Chuva provoca alagamentos e deixa desabrigados em Porto AlegreMeteorologistas prevêem ciclone até segunda-feira
O ciclone extratropical que se formou entre o litoral do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina deu, nesta sexta-feira, uma amostra do clima que os gaúchos enfrentarão no fim de semana com temporal e alagamentos. As rajadas de vento chegaram a 101 km/h nesta madrugada na Capital e 120 km/h no Litoral Norte, conforme a Central de Meteorologia. Somente em Porto Alegre, pelo menos 200 pessoas ficaram desabrigadas.
Meteorologistas prevêem que o fenômeno atinja com ainda maior intensidade municípios do Litoral, da Região Metropolitana e da Serra a partir deste sábado.
Boa parte dos gaúchos encararam chuva constante, que transtornou a sexta-feira. Porto Alegre assistiu a noite chegar mais cedo com tanta água — choveu pelo menos 85,4 milímetros entre as 0h e as 20h, o equivalente a 71,2% do esperado para maio. A intensidade das águas complicou o já tumultuado trânsito porto-alegrense no horário de pico e provocou alagamentos em bairros das zonas norte e sul, deixando moradores ilhados.
Tamanho foi o aguaceiro que nem a 13ª Delegacia da Polícia Civil da Capital, localizada na Avenida Otto Niemeyer, ficou imune. Por volta das 18h, a água que se acumulava nos arredores, principalmente devido ao transbordamento do Arroio Cavalhada, invadiu a DP. Às 22h40min, o inspetor Jorge Freitas permanecia de chinelos e calças arregaçadas no local. Ele e um colega enfrentavam dificuldades para atender à população, pois tiveram de desligar os computadores.
— Em 13 anos de trabalho aqui, nunca tinha visto nada igual. Tem meio metro de água dentro da delegacia e parece que não vai baixar tão cedo — relatou Freitas.
Perto dali, próximo à esquina com a Rua Arroio Grande, três homens decidiram enfrentar a inundação para resgatar um carro por volta da meia-noite. A água atingia a porta do Escort, que havia sido estacionado no local durante o dia.
— Saímos do trabalho e encontramos o carro quase debaixo d'água. O único jeito era entrar lá e empurrar até um local seco — disse o cobrador de ônibus Éder Rocha, 28 anos.
Aborrecido pelo prejuízo e por ter se molhado da cabeça aos pés, o dono do automóvel disse que não estava em condições de falar. A noite terminava mal para ele e para moradores locais. Muitos foram obrigados a erguer móveis e outros pertences pessoais para escapar do aguaceiro.
No bairro Lami, também na Zona Sul, o aguaceiro surpreendeu a comerciante Kelen de Souza Maciel, 25 anos. Segundo ela, o minimercado da família, situado na Vila Sapolândia, foi tomado pela água por volta das 20h. Com a ajuda do marido, da mãe, da cunhada, de vizinhos e clientes, ela conseguiu levantar as mercadorias e o freezer, mas não sabia se seria possível salvar o açougue.
— Estamos apavorados, porque a chuva não pára. Vamos ter muitos prejuízos — disse.
Pelo menos 200 moradores da Zona Sul enfrentam alagamentos dentro de casa. A Brigada Militar está orientando as famílias para que deixem as residências e se desloquem para o salão paroquial da igreja de Belém Novo, porém os moradores não querem deixar o local. Na Avenida Icaraí, no bairro Cristal, cerca de cem pessoas foram orientadas pela Defesa Civil a deixar suas casas. Há registros de queda de árvores em vários pontos da Capital.
Em Viamão, segundo a Brigada Militar, cerca de 15 pessoas estão desabrigadas devido os alagamentos na região do Parque Estadual de Itapuã. Em Guaíba, seis bairros estão ilhados.
No começo da noite de ontem, os motoristas também não escaparam de congestionamentos nas principais vias da Capital. As avenidas Sertório, Assis Brasil e Baltazar de Oliveira Garcia estavam tomadas de veículos. Na Sertório, os condutores chegaram a levar 40 minutos para percorrer quatro quadras.
No Litoral Norte, os primeiros efeitos do ciclone começaram a ser sentidos na manhã de sexta-feira, com a intensificação da chuva e da ressaca em praias como Imbé, onde as ondas chegaram a dois metros. Os ventos atingiram 83 km/h durante a tarde na região.
Provocado por um sistema de baixa pressão, o ciclone extratropical permanece em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul até segunda-feira, segundo a Central de Meteorologia. Hoje, o sistema se aproxima da costa, o que intensificará o vento e a chuva nos dois Estados. Os maiores efeitos do fenômeno — chuva forte, ventania e descargas elétricas — devem ser sentidos no Estado a partir do fim da tarde.
Entre as noites de sábado e domingo, as rajadas devem se manter constantes entre 70 e 80 km/h, com possibilidade de atingir velocidades um pouco acima de 100km/h no período. Além do Litoral e Serra, o mau tempo se fará presente no fim de semana em todas as regiões.
De acordo com a meteorologista Cátia Valente, da Central de Meteorologia, a massa de ar polar presente na região dificulta o deslocamento do sistema para alto-mar, o que o mantém por mais tempo próximo da costa. Ela destaca que, no outono e no inverno, a formação de ciclones é comum no oceano. Desta vez, os efeitos são maiores pela proximidade com o continente.
A navegação não é recomendada no mar e em lagoas e rios localizados na faixa leste dos três Estados da Região Sul até segunda-feira, quando o fenômeno perde força ao se deslocar para alto-mar. Ventos e chuvas mais moderados ainda serão registrados ao longo do dia.
Apesar dos alertas, a Secretaria Nacional de Defesa Civil, ligada ao Ministério da Integração Nacional, esclarece que o ciclone não terá os mesmos efeitos do Furacão Catarina, que provocou destruição entre em parte das costas gaúcha e catarinense.
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