Autor Tópico: EUA estão mal, mas Wall Street é que rachou, não a indústria e o agronegócio  (Lida 528 vezes)

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EUA estão mal, mas Wall Street é que rachou, não a indústria e o agronegócio, líderes mundiais

Queda do dólar revigora exportações dos EUA e ajuda a limpar as mazelas da banca toleradas pelo Fed

Com a crise bancária completando oito meses de sangria desatada, o dólar quebrando sem cerimônia todos os recordes de baixa contra o que se poderia chamar de “moedas amigas”, como o euro, a libra e o iene, e testando a resistência das rivais, o yuan, sobretudo, e as dos países petroleiros do Golfo Árabe, a recessão cantada como a pior desde a II Guerra, os EUA, segundo a imprensa e as aziagas análises dos economistas, já estão com a missa encomendada.

O que mais se lê, no entanto, é o que dizem os economistas sobre o apuro dos bancos de Wall Street, a capital financeira dos EUA e do mundo, que é só um pouco mais grave que a da Citi londrina, com a qual disputa a liderança dos negócios globais com ações e renda fixa. No mundo das finanças, hoje, notícia boa é só quando passa o dia e ninguém falou de baixas contábeis e de outro fundo quebrado.

Como frango de granja à espera do milho, Wall Street se alimenta não mais dos meganegócios, que faziam de seus artífices heróis da economia global, mas da ração servida pelo Federal Reserve e até pelos bancos centrais dos países algemados à ciranda do subprime.

As pessoas falam de recessão, como escreveu no Washington Post o economista Robert Samuelson, um dos poucos a manter a serenidade, como se fosse a segunda onda de Genghis Khan - o bárbaro que por onde passava não nascia nem capim, segundo reza a lenda.

O fato é que a economia real - da produção, comércio, serviços -, embora enfraquecendo, não entrou em colapso. A previsão é que os americanos comprem 15 milhões de carros este ano. É menos que os 16,5 milhões comprados em 2007, diz Samuelson, mas ainda é muito.

Aliás, nem os EUA parecem caminhar para o buraco. Transformações da economia estão em curso à sombra da crise financeira, e sobre elas nem o governo fala já que feitas à custa do derretimento do dólar, e há um movimento febril entre os legítimos empreendedores americanos para encontrar tecnologias de ruptura que devolvam ao país outra vez o comando das iniciativas.

Foi assim com a internet e as tecnologias da informação, que mudaram tudo, da economia à cultura, e provocaram a bolha de especulação que antecedeu a dos imóveis: a das empresas ponto.com da bolsa eletrônica Nasdaq.

Celebração do caos

Afaste-se do que Samuelson chama de “celebração da histeria” e se achará uma máquina de US$ 14 trilhões envolvida num duro ajuste de suas duas maiores distorções: os déficits comercial e fiscal. Este em parte explica o outro. O governo Bush o agravou ao reduzir os impostos e levar os EUA à guerra no Iraque. O superávit legado por Bill Clinton foi torrado em menos de dois anos. Ajuste fiscal para valer é esperado para 2009, com o novo governo eleito em outubro.

Ainda assim, o déficit fiscal parou de crescer. Notável, porém, é a recuperação da mãe de todas as crises financeiras dos EUA e da derrocada do dólar, que por tal aspecto não seria bem uma ruína: a redução paulatina dos megadéficits comerciais. E não só pela queda das importações devido à fraqueza do consumo doméstico, mas graças à expansão das exportações pela maior competitividade do dólar.

Regalia exorbitante

Os EUA vêm desde 2001 - e de modo acentuado depois da crise do crédito – com o dólar em contínua desvalorização, medida extrema para uma moeda convencionada pelos acordos internacionais como o meio de pagamento global, e por isso reserva de valor.

Mas o que o ex-presidente da França Charles de Gaulle chamou na crise de 1971 de “privilégio exorbitante da América”, a sua capacidade de gastar à custa da inflação exportada sob a forma de dólares ociosos que só ela pode emitir, passou a exorbitar não a favor, e sim contra o país.

A depreciação do dólar é o antídoto contra esse mal.

Por que o dólar cai

Para restaurar os meios de o país bancar com produção exportada o que precisa importar é que o dólar cai, e já há resultados. No ano passado, o déficit comercial recuou 9% e a necessidade de recursos externos caiu de 6,2% do PIB para 5,3%.

É também a forma de limpar as mazelas de Wall Street, consentidas pelo Fed para que o derrame de dólares ociosos tivesse a lógica de ativos financeiros que dão aos bancos centrais e investidores de fora os meios para financiar os monumentais déficits em contas correntes dos EUA.

A crise atual é sintoma desse mal, e mais virão se não for extirpado, ou venha o pior: os EUA negociarem uma saída empunhando seu escudo militar.

Crises econômicas envolvem também exercícios de geopolítica, se o organismo debilitado tiver alguma proeminência estratégica. Deu-se assim com a quebra da Rússia, quando o PIB caiu quase 30%. Não se jogam potências nucleares às feras do FMI, que nunca arreganhou os dentes para a Índia, mas foi atrevido com Brasil, México etc.

Não é esse o caso dos EUA, que têm reserva de fôlego para grandes saltos, um invejável aparato de desenvolvimento de tecnologias que podem mudar paradigmas e talento empreendedor inigualável. A crise de Wall Street, por exemplo, não retrata o esforço privado tratado como missão para a descoberta de combustíveis alternativos.

Na prática, há dois países: o da crise e o da veia empreendedora, que se sustenta no maior ativo industrial e agrícola do mundo. Os EUA têm 5% da população mundial e um quarto da produção industrial global, que se mantém há décadas. A temida China tem apenas 10%.

http://cidadebiz.oi.com.br/paginas/43001_44000/43040-1.html

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Offline Adriano

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Re: EUA estão mal, mas Wall Street é que rachou, não a indústria e o agronegócio
« Resposta #1 Online: 03 de Abril de 2008, 16:15:03 »
Isso reforça a tese da crise ser "queima de gordura".

Muito barulho por pouca coisa. Aliás é assim que os especuladores ganham dinheiro, deixando o mercado nervoso e faturando nas flutuações.
Princípio da descrença.        Nem o idealismo de Goswami e nem o relativismo de Vieira. Realismo monista.

Offline HSette

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Re: EUA estão mal, mas Wall Street é que rachou, não a indústria e o agronegócio
« Resposta #2 Online: 03 de Abril de 2008, 17:44:41 »
Não há como fazer avaliações estanques no capitalismo moderno.
Problemas no sistema financeiro se espraiam por toda a economia.
A área de construção civil, por exemplo, está parada.

Dizer por exemplo que a indústria vai bem é, no mínimo um contra-senso. Basta ver os indicadores da atividade industrial divulgados ontem.

De qualquer forma, não é o Apocalipse. Em dois ou três trimestres a situação se reverte.

Quanto à desvalorização do dólar, isso é problema mesmo para os outros, não para eles. Nós que o digamos.
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Chaves

Offline Unknown

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Re: EUA estão mal, mas Wall Street é que rachou, não a indústria e o agronegócio
« Resposta #3 Online: 03 de Abril de 2008, 18:04:46 »
Não há como fazer avaliações estanques no capitalismo moderno.
Problemas no sistema financeiro se espraiam por toda a economia.
A área de construção civil, por exemplo, está parada.

Dizer por exemplo que a indústria vai bem é, no mínimo um contra-senso. Basta ver os indicadores da atividade industrial divulgados ontem.

De qualquer forma, não é o Apocalipse. Em dois ou três trimestres a situação se reverte.

Quanto à desvalorização do dólar, isso é problema mesmo para os outros, não para eles. Nós que o digamos.
A área civil realmente está parada, mas isso é porque a crise afeta diretamente a ela. Enquanto não houver uma maior certeza sobre os números da inadimplência e o quanto conseguirão minimizar os prejuízos, ninguém vai se arriscar em outro empreendimento. Casas que valiam aproximadamente US$300.000,00 estão sendo vendidas por US$168.000,00 para diminuir o prejuízo. É claro, muitas delas são casas que as empresas retomaram porque os antigos compradores pararam de pagar. Mas mesmo as casas novas sofreram uma queda abrupta no preço.
O ponto que a reportagem quis ressaltar é que os papéis subprime não contaminaram os papéis dos setores primário e secundário, apenas do setor bancário. O que acontece é uma retração do consumo inesperado, o que pode por algumas empresas em dificuldades, mas não chega a ser algo tão grave quanto ter papéis podres. E com a desvalorização do dólar, a tendência dos consumidores é comprar mais produtos nacionais, o que amortece os problemas das empresas. Mesmo que as empresas não estejam bem, a situação não é tão feia assim. Uma recuperação em três trimestres (como você sugeriu) seria uma prova disso.

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Offline HSette

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Re: EUA estão mal, mas Wall Street é que rachou, não a indústria e o agronegócio
« Resposta #4 Online: 03 de Abril de 2008, 18:14:52 »
A situação é sim, muito grave.
E não sou eu quem está dizendo isso.

Ontem foi o próprio presidente do FED que o admitiu.

E agora à tarde foi o presidente do FMI durante a cerimônica de lançamento do relatório semestral do fundo, World Economic Outlook.
E mais: segundo ele os países emergentes não irão ficar ilesos às consequências, e já orienta a que se tomem medidas desde já para minorar os impactos.

Tentar  tapar o sol com a peneira não é a melhor estratégia. O quanto antes se admitir a gravidade da situação, tão mais rápido ela será superada.
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