Autor Tópico: Mark Kleiman sobre a regulação de consumo e venda de drogas  (Lida 2654 vezes)

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Offline Buckaroo Banzai

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Mark Kleiman sobre a regulação de consumo e venda de drogas
« Online: 07 de Março de 2008, 02:00:37 »
Mark Kleiman é um cientista político americano, autor e blogueiro, professor de políticas públicas na Śchool of Public Affairs da UCLA. Kleiman é um especialista reconhecido nos EUA no campo de crime e políticas de drogas e autor de "Marijuana: Costs of Abuse, Costs of Control and Against Excess: Drug Policy for Results" ("machonha: custos do abuso, custos do controle e contra o excesso: política de drogas para resultados")

Vi um pouco das idéias dele num diálogo do bloggingheads.tv, e achei interessante. Essencialmente, em vez de dicotomizar a coisa das drogas entre liberação e criminalização, ele defende uma melhor afinação na criminalização e legalização.

Acho que senti um leve cheiro de algumas inconsistências, mas parece ter material interessante por aí. Alguns exemplos de coisas interessantes:

Normalmente é dito que a proibição aumenta a violência, dando como exemplo a lei seca; mas naquela época não se tinha estatísticas da violência doméstica - que pode ter diminuído significativamente depois durante a proibição - e o consumo e posse para consumo não eram criminalizados, não havendo desencorajamento para o consumidor, para a demanda do produto ilegal.

Isso sugere que se queremos combater um tipo de tráfico indesejado, apenas a proibição da produção e comércio não é suficiente, mas deve-se acabar com seus maiores consumidores, com aqueles que tornam o negócio criminoso viável.
 
Ele sugere que em vez de se ter algo generalizado, que se devesse ter penas ou políticas diferenciais não apenas com diferentes drogas, mas com diferentes tipos de consumidores e diferentes tipos de traficantes.

Há um problema, em grande parte moral, com a legalização: está essencialmente se legalizando a exploração de pessoas com o problema do vício, e acho que ele disso algo como que há indícios de que esses sejam os maiores consumidores ou o público-alvo mais específico dos vendedores de drogas, mesmo cigarro é álcool, por serem consumidores fiéis, aqueles com os quais os produtores podem contar para manter o negócio. A coisa não é significativamente melhor, do ponto de vista moral de explorar viciados, ao se ter algo como uma produção e venda estatal.


- [vídeo] Trecho do diálogo no bloggingheads 

- Um longo artigo de Kleiman que ainda não li: Dopey, boozy, smoky - and stupid

- blog de Kleiman, http://www.samefacts.com/


Offline West

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Re: Mark Kleiman sobre a regulação de consumo e venda de drogas
« Resposta #2 Online: 10 de Maio de 2008, 13:00:41 »
O problema é realmente complexo.
Ninguém obviamente é a favor de liberar por liberar, e daí a se encontrar uma solução para uma espécie de liberação controlada o caminho é longo e tortuoso.

Produção e comercialização estatal controlada, em que os consumidores concordassem em se inscrever em um cadastro e, opcionalmente, a participar de programas anti-dependência nos parece a primeira vista uma possível solução.

Certamente concordo que um dependente preferiria comprar drogas "de qualidade" em uma farmácia a correr o risco de obtê-la de bandidos, mesmo que para tanto fosse obrigado a sumeter-se a um certo nível de controle por parte do estado.

Mesmo em um cenário como esse, questões éticas relevantes são claramente percebidas. Até que ponto temos a garantia que o estado (principalmente um como o brasileiro) não subvertiria o objetivo inicial de um programa desse tipo e passaria a explorá-lo unicamente visando a obtenção de recursos financeiros?

Não é por acaso que o narcotráfico é um dos grandes problemas sociais em aberto.   
"Houve um tempo em que os anjos perambulavam na terra.
Agora não se acham nem no céu."
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Provérbio Iídiche.

"Acerca dos deuses não tenho como saber nem se eles existem nem se eles não
existem, nem qual sua aparência. Muitas coisas impedem meu conhecimento.
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Protágoras.Ensaio sobre os deuses. Séc. V a.C.

Offline Quereu

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Re: Mark Kleiman sobre a regulação de consumo e venda de drogas
« Resposta #3 Online: 10 de Maio de 2008, 15:19:28 »
Parece-me um problema insolúvel. Proibida, o estado é obrigado a construir um aparato policial incrível para lutar contra uma indústria milionária, clandestina e perigosa. Liberada, o estado terá que assumir os riscos à saúde pública e provavelmente à explosão do consumo e suas consequências.

Talvez a solução seja a invenção de uma droga como o soma de "Admirável Mundo Novo" ou uma nova tecnologia de controle do vício. Digo isso porque eu não acredito que se consiga acabar com o usuário da mesma maneira que a igreja medieval não conseguiu acabar com o sexo, guardadas as devidas proporções.
A Irlanda é uma porca gorda que come toda a sua cria - James Joyce em O Retrato do Artista Quando Jovem

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Mark Kleiman sobre a regulação de consumo e venda de drogas
« Resposta #4 Online: 10 de Maio de 2008, 17:18:58 »
Vou postar aqui também uma seleção dos trechos que postei em outro tópico.


Trechos  selecionados do texto do Mark Kleiman, sublinhados e negritos por minha conta:




Dopey, Boozy, Smoky—and Stupid
[...]

Thirty-five years into the “war on drugs”, the United States still has a huge drug abuse problem, with several million problem users of illicit drugs and about 15 million problem users of alcohol. Illicit drug-dealing industries take in about $50 billion per year. [...]

On top of all that, we have a highly intrusive and semi-militarized drug enforcement effort that is often only marginally constitutional and sometimes more than marginally indecent.1 That enforcement effort keeps about 500,000 Americans behind bars at any one time for drug law violations, about 25 percent of the total U.S. prison and jail population. A larger proportion of U.S. residents is doing time for drug law violations than is behind bars for all offenses put together in any country to which we’d like to be compared.

[nota minha: se não me engano, os EUA tem cerca de 25% da população carcerária mundial)

[...] But the first step toward achieving less awful results is accepting that there is no one “solution” to the drug problem, for essentially three reasons. First, the potential for drug abuse is built into the human brain. Left to their own devices, and subject to the sway of fashion and the blandishments of advertising, many people will wind up ruining their lives and the lives of those around them by falling under the spell of one drug or another. Second, any laws—prohibitions, regulations or taxes—stringent enough to substantially reduce the number of addicts will be defied and evaded, and those who use drugs in defiance of the laws will generally wind up poorer, sicker and more likely to be criminally active than they would otherwise have been. [...]

The Facts
Basics

Most drug use is harmless, and much of it is beneficial—at least if harmless pleasure and relaxation count as benefits. But drug abuse is a real problem all the same because some drug users—typically a fairly small minority among consumers of any given drug—lose control of their behavior when under the influence and do foolish or wicked things. Another overlapping and even smaller group loses control over drug-taking itself. [...] For most people who fall into its grip, drug abuse is relatively transient. [...]

Not all drugs are equally risky or abusable. But since different drugs are abused in different ways and have different harm profiles, there is no single measure of “harmfulness” or “addictiveness” by which drugs can be ranked. Moreover, the overall damage caused by a drug does not depend on its neurochemistry alone; the composition of the user base and the social context and customs around its use also matter. Alcohol, for example, constitutes a major violence-and-disorder problem in Britain, but not in Italy. [...]

Among intoxicants (that is, excluding caffeine and nicotine), alcohol abuse accounts for more than three-quarters of total substance abuse in the United States, and for more death, illness, crime, violence and arrests than all illicit drugs combined. [...]

Laws and law enforcement

Taxes, regulations and prohibitions can reduce drug consumption and abuse, but always at the cost of making the remaining consumption more damaging than it would otherwise be. Any rule restrictive enough to matter needs to be enforced, and enforcement is always costly and damaging to those punished. [...]

We have 15 times as many drug dealers in prison today as we had in 1980, yet the prices of cocaine and heroin have fallen by more than 80 percent. [...]

Aggressive enforcement against mass drug markets generates mass imprisonment. Imprisonment is necessarily horrible, and most imprisonment in the United States is worse than necessary. Dealers emerging from prison have limited economic opportunities outside the drug trade, forcing down drug-dealing wages and thus drug prices; that seems to have happened with crack. [...]

Prevention

Drug-use prevention efforts are very cost-effective because they’re very cheap. But they aren’t very effective; even the best programs, combining school-based and community-based efforts, reduce the rate of initiation by no more than a quarter, with no assurance that spending more would produce bigger effects. [...]


Treatment

[...]Most substance abuse disorders resolve “spontaneously”; that is, without formal treatment. (Of those who have met diagnostic criteria for substance abuse disorder during their lifetimes, fewer than a quarter still do, and only a tiny proportion of those who have recovered have ever been treated professionally.) [...]


Tobacco

[...] Pipe and cigar smoking and the use of smokeless tobacco (chewing tobacco and snuff) are much less addictive and much less damaging to health than cigarette smoking. Nicotine use could be made safer by moving users away from cigarettes, by reducing the toxic content of tobacco products (for example, formaldehyde and benzene), or by vaporizing the active agents in tobacco with external heat rather than by burning the leaves, thus delivering nicotine to the lung without the accompanying cloud of hot, toxic gases and particulates.


Hallucinogens

[...] Some hallucinogens have been used for religious/spiritual purposes for centuries, if not millennia [...] A recent experiment at Johns Hopkins University showed that psilocybin, the active agent in “magic mushrooms”, when given under controlled conditions can safely and fairly reliably produce effects indistinguishable from classical mystical experiences, with apparently persistent positive effects on mood and behavior. The Native American Church, which claims a quarter of a million members, has had special legal permission to use mescaline-bearing peyote buttons in its services for more than half a century, and no apparent harm has resulted. The Supreme Court, interpreting the Religious Freedom Restoration Act, has now ruled that other churches using other chemicals may do so lawfully if the religious motive is genuine and the practices reasonably safe.

[...]

A Practical Agenda

[...] Don’t fill prisons with ordinary dealers. While prohibition clearly reduces drug abuse (otherwise there wouldn’t be several times as many abusers of alcohol as of all illicit drugs combined), and some level of enforcement is necessary to make prohibition a reality, increasing enforcement efforts against mass-marketed drugs cannot significantly raise the prices of those drugs or make them much harder to acquire. [...] Given the fiscal and human costs of incarceration, and the opportunity cost of locking up a drug dealer in a cell that might otherwise hold a burglar or a rapist, the current level of drug-related incarceration is hard to justify. We can reduce that level with arrest-minimizing enforcement strategies and by a discriminating moderation in drug sentencing.

Lock up dealers based on nastiness, not on volume. All drug dealers supply drugs; only some use violence, or operate flagrantly, or employ juveniles as apprentice dealers. The current system of enforcement, which bases targeting and sentencing primarily on drug volume, should be replaced with a system focused on conduct. If we target and severely sentence the nastiest dealers rather than the biggest ones, we can greatly reduce the amount of gunfire, the damage drug dealing does to the neighborhoods around it, and the attractive nuisance the drug trade offers to teenagers. [...] If we’re already locking up ordinary drug dealers forever, locking up the nastier ones forever and a day won’t create much competitive disadvantage for violence-prone or juvenile-employing organizations. [...]

 (sobre traficantes-usuários e usuários problemáticos)

Pressure drug-using offenders to stop. The relatively small number of offenders (no more than three million all together) who are frequent, high-dose users of cocaine, heroin and methamphetamine accounts for a large proportion both of theft and of the money spent on illicit drugs. Getting a handle on their behavior is inseparable from getting a handle on street crime and the drug markets.

Yet current policies for dealing with such offenders ignore everything we know both about addiction and deterrence. [...] Not every drug-using offender has a diagnosable substance abuse disorder, and insisting (as drug courts do) that every offender have a treatment-needs assessment and a personalized treatment plan sops up scarce capacity, sometimes to the point that poor drug users can’t get treated without getting arrested first.

[...] we should make the consequences of non-compliance and the rewards of compliance quicker and more reliable. Frequent testing, with automatic and formulaic sanctions for using or missing a test, greatly reduces drug use, and therefore crime, even among chronic user-offenders. Probation or parole revocation—putting the offender behind bars for months, or even years—should be reserved for those who commit serious new crimes or abscond from supervision. The sanction for continuing to use drugs should be no more than a few days in jail. If that threat is made credible, it will generally induce compliance. (Hawaii’s HOPE probation program, based on the “coerced abstinence” model, has reduced the rate of positive drug tests among its clients by 80 percent or more.) Delivering a relatively mild sanction swiftly and consistently is both more effective and less cruel than only occasionally and randomly lowering the boom.

[...] Deny alcohol to problem drinkers. When someone gets caught drinking and driving, we take away his license: his driving license, that is. The “license” to drink—legal permission to buy and consume alcohol in unlimited quantities—is presumed to be irrevocable. But why? We know that someone who drinks and drives is a bad citizen when drunk, but not that he is a bad driver when sober.

If someone is convicted of drunken driving, or drunken assault, or drunken vandalism, or repeatedly of drunk and disorderly conduct—if, that is, someone demonstrates that he is either a menace or a major public nuisance when drunk—then why not revoke his (or, much more rarely, her) drinking license? [...]

Eliminate the minimum drinking age. [...] against the benefits we must weigh the costs of making the vast majority of adolescents into lawbreakers. Nearly nine high-school seniors in ten report drinking. Criminalizing statistically normal behavior trivializes lawbreaking by enacting a law that almost everyone breaks, and breaks without apparent harm: Most teenage drinkers, like most adult drinkers, don’t have a drinking problem. The current drinking age has also normalized the acquisition and use of false identification documents, which seems like a bad idea in the age of terror. [...]

Say more than “No.” The current set of messages in most school-based prevention programs—that all drug use is abuse and that cannabis is as dangerous as any other drug—has three big defects. The first is that the messages are false, and lying to schoolchildren is bad. The second is that when the kids figure out that the messages are false—and they do—they won’t believe warnings against harder drugs (or other warnings from the government). The third is that once you’ve told kids that all drug use is abuse, it’s hard to go back and tell them how to keep watch over the circumstances and patterns of their own drug-taking to avoid the transition from non-problem use to abuse. Today, even responsible drinking is a taboo topic. It’s time for the prevention effort to grow up. [...]

Let pot-smokers grow their own. Marijuana is an outlier among currently illicit drugs. Its risks are markedly smaller, its consumption is enormously more widespread, and it leads to more arrests than all the others combined—mostly for misdemeanor possession. It is also the one illicit drug that consumers could practically produce themselves. [...]

Not that cannabis is harmless. While its “capture rate” to abuse and dependency is substantially smaller than comparable rates for alcohol, cocaine, methamphetamine and heroin, and while the damage from abuse and dependency are usually much less drastic, the rate of capture is still high enough, and the consequences bad enough, to constitute a substantial problem, especially given that the median age of cannabis initiation is now about 15.

Full commercial legalization of cannabis, on the model now applied to alcohol, would vastly increase the cannabis-abuse problem by giving the marketing geniuses who have done such a fine job persuading children to smoke tobacco, drink to excess and supersize themselves with junk food another vice to foster. However, if current laws were changed to make it illegal to sell cannabis or to exchange it for anything of value, but not to grow it, possess it, use it or give it away, the costs of the current control regime could be sharply reduced without greatly increasing the size of the marijuana consumption problem. Such a law could not effectively prevent private sales any more than a ban on gambling can prevent private poker games. Its goal would be to prevent mass marketing. [...]

Encourage problem drug users to quit without formal treatment. Some problem drug users need treatment; others do not. Making it widely known that most people with substance abuse problems can recover without professional help would increase the rate of “spontaneous” attempts to quit. Those who try often enough (five failures before success is the average for those trying to quit smoking) are likely to succeed. It won’t work for everyone, but not trying is the only approach certain to fail. [...]

Work on immunotherapies. Imagine stimulating the immune system of a cigarette smoker or a crack user to recognize molecules of nicotine or cocaine as foreign bodies and sop them up in the bloodstream before they reach the brain. It appears that such treatments, consisting of a single injection every month or every few months, are technically feasible for at least some drugs, including nicotine and cocaine. The social benefits of perfecting them and bringing them to market are much larger than the profits a manufacturer could hope to earn.

Immunotherapies should therefore be high priority for public drug-research dollars, especially compared to the expensive and so far largely futile search for drugs to ease the craving that comes from quitting cocaine. (Note that these treatments are technically “vaccines”, but their use is therapeutic, not prophylactic. Mass immunization makes no sense in this context.) [...][/size]

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Mark Kleiman sobre a regulação de consumo e venda de drogas
« Resposta #5 Online: 10 de Maio de 2008, 17:23:12 »
Parece-me um problema insolúvel. Proibida, o estado é obrigado a construir um aparato policial incrível para lutar contra uma indústria milionária, clandestina e perigosa. Liberada, o estado terá que assumir os riscos à saúde pública e provavelmente à explosão do consumo e suas consequências.

Esse é um dos pontos do Mark Kleiman, e com base nisso ele argumenta por diferentes estratégias de regulação de venda e de consumo. Saindo dessa dicotomia, podemos reduzir os problemas relacionados melhor do que se simplesmente optando por um um dos dois extremos.

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Mark Kleiman sobre a regulação de consumo e venda de drogas
« Resposta #6 Online: 29 de Maio de 2010, 20:06:43 »
Citação de: Mucuna
Artigo da Associated Press (AP) sobre a política de 'guerras as drogas':

Citar
APÓS 40 ANOS, UM TRILHÃO DE DÓLARES, A GUERRA AS DROGAS DOS EUA FALHOU EM TODOS OS SEUS OBJETIVOS

CIDADE DO MÉXICO (AP) - Depois de 40 anos, a "guerra contra as drogas" dos Estados Unidos custou US $ 1 trilhão e centenas de milhares de vidas, e para quê? O uso de drogas está desenfreado e violência ainda mais brutal e generalizada.

Mesmo o czar das drogas dos EUA, Gil Kerlikowske, admite a estratégia não funcionou.

"No geral, não tem sido bem sucedida", Kerlikowske disse à Associated Press. “Se algo mudou, é que quarenta anos depois a preocupação com drogas e problemas de droga só aumentou e se intensificou".

Esta semana o presidente Obama prometeu "reduzir o uso de drogas e os grandes danos que estas provocam" com uma nova política nacional que disse tratar o uso de drogas mais como questão de saúde pública e se concentra na prevenção e tratamento.

No entanto, seu governo aumentou os gastos com a interdição e aplicação da lei para níveis recorde tanto em dólares quanto em termos percentuais; este ano, que representam US$10 bilhões dos US$15 bilhões do seu orçamento de controle de drogas.

Kerlikowske, que coordena todas as políticas federais antidrogas, diz que vai levar tempo para que os gastos se equiparem com a retórica.

"Nada acontece de um dia para o outro", diz ele. "Nós nunca trabalhamos o problema da droga de forma holística. Vamos prender o traficante, mas deixamos o vício."

Seu antecessor, John P. Walters, vê problemas nisso.

O abuso de drogas atingiu em 1979 a nível máximo nacional e, apesar das flutuações, permanece abaixo destes níveis, ele diz. Julgar a guerra às drogas é complicado: Registros indicam que o uso abusivo de maconha e drogas de prescrição está subindo, enquanto o consumo de cocaína está caindo. As apreensões estão aumentando, mas o mesmo ocorre com a disponibilidade.

"Dizer que todas as coisas que têm sido feitos na guerra contra as drogas não fizeram qualquer diferença é ridículo", diz Walters. "Dizer isso destrói tudo o que fizemos. É dizer todas as pessoas envolvidas na aplicação da lei, tratamento e prevenção estiveram perdendo seu tempo. Diz todo o trabalho dessas pessoas está errado."

___ ___

Em 1970, os hippies estavam fumando maconha e tomando ácido. Os soldados estavam voltando para casa do Vietnam viciados em heroína. O presidente Richard M. Nixon, belicoso, iniciou uma nova guerra ele pensou que poderia ganhar.

"Esta nação enfrenta uma grave crise em termos do uso crescente de drogas, principalmente entre os jovens," Nixon disse ao assinar o Global Drug Abuse Prevention and Control Act. No ano seguinte, ele disse: "inimigo público número 1 nos Estados Unidos é o abuso de drogas. A fim de combater e derrotar esse inimigo, é necessário empreender uma nova ofensiva total".

Seu primeiro orçamento antidrogas foi de US $ 100 milhões. Agora é de US $ 15,1 bilhões, 31 vezes a quantidade de Nixon, mesmo quando ajustados pela inflação.

Usando pedidos realizados através do Freedom Information Act, documentos de arquivo, orçamentos federais e dezenas de entrevistas com líderes e analistas, a AP rastreou para onde esse dinheiro foi, e descobriu que os Estados Unidos aumentaram várias vezes os orçamentos dos programas que pouco fizeram para parar o fluxo de drogas. Em 40 anos, os contribuintes gastaram mais de:

— US $ 20 bilhões para lutar contra os traficantes de drogas em seus países de origem. Na Colômbia, por exemplo, os Estados Unidos gastaram mais de US $ 6 bilhões, enquanto o cultivo de coca aumentou e o tráfico mudou para o México - e a violência junto com ele.

— US $ 33 bilhões em marketing com mensagens do estilo "Apenas Diga Não" aos jovens dos EUA e outros programas de prevenção. São reportadas as mesmas taxas de uso de drogas ilegais por estudantes dos colégios desde 1970, e os Centros de Controle de Doenças e Prevenção dizem que casos de overdoses tem "subido de forma constante" desde o início dos anos 1970 para mais de 20.000 no ano passado.

— US$ 49 bilhões para a aplicação da lei ao longo das fronteiras dos Estados Unidos visando o corte do fluxo de drogas ilegais. Este ano, 25 milhões de americanos irão cheirar, engolir, injetar e fumar drogas ilícitas, cerca de 10 milhões a mais que em 1970, com a maior parte dessas drogas importados do México.

— $121 bilhões para prender mais de 37 milhões de infratores por drogas não-violentos, cerca de 10 milhões delas por posse de maconha. Estudos mostram que o tempo da cadeia tende a aumentar o consumo de drogas.

— US$ 450 bilhões para trancar as pessoas em prisões (federais, apenas).. No ano passado, metade de todos os presos federais dos EUA estavam servindo sentenças por delitos de drogas.

At the same time, drug abuse is costing the nation in other ways. Ao mesmo tempo, o abuso de drogas está onerando o país em outras maneiras. O Departamento de Justiça estima as conseqüências do abuso de drogas - "um sistema judiciário sobrecarregado e um sistema de saúde no limite, perda de produtividade, e a destruição ambiental" - custou aos Estados Unidos 215 bilhões de dólares por ano.

Economista da Universidade Harvard, Jeffrey Miron diz que a única certeza que os contribuintes conseguem ao gastar mais com policiais e soldados são mais homicídios.

"A política atual não está tendo um efeito de redução do uso de drogas", disse Miron, "mas está custando uma fortuna ao público."

___ ___

Desde o início, os parlamentares debateram ferozmente se a aplicação da lei - não importa quão bem financiada e bem treinados - poderia um dia derrotar o problema das drogas.

O então senador do Alasca Mike Gravel, que tinha suas dúvidas, desde então viu seus piores medos acontecerem.

"Olhe o que aconteceu. É uma tragédia em curso que nos custou um trilhão de dólares. Lotou nossas cadeias e desestabilizou países como México e Colômbia", diz ele.

Em 1970, proponentes disseram que leis mais severas poderiam efetivamente fechar a fronteira sul dos EUA e parar o fluxo de drogas. Desde então, os EUA vem usado patrulhamento, checkpoints, cães farejadores, câmeras, detectores de movimento, sensores de calor, aeronaves espiãs - e mesmo colocar mais de 1.600 quilômetros de viga de aço, paredes de concreto e cercas que se esticam da Califórnia ao Texas.

Nada disso parou as drogas. O Escritório de Política Nacional de Controle de Drogas, diz que cerca de 330 toneladas de cocaína, 20 toneladas de heroína e 110 toneladas de metanfetamina são vendidas nos Estados Unidos a cada ano - quase tudo trazido pelas fronteiras. Even more marijuana is sold, but it's hard to know how much of that is grown domestically, including vast fields run by Mexican drug cartels in US national parks. Ainda mais a maconha é vendida, mas é difícil saber quanto que é cultivada a nível nacional, incluindo as vastas plantações em parques nacionais dos EUA dos cartéis da droga mexicanos.

Os traficantes que são apanhados têm sobrecarregado os sistemas de justiça nos Estados Unidos e em outros lugares. Procuradores dos EUA retiraram acusações de 7.482 casos envolvendo drogas no ano passado, a maioria porque simplesmente devido a não terem tempo. Isso é cerca de um em cada quatro casos envolvendo drogas.

Os Estados Unidos nos últimos anos juntou milhares de suspeitos de associação com traficantes de drogas do México, então, em seguida, delegou parte dos casos a promotores locais que não pode fazer as acusações se manterem por falta de provas. Os suspeitos são, então, às vezes liberados, deportados ou absolvidos. O Ministério da Justiça dos EUA nem sequer acompanha o que acontece com todos eles.

No México, os traficantes exploram um sistema de justiça falido. Investigadores muitas vezes não conseguem reunir provas convincentes - e às vezes são assassinados quando o fazem. Confissões são obtidas através do espancamento de suspeitos por policiais frustrados e mal pagos. Juízes que já não fecham os olhos para tais abusos, contrariados, libertam os suspeitos.

Na prisão, seja nos EUA ou no México, os traficantes continuam a operar, ordenar assassinatos e organizar a distribuição de seus produtos até mesmo de confinamento em solitárias no Texas e na Califórnia. No México, os prisioneiros às vezes pode até comprar a sua fuga.

A violência toma o México. Em Ciudad Juarez, o epicentro da violência relacionada às drogas no México, 2.600 pessoas foram mortas no ano passado em a violência relacionada com carteis, tornando a cidade de um milhão de habitantes em todo o Rio Grande a partir de El Paso, Texas, uma das mais mortais do mundo. Nem uma única pessoa foi processado por homicídio relacionado ao crime organizado.

E então há o dinheiro.

Os US $ 320 bilhões anuais da indústria global de drogas representa atualmente um por cento de todo o comércio no planeta.

Um total de 10 por cento de economia do México é construído sobre rendimentos de drogas – 25 bilhões de dólares contrabandeadas dos Estados Unidos a cada ano, dos quais 25 centavos de cada 100 dólares de contrabando é apreendido na fronteira. Assim, não há incentivo para uma reforma financeira que poderia domar a cartéis.

"Para cada traficante que se coloca na cadeia ou mata, há uma fila para substituí-lo, porque o dinheiro é muito", diz Walter McCay, que dirige a ONG Centro para a Certificação Profissional da Polícia na Cidade do México.

McCay é um dos 13 mil membros de Medford, Massachusetts, base da Law Enforcement Against Prohibition, um grupo de policiais, juízes, procuradores, guardas prisionais e outros que querem legalizar e regulamentar todas as drogas.

Uma década atrás, nenhum político que desejasse manter seu emprego seria capaz de dizer uma única palavra sobre a legalização, mas é um consenso crescente em todo o país que pelo menos a maconha vai um dia ser regulamentada e vendida como álcool e tabaco.

Os eleitores da Califórnia em novembro decidem se legalizam a maconha, e Dakota do Sul vai votar no outono quanto à possibilidade de uso medicinal da maconha, já autorizados na Califórnia e 13 outros estados. A administração Obama diz que não terá como alvo os dispensários de maconha se estes estiverem de acordo com as leis estaduais.

___ ___

O presidente mexicano Felipe Calderón diz que se os EUA querem corrigir o problema das drogas, é preciso fazer algo a respeito sobre a sede sem fim dos americanos por drogas ilegais.

Kerlikowske concorda, e Obama se comprometeu a fazer isso.

No entanto ambos os países continuam a gastar a maior parte de seus orçamentos de políticas sobre drogas na aplicação da lei ao invés de tratamento e prevenção.

O orçamento recém-lançado do presidente Barack Obama para a guerra as drogas é essencialmente o mesmo que Bush, com cerca de duas vezes mais dinheiro indo para o sistema de justiça criminal do que para tratamento e prevenção", disse Bill Piper, diretor de assuntos nacionais para a organização sem fins lucrativos Drug Policy Alliance. "Isso apesar das declarações de Obama durante a campanha que o uso de drogas deve ser tratado como uma questão de saúde, e não uma questão de justiça criminal."

Obama pede 15,5 bilhões de dólares para o combate às drogas em 2011, cerca de dois terços disso indo para a aplicação da lei nas linhas de frente da batalha: a polícia, militares e agentes da patrulha de fronteira lutando para apreender drogas e prender traficantes e usuários.

Cerca de 5,6 bilhões de dólares serão gastos em prevenção e tratamento.

"Pela primeira vez o país tem diante de si uma administração que vê a questão das drogas primeiramente através de uma visão de saúde pública", disse o economista e especialista em políticas sobre drogas, John Carnevale, que serviu três administrações e quatro czares das drogas (secretários antidrogas). "Porém ... parece que este passo político histórico tem alguns problemas com o seu orçamento de apoio."

Carnevale disse que o governo continua, substancialmente, alocando de maneira excessiva recursos para as áreas que a pesquisa mostra serem menos eficazes - interdição e programas para países de origem -, enquanto realiza uma sub-alocação de fundos para tratamento e prevenção.

Kerlikowske, que gostaria que as pessoas parassem de chamar a política de "guerra" contra as drogas, muitas vezes fala sobre uma das mais valiosas ferramentas que eles encontraram, a qual médicos detectam o abuso de drogas durante a rotina de exames médicos. Esse programa receberia apenas US $ 7,2 milhões no orçamento de Obama.

"As pessoas vão dizer que não é suficiente. Dirão que o orçamento de drogas não deslocou-se tanto quanto deveria, não discordo disso", disse Kerlikowske. "Gostaríamos de fazer mais nesse sentido."

Quinze anos atrás, quando o governo começou a pedir aos médicos que perguntassem a seus pacientes sobre o uso de drogas durante exames médicos rotineiros, o programa foi descrito como uma das formas mais eficazes de intervenção precoce de futuros viciados.

"Nada acontece da noite para o dia", diz Kerlikowske.

___ ___

Até 100 anos atrás, as drogas eram simplesmente uma mercadoria. Então mudanças culturais do Ocidente a tornaram imoral e torpe, de acordo com a professora Fernanda Mena da London School of Economics.

Movimentos religiosos levaram as cruzadas contra as drogas: Em 1904, um bispo episcopal ao retornar de uma missão no Extremo Oriente, defendeu a proibição do ópio após ter observado a "degeneração moral dos nativos." Em 1914, o New York Times publicou que a cocaína fazia os negros cometerem "crimes violentos", e que os tornavam resistentes aos tiros da polícia. Nas décadas que se seguiram, diz Mena, as drogas se tornaram sinônimo de maldade.

Nixon usou essas emoções, quando fez pressão por sua guerra contra as drogas.

"Vício em narcóticos é um problema que atinge tanto o corpo quanto a alma da América", disse ele em uma mensagem especial ao Congresso, 1971. "Ele entra discretamente nos lares e destrói os filhos, move-se em bairros e quebra a fibra da comunidade que faz os vizinhos. Devemos tentar entender melhor a confusão e desilusão e desespero que levam as pessoas, especialmente os jovens, ao uso de entorpecentes e drogas perigosas."

Apenas alguns anos mais tarde, um jovem Barack Obama foi um dos jovens usuários, um adolescente fumando maconha e dando "uma cheiradinha quando dava para pagar", como ele escreveu em "Dreams From My Father". Quando perguntado durante sua campanha, se ele tinha tragado a maconha, ele respondeu: "Este era o objetivo."

Então, por que persistir com programas caros que não funcionam?

Department of Homeland Security Secretary Janet Napolitano, sitting down with the AP at the US Embassy in Mexico City, paused for a moment at the question. Secretária do Departamento de Segurança Interna, Janet Napolitano, reunida com a AP na embaixada dos EUA na Cidade do México, parou por um momento diante da questão.

"Olha", diz ela, começando devagar. "Isso é algo que vale a pena lutar, porque a questão da toxicodependência é sobre uma luta pela vida de alguém, a vida de uma criança, a vida de um adolescente, sua capacidade para ser um adulto bem sucedido e produtivo.

"Se você pensar sobre isso nesses termos, que estão lutando pela vida - e no México estão literalmente lutando por vidas bem do ponto de vista da violência - que você percebe as apostas são altas demais para rolar."

http://www.foxnews.com/world/2010/05/13/ap-impact-years-trillion-war-drugs-failed-meet-goals/

Offline _tiago

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Re: Mark Kleiman sobre a regulação de consumo e venda de drogas
« Resposta #7 Online: 29 de Maio de 2010, 20:26:30 »
Numa reportagem séria, números que muitos já desconfiavam... Essa luta é só perda de tempo!

Offline _Juca_

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Re: Mark Kleiman sobre a regulação de consumo e venda de drogas
« Resposta #8 Online: 29 de Maio de 2010, 21:03:32 »
É o tal negócio, quanto mais repressão mais lucro. Quanto mais lucro, mais poder, mais pessoas se aventuram, mais traficantes, mais produtores, mais intermediários, mais gente corrompida, etc, etc, etc...

Offline Geotecton

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Re: Mark Kleiman sobre a regulação de consumo e venda de drogas
« Resposta #9 Online: 29 de Maio de 2010, 23:29:23 »
Se estas porcarias fossem liberadas, com o indivíduo assumindo total responsabilidade por seus atos, e se fossem cobrados impostos para o consumo delas, provavelmente o "poder paralelo" seria neutralizado ou destruído.
« Última modificação: 29 de Maio de 2010, 23:49:18 por Geotecton »
Foto USGS

Offline Moro

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Re: Mark Kleiman sobre a regulação de consumo e venda de drogas
« Resposta #10 Online: 29 de Maio de 2010, 23:33:09 »
de acordo.. o problema é encontrar uma maneira inteligente de fazer.. também não é trivial, mas considero o caminho mais adequado
“If an ideology is peaceful, we will see its extremists and literalists as the most peaceful people on earth, that's called common sense.”

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"To claim that someone is not motivated by what they say is motivating them, means you know what motivates them better than they do."

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I'm not convinced that faith can move mountains, but I've seen what it can do to skyscrapers."  --William Gascoyne

Offline _tiago

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Re: Mark Kleiman sobre a regulação de consumo e venda de drogas
« Resposta #11 Online: 29 de Maio de 2010, 23:33:35 »
Eu não sou tão otimista, mas acho que seria uma alternativa.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Mark Kleiman sobre a regulação de consumo e venda de drogas
« Resposta #12 Online: 09 de Abril de 2015, 12:57:17 »
Citar
Outros episódios
Mano Brown foi preso em julho de 2004 por desacato à autoridade ao xingar e tentar agredir policiais militares que encontraram uma ponta de cigarro de maconha na roupa do músico. No dia seguinte, ele foi liberado após pagar fiança de R$ 60.

http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2015/04/mano-brown-e-detido-em-sao-paulo.html

O quanto esses R$60,00 pagam o custo da "operação"?

Acho que deveria ser mais só pelo "tentar agredir"...

 

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