Autor Tópico: Ali Kamel sobre a ineficiência do Bolsa Família e a dependência por ele criada  (Lida 1385 vezes)

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Offline Herf

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Bolsa-eletrodoméstico

Todos são testemunhas de que, quando o Bolsa-Família foi lançado, o objetivo era matar a fome de 54 milhões de brasileiros. Meus leitores são também testemunhas de que, desde o início, venho dizendo que não existem 54 milhões de famintos. Pois bem, uma visita à página do Ministério do Desenvolvimento Social (aqui) vai surpreender. Ali, o governo anuncia que vários estudos comprovam que o Bolsa-Família tem ajudado os beneficiários a comprar eletrodomésticos. Isso mesmo, nada de arroz, feijão e carne, isso tudo que há muito já está na mesa dos pobres brasileiros, como provou a Pesquisa de Orçamento Familiar do IBGE; o que tem sido comprado é geladeira, microondas, máquina de lavar, fogão, liquidificador, forno elétrico, televisão e DVD.

Rosa Maria Marques, da PUC-SP é citada dizendo que, no passado, todo dinheiro extra era usado pelos pobres na compra de alimentos, mas que isso mudou, graças ao efeito multiplicador do Bolsa-Família: “Com o passar do tempo, as famílias ganharam segurança de que vão receber o benefício e, assim, puderam destinar parte de sua renda para a compra a prazo de eletrodomésticos.” Rosa cita outros fatores para explicar o crescimento do consumo daqueles bens, como a elevação constante do salário mínimo, a estabilidade monetária , o aumento do número de trabalhadores com carteira assinada e a ampliação do crédito consignado, mas a ênfase do press-release do ministério é a injeção de recursos do Bolsa-Família, R$ 10,9 bi previstos para este ano.

O release cita também Felícia Madeira, do Seade (São Paulo), para quem oscilações no orçamento sempre impediram que famílias pobres fizessem gastos que necessitassem de um horizonte longo, fato remediado agora pelo Bolsa-Família: “Como existe a garantia de que o dinheiro virá, a pessoa se planeja e pode abrir um crediário para comprar um eletrodoméstico ou um equipamento para trabalhar.”

O ministério dá exemplos. A catadora de lixo Rosineide dos Santos, 47 anos, de Maceió, com três filhos, recebe R$ 76 do Bolsa-Família, mas declara uma renda total de R$ 200. Com isso, pegou um empréstimo de R$ 500 no Banco do Cidadão, uma instituição que opera com micro-crédito para empreendimentos populares. O release diz que ela já tem fogão, liquidificador, cafeteira e forno elétrico, mas que, assim que saldar a dívida, pretende comprar uma televisão. Ou seja, não usa o Bolsa-Família para se alimentar nem o Banco do Cidadão para um pequeno empreendimento: usa para aumentar a conta de luz. Patrícia Belmira Henrique, de 43, manicure mineira, recebe R$112,00 do Bolsa-Família. O dinheiro, diz o release, ajuda a pagar a máquina de lavar roupa. “Estou feliz, porque é a minha primeira máquina de lavar. Antes, tinha que lavar a roupa na mão. Dava um trabalho enorme.”

O release cita ainda o economista Cícero Péricles de Carvalho, da Universidade Federal de Alagoas, para quem o Nordeste está se transformando num cenário de muitos investimentos produtivos. O release prossegue: “A explicação para esse crescimento, além da diminuição das desigualdades regionais, vem sempre da mesma origem: as transferências de renda federal crescentes e os investimentos sociais que impactam sobre a maioria da população nordestina.” O texto conclui, orgulhoso, citando o caso de Alagoas, que há 45 meses bate recordes de consumo popular, sem, porém, “ter um crescimento econômico que justifique tamanha elevação de compras”. A razão, diz o texto, é clara: os R$ 2 bi que a Previdência dá aos aposentados de lá (o dobro do que dava em 2002) e os R$ 300 milhões do Bolsa-Família distribuídos por ano a mais da metade da população do estado.

Aposentadoria e Bolsa-Família. Há futuro nisso?

O discurso oficial agora é que o dinheiro do Bolsa-Família aumentaria a demanda por bens duráveis, o que levaria à ampliação de fábricas e ao aumento de empregos. Balela. Mesmo se fosse verdade, o consumo cresceria nas áreas carentes e a produção, nas áreas já afluentes, perpetuando as desigualdades. Na realidade, o programa transfere, mas não gera renda: o consumo só aumentaria se a propensão de consumir dos beneficiários do Bolsa-Família fosse maior do que a propensão dos que pagam o imposto que torna o programa possível, o que é improvável. O contribuinte, sem o imposto, gastaria o dinheiro em alguma coisa. Assim, trata-se de uma soma de resultado zero, não havendo aumento de produção. O programa distribui renda? Sim, mas de uma maneira não sustentável: o efeito cessará assim que o programa tiver um fim. Distribuição sustentada de renda só se obtém educando o povo, para que se possa abastecer de gente qualificada uma economia crescente.

Ninguém pode ficar contrariado sabendo que pessoas pobres, na ausência de fome, estão comprando eletrodomésticos. É bom olhar a PNAD, como faz o release, e constatar que entre 2002 e 2006, nas faixas de renda mais baixas, cresceu muito o número de lares que tem esses bens. Mas é angustiante olhar os dados das provas nacionais e internacionais que medem o conhecimento de nossas crianças e constatar que tudo vai de mal a pior. Se não há fome, por que gastar R$10,9 bi com o Bolsa-Família em vez de aplicar a maior parte disso em educação? Para aumentar artificialmente a venda de eletrodomésticos em áreas carentes?

Essa política condenará as crianças de hoje a continuar, como os seus pais, a depender do Bolsa-Família para ter um microondas, enquanto um investimento maciço em educação faria delas seres independentes, produtivos, indispensáveis para chegarmos ao bom futuro.

Ali Kamel
Fonte: http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/2008/03/saiba-o-que-bolsa-eletrodomstico.html

Offline HSette

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Re: Ali Kamel sobre a ineficiência do Bolsa Família e a dependência por ele criada
« Resposta #1 Online: 04 de Março de 2008, 22:39:12 »
Era só o que faltava.

Agora o Bolsa-Família é também responsável pelo baixo nível educacional do país.

Que mais será que falta imputar a esse programa? Daqui a pouco até o rebaixamento do Coríntians à serie B do Brasileirão vai entrar na lista. :-)
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Offline Herf

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Re: Ali Kamel sobre a ineficiência do Bolsa Família e a dependência por ele criada
« Resposta #2 Online: 04 de Março de 2008, 22:42:07 »
Agora o Bolsa-Família é também responsável pelo baixo nível educacional do país.
O texto não afirma isso.

Offline Luiz Souto

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Re: Ali Kamel sobre a ineficiência do Bolsa Família e a dependência por ele cria
« Resposta #3 Online: 04 de Março de 2008, 23:36:58 »
Com certeza o Bolsa-Família como implementado não vai gerar um desenvolvimento sustentado. Transfere-se renda mas não se criam programas adicionais para estimular a criação de micro empresas , não se criam projetos de desenvolvimento regional voltados para as micro empresas, não se monitora o uso do microcrédito para garantir que sirva para investimentos que venham gerar renda familiar posterior. Nada contra que as pessoas usem dinheiro para comprar bens que lhes melhore o conforto ( como a máquina de lavar que poupa tempo da senhora) , mas a pura transferência de renda gera um beco sem saída de dependência.
No fim  . acaba sendo o velho clientelismo.
Se não queres que riam de teus argumentos , porque usas argumentos risíveis ?

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Offline HSette

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Re: Ali Kamel sobre a ineficiência do Bolsa Família e a dependência por ele cria
« Resposta #4 Online: 04 de Março de 2008, 23:44:39 »
Agora o Bolsa-Família é também responsável pelo baixo nível educacional do país.
O texto não afirma isso.

Citar
É bom olhar a PNAD, como faz o release, e constatar que entre 2002 e 2006, nas faixas de renda mais baixas, cresceu muito o número de lares que tem esses bens. Mas é angustiante olhar os dados das provas nacionais e internacionais que medem o conhecimento de nossas crianças e constatar que tudo vai de mal a pior.

Relacionando alhos com bugalhos.
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Offline HSette

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Re: Ali Kamel sobre a ineficiência do Bolsa Família e a dependência por ele cria
« Resposta #5 Online: 04 de Março de 2008, 23:45:15 »
Com certeza o Bolsa-Família como implementado não vai gerar um desenvolvimento sustentado.

E não é esse o objetivo.
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Offline Luiz Souto

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Re: Ali Kamel sobre a ineficiência do Bolsa Família e a dependência por ele cria
« Resposta #6 Online: 04 de Março de 2008, 23:53:47 »
Com certeza o Bolsa-Família como implementado não vai gerar um desenvolvimento sustentado.

E não é esse o objetivo.

Não? E como reverter a miséria e a pobreza se não se criam os meios para que gere uma renda sustentável?
E no lançamento do programa Lula explicitamente falou que o objetivo do programa era servir como um meio , junto com programas adicionais de desenvolvimento regional , pra garantir a autogeração de renda pelas famílias ( se não me engano até usou a velha história de dar o peixe mas tambem ensinar a pescar...)
Um programa de transferência de renda que não está embutido em um projeto maior de desenvolvimento torna-se mero clientelismo e paternalismo.
Se não queres que riam de teus argumentos , porque usas argumentos risíveis ?

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Offline JUS EST ARS

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Re: Ali Kamel sobre a ineficiência do Bolsa Família e a dependência por ele criada
« Resposta #7 Online: 05 de Março de 2008, 01:10:46 »
Esse programa é muito bonito no papel.

Notoriamente o Brasil é um dos campeões em desigualdade social. O programa visa diminuir essa desigualdade. Analisando-se exclusivamente este aspecto, há que se reconhecer bons resultados.

De outro lado, uma outra premissa do programa é incentivar a manutenção dos filhos menores da família beneficiada na escola. E nesse ponto o programa falha miseravelmente. São dadas 5 (!) chances para que a criança seja mantida na escola. Somente após o benefício deixa de ser pago. E ainda assim, pode a família beneficiada recorrer a um comitê, formado por leigos. Se esse comitê resolver que a família deve continuar a receber (mesmo que seja pensando, por exemplo, que Jesus não cancelaria), o benefício continua a ser pago.

São criados, portanto vários mecanismos que incentivam a manutenção do pagamento, mesmo quando a criança não vai à escola: 5 chances, sendo que a cada advertência um comitê de leigos pode legitimar a desídia da mãe beneficiada.

E o pior ponto, já bastante conhecido e comentado: o programa não incentiva a independência do beneficiado. Ao contrário, ele icentiva a dependência e o comodismo. E isso tudo agravado pela cultura de Gerson do brasileiro: "tô me dando bem, o governo me manda dinheiro. Legal".

Em síntese, é um programa que do ponto de vista da distribuição de renda, realmente tem seus méritos. Mas peca ao ser muito tolerante na questão das faltas escolares, e deveria estipular ao menos, a obrigação de os chefes da família beneficiada trabalhar em prol de obras assistenciais, tal como pequenos reparos em escolas, ou faxina, ou pintura, etc. Ou que eles participassem de cursos profissionalizantes, do tipo daqueles que passam na televisão (telecursos).

É o que penso. Abraços.







Offline HSette

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Re: Ali Kamel sobre a ineficiência do Bolsa Família e a dependência por ele cria
« Resposta #8 Online: 05 de Março de 2008, 07:22:49 »
Esse programa é muito bonito no papel.

Notoriamente o Brasil é um dos campeões em desigualdade social. O programa visa diminuir essa desigualdade. Analisando-se exclusivamente este aspecto, há que se reconhecer bons resultados.


É isso aí.


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De outro lado, uma outra premissa do programa é incentivar a manutenção dos filhos menores da família beneficiada na escola. E nesse ponto o programa falha miseravelmente. São dadas 5 (!) chances para que a criança seja mantida na escola. Somente após o benefício deixa de ser pago. E ainda assim, pode a família beneficiada recorrer a um comitê, formado por leigos. Se esse comitê resolver que a família deve continuar a receber (mesmo que seja pensando, por exemplo, que Jesus não cancelaria), o benefício continua a ser pago.

São criados, portanto vários mecanismos que incentivam a manutenção do pagamento, mesmo quando a criança não vai à escola: 5 chances, sendo que a cada advertência um comitê de leigos pode legitimar a desídia da mãe beneficiada.

É vero. Atribuo isso à excessiva permissividade que impera no país em relação aos mecanismos de controle no que tange às questões públicas.
Taí esse rolo dos cartões coorporativos como mais um exemplo.


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E o pior ponto, já bastante conhecido e comentado: o programa não incentiva a independência do beneficiado. Ao contrário, ele icentiva a dependência e o comodismo. E isso tudo agravado pela cultura de Gerson do brasileiro: "tô me dando bem, o governo me manda dinheiro. Legal".

Outro problema mesmo. Acho que deveria ser estabelecido um prazo limite para a permanência das famílias no Programa, tal como ocorre no caso do seguro desemprego.
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Offline Rodion

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Re: Ali Kamel sobre a ineficiência do Bolsa Família e a dependência por ele cria
« Resposta #9 Online: 05 de Março de 2008, 08:23:44 »
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Outro problema mesmo. Acho que deveria ser estabelecido um prazo limite para a permanência das famílias no Programa, tal como ocorre no caso do seguro desemprego.
como também ocorre em outros programas de assistência social na américa latina, como o chile solidário.
o problema é que isso poderia ter um bom efeito caso o maior alvo da bolsa fossem os pobres urbanos das regiões mais desenvolvidas. lá no meio do sertão do ceará não tem muito como esperar o cara 'se reerguer', porque ele não tem muito o que fazer. não tem onde se aprimorar, estudar ou profissionalizar. e se for pra esperar o cara comprar uma terrinha e aprender a geri-la bem, e não só ficar nessa de plantar feijão pra família e ter dois bodes, aí dá pra esperar sentado.
só a bolsa mensal não é suficiente pra dar condições a boa parte dos assistidos de dar a volta por cima.
"Notai, vós homens de ação orgulhosos, não sois senão os instrumentos inconscientes dos homens de pensamento, que na quietude humilde traçaram freqüentemente vossos planos de ação mais definidos." heinrich heine

Offline Eu

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Re: Ali Kamel sobre a ineficiência do Bolsa Família e a dependência por ele criada
« Resposta #10 Online: 05 de Março de 2008, 20:20:53 »
Kamel e os eletrodomésticos


Que “O Globo” publique o artigo em que Ali Kamel tenta demonstrar que a compra de eletrodomésticos é a prova do fracasso do Bolsa-Família, se entende: Kamel é dirigente das Organizações Globo e tem direito a escrever a tolice que quiser. Nem vale a pena estender sobre o primarismo dos argumentos, sobre a incapacidade de Kamel de entender o papel inclusivo do consumo, ou considerar que a compra de eletrodomésticos é um item menor nos gastos das famílias. Seria exigir muita sofisticação analítica dele.

Que alguns áulicos considerem que o artigo tem algum valor analítico, se admite, porque a bajulação se tornou um componente intrínseco nesses tempos de “neojornalismo”.

Que José Aníbal repercuta a nota, vá lá, é líder da oposição e, no vale-tudo atual, pode se conceder liberdades poéticas de achar algum valor nas mesmices de Kamel.

Mas que “O Globo” repercuta o artigo é ego demais, jornalismo de menos.

O padrão de autopromoção desse pessoal não tem limites.

Clique aqui para ler o artigo.



enviada por Luis Nassif

Offline Juca

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Re: Ali Kamel sobre a ineficiência do Bolsa Família e a dependência por ele criada
« Resposta #11 Online: 06 de Março de 2008, 14:50:11 »
O diretor de jornalismo da Rede Globo, Ali, Lá ou Acolá (estou testando hipóteses) Kamel é um sabichão. Hoje, ele publicou em O Globo um artigo luminoso, que lança luz sobre as raízes dos problemas brasileiros.
Não, a origem de nossos problemas não está nos bilhões que despendemos com o serviço da dívida. Nem nos bilhões de reais (mais de 70) em dívidas que produtores rurais não pagam, de calote em calote. Nem nos vários incentivos fiscais que oferecemos às grandes empresas e aos mega-especuladores, para que passeiem suas fortunas por nossa disneylândia financeira, e saiam daqui com o lucro gordo e livre de impostos. A origem de nossos problemas também não está na venda a preço vil de uma Vale do Rio Doce, nem nas privatizações feitas “no limite da irresponsabilidade”. Também não está no Proer, que salvou banqueiros pilantras e falidos, nem no bilhão distribuído, na época do Cacciola. Também não está nos incentivos que o governo dá a fundações de bancos, para que façam mecenato às custas do imposto abatido, sendo que algumas dessas fundações, como a Fundação Roberto Marinho, com sérias acusações pesando sobre elas.
Nada disso. O grande problema brasileiro, segundo Kamel, é que muitos dos beneficiados do Bolsa Família não estão gastando dinheiro com comida, mas com eletrodomésticos.
Isso mesmo, nada de arroz, feijão e carne...(...) o que tem sido comprado é geladeira, microondas, máquina de lavar, fogão, liquidificador, forno elétrico, televisão e DVD.
Vou fazer uma revelação aqui, que deve deixar o diretor da Globo ainda mais espantado: eles devem ter comprado também panelas, pratos, garfos, facas, colheres, colheres de pau, escorredores de macarrão, chaleiras... Mas, pelo visto, Kamel preferiria que essas pessoas preparassem a comida numa panela velha, em cima da lenha, numa fenda no chão.
É o que demonstra o exemplo que ele cita em seu artigo, de uma catadora de lixo, Rosineide dos Santos, mãe de três filhos. Ela diz que já tem geladeira, fogão, liquidificador, cafeteira e forno elétrico, e que, assim que saldar a dívida, vai comprar uma televisão.
Para Kamel, isso é um absurdo. Um desvirtuamento do Bolsa Família. Mas o problema não é esse não. É que Kamel está desinformado. Ele não sabe nem o que é o Bolsa Família. Tanto que começa o artigo afirmando que o objetivo do programa é matar a fome de 54 milhões de brasileiros. Está errado. Isso é o Fome Zero, Kamel. O Bolsa Família está explicado aqui.
Os dois programas já existem há um bom tempo e até hoje o diretor de jornalismo da maior rede de televisão do país ainda não aprendeu a diferença entre eles...
Mas não é só aí que Kamel desinforma. Indo à página do MDS onde ele leu o relatório (confira, vale a pena) você vai ver por que Rosineide comprou sua geladeira e, de quebra, como Kamel distorce o relatório para fazê-lo caber na sua tese.
Por isso, vou dar um conselho a dona Rosineide, a catadora de lixo. Ao liquidar a dívida, não compre televisão não, dona Rosineide. Compre um computador. Seus filhos encontrarão diversão a valer na rede e serão muito mais bem informados.

Fonte:
http://blogdomello.blogspot.com/2008/03/kamel-descobriu-qual-o-grande-problema.html

 

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