Autor Tópico: A marca da ambigüidade - ceticismo na literatura  (Lida 992 vezes)

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Offline Adriano

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A marca da ambigüidade - ceticismo na literatura
« Online: 25 de Maio de 2008, 11:02:41 »
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A marca da ambigüidade


   
Autora de vários estudos sobre a obra machadiana, incluindo a publicação Sob o Signo da Incerteza – O Ceticismo em Montaigne, Cervantes e Machado de Assis, de 1997, a doutora em Teoria Literária e professora da Unisc Eunice Piazza Gai inclui o autor brasileiro na tradição literária que tem como orientação o ceticismo. A corrente do pensamento filosófico da antigüidade que prevê a ausência de julgamentos e trabalha em torno da dúvida é marca da obra do autor. “Machado não dá soluções, vai investigando os caracteres da alma humana sem julgar nem resolver questões, trabalha é com a ambigüidade, com a dúvida.”

O livro da professora buscou no ceticismo a justificativa para o tipo de trabalho e de visão de mundo apresentada por Machado de Assis. Estudou contos, romances, memórias póstumas e concluiu que, apesar de fazer uma crítica da sociedade, o autor mostrava o ser humano com todas as suas nuances, inclusive o lado negativo, seus vícios e problemas.

Segundo Eunice, do ceticismo vem a ironia que marca a vasta obra do autor. “Sua linguagem elegante, polida e culta esconde verdades muito fortes”, resume. “Sua perspectiva é estabelecer a necessidade profunda do caráter, dos vícios e tudo o que constitui o ser humano, porém, sem criticar ou apresentar soluções ou alguma moral”, analisa. Para ela, Machado está no mesmo patamar que Eclesiaste, Luciano de Samosata, Moliére, Shakespeare, Cervantes e Esterne.

Eunice ressalta que o atemporal escritor pode incomodar o leitor recém chegado, ao mexer com as falhas e feridas humanas. “Ele é arguto, detalhista, desmascara certas hipocrisias e desvela o ser humano, que às vezes não gosta disso.” Especialmente sobre a mulher, Eunice observa que o autor tinha um olhar sagaz, descrevendo gestos, gostos, vontades, atos, personalidade. “Observava as nuances da personalidade feminina e suas artimanhas, trabalhando o meio tom, o ambíguo, o incerto e deixando as conclusões para o leitor.”

http://www.gazetadosul.com.br/default.php?arquivo=_noticia.php&intIdConteudo=95640&intIdEdicao=1478
 
« Última modificação: 25 de Maio de 2008, 11:16:37 por Adriano »
Princípio da descrença.        Nem o idealismo de Goswami e nem o relativismo de Vieira. Realismo monista.

Offline Luiz Souto

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Re: A marca da ambigüidade - ceticisma na literatura
« Resposta #1 Online: 25 de Maio de 2008, 11:21:15 »
É por isso que sempre adorei Machado :D

Se você lê a obra dele se depara o tempo todo com o desmonte que ele faz das idéias prontas , dos esquematismos , todas as coisas não são exatamente o que aparentam , todos os sentimentos nobres têm um porém...

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RUBIÃO fitava a enseada, - eram oito horas da manhã. Quem o visse, com os polegares metidos no cordão do chambre, à janela de uma grande casa de Botafogo, cuidaria que ele admirava aquele pedaço de água quieta; mas, em verdade, vos digo que pensava em outra cousa. Cortejava o passado com o presente. Que era, há um ano? Professor. Que é agora? Capitalista. Olha para si, para as chinelas (umas chinelas de Túnis, que lhe deu recente amigo, Cristiano Palha), para a casa, para o jardim, para a enseada, para os morros e para o céu; e tudo, desde as chinelas até o céu, tudo entra na mesma sensação de propriedade.

"Vejam como Deus escreve direito por linhas tortas", pensa ele. Se mana Piedade tem casado com Quincas Borba, apenas me daria uma esperança colateral. Não casou; ambos morreram, e aqui está tudo comigo; de modo que o que parecia uma desgraça...


QUE ABISMO que há entre o espírito e o coração! O espírito do ex-professor, vexado daquele pensamento, arrepiou caminho, buscou outro assunto, uma canoa que ia passando; o coração, porém, deixou-se estar a bater de alegria. Que lhe importa a canoa nem o canoeiro, que os olhos de Rubião acompanham, arregalados? Ele, coração. vai dizendo que, uma vez que a mana Piedade tinha de morrer, foi bom que não casasse; podia vir um filho ou uma filha... - Bonita canoa!-Antes assim!-Como obedece bem aos remos do homem!-O certo é que eles estão no céu!

Quincas Borba

Se não queres que riam de teus argumentos , porque usas argumentos risíveis ?

A liberdade só para os que apóiam o governo,só para os membros de um partido (por mais numeroso que este seja) não é liberdade em absoluto.A liberdade é sempre e exclusivamente liberdade para quem pensa de maneira diferente. - Rosa Luxemburgo

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Offline Adriano

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Re: A marca da ambigüidade - ceticismo na literatura
« Resposta #2 Online: 25 de Maio de 2008, 11:27:33 »
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O PRIMEIRO ROMANCE PSICOLÓGICO

    Com Memórias Póstumas de Brás Cubas a literatura brasileira atingiu a sua maturidade. Marco inicial do Realismo,  introduz o romance psicológico na Literatura brasileira. Nesta obra, Machado de Assis desloca o foco de interesse do romance. O seu enfoque central não é a vida social ou a descrição das paisagens, mas a forma como seus personagens vêem e sentem as circunstâncias em que vivem. Em vez de enfatizar os espaços externos, investe na caracterização interior dos personagens, com suas contradições e problemáticas existenciais.

DOIS TIPOS DE REALISMO

    O chamado Realismo na Literatura brasileira compreende duas manifestações literárias muito diferentes, ambas marcadas pela oposição à tendência idealizante do Romantismo e pela atitude crítica em relação à sociedade.
    De um lado temos o Realismo propriamente dito, ou Realismo Psicológico, inaugurado por Memórias Póstumas de Brás Cubas; de outro, o Realismo-Naturalismo, cujo marco inicial é o romance O Mulato, também de 1881, de Aluísio Azevedo (1857-1913).
    A obra mais importante do Realismo-Naturalismo é O Cortiço, de Aluísio Azevedo, editado em 1890. No livro de Azevedo, a trama desenvolve-se em uma habitação coletiva do Rio de Janeiro, onde vivem e circulam operários, prostitutas e personagens das mais variadas classes sociais. A composição desses tipos e do enredo tem a intenção de descrever objetivamente a vida de uma determinada sociedade e retratar seu funcionamento. O Realismo-Naturalismo é cientificista e determinista, considerando que as ações humanas são produtos de leis naturais: do meio, das características hereditárias e do momento histórico.
    Já o Realismo Psicológico de Machado de Assis despreza tanta objetividade. O escritor concentra sua narrativa na visão de mundo de seus personagens, expondo suas contradições. A classificação mais adotada para definir a escola literária a que pertence Machado de Assis na segunda fase de sua obra é Realismo Psicológico. O recurso que ele utiliza para discutir a sociedade é a abordagem, em profundidade, da individualidade e do caráter dos personagens.

http://fredb.sites.uol.com.br/mpbc.html
Sobre o rocance psicológico Memórias póstumas de Bras Cubas, gostei desse site que faz um estudo desta obra. Realmente um gênio de nossa literatura.



É por isso que sempre adorei Machado :D

Se você lê a obra dele se depara o tempo todo com o desmonte que ele faz das idéias prontas , dos esquematismos , todas as coisas não são exatamente o que aparentam , todos os sentimentos nobres têm um porém...

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RUBIÃO fitava a enseada, - eram oito horas da manhã. Quem o visse, com os polegares metidos no cordão do chambre, à janela de uma grande casa de Botafogo, cuidaria que ele admirava aquele pedaço de água quieta; mas, em verdade, vos digo que pensava em outra cousa. Cortejava o passado com o presente. Que era, há um ano? Professor. Que é agora? Capitalista. Olha para si, para as chinelas (umas chinelas de Túnis, que lhe deu recente amigo, Cristiano Palha), para a casa, para o jardim, para a enseada, para os morros e para o céu; e tudo, desde as chinelas até o céu, tudo entra na mesma sensação de propriedade.

"Vejam como Deus escreve direito por linhas tortas", pensa ele. Se mana Piedade tem casado com Quincas Borba, apenas me daria uma esperança colateral. Não casou; ambos morreram, e aqui está tudo comigo; de modo que o que parecia uma desgraça...


QUE ABISMO que há entre o espírito e o coração! O espírito do ex-professor, vexado daquele pensamento, arrepiou caminho, buscou outro assunto, uma canoa que ia passando; o coração, porém, deixou-se estar a bater de alegria. Que lhe importa a canoa nem o canoeiro, que os olhos de Rubião acompanham, arregalados? Ele, coração. vai dizendo que, uma vez que a mana Piedade tinha de morrer, foi bom que não casasse; podia vir um filho ou uma filha... - Bonita canoa!-Antes assim!-Como obedece bem aos remos do homem!-O certo é que eles estão no céu!

Quincas Borba

Um bom exemplo de seu realismo psicológico, trazendo em seu bojo os questionamentos existenciais dos personagens diante das mudanças sociais/familiares que enfrentam.
Princípio da descrença.        Nem o idealismo de Goswami e nem o relativismo de Vieira. Realismo monista.

 

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