Tópico: Debate primárias democratas

[Karenskas]

O debate de ontem entre Hillary Clinton e Barack Obama foi estranho. Hillary precisava partir para a ofensiva, mas hesitou. Dentro de sua campanha, as pressões para que houvesse confronto eram grandes. Em um dado momento, bateu na tecla que tem usado já há alguns dias. Obama usou frases de outro político, seu amigo, em um discurso. No debate, Hillary disse que o país precisa mudança de verdade e não ‘daquele tipo que se faz com uma máquina xerox’. Foi vaiada.

Então fizeram ambos um debate amigável. No empate, Barack Obama sai ganhando.

A questão é demográfica. Sobram poucos eleitores do tipo que votam em Hillary e ela precisa de muitos delegados para virar a mesa. Não basta dar uma resposta melhor sobre Cuba aqui, outra sobre seguro de saúde ali.

Mas houve um momento, nas considerações finais, que pode muito bem ser chamado de o momento mais estranho de um debate estranho. Não que tenha sido um mau momento – Hillary Clinton foi muito bem – mas, nas palavras da ex-primeira-dama:

    Acho que todos aqui sabem que vivi alguns momentos difíceis na vida. Sou grata pelas orações e apoio de inúmeros americanos. Mas muita gente me pergunta ‘como você consegue?’, ‘como reúne forças?’ e eu só balanço a cabeça impressionada porque, por piores que tenham sido os desafios que enfrentei, eles não são nada quando comparados ao que vejo acontecer todos os dias na vida de tantos americanos. […] Aquilo que sofri na vida não é nada quando comparado ao que acontece na vida de tanta gente, todos os dias, em todo o país. Percebi cedo na vida que tive sorte e decidi, movida por minha fé e pela maneira como fui criada, para fazer o que pudesse para criar oportunidades para os outros. É isto que me faz levantar todo dia de manhã. É o que me motiva na campanha. E, sabe, não importa o que acontecerá nesta competição. Me sinto honrada de estar aqui com Barack Obama. Extremamente honrada. Não importa o que acontecerá, estaremos bem. Nós dois temos todo o apoio de nossas famílias e amigos. Só quero poder dizer o mesmo a respeito de todos os americanos. É para que possamos dizê-lo que estamos encarando esta eleição.

Tire-se as pitadas de demagogia e desconte-se os comentários religiosos – isso é importante na política dos EUA. Com elegância, Hillary disse aos eleitores que não haverá problema se Obama for o escolhido. Que ninguém tenha dúvidas, ela lutará até o final. Não ergueu a bandeira branca. Mas indicou que o jogo não será desleal e abriu o caminho para uma saída digna do ringue.

Desta fala encerrou-se o debate. Hillary Clinton foi aplaudida de pé.

Fonte: http://www.pedrodoria.com.br/

Para quem anda acompanhando os rumos que essa eleição americana vem tomando, eu acho que a atitude da Hillary é uma última tentativa de conquistar o eleitorado pelo carisma que falta para ela e sobra no Obama. Acho que nem ela deve pensar que isso dá certo, mas de uma forma ou de outra parece ser sua última chance, visto que quando usou a estratégia de ataques a Obama quando ele começou a crescer, ela apenas o fortaleceu ainda mais.

Não sei se os americanos colocariam um sujeito de 40 e poucos anos para governar o país. O contexto republicano deixado pelo Bush dá grandes esperanças aos democratas. Mesmo McCain não sendo da ala ultra-conservadora, ele ainda é um republicano e defende os ideias do partido, que andam um tanto desgastados frente à opinião pública. Obama é a imagem da renovação, coisa que Hillary não é, pois remete a um país dividido em dois pólos. Entretanto, eu não consideraria essa vitória fácil para ele (se vir mesmo a ser o candidato), pois McCain terá muito o que explorar contra a inexperiência do jovem democrata durante a campanha.

(ah, só lembrando que dia desses veio à tona a suspeita de um caso entre McCain e uma lobista; vocês acham que os conservadores deixariam de votar nele só por raiva ao partido, ou o medo de Obama seria maior?)

[Diego]

Eu acho que o Obama leva a presidência dos States (Estou torcendo pra ele)
O legado bush não foi nada bom para os republicanos e McCain não acho q vai conseguir limpar a imagem do partido a tempo.

[Diegojaf]

Pode acontecer de um ser candidato a vice do outro?

[Karenskas]

Acho que só se o vencedor das primárias convidar. Mas não sei se o orgulho da Hillary a permitiria sair vice. O Obama acho que sairia, já que ele é jovem e tudo mais, nem tem muito a perder.

[Partiti]

Tem primarias pra vice também, se não me engano. Mas aí é quase coisa de partido mesmo. Lá o vice não é que nem aqui que faz nada, ele tem função legislativa e outras coisas. Na verdade, os votos dos delegados para vice e para presidente são separados, é possível um delegado votar em outro vice que não o "oficial", ou até de outro partido.

[Karenskas]

Mesmo assim, acho que a Hillary não sairia. Ela já foi primeira-dama, agora é senadora, entrou nessa disputa para ganhar, com ampla vantagem nas pesquisas no início, devia estar só se preparando para já ser a presidente. Tomar essa virada do Obama é uma daquelas pancadas capazes de fazer o nego desistir. Acho que seria mais provável o Obama sair em aliança com o John Edwards (que já reitirou a candidatura) do que com ela.

Aliás, eu consideraria também a possibilidade de a base democrata buscar uma figura mais experiente, talvez até de certa forma conservadora (digamos, no nível do McCain) para suprir a possível deficiência do Obama na disputa. A Hillary representaria isso, mas pelo lado da frustração mesmo, não sei se ela aceitaria, e também não sou conhecedor profundo da política americana para citar aqui mais nomes.

Só esperando mesmo para ver no que dá tudo isso.