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A piada do sujeito repreendido na confeitaria ao encomendar uma "nega maluca" é um resumo dos tempos. O certo seria pedir uma "afrodescendente com problemas mentais" por ser a outra expressão politicamente incorreta. Conversa muito em moda. Por e-mail recebo um intrigante artigo de Ives Gandra Martins - advogado respeitadíssimo e professor emérito das universidades Mackenzie e UNIFMU e da Escola de Comando e Estado do Exército, presidente do Conselho de Estudos Jurídicos da Federação do Comércio do Estado de São Paulo e comentarista da Rádio Jovem Pan. Ufa! - no qual questiona os crescentes privilégios concedidos hoje, no Brasil, a cidadãos que se autodeclarem pertencentes a minorias submetidas a preconceitos.***Gandra se refere aos índios, proporcionalmente com mais terras que os demais brasileiros; aos "quilombolas" não-descendentes de quilombos, malandramente exigindo benesses; aos homossexuais com direito de ter um congresso financiado por dinheiro público, para realçar as suas tendências, coisa que um cidadão comum jamais conseguiria; aos invasores de terras, que violentam a Constituição, recebendo aposentadoria, num reconhecimento explícito de que o governo considera meritória essa conduta, discriminando cidadãos comuns, desempregados, sem este "privilégio" porque cumprem a lei; e aos desertores, seqüestradores, assaltantes e assassinos, que no passado participaram da guerrilha e agora têm garantido polpudas indenizações, pagas pelos contribuintes. Conclui o artigo dizendo sentir-se discriminado, como modesto advogado, cidadão comum, branco e com cada vez menos espaço nesta terra de castas e privilégios.***Que país é ess... Peraí! Ele disse "branco"? Acabou de me ocorrer uma coisa! Branco na verdade é um conceito um tanto genérico. Tem nego considerado branco (ops!, esse trocadilho foi sem querer) que nem é tão branco assim. Mas no meu caso a coisa é diferente. Quem me conhece sabe que dentre os brancos pertenço aos mais brancos, ou extremamente brancos. Aí a coisa vira, como no verso do Caetano em Sampa: "porque és o avesso do avesso do avesso do avesso". Do branco "conceitual", despercebido na multidão, não faço parte. Sou um "negão às avessas", chamo a atenção tanto quanto o negão retinto é notado na fila do cinema ou na mesa do restaurante.***Preconceito? Piadas? Conheço a matéria, passei por todas as marcas e modalidades de leite e sabão em pó. Assim, se o negão era chamado de "urubu", eu era "araponga" e em oposição ao "chaminé do avesso" eu virava "algodão-doce". Meu saudoso amigo português, Joaquim Araújo, vejam só, sempre me interpelava com um "Ó, chiclét donça au cuntrário!". Como não me incluo decididamente entre os "brancos genéricos", estes hoje simplesmente discriminados em favor das minorias assinaladas acima, porém entre os muuuuuito brancos, vou começar um movimento e ir atrás de minhas (nossas) indenizações e privilégios. A coisa está na moda.***Primeira providência: convocar todos os muito branquelos - os albinos, os ruivos de pele rósea, enfim, aquela turma na qual a bermuda preta está fora de cogitação. Segunda providência: mandar estampar camisetas (ainda não sei quantas, pois não sei quantos muuuuuito brancos vou conseguir reunir) com a frase "100% branco". Aí vamos começar a pressionar. Aglomeração em praça pública exigindo óculos escuros e protetor solar grátis é somente o primeiro passo, pois o nosso negócio mesmo vão ser cotas e as indenizações. Pra cada vaga conquistada por um negão nas faculdades, também vamos querer uma para os transparentes. O mesmo valerá para os elencos das novelas e concursos públicos. Quanto às indenizações, faremos lobby no Congresso exigindo apresentação de projeto estabelecendo penas e multas para quem fizer comentários debochados quando estivermos misturados à galera bronzeada na praia. Por um "aí, brancão!" exigiremos 5 mil, por exemplo.***De quebra, como também está fácil receber do governo benefícios por conta dos excessos da ditadura, já me ocorreram dois bons motivos pra levantar mais grana. No primeiro caso, ainda adolescente, um meganha arbitrou minha suspensão do cinema por três meses. Motivo: me sentei por uns segundos - antes da sessão, bem entendido - no braço da poltrona. Tentei argumentar, mas nada. 2. Mais tarde, universitário, eu e meu amigo Roberto fomos presos, também arbitrariamente, por "desacato a autoridade" e passamos uma noite na delegacia. Como é sabido que tem nego (ooops!, desculpem!) por aí levando sua bela indenização por ter passado por situaçõs semelhantes com os milicos, sem ao menos levar um tabefe, vou começar a "procurar meus direitos". Estou em promoção, 500 mil paga tudo.***Ainda preciso cunhar um termo equivalente para "pé na cozinha". Pensei em "costas na sombra". Que tal? "Aquele cara tem as costas na sombra." Sei lá...