Dani, Dani...
Eu espero que você nunca necessite fazer um aborto, sinceramente.
Nossa, nunca ri tanto na minha vida.Este foi o texto mais contraditorio que ja li em minha vida.Seguindo a propria doutrina espirita, vejamos:
Você quer falar em termos de espiritismo, eu estou disposto a dar um depoimento próprio...
A principio, vou desconsiderar o fato que até os tres primeiros meses nao temos conexoes cerebrais e tentar supor, seguindo a propria "otica espirita", um espirito "nadando" no meio do feto.O espirito nao nasce ignorante e lhe é apagada a memoria???Como aprendeu o portugues???
Como conseguiu sentir que a perninha lhe estava sendo arrancada se sem conexoes cerebrais nao há sentidos???E como ouviu a consulta ao medico???
O bebe ja nasceu espirituamente empregando diminutivos(perninha, barriguinha, casinha, tubinho, etc) sem serem ensinados por sua "mamae"?? - evidente apelo emocional, nao?
Pois bem. Eu tinha transcrito tudo isto para o micro (na época eu tinha um XT, alguém se lembra disto? Era a Pré-História da Informática...), mas com o tempo o perdi, tinha ficado muito bonito.
Eu tenho um dom que é o dom de sonhar, mas não são sonhos comuns, são muito reais (alguns chamam isto de desdobramento - ato em que o espírito se vê livre dos grilhões da carne e a consciência que temos das coisas se multiplica...)
E naquela noite eu sonhei que fui abortado! Que experiência pavorosa!!
No sonho, eu me via ao lado daquela jovenzinha que ia ser a minha mãezinha, meu Deus, que felicidade que isto me proporcionava! Como ela era bela, como a sua proximidade feminina me fazia sentir feliz! Ninguém me via, mas eu convivia com todos da família: pai, mãe (que seriam meus futuros avós), irmão (ou melhor, tio), a rotina da casa, me sentava à mesa e...
Mas, oh dor... alguma coisa estava errada. Minha futura mãezinha chorava muito, chorava quando estava só, chorava no banho, chorava de noite, quando perdia o sono! Minha alegria não era suficiente para contagiá-la?
Minha alegria acabou e os meus clamores foram inúteis quando vi que vozes malignas a influenciaram e a fizeram decidir pelo aborto. Eu gritava e ela não me ouvia. Ela tinha medo e sabia que iria desagradar os seus pais se estes soubessem da gravidez proibida. Seu pai, furioso, a expulsaria de casa. (não me perguntem, mas sei até quem eram os personagens deste drama)
Naquela noite escura chovia muito. Fazia frio, no triste inverno paulistano do início do século XX. A filha do rico arquiteto dirigiu-se à clínica, não estava só. A morte me aguardava com seus braços sempre abertos e receptivos. Anjos da morte vestidos de branco aguardavam as pagas pelo crime.
Instrumentos de um metal gelado invadiram o meu abrigo materno, me destroçaram o corpinho em formação. Nem os anjos de branco nem a minha futura mãezinha, que eu já havia aprendido a amar, escutaram o meu grito de horror...
Me jogaram na lata do lixo, como se eu não tivesse valor.
O calor materno fora substituído pela chuva fria e pelo vento gelado.
Não sei dizer quantas vezes eu morri naquela noite fatídica...