Autor Tópico: Renovação da lei agrícola dos EUA...  (Lida 1586 vezes)

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Renovação da lei agrícola dos EUA...
« Online: 18 de Maio de 2008, 03:25:12 »
Renovação da lei agrícola dos EUA revela a farsa do livre comércio e pune o etanol brasileiro

Na terra do livre mercado, a concorrência é aprisionada e o contribuinte banca fazendeiro rico

A renovação da lei de incentivo à agricultura dos EUA, a chamada Farm Bill, pelo Senado dois dias depois de ser aprovada também por larga margem de votos pela Câmara é a prova de que o protecionismo vai de vento em popa no mundo rico, e que a rodada de Doha, para a liberalização do comércio global, não passa de farsa.

A lei renovada amplia para cerca de US$ 307 bilhões em cinco anos os subsídios ao agricultor americano, parte sob a forma de compra garantida de alimentos para programas de assistência social – um subterfúgio político para calar opositores ao emprego dos impostos dos contribuintes para sustentar fazendeiros ricos. E isso quando a renda agrícola é a maior da história. O preço do trigo disparou 126%, da soja, 57%, milho, 45%. E a inflação explodiu no mundo.

Os efeitos dessa decisão se estendem a todo mundo, já que os EUA são o maior produtor e exportador agrícola global, vindo depois a União Européia. Os dois blocos concentram os maiores subsídios à agricultura e impõem barreiras para a livre competição da produção dos demais países produtores em seus mercados.

Cortar os primeiros e derrubar os segundos, eis o senso da Rodada de Doha, começada na capital do Catar em novembro de 2001 e agora moribunda. Por ela a diplomacia do governo Lula se empenhou e fez o país se atrasar ao perseguir a negociação multilateral e tornar letra morta o plano B dos acordos comerciais bilaterais.

A Farm Bill fere todos os acordos de livre comércio e atinge com força os interesses dos países agrícolas com produção competitiva, como Brasil e Argentina, e prejudica os mais pobres especialmente da África. Ela nada tem a ver com a proposta enviada ao Congresso pelo presidente George W. Bush, que já anunciou que vai vetá-la.

Se o fizer, deverá colher outra derrota, pois a lei foi aprovada por 81 a 15 no Senado e 318 a 106 na Câmara - votação suficiente para derrubar o veto de Bush. Democratas e republicanos do partido de Bush aprovaram uma lei que turva o horizonte do comércio global e dos biocombustíveis. Os subsídios ao álcool de milho, base local do etanol, foram mantidos - e ampliadas as barreiras ao acesso ao mercado americano da produção competitiva das usinas brasileiras.

Já se pode inferir o que virá da sucessão de Bush, seja Hillary Clinton ou Barak Obama, pelos democratas, ou John McCain, pelos republicanos, o eleito em 4 de novembro: muito mais protecionismo. Doha apodreceu, e Lula fará melhor se partir para outra, elegendo o pragmatismo sobre a diplomacia sem saída do multilateralismo.

Golpe no mundo pobre

O projeto original de Bush, por exemplo, propunha alterar a regra da assistência humanitária aos países mais pobres, que condiciona as doações de alimentos a que sejam comprados de agricultores dos EUA. Bush propôs que 25% dos alimentos doados fossem comprados dos fazendeiros dos países em que há fome, desgraça agravada pela alta dos preços das commodities agrícolas e do petróleo.

A intenção era encorajar a infra-estrutura agrícola local e evitar o pesado custo de transporte dos EUA aos países ajudados e dos portos à população assistida. O Congresso recusou. Na prática, fez a opção pela taxa cobrada à população mundial pelos exportadores de petróleo.

Álcool só o deles

O capítulo do álcool da Farm Bill desmonta as ilusões alimentadas pelo governo e usineiros brasileiros de criar uma espécie de OPEP dos biocombustíveis. Ela pode até surgir, mas sob a asa da águia americana. A lei fará o governo comprar açúcar de milho pelo dobro do preço mundial, estocá-lo e vendê-lo com desconto, que pode ir a 80%, para as usinas de álcool.

Foi mantida a tarifa de importação de etanol de US$ 0,54 por galão (US$ 2,04 por litro) e imposta a compra de até 85% do insumo no mercado doméstico. Ou seja: além da tarifa, agora passará a haver também cota de importação.

Doação a milionários

Na terra do livre mercado, a Farm Bill aprisiona a concorrência e submete o contribuinte – néscio tanto lá como aqui – e pagar pelo melhor dos mundos do agricultor: subsídio para vender a produção a preço alto ao governo quando o mercado cai, e retê-la quando sobe.

Bush propôs reformar o chamado “escolha o seu preço”. Perdeu. Quis limitar o subsídio a fazendeiros com renda agrícola de até US$ 200 mil. Também perdeu. Ela cobrirá até US$ 1,5 milhão, se casado, e a metade, se solteiro. E querem denunciar nossa política industrial.

O governo Bush, certamente pressionado pelo empresariado dos EUA, instruiu o escritório antidumping a esmiuçar o recente programa de ajuda ao investimento e exportação das indústrias brasileiras, uma primeira medida para o ingresso de eventual contestação no âmbito da Organização Mundial do Comércio, OMC, que patrocina a rodada de Doha e já condenou os EUA por subsidiar o algodão. Foi uma ação do Brasil. E daí? Os cotonicultores americanos continuam na boa.

Não se deve esperar do comércio nenhuma boa ação, só interesses. Lula faz papel de bobo, ainda que só para marcar posição, quando declara, como fez ao semanário Der Spiegel, que quer “participar da OPEP e tentar fazer o petróleo barato”. Não com apoio dos EUA, onda a Farm Bill subsidia agricultor com renda 107 vezes maior que o nível de pobreza do país. Nem de países petroleiros, que parecem acreditar que se assiste ao último sopro dessa riqueza finita.

http://cidadebiz.oi.com.br/paginas/43001_44000/43585-1.html

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Offline Rodion

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Re: Renovação da lei agrícola dos EUA...
« Resposta #1 Online: 18 de Maio de 2008, 03:44:21 »
que tom irritante o da reportagem.
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Offline Diegojaf

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Re: Renovação da lei agrícola dos EUA...
« Resposta #2 Online: 18 de Maio de 2008, 15:05:24 »
A notícia deixa qualquer um irritado...
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Offline HSette

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Re: Renovação da lei agrícola dos EUA...
« Resposta #3 Online: 18 de Maio de 2008, 15:54:02 »
Que dó de vocês. Ficaram ofendidos???  :histeria: :histeria:


E aos amantes da Sra. Clinton, essa nota do Blog do Sérgio Dávila, da Folha:

Citar
Hillary critica ação de empresa brasileira

Da série "Populismo é bom e nós gostamos", episódio 12: em passagem ontem por cidadezinhas rurais da Dakota do Sul, Hillary Clinton criticou a compra de uma processadora de carne por uma empresa brasileira. "Eu me oponho ao negócio e, como presidente, aprimorarei a lei agrícola para impedir a consolidação" do setor, disse a ex-primeira-dama. A "farm bill" foi aprovada ontem.

O negócio a que ela se refere é a aquisição de divisão da Smithfield Foods, baseada na Virgínia, pela brasileira JBS-Friboi, por US$ 565 milhões. Isso faz da brasileira a maior processadora de carne dos Estados Unidos, à frente da gigante Tyson Foods, e acontece um dia depois de a brasileira anunciar a compra da National Beef Packing Co. por outro meio bilhão de dólares. O negócio depende ainda de aprovação federal.

Outro político se queixou da operação, dessa vez o senador republicano Chuck Grassley. "Honestamente, não sei até onde [o Departamento de Justiça] vai deixar essas consolidações acontecerem. Agora, os produtores poderão vender seu gado para apenas três grandes empresas", falou, em comunicado.

Nessa eleição, o voto rural vale ouro. A Dakota do Sul realiza suas prévias no dia 3 de junho.

Esse yankes...  |(
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Offline Rodion

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Re: Renovação da lei agrícola dos EUA...
« Resposta #4 Online: 18 de Maio de 2008, 16:36:36 »
yep. tom canalha me ofende.
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Re: Renovação da lei agrícola dos EUA...
« Resposta #5 Online: 18 de Maio de 2008, 16:41:13 »
yep. tom canalha me ofende.

Sensibilizo-me! :-)

Não me inteirei suficientemente sobre a aprovação do Farm Bill.
Mas como os EUA se mostram uns hipócritas em se tratando de livre mercado, uma vez que o mercado só é livre quando atende a seus interesses, não me surpreenderia se ele trouxer um reforço às práticas protecinistas e intervencionistas.
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Offline Quereu

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Re: Renovação da lei agrícola dos EUA...
« Resposta #6 Online: 18 de Maio de 2008, 17:06:44 »
Numa coisa todos concordamos. Protecionismo e intervencionismo são práticas que prejudicam a todos, exceto o grupelho privilegiado. Lesa o contribuinte, o consumidor, os países pobres e, no fundo, até os países ricos, menos os fazendeiros envolvidos. Mas, o que se pode esperar da mão do estado?
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Re: Renovação da lei agrícola dos EUA...
« Resposta #7 Online: 18 de Maio de 2008, 17:16:24 »
Numa coisa todos concordamos...

Todos quem???
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Offline Nightstalker

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Re: Renovação da lei agrícola dos EUA...
« Resposta #8 Online: 18 de Maio de 2008, 17:36:22 »
Numa coisa todos concordamos. Protecionismo e intervencionismo são práticas que prejudicam a todos, exceto o grupelho privilegiado. Lesa o contribuinte, o consumidor, os países pobres e, no fundo, até os países ricos, menos os fazendeiros envolvidos. Mas, o que se pode esperar da mão do estado?

É verdade.
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Offline Rodion

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Re: Renovação da lei agrícola dos EUA...
« Resposta #9 Online: 18 de Maio de 2008, 19:03:39 »
yep. tom canalha me ofende.

Sensibilizo-me! :-)

Não me inteirei suficientemente sobre a aprovação do Farm Bill.
Mas como os EUA se mostram uns hipócritas em se tratando de livre mercado, uma vez que o mercado só é livre quando atende a seus interesses, não me surpreenderia se ele trouxer um reforço às práticas protecinistas e intervencionistas.

o erro está em tratar os eua como um bloco monolítico. de fato, se realmente se quiser falar em "os eua e seus interesses" e, para determinar quais são, apurar o que diz a maioria, tanto da classe política quanto da própria população, então se verá que mesmo por lá o livre-mercado não goza de grande simpatia.
quanto aos subsídios, é lamentável, e se pode ter certeza de que a mentalidade graças à qual prosperam lá é a mesma que motivou o texto em questão.
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Offline Quereu

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Re: Renovação da lei agrícola dos EUA...
« Resposta #10 Online: 18 de Maio de 2008, 19:19:25 »
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Offline HSette

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Re: Renovação da lei agrícola dos EUA...
« Resposta #11 Online: 18 de Maio de 2008, 19:29:52 »
Numa coisa todos concordamos...

Todos quem???

Você não?

Não de forma terminante.

Tendo a achar que no mundo real uma gradação equilibrada tanto de proteção circunstancial quanto de subsídios a alguns setores estratégicos é necessária e saudável.
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Re: Renovação da lei agrícola dos EUA...
« Resposta #12 Online: 18 de Maio de 2008, 19:40:05 »
Numa coisa todos concordamos...

Todos quem???

Você não?

Não de forma terminante.

Tendo a achar que no mundo real uma gradação equilibrada tanto de proteção circunstancial quanto de subsídios a alguns setores estratégicos é necessária e saudável.

Mas os EUA não tem o direito de considerar estratégico o incentivo à sua agricultura?

PS. Existe outro mundo que não seja o real?

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Re: Renovação da lei agrícola dos EUA...
« Resposta #13 Online: 18 de Maio de 2008, 19:46:54 »
Numa coisa todos concordamos...

Todos quem???

Você não?

Não de forma terminante.

Tendo a achar que no mundo real uma gradação equilibrada tanto de proteção circunstancial quanto de subsídios a alguns setores estratégicos é necessária e saudável.

Mas os EUA não tem o direito de considerar estratégico o incentivo à sua agricultura?

Of course.
Quem disse que não?  :?:


Citar
PS. Existe outro mundo que não seja o real?

E como existem...

O das ideologias não-factíveis, por exemplo, tanto as do extremo direito quanto esquerdo do espectro.
E quantas e quantas pessoas vivem neles...
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Re: Renovação da lei agrícola dos EUA...
« Resposta #14 Online: 18 de Maio de 2008, 20:23:08 »
Bem. Então a conclusão lógica é que: ou o protecionismo é uma política legítima de estado que protege os interesses do país que o pratica, ou é ilegítima, porque oferece uma ilusão de benefício quando na verdade prejudica os interesses.

No primeiro caso, torna-se nulo o artigo, porque afinal os EUA defendem os seus interesses como qualquer outro país tem o direito. Então o artigo visa mostrar a hipocrisia americana que defende o livre mercado mas paga subsídios. Aqueles que defendem os subsídios não podem reclamar da postura americana, pois se um pode subsidiar o outro também pode. O mundo de fato é cheio de imposturas. Vence apenas quem tem mais poder.

No seguindo caso, a crítica é contra todos os subsídios, logo, liberal. E aqui não há impostura. O liberalismo repudia-os todos.

Mas o artigo é: ou contra os subsídios, logo, liberal, ou a favor, exceto os dos EUA, e, como a postura que pretende denunciar, hipócrita. Eu acho que o artigo é hipócrita.

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Offline HSette

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Re: Renovação da lei agrícola dos EUA...
« Resposta #15 Online: 18 de Maio de 2008, 20:37:11 »
Eu acho que o artigo é hipócrita.


Eu acho o artigo fraco e superficial.

Mesmo porque é um texto corriqueiro, de mídia jornalística, e não se pretende a uma análise mais acurada.
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Re: Renovação da lei agrícola dos EUA...
« Resposta #16 Online: 18 de Maio de 2008, 20:46:13 »
Uma análise suscinta do consultor Alexandre Mendonça de Barros, da MB Agro, de um dos aspectos que ele entende como relevante da Farm Bill:


Até então, os EUA praticavam uma política tradicional de estoques reguladores. Definia um preço mínimo para o agricultor. Se os preços de mercado ficassem abaixo, o governo adquiria a produção e ficaria com estoques para atuar na entressafra. Em geral, mantinha em estoque o equivalente a um ano de consumo.

Com a mudança da Lei, transfere-se os estoques para o setor privado. O governo manteve o preço mínimo, mas em vez de adquirir estoques quando os preços caiam abaixo do mínimo, passa a pagar a diferença em dinheiro. E os agricultores passam a vender para o setor privado.


A estratégia das tradings é simples. Como atuam em países do hemisfério sul, passam a praticar a política de transferir os estoques para os produtores. Na entressafra americana, recorrem à produção do Brasil e da Argentina, por exemplo.

De repente o mundo se dá conta de que não dispõe mais de estoques reguladores.
Esse é o ponto central, ao qual se somam o aumento da produção de etanol em detrimento de alimentos (nos EUA e Europa) e o movimento especulativo dos fundos hedge em direção ao mercado de commodities agrícolas.

Segue-se uma espécie de pânico, que leva a essa onda protecionista inédita, atingindo inclusive países que nunca haviam colocado entraves à exportação de alimentos. A China já chegou a bloquear a venda de fertilizantes.



E aí se entra em um capítulo relevante da segurança alimentar. Se quiser aspirar a ser grande potência agrícola mundial, o Brasil tem que perseguir a auto-suficiência em fertilizantes.

Hoje o Brasil importa a maior parte dos fertilizantes e dos macro-nutrientes. Não há preocupação com a auto-suficiência interna. Pelo contrário: a importação de fertilizantes é isenta de tributos; a produção interna paga ICMS:o :o :o

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Re: Renovação da lei agrícola dos EUA...
« Resposta #17 Online: 18 de Maio de 2008, 21:06:28 »
Sobre protecionismo um artigo do Rodrigo Constantino:
Citar
Malthus Errou
(Jornal O DIA)

Rodrigo Constantino

Os preços dos alimentos básicos já subiram 60% no mercado internacional no primeiro trimestre do ano, comprometendo a renda de milhões de pessoas pobres. O que fazer? Primeiro, é preciso entender as principais causas disso. De um lado, o enorme aumento da demanda, com milhões de chineses e indianos consumindo mais com o aumento da renda nos últimos anos. Do outro lado, os choques de oferta, como secas e barreiras governamentais.

Nenhum setor recebe tanto auxílio e protecionismo como o agrícola. Tal intervenção cria incentivos perversos que distorcem preços de mercado, principal instrumento de informação dos produtores. Quando um preço sobe muito, significa que mais investimentos produtivos são demandados, para aumentar a oferta. Mas, quando governos garantem subsídios ou protegem seus mercados da concorrência externa, os produtores investem menos, prejudicando os consumidores.

Além disso, alguns governos subsidiaram a produção de biocombustível, tornando mais lucrativo investir nesse setor à custa da produção de alimentos. Compreendendo estas principais causas da crise, pode-se concluir que a solução passa por menor intervenção dos governos.

Exemplos mostram que onde o mercado teve maior liberdade, houve sobra de alimentos. Milhões de soviéticos morreram de fome quando Lênin assumiu o controle da produção de alimentos. As previsões catastróficas do economista Thomas Robert Malthus, no fim do Século XVIII, de que a população cresceria mais rápido que a produção de alimentos, ignoravam ganhos de produtividade através de avanços tecnológicos. É possível produzir alimentos para todos. Mas isso só será viável trocando o planejamento central pelo livre mercado.
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Re: Renovação da lei agrícola dos EUA...
« Resposta #18 Online: 18 de Maio de 2008, 21:11:16 »
Do Constantino não se pode esperar muito mais do que os velhos bordões liberalóides.

Não dá para eleger um ou dois bodes expiatórios para se compreender essa situação.
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Re: Renovação da lei agrícola dos EUA...
« Resposta #19 Online: 18 de Maio de 2008, 21:18:16 »
Há uma multiplicidade de causas para essa crise alimentar que já se apresenta e tende a recrudescer.

As práticas protecionistas tendem a ser uma reação natural das nações. Ninguém quer ser pego de surpresa e viver uma grave crise interna de desabastecimento em suas fronteiras. O estômago das massas tem um poder imenso de derrubar sistemas político-econômicos inteiros.
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Re: Renovação da lei agrícola dos EUA...
« Resposta #20 Online: 18 de Maio de 2008, 21:58:47 »
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Até então, os EUA praticavam uma política tradicional de estoques reguladores. Definia um preço mínimo para o agricultor. Se os preços de mercado ficassem abaixo, o governo adquiria a produção e ficaria com estoques para atuar na entressafra. Em geral, mantinha em estoque o equivalente a um ano de consumo.
só pra constar, o sistema brasileiro é rigorosamente igual (PGPM - PEPRO). o que muda mesmo é o volume de recursos destinados pra esse fim, que aqui não passa de algumas centenas de milhões. também, nem precisa direito.

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Hoje o Brasil importa a maior parte dos fertilizantes e dos macro-nutrientes. Não há preocupação com a auto-suficiência interna. Pelo contrário: a importação de fertilizantes é isenta de tributos; a produção interna paga ICMS.
essas irracionalidades do sistema são as mais difíceis de corrigir.
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