Muitos consideram a questão desse horror que existe em várias sociedades ser derivado da alta incidência de doenças congênitas na prole de indivíduos que possuem algum parentesco, mas eu acho difícil acreditar nisso. Dar ao incesto sua condição de imoralidade depende, primeiro, de alguma base moral mais complexa existente em dada sociedade. Em outras palavras, para tal lei moral ser baseada na observação e correlação entre ambos os fatos: "2 irmãos se casaram; seu filho nasceu monstruoso"; isso exige, antes, uma capacidade de abstração um pouco mais desenvolvida, que também permita ao formulador da lei um meio de justificar a imoralidade do ato incestuoso. Levi-Strauss (se é que eu entendi bem o que li superficialmente) dizia que a associação de indivíduos com um parentesco um pouco menos próximo traz benefícios econômicos para as famílias envolvidas, coisa que não duvido.
Entretanto, não é de uma hora pra outra, por exemplo, que alguém cria um deus e se pronuncia sobre o bebê-monstro incestuoso que nasceu na casa do vizinho como fruto do diabo, ou do pecado (que é a relação incestuosa), e é por isso que deus puniu os pais com uma criança defeituosa. Nem acho que as relações sociais mais elementares expliquem a gênese disso, também.
Lembro-me de ter lido uma pesquisa ou um estudo (não me lembro bem, infelizmente) que demonstrava o seguinte: pessoas que convivem muito tempo juntas acabam perdendo o interesse sexual por indivíduos do mesmo "habitat". Talvez feromônios, talvez por um se cansar da cara do outro, ou por se desenvolver algum comportamento que interessa à convivência em comunidades ou traga algum benefício biológico ou psicológico de longo prazo (aumento da variabilidade genética entre os casais, algo do tipo). Meu ponto é o seguinte: irmãos não fazem sexo com irmãs primeiro por elas não terem tanta graça assim, não despertarem a libido do rapaz. A parte do horror, da moral, isso vem depois. E acho que até dá pra enxergar ai uma das causas do tabu: o indivíduo tem interesse sexual por alguém ou uma série de pessoas que nenhum - ou poucos - dos seus pares teria qualquer interesse. Nada mais natural do que se sentir à margem da sociedade. É também por isso, além de ser pecado, que não se legaliza o incesto: os costumes impedem ao cidadão comum aceitar algo do tipo; o legislador não teria apoio algum nessa empreitada.
Assim como é tênue essa repulsa de se relacionar com parentes próximos, considero igualmente tênue a "natural" recusa à pedofila, por exemplo. Sem um código que reitere essas leis morais, não acho difícil todo mundo virar um "pervertido". É só ver como a secularização da vida pública acabou trazendo o que se consideraria "perversão moral" em todos os cantos (se nós fôssemos alguém do século passado). Se isso é bom ou ruim eu não sei, mas a perda dos símbolos e das regras gerais de conduta em dada sociedade acabam (OPINIÂO) dando alguma força aos aspectos menos racionais do ser humano.