Mais ou menos isso, mas não necessariamente.
Talvez seja mais fácil de entender através do que "realmente" é epigenética de modo geral em vez de apenas nesse contexto entre gerações de macro-organismos.
As células tem um monte de outras coisas no seu interior além dos genes, e essas coisas, ainda que em parte sejam produtos dos genes, também afetam/regulam a sua expressão, e isso pode estar também sendo desengatado ou influenciado por interações com o ambiente. Isso vale para qualquer célula individual e para organismos unicelulares.
Através disso é possível que os organismos multicelulares tenham a diferenciação de células, tecidos e órgãos. Toda célula de um indivíduo, seja da pele ou do cérebro, tem exatamente o mesmo genótipo, mas são bem diferentes, essas diferenças são epigenéticas. Isso se dá mais ou menos porque uma célula que "adquiriu", digamos, a característica de ser célula muscular, só consiga "transmitir essa característica adquirida", se dividir dando origem a células musculares também.
Nos organismos mais complexos, por outro lado, a reprodução não se dá por uma simples divisão celular ou por se arrancar uma parte do corpo qualquer (situações mais onde a herança epigenética é mais importante), mas a partir de células especializadas que reduzem a herança epigenética/especialização das células, de forma viabilizar o desenvolvimento.
Apesar dessa especialização, nem sempre a prole pode se livrar totalmente dessa influência. Tanto por uma incapacidade de "filtrar" totalmente essa influência nos gametas, quanto, no caso dos mamíferos principalmente, porque o embrião em gestação não está completamente isolado do que se passa no corpo da mãe.
Em todos os casos, seja de geração para geração ou no decorrer da divisão celular, o que ocorre não é sempre uma ativação de uma característica fenotípica igual à da célula progenitora, até porque assim não haveria diferenciação celular, toda célula seria sempre igual à que a originou. A diferenciação complexa existe por causa de uma "não-linearidade" nesse proceso de herança; as células transmitem às suas filhas/vizinhas diferentes graus de herança epigenética e essas por sua vez também transmitem em um outro grau. Junto com as interações "programadas" pelos genes isso pode ter um efeito mais drástico ainda, em vez de simplesmente uma questão de diluição ao longo da distância.
Esse mecanismo todo pode impedir em diversas situações uma "herança de caracteres adquiridos", porque as mesmas influências epigenéticas em um estado de desenvolvimento podem ter diferentes efeitos em outros estágios.