Salvo engano, pelo menos no caso da tolerância ao leite, as hipóteses antigas só puderam ser confirmadas APÓS o mapeamento do genoma. De nada adiantaria hipóteses sem isso. Agora, nem era essa a discussão.
Pois é, mas há engano.
Não existe "confirmação" nem "prova" em nenhuma ciência empírica. Hipóteses podem ser corroboradas através de diversos tipos distintos de evidências, e todo tipo de evidência carrega consigo problemas de adequação, interpretação de novos métodos de análise peculiares àquele tipo de evidência, etc. No caso da hipótese de adaptação a quebra de Lactose, existem linhas de evidência distintas: correlações entre dados biométricos de distribuição populacional do caractere e dados arqueológicos/geográficos sobre atividade pastoril, evidências de adaptação pela análise dos mecanismos fisiológicos de ação/ expressão das enzimas, evidências estas tão boas ou mais "cruciais" do que a análise de variação multilócus em dados genômicos. O máximo que podemos fazer é atualizar as 'probabilidades' ou nossa confiança em hipóteses alternativas em função das evidências que aparecem. Fontes multiplas e independentes de evidência que corroborem uma hipótese são um ponto a favor e são em geral
exigidas na ciência.
Se os dados de análise genômica sugerem uma hipótese contraintuitiva em algum domínio (e.g., evolução de adaptações dietárias) ou uma hipótese que seja difícil de se harmonizar com um conjunto independente de evidências fisiológicas, comportamentais, desenvolvimentais ou o que seja, nenhum cientista tomará as evidências genéticas como verdade divina e irá ignorar todo o resto, justamente porque elas não o são.
Embora eu tenha uma noção ensino-médio de biologia
Quanto a isso, não há argumento. Mas antes de biologia, um pouquinho de teoria e filosofia da ciência cairia muito bem.
As perguntas que eu fiz (exigência minha, felizmente, você não teve oportunidade de ver AINDA), bobas que são, seriam aquelas cujas respostas indicariam que a relação entre os mecanismos de transmissão cultural e a seleção natural atuante nos organismos vivos é mais que uma analogia. E você as respondeu com o LERO-LERO ULTIMATE GENERATOR.
Não. Eu respondi a sua pergunta.
Mas vou recapitular: Indivíduos de uma população podem diferir em termos da sua capacidade de contribuir para o
pool genético das gerações seguintes da sua população em função de caracteres (geneticamente) herdáveis que eles possuam. A alteração nas frequencias dos fatores determinando o desenvolvimento dos caracteres em questão se chama, seleção natural. Agora, seleção natural em alguns modelos de co-evolução gene-cultura (cf. Richerson & Boyd (2005), supracitado) ocorre quando essa diferença interindividual de aptidão decorre do fato de que certos indivíduos possuem alguns variantes culturais (normas, idéias, crenças, hábitos adquiridos socialmente). Isto é, quando caracteres culturais entram nas computações de aptidão. Casos em que isso possa ocorrer são bem óbvios, né? (e.g., abstinência sexual voluntária; ritualização religiosa do suicídio, etc.).
Em outros modelos, como o de Cavalli-Sforza & Feldman (1983), o termo 'seleção natural' é empregado em um sentido distinto, referindo-se a um processo que ocorre somente no sistema cultural de herança. Os autores sentiram-se legitimados em empregar o termo por ele descrever um processo semelhante ao da seleção de variantes de genes (alelos). Nesse sentido, os variantes culturais transmitidos tem suas frequencias alteradas em função da ação seletora de 'viéses' presentes nos indivíduos que (as pessoas) que servem de veículo à transmissão destes variantes. Um exemplo tosco: se existem duas escalas de composição musical presentes em uma população. Muito provavelmente, aquela que ira "proliferar" (ser positivamente selecionada) será aquela que, entre outras coisas, possuir elementos, notas, de mais fácil discriminação nas condições específicas de atenuação de som durante propagação presentes naquela população/lugar/condições de uso, dadas as propriedades de integração de frequencia do nosso ouvido interno, etc.
Bom, agora se você quiser saber como esses processos funcionam dentro dos modelos bastante desenvolvidos e com FARTO embasamento empírico dentro dos quais eles são definidos, vá aos livros.
É adequado esperar as pesquisas que encontrem nos nossos genes mutações promovidas diretamente pela imprensa, pelo cristianismo e pela economia globalizada, entre outros?
Para tudo. De onde você tirou que variantes culturais são agentes mutagênicos???
NENHUM modelo, NENHUM trabalho se quer considerado para publicação diria um absurdo desses. Você realmente não tem a menor idéia do que está falando. Não me surpreende que os meus posts tenham parecido LERO LERO para você.
Agora, vêm me dizer obviedades sobre canoas... o que INTERESSA é conseguir MEDIR esses fatores e COORDENAR esses fatores pra conseguir explicar os eventos ocorridos. Eu quero ver colocarem "ideias" e "mentalidades" em laboratório e de lá sair que, digamos, a ética protestante teve 62,43% de influência sobre o surgimento do capitalismo, porque tal ética foi transmitida das maneiras "a", "b" e "c", e que é o gene "calvino" é o que codifica a atitude de adiamento da satisfação.
Grosso modo: você e o LUIGI L CAVALLI SFORZA vão poder fazer isso? Ok então.
Bom, depois de ver que você não sabe o que é e como se faz ciência, não me surpreende que você não entenda o 'porque' e o 'como' do emprego de técnicas de mensuração. Como meu saquinho já acabou, vou te dar umas dicas: "coordenar" variáveis é algo muito, muito distante de se explicar algo: inferir causalidade de correlação é um erro comum, mas nada que Introdução ao Método Científico 1 ou leituras apropriadas deixe passar incólume.
Em segundo lugar, nem todo mundo precisa de laboratório: trabalho experimental é apenas UM dos métodos de investigação científica e todo método tem vantagens e desvantagens (e.g., um experimento, se bem feito, permite a você fazer inferências causais "em uma tacada só", mas sofre em geral de problemas de artificialidade e generalização, as famosas validade interna e validade externa de experimentos, além de ser simplesmente inaplicável em diversos casos interessantíssimos
).
Em terceiro e último lugar, a maioria (todos?) os termos teóricos de todas as ciências (e quanto mais maduras, mais teoria elas tem...) não são passíveis de mensuração e observação direta como os nosso braços e pernas são, mas o são somente pelas consequencias ou condições de existência observáveis porém indiretas que o comportamento teóricamente previsto dos mesmos tem. Se não me engano, foi Henri Poincaré que disse que ' a ciência consiste na explicação do observável pelo não obsevável'. Se foi ele ou não, não importa. O fato é que 'empirismo ingênuo de secundarista' é errôneo. Felizmente para você, nada que um pouco mais de experiência e leitura não resolva.