Ideologia pesa pouco para eleitor brasileiro, diz estudo
ALEXANDRE MATA TORTORIELLO
da BBC Brasil, em São Paulo
Os eleitores brasileiros estão entre os que menos valorizam a ideologia política ao escolher um candidato, segundo uma pesquisa ainda não publicada do cientista político Scott Mainwaring, diretor do Instituto de Estudos Internacionais Helen Kellogg, da Universidade de Notre Dame, nos Estados Unidos.
Mainwaring comparou 39 países de quatro continentes. Em relação à coesão ideológica dos eleitores, o Brasil ficou em 37º lugar.
No quesito que mede o peso que o posicionamento ideológico do eleitor tem na definição de seu voto, o país ocupa a 31ª posição.
No Brasil, "o eleitor médio é relativamente desinformado e vota muito na imagem pessoal do político", avalia Mainwaring. "O voto programático-ideológico não é o que mais pesa."
Clientelismo
O cientista político entende que há um círculo vicioso, no qual o eleitor não tem confiança de votar nas legendas, enquanto os partidos não se fortalecem institucionalmente porque seus programas têm peso relativamente pequeno na decisão do eleitor.
"As trocas de legendas, sobretudo no pólo conservador, descaracterizam os partidos. O sentido da fidelidade ideológica é muito fraco e não se pode votar de maneira ideológica em um político que não é fiel aos princípios ideológico-programáticos do seu partido", afirma o diretor do Kellogg Institute.
"Isso cria espaço para um jogo clientelista, com efeitos perversos para a eficiência do Estado. Quando o vínculo entre os partidos e os eleitores é programático-ideológico, as pessoas que chegam ao poder precisam implementar essas políticas, as idéias que prometeram nas campanhas", afirma.
Para comparar o grau de previsibilidade do voto, segundo a posição ideológica do eleitor, o diretor do Kellogg Institute chegou a um índice que varia de 0 a 1.
Os países de índices mais altos são a República Checa (0,68), Suécia (0,66) e Itália (0,64).
O Brasil aparece com 0,08, à frente de Argentina, México, Taiwan e Ucrânia, todos com 0,07, além de Rússia (0,05), Índia (0,02), Romênia (0,02) e Peru (0,01).
Surpresa
No Brasil, a pesquisa envolveu PT, PSDB e PMDB. A lista de coesão ideológica, na qual o Brasil só aparece diante de Índia e Venezuela, mostra que esses partidos recebem votos de eleitores de todas as correntes ideológicas: esquerda, centro e direita.
Nessa classificação, os primeiros lugares ficam com Suécia, Espanha e Noruega.
"No caso brasileiro, os três partidos têm desvio padrão muito elevado, o que reflete uma falta de coesão ideológica entre os eleitores do mesmo partido. A surpresa é o PT, que apresentou desvio de 2,86, ficando atrás do PSDB (2,5), e praticamente empatado com o PMDB (2,88)", destaca.
"Nas sociedades onde os partidos têm raízes fracas, mais eleitores tendem a mudar de voto de uma eleição para a outra, aumentando o potencial de volatilidade."
O autor do estudo também alerta que os sistemas políticos mais fracos também prejudicam a transparência dos governos e a prestação de contas aos cidadãos.
"Em sistemas institucionais mais fortes, as organizações políticas não estão subordinadas aos interesses de poucos líderes ambiciosos, conquistando mais independência e construindo seus próprios valores."
"Sistemas mais fracos são mais vulneráveis à subida ao poder de políticos 'antipartidários', com conseqüências adversas para a democracia", diz o cientista político, que cita como exemplos as ascensões à Presidência de Hugo Chávez, na Venezuela, e de Alberto Fujimori, no Peru.
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