Faz algum tempo venho combatendo certas atitudes sobre o quesito 'gordinhos' e em geral me espanto com os preconceitos alimentares e quase racistas que cada vez vejo com mais frequência.
Para mim isto deriva de uma tendência humana à discriminação, conjugada com certa insistência no emagrecimento. E aqui é que começam os preconceitos.
Todos sabemos que estar fora de peso não é recomendável, que deixar aumentar a gordura abdominal aumenta as chances de problemas cardíacos, que estar fora do peso na nossa juventude pode vir combinada com hipertensão arterial, etc...
O que não sei se todos entendem é que somos uma espécie vencedora no nosso ambiente, após tempos longos de escassez. Portanto, o organismo humano está preparado para longas caminhadas para coletar alimentos, o que hoje não é a realidade na nossa sociedade. E quando digo hoje me refiro ao curto período dos últimos 500 anos, para ser bonzinho. Isto é, após a crescente urbanização que fez com que a maioria da população fique em grandes cidades, ou centros populacionais. Este sedentarismo aumenta as chances a partir da nossa juventude de armazenar mais energia da que podemos gastar. Aliado a isso, a nossa espécie tem propiciado as chances para aqueles que podiam acumular energia para os momentos de escassez, isto é, para aqueles cujo metabolismo propiciava a acúmulo (em gordura) que podia ser gasta posteriormente.
Tenho visto que muita gente não pensa assim. Um lugar-comum é achar que gordinho é sinônimo de preguiçoso ou comilão, o que deve deixar muitos gordinhos nervosos. Mais de uma vez tive que fazer esse retrospecto sobre as espécies para justificar o meu ponto de vista. Já cheguei a exagerar para uma menina que não comia carne, e que insistia que seu organismo tendia a engordar (quele comentário bem feminino 'posso comer uma alface, que engordo').
- Que bom ! - eu disse. Me olhou espantada e quis saber como achava isso bom. Não perguntou se eu 'gostava de gordinhas' por educação, mas deixou isso 'no ar'. Daí expliquei o que está no parágrafo anterior, e entendeu, mesmo não concordando muito. Ironizei:
- Pensa bem, numa guerra nuclear, se você sobreviver, vai ter mais chances de sobreviver do que a F... (a magrela do trampo).
Daí descambou para a piada, mas tirando o exagero da ironia, o argumento é verdadeiro. Obviamente não pensamos em nossos tataranetos quando vamos escolher uma cebola assada ou um purê de batata.
Não gostaria que este assunto descambasse para que cada um desate os cavalos de seus preconceitos alimentares e me explique o que come, o que não come e porquê é feliz ou infeliz com o que come. Todos já demonstramos termos preconceitos alimentares diversos em posts passados. Nada disso vem ao caso.
O que acho curioso é a discriminação ao gordo e não às gorduras, nos dois casos: no caso de pensar que é preguiçoso, e no caso de pensar que herda 'maus genes', ou seja, vai ter filhos gordos, o que não é uma verdade, embora sim haja bons motivos para acreditar que muitas características genéticas estão associadas à obesidade.
O que me preocupa é a obsessão para com supostos hábitos ruins, as milhares de dietas religiosas, as crenças sobre as 'toxinas' e a crença generalizada de que laxante é bom porque libera 'toxinas'. Essa obsessão por gordos e por não ser taxado de gordo, como se fosse um estigma a ser evitado.