[denovo...]
Esse seu texto Sodré, é bastante verdadeiro, pelo menos no meu caso. Eu creio na maioria dessas coisas aí. Excetuando talvez termos como “divina”, “santíssima”, “infinita” etc. e o item que observa a crença na inexistência de Jesus Cristo, sobre a qual eu não tenho uma opinião formada por simples falta de evidências decisivas. Mas não posso deixar de observar que sinto-me impelido a crer na existência sim de um mendigo que tenha conseguido meia dúzia de seguidores e logo após tenha sido executado por baderna. Depois de alguns séculos de relatos históricos imprecisos (figura insignificante na época) e muitos boatos se alimentando, temos o Jesus folclórico. É claro que essa é a minha impressão a respeito do mito sobre Cristo, é bem possível que ele não tenha mesmo existido, apenas o boato. Logicamente, a última opção é a descrição literal do relato bíblico, até por ser conflitante demais.
Muito bem, me ative tempo demais com relação a esse personagem desimportante posteriormente deificado (ou seria defecado, tendo em vista a aparência e consistência dos argumentos a seu favor). Voltando ao seu texto, Sodré, ele está bom. Mas, contudo, todavia, porém, creio que apesar das tentativas, ele parece ter sido infrutífero na sua concepção original de sátira.
Veja bem, a lei zero pode até ter seu conteúdo cômico (por ser contraditória e talvez denotar esse caráter no pensamento ateísta). Mas, não conheço ateus que não assumam nenhum tipo de crença. A própria relação indivíduo/realidade é baseada na crença de que a realidade existe (e de que o próprio indivíduo existe). Logo, não faz sentido falar de pessoas que não creiam. O que é completamente diferente da Fé, que H. L. Menckel sabiamente definiu como “crença ilógica na ocorrência do improvável”.
A crença da relação indivíduo realidade (mesmo levando-se em conta a inexistência de uma realidade objetiva) é completamente diferente da Fé, pois não existem alternativas viáveis, enquanto para Fé, toda e qualquer alternativa é viável.
Quanto ao big bang e a abiogênese, ambos são frutos tanto da observação quanto da lógica. A abiogênese obviamente é fruto da lógica, pois em qualquer situação onde existam seres vivos devemos imaginar que não havendo causas vivas para um único ser vivo, ele tem sua origem na não-vida (mesmo um ser eterno).
A seguir, vemos você implicitando críticas contra o caráter imparcial da ciência, julgando que o ateu considera tal como sagrado. Não, é apenas estatisticamente viável que a ciência seja imparcial, pois ela trabalha se questionando e revendo seus preceitos. Muitos créditos são dados para aqueles que derrubam paradigmas, pois, em geral, paradigmas são difíceis de derrubar. Pessoas vivem trabalhando nisso, embora poucas consigam. A ciência não possui vínculo dogmático com qualquer coisa, nem mesmo com o Método, pois o Método não é o dogma da Ciência, o Método é a Ciência. No dia que encontrarem qualquer coisa melhor do que a Ciência para obter resultados e fazer previsões corretas, aboliremos o Método.
Não acho que seja infinita “inteligência humana”. Ainda temos muitas pessoas (porque não dizer a maioria delas) que pensam exatamente como você, e isso prejudica muito uma espécie que se julgue infinitamente inteligente. Mas é correto observar que os últimos séculos observaram um desenvolvimento intelectual exponencialmente maior do que os anteriores principalmente devido ao advento do Método. Inteligência infinita é coisa de mitologia hebraica, não se deve dar muito crédito para esses conceitos.
É verdade que podemos intuir muitas coisas baseados em observação e análise, e obviamente não podemos descobrir tudo. Concordo plenamente com essa parte do seu texto. Pena que algumas pessoas sejam tão arrogantes a ponto de se acharem donas da verdade, e tão patéticas a ponto de não perceberem que estão apenas lidando com um dentre diversos mitos.
Nem todas as pessoas relatam milagres (como você apressadamente tentou dizer ao se referir a “+ ou – seis bilhões”, o que provavelmente você acredita ser a população da Terra excetuando os céticos, e concordo não estar longe da verdade). A maioria esmagadora das pessoas não relata milagres, mas acredita em relatos específicos por motivos estranhos, como a tradição de seus povos. Engraçado como essas pessoas arrumam tanta convicção para arrotar suas crenças tendo em vista que as mesmas se baseiam simplesmente na cultura de seus antepassados. É um fenômeno intrigante, possivelmente entrelaçado a natureza humana. Eu por exemplo, torço pelo mesmo time do meu pai. Deve ter alguma coisa a ver.
Já dei a minha impressão sobre o Jesus.
Não acho que Deus seja um salafrário. Muitos salafrários usam e abusam desse mito para benefício próprio. Deus é apenas um conceito equivocado. A humanidade já se deparou com vários deles. Quanto a existência vinda do acaso, a única coisa que eu posso dizer é que ele é simplesmente inevitável, com ou sem deuses ultra-poderosos.
A observação dos ossos e de dentes fossilizados revela muitas coisas sobre a vida do organismo e sobre a constituição da sua espécie, muito embora talvez sua mente seja limitada demais para compreender os métodos utilizados. Obviamente, muita coisa é especulação grossa, mas a maioria das descobertas parte das especulações. Acho interessante duvidar das provas fósseis e acreditar em relatos porcamente escritos e muito mal fundamentados sobre embarcações contendo milhões de espécies animais e sobre inundações globais. Existe uma larga distância de conteúdo imaginativo entre as duas opções.
A idade aferida a Terra não trata-se de uma especulação dos evolucionista e sim é resultado da observação de amostras radioativas tanto da Terra quanto de seu satélite natural, a Lua (talvez em seu furor anti-científico você atribua um grau de ceticismo quanto a viagem tripulada à Lua). Se essas amostras conferem dados temporais bastante compatíveis com a teoria de Darwin, e se temos registros fósseis de bactérias com mais de três bilhões de anos, vemos aqui um claro exemplo da multi-disciplinariedade da ciência, e como um campo pode completar o outro. É lógico que podemos ver (caso deixemos nossa imaginação tomar conta da razão) um complô de cientistas contra Deus (por alguma razão obscura a nossos olhos) ou algo que Deus tenha feito propositalmente, em sua infinita e inquestionável sabedoria, talvez para ludibriar (embora não possamos questionar os divinos intentos) os seres humanos em sua patética busca por um pouco de conhecimento. E por aí vai. Eu apenas acho que são simples dados científicos complementando-se.
Sobre os milagres, eu tenho para mim que as pessoas, por mais honestas que elas possam ser ou tentar ser, tendem involuntariamente a fantasiar, e a acreditar na versão mais favorável as suas concepções. Tendem também a entrar em êxtase coletivo, a atribuir falsos positivos e etc. Sobre os “falsos positivos”, já foram feitos experimentos com ratos (não me lembro o nome do autor, quando lembra lhe digo) e com cães (Pavlov) onde foi detectado comportamento supersticioso. Talvez tenhamos aí um forte indício para acreditarmos em milagres. Veja, “se você rezar muito pela chuva, uma hora ela cai” (essa frase não é minha, fico devendo o autor). Não poderia ser uma verdade maior. Existem também casos mais específicos e improváveis, como a cura de um câncer. Existem muitos casos relatados de regressões impressionantes da doença nos últimos estágios (muitos deles atribuídos a milagres divinos), embora seja esmagadora a maioria dos casos onde nenhum progresso é obtido, e que ocasionam a metástase. Talvez as pessoas possam pensar que a regressão “só pode ter sido obra de Deus”. Mas acho que muitas das pessoas que morreram rezaram com tanta intensidade quanto as que foram curadas, e muitas vezes para o mesmo Deus da mesma religião. Não existe um estudo estatístico, mas é possível que essas pessoas que morreram em média tenham sido tão “boas” quanto as que sobreviveram. O milagre só implicaria numa espécie de favorecimento divino a determinadas pessoas. Pode ser, mas eu prefiro pensar que, em um ambiente em que todos rezam, e alguns possuem resultados positivos e outros negativos, e em outro ambiente onde ninguém reza, e os mesmos tantos tem resultados positivos e negativos, a reza não surte nenhum efeito sobrenatural. Existem pesquisas observando resultados físicos da fé na recuperação do indivíduo, e muito embora eles ainda sejam inconclusivos, uma verificação positiva da fé só demonstraria um efeito físico da própria crença do indivíduo motivando-o para vida, e não a mão divina atuando em cima dele. Acho que falar de milagres em casos de câncer e de tantas outras doenças sobre as quais temos um conhecimento muito restrito é uma grande bobagem. A alguns séculos, era considerado milagre sobreviver a Tuberculose. Hoje, nem rezando para morrer.
O princípio laico é apenas uma condição necessária para o processo de democracia ser aplicado. Qualquer estado não laico não é democrático, e sim teocrático. O laicismo beneficia as religiões, principalmente a sua Adventista, tendo em vista que ela é composta por uma pequena minoria. A teocracia invariavelmente é o prevalecer de uma religião sobre as demais (consideradas dos inimigos de Deus). Pode ter certeza que num estado teocrático, adventistas e ateus seriam igualmente perseguidos, de forma que eu você deveríamos defender com iguais forças o ideal laico.
Creio sim que coisas inteligentes não tiveram causas inteligentes, até porque a inteligência é gradual, e não uma condição sim não (e mesmo que fosse, não impediria de ter causas não inteligentes). A inteligência é apenas o atributo que damos a seres vivos capazes de operar segundo regras complexas nos seus aparelhos nervosos, muito embora a complexidade desses mecanismos varie muito, do mínimo ao máximo. Destituir outros organismos de inteligência faz parte daquilo que Dawkins sabiamente chamou de raciocínio descontínuo, muito comum entre criacionistas deturpadores de idéias.
O acúmulo de coincidências favoráveis é demonstrado em qualquer programa básico de computador, é uma lei matemática dentro de modelos regidos por diferentes intensidades de transmissões hereditárias de informação. Isso acontece com ou sem Deus, com ou sem criacionismo.
Por fim, eu não chamaria nada disso de asneira. Como eu disse, eu concordo com as crenças que você atribuiu aos ateus (talvez outros ateus tenham outras crenças, mas no geral temos um quadro bastante similar ao que você apresentou aqui). Apenas discordo que essas crenças sejam asneiras maiores do que considerar verdadeiro um relato tribal de um povo marginal e nômade da Antiguidade, incapaz sequer de constituir uma civilização relativamente poderosa, mesmo sendo o preferido de um Deus onitudo.