a ser conservada pra 50%. não sei se é lei estadual, ou se se aplica a reservas ou quê, mas boa parte do desmatamento ocorre a despeito dela.
meu palpite é que a diferença entre os parques de que o nightmare falou, que são provavelmente no sudeste, e a floresta amazônica é institucional. a presença do estado no norte é muito fraca, e nem sei se pode vir a efetivamente existir no médio prazo.
« Última modificação: 14 de Fevereiro de 2008, 18:22:40 por Rodion »
"Notai, vós homens de ação orgulhosos, não sois senão os instrumentos inconscientes dos homens de pensamento, que na quietude humilde traçaram freqüentemente vossos planos de ação mais definidos." heinrich heine

 

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