Monges interrompem visita de jornalistas estrangeiros ao Tibete Cerca de 30 monges budistas tibetanos interromperam nesta quinta-feira uma visita do primeiro grupo de jornalistas estrangeiros a ter permissão para entrar na capital do Tibete, Lhasa, desde que foi iniciada uma onda de protestos contra a China, no último dia 10.
Segundo um repórter da agência de notícias AP, enquanto os jornalistas visitavam o Templo Jokhang, os monges gritaram slogans pró-Tibete e defenderam o líder espiritual tibetano, o Dalai Lama - que vive no exílio em Dharamsala, no norte da Índia.
"O Tibete não é livre, o Tibete não é livre", gritava um dos monges, segundo o repórter da AP.
Outro monge disse que o protesto do dia 14 de março não tinha "nada a ver com o Dalai Lama", afirmou o jornalista.
Desde o início dos protestos, a China impediu a entrada de jornalistas estrangeiros no Tibete.
No entanto, na quarta-feira, o governo chinês permitiu que um grupo repórteres estrangeiros visitasse Lhasa em uma viagem de três dias.
Segundo o governo chinês, o grupo - do qual a BBC não faz parte - poderia entrevistar "vítimas de atos criminosos".
Depois que o grupo foi interrompido pela manifestação dos monges, os funcionários do governo chinês que coordenam a visita disseram aos jornalistas para deixar o templo, segundo o repórter da AP.
O grupo também visitou uma clínica médica e uma loja de roupas onde, segundo as autoridades chinesas, cinco meninas foram presas e queimadas até a morte, disse o jornalista.
Segundo um repórter do jornal
Financial Times, a cidade parece uma zona de guerra, com prédios destruídos e grupos de soldados em todas as esquinas.
De acordo com o jornalista, os protestos parecem ter sido mais prolongados e destrutivos do que se imaginava inicialmente.
BushOs protestos contra a China foram iniciadas no último dia 10, em Lhasa, e depois se espalharam por diversas províncias chinesas.
Pequim acusa o Dalai Lama de estar por trás das manifestações, que já deixaram vários mortos e são as maiores dos últimos 20 anos.
O Dalai Lama - que ganhou o prêmio Nobel da Paz em 1989 por sua oposição ao uso de violência na busca pela autonomia do Tibete - nega as acusações e já fez um apelo por diálogo com a China.
Nesta quarta-feira, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, pediu ao governo chinês que inicie um diálogo com o Dalai Lama.
Bush telefonou ao presidente da China, Hu Jintao, para expressar sua preocupação com a situação no Tibete.
"O presidente manifestou sua preocupação com a situação no Tibete e encorajou o governo chinês a iniciar um diálogo concreto com os representantes do Dalai Lama", disse a porta-voz da Casa Branca, Dana Perino.
Segundo Perino, Bush também pediu que a China permitisse "o acesso de jornalistas e diplomatas (ao Tibete)".
O número de mortos até agora nos protestos é incerto. O governo chinês afirma que 19 pessoas foram mortas por manifestantes incitados por separatistas tibetanos.
No entanto, o governo tibetano no exílio diz que pelo menos 140 pessoas já foram mortas pelas forças chinesas durante a repressão aos protestos.
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/story/2008/03/080327_tibetemonges_ac.shtml--------------------
Entenda os protestos no Tibete O Tibete vem sendo palco de protestos contra os mais de 50 anos de domínio chinês. O governo da região autônoma, apoiado por Pequim, afirma que dez pessoas morreram nos confrontos do fim de semana, mas autoridades do governo tibetano no exílio dizem que pelo menos 80 perderam a vida nos choques com a polícia.
Os protestos começaram como uma reação à notícia de que monges budistas teriam sido presos depois de realizar uma passeata para marcar os 49 anos de um levante tibetano contra o domínio chinês.
Centenas de monges tomaram então as ruas, e os protestos ganharam força nos últimos dias, com a adesão dos tibetanos.
Os protestos têm sido apontados como os maiores e mais violentos dos últimos 20 anos.
Saiba mais sobre o que provocou os protestos, quem são os envolvidos e por que o Tibete está em disputa contra o domínio chinês.
Por que os protestos estão ocorrendo?Essa é uma questão histórica. A China diz que o Tibete faz parte de seu território desde meados do século 13 e deverá ficar sob o comando de Pequim.
Muitos tibetanos, no entanto, têm uma outra visão da história. Eles afirmam que a região do Himalaia ficou independente durante vários séculos e que o domínio chinês nem sempre foi uma constante.
Entre 1911 e 1950, por exemplo, o Tibete manteve o status de país independente, até que Mao Tsé-tung comandou a Revolução Chinesa e chegou ao poder no país, em 1949.
Em 1963, ganhou status de Região Autônoma, e hoje conta com um governo apoiado pela China.
Em 1989, a causa da independência do Tibete ficou conhecida no Ocidente após o massacre de manifestantes pelo Exército chinês na praça da Paz Celestial.
Muitos tibetanos querem a independência de volta, e daí os protestos.
O que detonou os últimos protestos?As manifestações começaram no dia 10 de março, exatamente 49 anos depois que os tibetanos encenaram um levante contra o poder chinês.
Houve demonstrações em vários países e monges do monastério de Drepung, nas cercanias da capital Lhasa, também aderiram ao movimento. Os protestos logo ganharam a adesão dos tibetanos.
Fatores econômicos também desempenham um papel importante. Muitos tibetanos dizem que um número crescente de imigrantes chineses da etnia majoritária han chegam à região e conseguem os melhores empregos.
Eles acreditam estar excluídos dos benefícios dos avanços econômicos desfrutados por outras províncias costeiras da China e dizem sofrer com os efeitos da crescente inflação no país.
O dois lados serão capazes de resolver as diferenças?O governo chinês mantém pouco diálogo com o governo tibetano no exílio, com base na Índia. As negociações nunca avançaram e provavelmente não devem avançar no futuro – o abismo entre as duas partes é imenso.
A China diz que os tibetanos no exílio, liderados pelo Dalai Lama, só estão interessados em separar o Tibete da terra mãe. O Dalai Lama diz querer nada mais do que a autonomia da região.
Por que a questão do Tibete é tão conhecida no mundo ocidental?Esta é uma pergunta difícil de responder. O domínio chinês sobre a província de Xinjiang, no oeste do país, é tão controverso quanto o do Tibete, mas não conta com a mesma notoriedade.
Talvez uma das razões pelas quais os ocidentais saibam sobre os problemas do Tibete é por causa do Dalai Lama.
Desde que fugiu do Tibete depois do fracasso do levante, em 1959, o líder espiritual dos tibetanos viajou o mundo para advogar por mais autonomia para sua terra natal, sempre enfatizando que não defendia a violência.
Ele ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1989.
Haverá novos protestos?Provavelmente. A causa fundamental dos protestos não foi solucionada, então a tensão persiste.
Os manifestantes tibetanos parecem determinados a mostrar seu ponto de vista enquanto todas as atenções estão voltadas para a China no ano das Olimpíadas.
Eles querem protestar contra o que eles vêem como uma violação dos direitos humanos por parte da China e querem mais liberdade, tanto política quanto religiosa, na região.
Os governantes chineses certamente não querem nenhum derramamento de sangue a apenas cinco meses do início dos Jogos Olímpicos, e vão tentar evitar qualquer situação que lembre o que aconteceu em Mianmar em 2007.
Por outro lado, eles não querem dar espaço aos monges e a outros manifestantes por medo de que isso seja interpretado como um sinal de fraqueza e acabe levando a mais protestos.
http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/03/080317_tibete_entenda_fp.shtml