Autor Tópico: Anarquia na Somalia  (Lida 3434 vezes)

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Rhyan

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Anarquia na Somalia
« Online: 02 de Junho de 2008, 15:34:31 »
31 de Maio de 2008
Somalia
 
Quando a maioria das pessoas pensam na Somalia pensam em caos e desordem. Outros pensam em violência e mortes. Nenhuma dessas pessoas sabem que a Somalia esta tendo um maior progresso agora sem o estado, do que quando o tinham.

Os indicadores de bem estar da Somalia permanecem baixos, mas comparado com a situação antes do colapso do estado a situação é extremamente melhor. Sem o estado a expectativa de vida aumentou, o acesso a serviços de saúde aumentaram, a mortalidade infantil diminuiu, as liberdades civis foram ampliadas, e a pobreza extrema (menos de US$1,00 PPP/dia) diminuiu drasticamente. Em várias partes do território a segurança melhorou. Nessas áreas as pessoas estão mais seguras do que nas três últimas décadas. A Somalia está longe da prosperidade, mas conseguiu avanços desde o colapso do estado quinze anos atrás.

Não existe nenhum escritório estatistico na Somália para coletar dados econômicos, demográficos ou outros tipos de dados. Recentemente alguns estudos do Banco Mundial, UNDP, CiaWorldFactbook, Organização Mundial da Saúde, entre outros conseguiram coletar aguns dados.

Hoje em dia, ao contrário da época pré-anarquia, a população da Somalia é livre para viajar e tem uma extensa liberdade de expressão, privada e pública. Vinte jornais privados, doze estações de rádio e tv, e diversos sites fornecem informação para o público da Somália (inclusive esse blog já teve acesso de pessoas da Somalia). Inclusive estações de tv com recebimento de sinal via satélite, tornando disponível canais como a CNN.

O responsável pela melhora da Somalia é a economia, que esteve livre para crescer na falta da depredação governamental. Em algumas áreas, a economia local está experimentando um incomparável boom econômico. O comércio de boi ao longo da fronteira com o Kenya é um dos incentivadores desse crescimento. A pecuária é o mais importante setor da economia da Somalia; ela constitui cerca de 40% do PIB e 60% das exportações.

Outro setor extremamente vibrante é o de serviços. Uma grande parte desse progresso tem a ver com o setor de telecomunicações. Provedores locais juntaram forças com multinacionais como Sprint, ITT e Telenor para prover um serviço rápido, de altíssima qualidade e uma extensa cobertura. A Somalia tem o melhor sistema de telecomunicações do continente africano, incluindo serviços internacionais de longa distância por cerca de US$10 por mês. De acordo com o CIAworldFACTbook a maioria da cobertura da Somalia é feita por tecnologia wireless, fazendo com que o valor seja o mais barato do continente. Até a revista The Economist citou o sistema de telecomunicações da Somalia, dizendo que é um exemplo claro de como o estado mais atrapalha do que ajuda esse setor.

O transporte é um serviço que está crescendo na Somalia. Adicionando aos serviços de transporte local, companhias aéreas da Somalia provem o serviço aéreo internacional connectando a Somalia com o restante do mundo. Em 1997, 14 empresas operavam 62 aviões e o número cresceu cada vez mais. A construção civil é outro setor que vem apresentando grande crescimento em Mogadishu e outros grandes centros, facilitando o crescimento de restaurantes e hoteis. Em Hargeisa, Mogadishu, e Bosasso, investimentos na produção de manufaturas leves indicam a confiança na economia e na segurança local.

A melhora no sistema monetário também contribuiu para o crescimento após a queda do estado. O SoSh era a moeda oficial da Somalia. Após 1991 não tem nenhum governo para administra-lo; mesmo assim o SoSh continua sendo comercializado no mercado internacional. Hoje em dia o SoSh conjutamente com o Dollar são a base do sistema monetário privado da Somalia. Não existe banco central ou tesouro na Somalia. As notas antigas continuam circulando e em alguns casos algumas discussões entre empresas privadas decidem encomendar algumas notas novas.

O mercado financeiro na Somalia apresentou melhoras desde a queda do governo. Numerosas empresas recebem e fazem a intermediação de cerca de um bilhão entre os parentes que enviam o dinheiro para a Somalia. Uma das empresas financeiras com sede em Mogadishu é uma multinacional com escritórios por todo o mundo.

Algumas empresas estão investindo na Somalia, como a Dole Fruit, General Motors, Total Oil e a BBC que fez um acordo com uma das empresas de mídia local. Muitas outras companhias demonstraram interesses em investir na Somalia, e algumas empresas pesqueiras fizeram um acordo para pesca comercial em Puntland.

Os serviços de justiça são fornecidos por empresas privadas na Somalia, seguindo a lei comum da Somalia e algumas empresas as leis muçulmanas. A segurança é o que faz diferenciar a Somalia de um exemplo de anarco-capitalismo. A segurança é fornecida por milícias com o monopólio de uma área. Para que fosse um exemplo anaro-capitalista a segurança teria que ser fornecida por mais de uma empresa, ou não existir nenhuma barreira a sua criação.

O número de escolas primárias aumentou de 600 para 1172 com um aumento de 25% nos últimos três anos. Em todos os testes educacionais realizados antes e depois da queda do estado a Somalia atual obteve melhores notas. Toda a educação é privada, e o ensino superior é referência no continente africano. O serviço de saneamento e bastecimento de água é totalmente privado. A saúde está a alcançe de toda a população, com consultas variando em torno de US$0,50.

A Somalia permanece um país com sérios problemas. Mas está muito melhor atualmente do que quando ainda tinha um governo; e está dando sinais de contínuo progresso sem uma autoridade central. Uma análise profunda do bem estar pré-anarquia e pós-anarquia sugere que a anarquia aumentou o desenvolvimento em geral. Ao contrário dos casos típicos, a Somália apresentou melhora no bem estar social sem o estado.

Fonte: em.wikipedia.org; CiaWorldFactbook; The Economist; The Guardian; Better off Stateless; BBC; Anarchy and Invention; Somalia "chaos or anarchy"; Is Somalia a model?; Somalia and theory of anarchy.

Postado por Juliano Torres
http://precodosistema.blogspot.com/2008/05/somalia.html

Offline Nyx

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Re: Anarquia na Somalia
« Resposta #1 Online: 02 de Junho de 2008, 18:36:31 »
 :| Se isso tiver fundamento, boa parte dos meus preconceitos em relação ao anarco-capitalismo e ao liberalismo cairam por terra.

Offline Rodion

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Re: Anarquia na Somalia
« Resposta #2 Online: 02 de Junho de 2008, 18:46:00 »
:| Se isso tiver fundamento, boa parte dos meus preconceitos em relação ao anarco-capitalismo e ao liberalismo cairam por terra.

passeie pela somália que eles se erguem de novo.
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Rhyan

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Re: Anarquia na Somalia
« Resposta #3 Online: 02 de Junho de 2008, 19:19:16 »
Se continuar assim, vejo a Somália como uma grande país daqui a alguns anos... já mostra vantagens que o Brasil não tem.

Precisa mesmo de empresas de segurança, porque essas milícias são uma espécie de força estatal.

Rhyan

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Re: Anarquia na Somalia
« Resposta #4 Online: 04 de Junho de 2008, 09:00:31 »
Se um pouco de liberalismo fez bem até pra Somália, imaginem o que não faria no Brasil ou num EUA...

Offline Pregador

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Re: Anarquia na Somalia
« Resposta #5 Online: 04 de Junho de 2008, 09:31:44 »
Se continuar assim, vejo a Somália como uma grande país daqui a alguns anos... já mostra vantagens que o Brasil não tem.

Precisa mesmo de empresas de segurança, porque essas milícias são uma espécie de força estatal.

Como disse o Rodion, Rhyan, vaí lá passear pelas ruas de Mogadiscio e volta aqui para ver se você concorda com o que está falando. Vai lá no meio da rua e diz de peito aberto que você é livre para fazer o que quiser na Somália para ver o que lhe acontece...

Que tal perguntar isso para as milícias islâmicas?
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Rhyan

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Re: Anarquia na Somalia
« Resposta #6 Online: 04 de Junho de 2008, 11:09:23 »
Ok, mas o argumento do texto é que sem estado o país evoluiu mais que com. Não diz que o país é agora uma maravilha.

Parece que você nem leu o texto... as milías são criticadas pelos liberais. Não é esse o modelo de segurança num Anarco-Capitalismo ideal.

O ponto é a evolução economica, que como mostra a Somália, o Estado é desnecessário para o bom funcionamento do mercado. O Estado atrapalha o mercado.

Offline Adriano

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Re: Anarquia na Somalia
« Resposta #7 Online: 04 de Junho de 2008, 11:18:18 »
Estão vivendo as custas do produto monetário estatal americano. A moeda é monopólio e neste caso apontado estão usando mais o dollar.

O fato de existirem governos inócuos, e até mesmo destrutivos, não retira a validade de diversos estados nacionais com alta funcionalidade nos diversos continentes. A comunidade européia já supera até o conceito de nação, consolidando a tendência de blocos econômicos com integração política.
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Offline Eu

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Re: Anarquia na Somalia
« Resposta #8 Online: 09 de Junho de 2008, 01:18:57 »
África
Somália enfrenta pior crise em 10 anos




A Somália está enfrentando a pior crise humanitária da década, e, de acordo com a Cruz Vermelha, a situação só tende a piorar. Para a organização, as mortes causadas pelo conflito armado, a escassez de alimentos, a alta dos combustíveis e o longo período de seca no país não permitem um pensamento otimista. "Quando você coloca todos esses fatores juntos, não é preciso explicar por que estamos enfrentando uma grave crise humanitária na Somália", disse Pascal Hundt, presidente da Cruz Vermelha no país. Segundo Hundt, em dez anos, este é o pior momento já enfrentando pela Somália.

Hundt justificou que, por conta da seca, há falta de alimentos e de pastagem para alimentar os animais. Na terça-feira, um grupo representando as organizações somalis alertou a ONU que a situação está cada vez pior. Eles também solicitaram a retirada das tropas etíopes da Somália, alegando que a saída do exército poderia acelerar um acordo político e acabar com os 18 anos de conflito. A Somália vive em estado de anarquia desde que o ditador Mohamed Siad Barre foi deposto, em 1991. Em 2004, um governo de transição foi formado. Atualmente, cerca de 7 milhões de pessoas são atingidas pela pobreza. A guerra civil do país africano já matou centenas de pessoas.




http://vejaonline.abril.com.br/notitia/servlet/newstorm.ns.presentation.NavigationServlet?publicationCode=1&pageCode=1&textCode=134539&date=currentDate

Offline Tupac

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Re: Anarquia na Somalia
« Resposta #9 Online: 09 de Junho de 2008, 01:54:50 »
A crise pela qual passa a somalia, segundo a noticia, tem causa natural, se essa foi uma tentativa de refutar "as boas novas" da noticia que o Rhyan postou, creio que não tenha sido a melhor.
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Offline Partiti

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Re: Anarquia na Somalia
« Resposta #10 Online: 09 de Junho de 2008, 05:32:45 »
O problema em se falar da Somália é que toda e qualquer informação sobre lá não tem a menor garantia de estar certa. Que há alguns poucos investimentos estrangeiros, isso há, oras, os senhores da guerra querem ver TV a cabo. Mas no fundo o financiamento tem de vir quase todo do exterior e de ajuda humanitária, lá não se produz quase nada, dado o caos do país e a falta de infra-estrutura básica e segurança financeira.

Quanto a segurança e justiça, bom, aí temos o "único" problema... Só temos mais ou menos uma centena de senhores da guerra que ditam o que é justo ou não de acordo com suas idéias, numa área do tamanho de um bairro. Quando havia um movimento de união na Somália no ano passado com as cortas islâmicas, a Etiópia invadiu, com apoio americano, para impedir que um estado islâmico surgisse na Somália e a anarquia continuasse.
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Offline Rodion

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Re: Anarquia na Somalia
« Resposta #11 Online: 09 de Junho de 2008, 22:33:17 »
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O problema em se falar da Somália é que toda e qualquer informação sobre lá não tem a menor garantia de estar certa. Que há alguns poucos investimentos estrangeiros, isso há, oras, os senhores da guerra querem ver TV a cabo. Mas no fundo o financiamento tem de vir quase todo do exterior e de ajuda humanitária, lá não se produz quase nada, dado o caos do país e a falta de infra-estrutura básica e segurança financeira.
exceção feita à indústria (privada) de telefonia móvel. não só na somália como na áfrica como um todo a telefonia móvel revelou-se um sucesso, em decorrência mesmo da falta de infra-estrutura. há um tempo li até que estão bolando maneiras de usar um telefone celular, por lá, como se fosse um cartão de crédito, dada, também, a falta de infra-estrutura bancária.
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Offline Unknown

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Re: Anarquia na Somalia
« Resposta #12 Online: 19 de Março de 2009, 18:00:17 »
Áudio atribuído a Bin Laden pede derrubada de presidente da Somália

Um áudio atribuído ao líder da al-Qaeda, Osama bin Laden, exorta insurgentes da Somália a derrubarem o presidente do país. A gravação foi divulgada na internet.

Segundo a gravação, o presidente Sheikh Sharif Sheikh Ahmed, islâmico moderado, "mudou para se alinhar ao infiel".

Ahmed tomou posse em janeiro deste ano, depois de negociações pela reconciliação promovidas pela ONU e promoteu introduzir a sharia (lei islâmica) no país majoritariamente muçulmano.

Militantes do grupo islâmico de linha-dura al Shabab, aliado à al Qaeda, entretanto, continuam a lutar contra o presidente.

Ainda não foi confirmada a autoria da gravação, mas a voz é semelhante à de Bin Laden e a mensagem foi divulgada por websites militantes conhecidos.

A fita de 12 minutos - intitulada "Lutem, campeões da Somália" - traz uma conhecida foto de Bin Laden com um mapa da Somália ao fundo.

Infiel

A fita afirma que a eleição do líder da Somália foi "induzida pelo enviado americano ao Quênia".

Na gravação, o suposto Bin Laden acusa Ahmed de ter "mudado e virado as costas... para se alinhar com o infiel" em um governo de união nacional.

"Esse Sheikh Sharif... precisa ser combatido e derrubado", afirma a gravação, antes de comparar o líder somali aos "presidentes (árabes) que recebem dinheiro de nossos inimigos".

E acrescenta: "Como pessoas inteligentes podem acreditar que os inimigos de ontem com base na religião, podem se tornar os amigos de hoje? Isso só pode ocorrer se uma das partes abandonar sua religião".

Ahmed foi um dos líderes da União das Cortes Islâmicas, que controlou Mogadíscio em 2006 antes de ser expulsa da capital pelas forças etíopes, que apoiavam o ex-presidente da Somália.

A Somália, um país de cerca de oito milhões de pessoas, passou cerca de 18 anos sem um governo nacional que funcionasse, desde a queda do presidente Siad Barre em 1992.

As tropas etíopes se retiraram da Somália em janeiro deste ano, como parte do processo promovido pela ONU para reconciliar islamistas moderados com parlamentares dissidentes em um governo de união nacional.

O presidente Ahmed conta com o apoio de vários grupos islâmicos mas o grupo al-Shabab continua a combater o governo somali e as tropas de paz da União Africana na capital.

A guerrilha controla boa parte do sul e centro da Somália.

No início do mês, o governo apresentou uma proposta para introduzir a sharia no país, o que foi visto por analistas como uma manobra para retirar o apoio ao al-Shabab.

Mas o grupo radical islâmico rejeitou a proposta, afirmando que ela não seria uma versão rigorosa o suficiente da Lei Islâmica.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/03/090319_binladensomalia_ba.shtml

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Re: Anarquia na Somalia
« Resposta #13 Online: 23 de Abril de 2011, 17:13:39 »
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Somália quer recuperar controle de seu espaço aéreo

Responsável pela segurança dos céus do país desde 1996, ONU coleta milhões de dólares em taxas de navegação


Soldado trabalha no Aeroporto Internacional de Mogadíscio

Com os piratas infestando os mares e militantes islâmicos encurralando os legisladores em um canto de Mogadíscio, a capital da Somália, o governo somali não tem controle sobre suas terras e águas. Mas os políticos acreditam poder conquistar pelo menos o controle de uma de suas fronteiras: o céu.

Por quase 15 anos, a Organização das Nações Unidas (ONU) tem controlado o espaço aéreo da Somália de um pequeno escritório em Nairóbi, no Quênia, onde uma equipe internacional de controladores de tráfego aéreo senta-se calmamente na frente de computadores para garantir que os aviões comerciais que atravessam a Somália todos os dias – geralmente a caminho de outros lugares – não batam uns nos outros.

Lidar com isso é muito mais do que uma questão de orgulho. Dezenas de milhões de dólares pagos em taxas pela utilização do espaço aéreo pelas companhias aéreas foram entregues à ONU desde o início do acordo provisório, mas as autoridades somalis se queixam de que pouco desse dinheiro chega ao país.

Eles argumentam que, se tanto é gasto para pagar os generosos salários dos funcionários das Nações Unidas, sobra pouco para a formação de oficiais de aviação na Somália ou o reparo de aeroportos que estão se desintegrando. No aeroporto internacional de Mogadíscio, os ratos comeram os fios das máquinas de raios-X e pedaços de concreto do teto caem rotineiramente no chão, frustrando as autoridades somalis.

"Definitivamente, vamos reivindicar essa autoridade", disse Mohamed Abdullahi Mohamed, o primeiro-ministro da Somália. "É muito simples. O espaço aéreo pertence ao somalis. Nós somos um país soberano. Não se trata apenas do dinheiro", disse.

Autoridades da ONU dizem que concordam em permitir à Somália uma maior participação na gestão de seu próprio espaço aéreo, mas se preocupam em entregar uma operação complexa e potencialmente perigosa a um governo constantemente ameaçado.

Mesmo na pequena área de Mogadíscio que controla com frouxidão, o governo federal de transição da Somália se esforça para provar que pode pagar seus próprios salários e recolher o lixo - que dirá manipular dezenas de aeronaves a quase mil quilômetros por hora.


Avião é visto no aeroporto de Mogadíscio, na Somália

"Fundamentalmente, é uma questão de segurança", disse Denis Chagnon, porta-voz da Organização Internacional de Aviação Civil, agência da ONU que tomou o controle do espaço aéreo da Somália em 1996. Chagnon afirma que embora a agência tenha intervido antes em áreas de desastre, gerenciando temporariamente os céus de Kosovo e Haiti, por exemplo, "realmente não é nada comparado com a Somália".

"Se você tivesse que entregar o controle a instalações na Somália, seria preciso garantir que essas instalações estejam a par e que o pessoal esteja bem preparado", acredita.

Durante meses houve negociações entre ambos os lados, mas alguns diplomatas ocidentais suspeitam do interesse do governo somali nas taxas de utilização do espaço aéreo. A Transparência Internacional classificou recentemente a Somália como o país mais corrupto do mundo e um diplomata ocidental afirmou que agora existe um "frenesi em busca de alimentar essa corrupção", porque não está claro quanto tempo mais durará o mandato do governo de transição.

Dada a incerteza sobre o que vai acontecer em seguida, algumas autoridades da Somália "buscam qualquer fonte de dinheiro que consigam encontrar", disse o diplomata, que não está autorizado a falar publicamente.

Mas as autoridades somalis contra-atacam dizendo que é a ONU que os tem roubado.

"A ONU tem usado o nosso dinheiro para comprar carros de luxo e casas", diz o capitão Mohamoud Sheikh Ali, que até recentemente era o gerente geral da aviação civil na Somália. "Eles estão saqueando nossa propriedade", acredita ele.

E aí reside um outro problema. Mohamoud, um ex-piloto da força aérea da Somália, já fez um pouso de emergência com um caça russo MiG em uma praia do país depois de ficar sem combustível. Ele foi abruptamente demitido em uma das frequentes mudanças de ministros e oficiais de alto escalão que acometem o governo somali.

"Nós estamos tentando encontrar uma transição", afirmou Álvaro Rodrigues, um funcionário da ONU na Somália. "Mas com todas as mudanças de pessoal, isso vai e vem", disse Rodríguez, referindo-se ao governo federal de transição.

Em muitos aspectos, a luta pelo espaço aéreo da Somália é semelhante à batalha em seus mares infestados de piratas. As rotas de navegação ao largo da Somália são cruciais para o comércio mundial, especialmente para os navios que saem do Oriente Médio para a Europa e os Estados Unidos, o que leva as potências ocidentais a enviar navios de guerra para patrulhar as águas da Somália.

Devido à posição estratégica do país, na encruzilhada entre a África e o Mundo Árabe, cerca de 90 aeronaves usam seu espaço aéreo diariamente. Este tráfego inclui algumas das maiores companhias aéreas do mundo, incluindo a Air France e a Emirates. E graças a um fato pouco conhecido no mundo das viagens (as taxas de navegação aérea), cada vez que um avião passa sobre este país devastado pela guerra – de Paris a Reunion, de Dubai a Johanesburgo, de Tel Aviv à Tailândia, por exemplo – as autoridades que controlam o espaço aéreo da Somália recebem US$ 275.

O governo somali deveria ser responsável por receber essas taxas, atualmente estimadas em US$ 4 milhões por ano, mas o governo entrou em colapso em 1991, deixando em aberto o espaço aéreo.

A autoridade de aviação civil da ONU entrou em cena para ajudar, como parte de uma missão de paz de grande porte. Mas, quando forças de paz não foram capazes de pacificar a Somália, o centro de informação de voo foi levado para Nairobi e as taxas de utilização do espaço aéreo passaram a ser usadas para pagar a operação da ONU. Como disse Mohamoud, o órgão aparentemente não consultou nenhum somali.

Novamente, ninguém sabia que a Somália permaneceria por tanto tempo sem um governo funcional. Assim, o que deveria ser um arranjo temporário para monitorar o espaço aéreo da Somália irá completar 15 anos.

Um de seus principais objetivos era desenvolver um "centro" para um departamento de aviação civil da Somália. Mas embora somalis tenham sido contratados para trabalhar em Nairóbi, eles se queixam de serem tratados como cidadãos de segunda classe e dizem que poucos foram promovidos a cargos de chefia – mesmo que essa fosse supostamente uma prioridade da ONU. Muitos dos trabalhadores somalis ganham menos de US$ 1.000 por mês, mas de acordo com eles parte da equipe sênior internacional ganha 10 vezes mais. Funcionários da ONU se recusaram a fornecer informações sobre salários.

O governo da Somália prometeu que não irá mudar as operações e manterá aberto o centro de controle de voo em Nairobi. O país simplesmente quer a propriedade do espaço aéreo devolvida para a Somália, pois desta forma as autoridades locais poderiam gerir melhor o dinheiro gerado pelas taxas de voo e melhorar os aeroportos do país.

"O direito da Somália de assumir a responsabilidade de seu espaço aéreo é inegável perante o direito internacional", diz uma carta do primeiro-ministro anterior, Abdirashid Omar Ali Sharmarke, datada de maio do ano passado.

Observando o terminal do Aeroporto Internacional de Mogadíscio em ruínas, onde os passageiros esperam que funcionários com calças de trabalho sujas posicionem escadas decididamente trêmulas, Mohamoud disse: "Você sabe, essas pessoas estão recebendo o nosso dinheiro, usando o nosso dinheiro - e olhe para nós", afirmou. "Nós queremos apenas ser como qualquer outro país e ter um aeroporto de verdade".

http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/nyt/somalia+quer+recuperar+controle+de+seu+espaco+aereo/n1300094659172.html

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« Última modificação: 23 de Abril de 2011, 17:21:13 por Unknown »

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Offline Liddell Heart

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Re: Anarquia na Somalia
« Resposta #14 Online: 24 de Abril de 2011, 11:13:32 »
Defensores do anarco-capitalismo estão no mesmo barco que os comunistas, acho.  A diferença é que já estamos acostumados com os últimos.
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Offline JJ

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Re:Anarquia na Somalia
« Resposta #15 Online: 07 de Fevereiro de 2016, 06:29:13 »
A crise pela qual passa a somalia, segundo a noticia, tem causa natural, se essa foi uma tentativa de refutar "as boas novas" da noticia que o Rhyan postou, creio que não tenha sido a melhor.


A causa é a natureza ?  Isso é alguma piada ? 

Clima seco não é impeditivo de que um povo tenha um bom padrão de vida, basta observar Israel, que tem um clima seco, e no entanto sua população tem um bom padrão de vida.  A diferença fundamental ?  A organização política adequada.  Eles tem um Estado que funciona bem.



« Última modificação: 07 de Fevereiro de 2016, 06:32:31 por JJ »

Offline JJ

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Re:Anarquia na Somalia
« Resposta #16 Online: 07 de Fevereiro de 2016, 07:32:51 »
Em muitos aspectos, a luta pelo espaço aéreo da Somália é semelhante à batalha em seus mares infestados de piratas. As rotas de navegação ao largo da Somália são cruciais para o comércio mundial, especialmente para os navios que saem do Oriente Médio para a Europa e os Estados Unidos, o que leva as potências ocidentais a enviar navios de guerra para patrulhar as águas da Somália.



Estados enquadrando a atividade privada dos piratas ?  Mas segundo os  libertários  quem deveria estar resolvendo isso seriam empresas privadas. 

Isso é um acinte a liberdade e a atuação da livre iniciativa nos mares,  quem  tem que resolver esses problemas são empresas privadas de segurança. 





Offline Buckaroo Banzai

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Re:Anarquia na Somalia
« Resposta #17 Online: 07 de Fevereiro de 2016, 16:56:51 »
A melhor coisa que se pode dizer em termos de "salvar" a viabilidade hipotética de mercado livre sob anarquia ante o caso da Somália é dizer que é diferente o resultado de progressiva privatização de tudo num estado não completamente falho, e o colapso do estado.

É de fato algo significante, no entanto já desfaz completamente a noção implícita ou explícita comum no discurso de que o estado simplesmente não faz nada certo, "por definição".

Parece que alguns apenas repetem essa noção sem qualquer avaliação, talvez confundindo hipérbole com realidade de tanto ouvir repetida, mas também deve ser o caso de que em alguns a noção surja do princípio de que se o estado é iniciador de agressão, então ele "não pode" fazer nada certo, moralmente certo, e daí talvez possa haver confusão acidental ou proposital entre moralmente e funcionalmente "correto".

 

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