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Eclipse homéricoAgência FAPESP – O eclipse solar é um fenômeno raro que, por muito tempo, foi encarado com espanto e medo. A própria palavra eclipse deriva do grego ekleipsis, que quer dizer falha ou abandono. Na Odisséia, Homero descreve o momento em que um horrorizado Ulisses vê o dia virar noite: “O Sol pereceu do céu e tudo foi envolvido por uma aura demoníaca”.Entre incontáveis debates a respeito do clássico da literatura – a começar pela dúvida sobre a autoria do poema e mesmo em relação à própria existência de Homero –, um dos principais tem envolvido a parte em que Ulisses retorna para casa e depara com a inusitada experiência do eclipse.Agora, um novo estudo afirma ter encontrado referências astronômicas na Odisséia que confirmariam o evento. O trabalho será publicado esta semana no site e em breve na edição impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas).Eclipses totais do Sol são tão raros que, se o que Homero descreveu foi realmente um desses momentos, o poema poderá ajudar historiadores a datar corretamente a queda de Tróia, que teria ocorrido durante os eventos descritos na Ilíada e em sua seqüência, a Odisséia.A afirmação é dos autores da pesquisa, Marcelo Magnasco, chefe do Laboratório de Física Matemática da Universidade Rockefeller, e Constantino Baikouzis, do Observatório Astronômico de La Plata, na Argentina.Os dois encontraram na Odisséia evidências astronômicas que podem ser identificadas precisamente como tendo ocorrido em dias exatos durante a longa jornada de Ulisses para casa após a queda de Tróia.Cada uma das datas obtidas foi alinhada com o dia em que Ulisses chega de volta à ilha de Ítaca, após 20 anos de ausência, e mata os usurpadores que assumiram seu lugar por julgarem que o herói havia morrido.Magnasco e Baikouzis identificaram quatro eventos celestiais. O dia da matança seria, como descrito mais de uma vez no poema, também Lua nova, pré-requisito para um eclipse total. Seis dias antes, Vênus está visível e bem alta no céu.Vinte e nove dias antes, duas constelações – Plêiades e Boötes – são vistas ao mesmo tempo no pôr-do-Sol. E 33 dias antes do eclipse, Homero, de acordo com os pesquisadores, sugeriria que Mercúrio estaria ao alto no amanhecer e próximo ao extremo oeste de sua trajetória.Astronomicamente, esses quatro fenômenos ocorrem em diferentes intervalos. Os cientistas investigaram se houve uma data em um período de um século da estimada queda de Tróia que se encaixaria em um desses momentos, conforme descritos no poema.O resultado foi notável, pois encontraram apenas um dia: 16 de abril de 1178 a.C., mesmo dia do eclipse solar total. “Se considerarmos que a morte dos usurpadores ocorreu no exato dia do eclipse, tudo o mais que está na Odisséia ocorreu exatamente como foi descrito”, disse Magnasco.O artigo Is an eclipse described in the Odyssey, poderá ser lido em breve por assinantes da Pnas em www.pnas.org.http://www.agencia.fapesp.br/boletim_dentro.php?id=9023