Leitores criticam falhas em argumentações criacionistas‘O palco desse tipo de controvérsia (macro e microevolução) pertence aos evolucionistas’
Mensagem de Luís Brudna:
‘Polêmica certa, fonte errada.
O palco desse tipo de controvérsia (macro e microevolução) pertence aos evolucionistas. É um erro enorme permitir propaganda pseudocientífica em prol de uma correção de idéias da ciência.
Em uma comparação pobre, seria como permitir comentários de astrólogos em polêmicas existentes entre astrônomos.’
Mensagem de Roberto Takata:
‘Não sei o que mais me impressiona. Se:
a) a capacidade do Sr. Enézio de Almeida Filho em fazer citações fora de contexto;
b) a incapacidade do Sr. Enézio de Almeida Filho em entender os textos que cita; ou
c) a continuação da publicação acrítica pelo JC (que deveria ser um jornal sobre ciências e não sobre religião) das barbaridades perpretadas pelo defensor criacionista.
O Designer Inteligente da vida não parece ser muito inteligente: faz o golfinho ter que vir à tona respirar de tempos em tempos, quando qualquer tubarão é capaz de retirar o oxigênio dissolvido na água; desenha uma coluna vertebral em humanos altamente propensa a dar problemas de hérnia de disco e dores lombares; faz os peixes (tartarugas e outros organismos) desperdiçarem uma quantidade assombrosa de ovos na esperança de um punhado chegarem à vida adulta, quando poderia – tão magicamente quanto produz novas formas de vida - guiar o processo de desenvolvimento de modo que apenas poucos ovos fossem necessários para garantir a continuidade da espécie.
O Designer também é fútil, enchendo a vida de detalhes como os pêlos no primeiro entrenó de nossos dedos, pintas espalhadas pelo nosso corpo, mamilos nos machos de mamíferos e coisas do gênero.
O Designer também é sarcástico, fazendo parasites atacarem o sistema nervoso de crianças levando-as à letargia e morte, ou larvas de certos inverterbrados alimentarem-se do corpo da própria mãe - com ela viva.
Os criacionistas são maus vizinhos. Como possuem um jardim todo feio, mal-cuidado, esburacado e carunchado; tentam invadir o gramado da ciência, muito mais bem cuidado, viçoso e em expansão, procurando arrancar as belas flores de seu lugar com as navalhas grosseiras da pseudociência.
Que eles cuidem de seu próprio quintal, antes de maldizer o da casa ao lado.’
Mensagens de Homero Ottoni Jr:
‘Não compreendo como o Jornal da Ciência (da ciência), acaba publicando textos criacionistas, os mesmos textos ‘ad infinitum’, com as mesmas alegações sem base.
O último -
http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=27948 – é um primor de desinformação e obscurantismo.
Imagino que a desculpa padrão, relativismo epsistemológico e boa vontade com ‘todos os modos de pensar’ estejam na base do problema, mas, que relativismo pode fazer a ciência, ou mesmo um órgão de divulgação científica, aceitar qualquer tolice em suas páginas?
Seriam publicados textos com o modo de pensar espírita, católico, umbandista, defensores do Pé-Grande, Nessie (aquele do lago Ness), leitores de borra de café, etc?
Enézio de Almeida, um craicionista disfarçado de defensor do DI, escreve sempre as mesmas coisas. Os mesmos argumentos já refutados, trechos de evolucionistas tirados de contexto (quando não francamente distorcidos), falácias e uma profunda má compreensão da biologia e da evolução (ou má fé, não sei ao certo).
O grande paleontólogo Jay Gold tem um texto excelente, onde lamenta o uso distorcido que criacionistas fazem de suas discussões com outros cientistas, que parece ter sido escrito especialmente para o Enézio.
Criticar o conhecimento científico é importante, mais que isso, é fundamental, já que é a forma como o rigor extremo atua sobre esse conhecimento.
Mas existe uma diferença entre criticar um conhecimento científico e professar uma fé religiosa. Quando um biólogo critica ou ataca uma teoria ou um conhecimento, ele pretende aumentar a confiabilidade do mesmo, seja descobrindo que este pode suportar a crítica, seja descobrindo que ele precisa de ajustes.
Mas, o DI não é nada disso. Ele critica o conhecimento cientifico apenas porque não tem escolha, não tem nada para colocar no lugar, nem pode melhorar a compreensão desse conhecimento.
Não deveria um jornal chamado Jornal da Ciência se preocupar ao menos em apresentar um texto que esclarecesse os enganos e erros do autor?
Por exemplo:
Enézio: os biólogos nunca observaram ou sequer propuseram em termos teóricos aceitáveis um caminho macroevolutivo continuamente funcional que conduzisse a novas formas fundamentalmente anatômicas (o sistema de ecolocalização do morcego, o olho, uma asa, uma nova espécie transmutacionada, etc.).’
Não seria importante que o Jornal da Ciência esclarecesse que estes processos já tem sim termos teóricos aceitáveis, com a evolução do olho? Por exemplo, mostrando que este processo foi apresentado há muito tempo pelo biólogo Richard Dawkins? Que para cada um dos exemplos acima existe uma ou mais teorias bem aceitáveis (e aceitas) que os explicam? Não seria o caso de apresentá-las, nem que fosse em pequenos textos complementares?
Outro ponto:
Enézio: As mutações e a seleção natural seriam mesmo capazes de explicar toda a complexidade e diversidade vistas na esfera biológica?
Não importa..

Dificuldades de explicar um processo biológico não autorizam a validação de explicações esotéricas sem evidências. Mesmo que a mutação não explicasse tudo, isso não significa, a não ser para leigos ou autores de má fé como o Enézio, que qualquer outra explicação seja automaticamente correta. Falhas no conjunto de conhecimentos conhecido como ciência, não servem de base para o DI, porque não são evidencias de nada.
Agora um techo roubado e distorcido:
Enezio: ‘Um debate persistente em biologia evolutiva é um sobre a continuidade da microevolução e da macroevolução — se as direções macroevolucionárias são governadas pelos princípios da microevolução.’ [4]’
Ainda que o autor reconheça que o trecho vem de um evolucionista, ele distorce o sentido, ao afirmar que ‘mas estão questionando se o que temos estudado todos esses anos -- a microevolução -- tem alguma coisa a ver com a questão mais importante: o que leva à macroevolução.’
É exatamente sobre esse ponto que recai a queixa maior de Jay Gould. Debater os processos que produzem a evolução não se confunde com discordar sobre o fenômeno evolução. Seja a seleção natural, seja um mecanismo ainda desconhecido, nada indica que um DI seja necessário a evolução, ou pior, nada indica que não exista uma evolução.
Erro básico:
Enézio: O problema da macroevolução (exige grande quantidade de informação genética nova) que ela requer mutações de desenvolvimento. Simplesmente mudar uma proteína aqui e outra acolá não resolve a questão.’
Resolve, e muito bem. Mínimas mudanças em genes produzem grandes mudanças de fenótipo. E isso é bem documentado. A modificação de um gene produz uma perna onde deveria existir uma antena. Mudar uma proteína pode causar enormes mudanças no fenótipo, mudar um gene pode afetar dezenas de outros.
Enézio: Wallace Arthur escreveu: ‘Esses genes que controlam os processos iniciais de desenvolvimento importantes estão envolvidos no estabelecimento do plano básico corporal. As mutações nesses genes geralmente são extremamente desvantajosas e, é concebível, que elas sempre sejam assim.’ [5]’
Por isso a variação de baixo impacto ainda é o modo principal para a especiação. As discussões entre Dawkins e Gould, sobre quão rápido são essas modificações, em nenhum momento exige um ‘monstro promissor’ para se efetuar. Nem Dawkins e nem mesmo Gould defendem que uma asa se forma a partir de um membro dianteiro da noite para o dia, ou que uma mãe com membro anterior dê a luz à um filhote com asas.
O que Wallace nota é que as grandes mutações são negativas, embora, com alguns milhões de anos envolvidos, sempre seja possível escapar alguma positiva (mas não no sentido de dar asas a uma espécie sem elas).
Agora uma falácia argumentativa engraçada:
Enézio: O biólogo de desenvolvimento Rudolf Raff, evolucionista, disse à revista ‘Time’ há mais de dez anos: ‘Deve haver limites à mudança. Afinal de contas, nós já temos estes mesmo planos corporais antigos há 500 milhões de anos.’ [9]. Talvez esses limites de mudanças sejam mais comuns e geneticamente determinados do que nós suspeitamos.’
Claro que há limites. Até mesmo devido a origem proteica de nossos sistemas, ao modo com as bases nitrogenadas se comportam, a quimica e bioquimica do planeta, etc. Por isso não existem animais com rodas. E por isso os planos corporais são extremamente conservadores. E o que isso diria sobre uma divindade, um DI, que tem de se submeter a limitações e não pode criar mamíferos com mais de 4 braços? Quão ‘inteligente’ ou poderoso poderia ser esse DI?
E, se tem de se submeter a limites, este DI poderia ser um ET extradimensional, superpoderoso, mas não divino, que dirige a vida e sua evolução aqui na Terra..

Estamos no terreno da imaginação humana, não do da ciência.
Claro que existem limites. O excelente livro de Dawkins, A Escalada ao Monte Improvável explica esses limites de forma precisa. Uma vez que se sobre um pico evolucionário, não é possivel descer e começar de novo. Mamiferos que voltaram ao mar não podem mais respirar sob a água. Morcegos voam de forma diferente de pássaros. Temos 4 membros, assim como os répteis e dinossauros, e, se estes se transformaram em aves, tiveram de sacrificar seus membros anteriores para isso. Por isso não existem também cavalos alados..

Que dificuldade teria um DI de construir uma ave com asas, mas também com 4 membros?
Deveria haver um limite também para quantas vezes temos de encontrar textos obscurantistas como esse em lugares em que a ciência, sua sobriedade e confiabilidade fossem importantes. O relativismo não pode ser a desculpa, ciência e conhecimento cientifico não são uma forma de democracia, onde a vontade subjetiva das pessoas é importante ao se escolherem as conclusões.
A cada texto como esse, criacionista, que se encontra no Jornal da Ciência, sem o devido comentário crítico, mais espaço a superstições, crendices e pseudociências é criado. Novos estudantes, jovens e leigos poderão sempre alegar ‘mas saiu até no Jornal da Ciência’.
Assim, fica aqui meu protesto e meu descontentamento pela forma acrítica que temas medievais como esse são tratados. Embora ainda não estejamos no nível de submissão que os EUA apresenta ao obscurantismo religioso, é fácil perceber que nesse passo, logo chegaremos ao absurdo de proibir o ensino de biologia e evolução em escolas, em nome do relativismo e do respeito aos ‘diferentes modos de pensar’.
Nota do editor:
O ‘Jornal da Ciência’ considera que não pode recusar as cartas de seus leitores. Este é um compromisso democrático que nos cabe cumprir a risca.
A crítica do criacionismo, a nosso ver, é indispensável e deve ser feita pela comunidade científica sempre e quando aparecerem textos procurando defender posições anticientíficas.
Somos um espaço aberto de discussão. Enquanto os termos dos textos enviados se mantiverem em nível civilizado, não cabem a censura e a pura e simples desconsideração.
A melhor maneira de conduzir uma luta de idéias e concepções, num jornal como o nosso, é permitir que elas se expressem espontaneamente, sem repressão.
Confiamos que as idéias mais consistentes e convincentes acabem se sobrepondo. A democracia não deve ser apenas um ideal, deve ser também uma prática. Cotidiana e inarredável, chova ou faça sol.
José Monserrat Filho
http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=27982[/b]