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21/03/2008O homem que perdeu 1 bilhão de dólaresMarc Roche Durante a sua vida inteira, o bilionário britânico Joe Lewis, 71 anos, seguiu o seguinte conselho do grande industrial americano John Rockefeller: "Você não deve aparecer mais de três vezes nos jornais: quando você nasce, quando você se casa e quando morre". Este londrino do East End fugiu de toda publicidade, a tal ponto que viveu num casarão-fortaleza em Lyford Cay, uma ilhota de exclusividade de gente riquíssima nas Bahamas, guardada por vigilantes armados. A obsessão pelo segredo deste que é o fundador do Tavistock Group, um império financeiro, imobiliário, esportivo e energético, é tão grande que existem muito poucas fotos dele. Durante a sua vida inteira, ele concedeu raríssimas entrevistas.No fim de semana passado, Joe Lewis tornou-se o desconhecido mais célebre das praças financeiras. O desmoronamento do banco de negócios americano Bear Stearns, do qual ele era o maior acionista individual, colocou a sua pessoa em destaque. Sob as luzes da ribalta, o seu nome ocupou as manchetes de toda a imprensa mundial. Com efeito, o enfraquecimento acelerado, em 16 de março, desta instituição que foi comprada por uma quantia relativamente irrisória pela holding financeira JP Morgan Chase lhe custou a bagatela de US$ 1 bilhão (cerca de R$ 1,7 bilhão)! De uma hora para outra, entre um quarto e um terço da sua fortuna colossal esvaiu-se em fumaça. E no que constituiu a suprema humilhação para este homem considerado como o mais astuto dos empreendedores do mundo das finanças da Grã-Bretanha, um exilado fiscal e adepto de um liberalismo desenfreado à americana, foi a Reserva Federal americana que orquestrou o salvamento do Bear Stearns.O investimento naquele banco nova-iorquino, realizado por "Joe o conquistador", é característico da maneira de operar deste filho de um gerente de pub de Bethnal Green, no coração do bairro popular do East End, que começou a sua carreira praticamente do nada. Em virtude de alguns grandes princípios que lhe foram inculcados pelo seu pai, Joe tornou-se uma das personalidades mais ricas do Reino Unido. A sua receita consiste em investir em ativos que foram menosprezados pelo mercado e aguardar, até mesmo por vários anos se necessário, até que o valor daquelas ações volte a subir. Este devia ser o caso do Bear Stearns, uma instituição que já estava na tormenta quando ele adquiriu 7% do seu capital, em setembro de 2007. Uma participação que, portanto, havia sido ampliada para 9,6% no final de dezembro, depois do fracasso de uma estratégia de opções, quando não apareceu ninguém interessado em comprar as ações do estabelecimento.Este homem intuitivo, que venceu na vida por esforço próprio, extremamente desconfiado, a tal ponto de viver recluso, é um solitário. "Ele é um homem prudente que avalia cuidadosamente todo e qualquer investimento, mas que ataca com tudo e sem hesitação tão logo ele tomou a sua decisão", explica um banqueiro que o conhece bem. A exemplo de George Soros, o seu guru, os seus talentos de especulador voltado para as moedas funcionam às mil maravilhas durante a crise da libra esterlina de 1992, e também três anos mais tarde, por ocasião da grande depressão do peso mexicano. Contudo, diferentemente de Soros, que sempre conta com o auxílio de uma equipe de administradores, Joe Lewis por muito tempo conduziu sozinho os seus negócios, uma atividade que ele desenvolveu lançando mão de jogadas de pôquer e do seu faro. Enquanto, evidentemente, ele ouve com atenção e leva em consideração as análises de alguns especialistas, em última instância este gênio do investimento toma as decisões por conta própria, o que ele faz sempre isolado, trancado na enorme sala dos mercados que ele mandou construir no porão do seu casarão-fortaleza."Quando ele gosta de uma idéia, ele escolhe as pessoas mais adequadas e mobiliza os meios necessários para conduzir a transação de modo que ela dê certo. Então, uma vez concluída a transação, ele parte para um outro projeto", explica o seu homem de confiança, Rasesh Thakkar, o diretor geral da Tavistock. Hoje em dia, por efeito da idade que o tornou mais pragmático, ele delega a administração cotidiana para os seus colaboradores, enquanto ele prefere se concentrar nos aspectos macroeconômicos dos países e dos setores de intervenção. Contudo, paradoxalmente, este solitário tem horror da solidão. Este divorciado, pai de dois filhos, que se casou com a sua secretária em segundas núpcias, gosta de se cercar de riquíssimos empreendedores oriundos como ele de um meio modesto. Em particular, de criadores de cavalos tais como os irlandeses John Magnier e Dermot Desmond, que compartilham a mesma paixão pelas corridas hípicas.Kurt Buttenhoff, um administrador de grandes fortunas, faz parte igualmente deste pequeno círculo apelidado de "the Boys". Quando este banqueiro deixou o Salomon Brothers para o Bear Stearns, Lewis, o seu cliente mais importante, o seguiu por lealdade, mas também por realismo. Afinal, este estabelecimento fundado em 1923 em Manhattan era uma das mais poderosas instituições de Wall Street. Enquanto Joe Lewis era um homem duro nos negócios, em contrapartida ele era muito fiel no plano da amizade.Quem é verdadeiramente Joe Lewis, se interrogam atualmente os meios financeiros. Vale reconhecer que existe um quê de Howard Hughes (1905-1976, um outro bilionário lendário) neste homem, uma discrição que destoa com esta época em que os meios de comunicação interferem em tudo. "Ele detesta falar com as pessoas. Isso o deixa doente, pois é um grande tímido", diz a sua filha Vivienne. Mas, diferentemente de Hugues, que construiu a sua fama e sua riqueza no setor da aviação, Joe tira proveito da sua fortuna: ele possui um enorme iate, dirige uma função que leva o seu nome, dedicada à luta contra o câncer - doença esta da qual morreu o seu pai, um cozinheiro francês -, cultiva a sua paixão pelo golfe, pelos cavalos de corridas e as partidas de gamão.O homem de negócios britânico, que ainda assim tinha alguns trunfos na manga ao iniciar a sua carreira, conseguiu abrir caminho até alcançar o sucesso. Aos 18 anos, após ter obtido o seu diploma de conclusão dos estudos secundários, ele comprou com a ajuda do seu pai, que se tornara proprietário de um restaurante, um, dois, e até mesmo três restaurantes de clientela popular, aos quais ele conferiu uma especialidade própria. Este Creso, que parece transformar tudo o que ele toca em ouro, vende, em 1979, o seu império de restaurantes com o objetivo de constituir uma reserva de dinheiro líquido que lhe permitirá investir nos mercados financeiros, os quais se encontram em plena expansão em conseqüência da desregulamentação das finanças.O seu amor pela arte o aproximou muito do homem de negócios francês François Pinault (a terceira fortuna do país em 2007), um outro autodidata e grande especialista na pintura contemporânea. Isso, apesar de Joe Lewis preferir os impressionistas, um jardim secreto que se tornou um paraíso. Os seus gostos ecléticos passam igualmente pelo futebol. Ele não esconde o seu orgulho de ter assumido o controle do Tottenham Hotspurs, um clube da Primeira Divisão inglesa e a agremiação do coração da comunidade judaica do norte da capital."Apesar da aventura desagradável pela qual ele passou Joe Lewis não está no olho da rua. Ele pode vender os seus enormes investimentos imobiliários que permanecem escondidos por trás dos fundos de investimentos privados e cujo valor é impossível de calcular", insiste Philip Beresford, autor do ranking das maiores fortunas britânicas que é publicado anualmente pelo "Sunday Times". Na edição de 2008 deste ranking, que deve ser publicada no início de abril, Joe Lewis retrocedeu do 16º lugar para o 25º, como proprietário de ativos avaliados em 2,2 bilhões de libras (equivalente a R$ 7,43 bilhões).Julgando que ele foi vítima de um "assalto" por conta do preço miserável pago pelo JP Morgan Chase, o bilionário pirata das Antilhas está fazendo de tudo atualmente para bloquear a operação de salvamento do Bear Stearns. Desta vez, ele não poderá limitar-se apenas a fazer contas, mas será também forçado a aparecer em público; e ele não mais poderá ficar apenas especulando, mas terá de assumir os infortúnios inerentes à sua atividade. Tradução: Jean-Yves de Neufville Fonte: http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/lemonde/2008/03/21/ult580u2977.jhtm