Na hora da vitória, Ingrid demonstrou o equilíbrio que falta a ChávezFoi impressionante a capacidade de articulação política de Ingrid Betancourt no momento da vitória. Indagada por jornalistas sobre as tentativas de mediação de Chávez – nas quais o presidente venezuelano empenhou-se em dar ao bando narco guerrilheiro o status de respeitável força política – a ex-sequestrada demonstrou extraordinário equilíbrio (que falta a Chávez). E fuzilou:
“Chávez é um importante aliado (na causa da libertação de reféns). Mas sob uma condição: a de respeitar a democracia colombiana. Os colombianos elegeram Uribe, e não as Farc.”
As Farc só não perderam totalmente a guerra ainda devido à ajuda que encontram em território de países vizinhos.
Especialmente a Venezuela. Ficaram nesta quarta feira (2) sem sua principal arma, que era o escudo humano proporcionado por dezenas de reféns. Sua derrocada militar é evidente. Mais clara agora é a desmoralização política.
Álvaro Uribe deu uma lição espetacular do uso de pressão militar e política. Os fatos se impuseram de maneira muito rápida aos que repetiram – alheios à realidade – que não havia solução militar para o conflito. Havia, sim. Desde que respeitada a principal lição: a de que operações militares só fazem sentido se estiverem dentro de uma clara condução política.
O governo colombiano aprendeu brilhantemente a lição do começo da década, quando mantinha um vasto território desmilitarizado, no qual as Farc se reagrupavam, descansavam, treinavam, mantinham reféns e, como eu mesmo pude comprovar, como repórter, cultivavam folha de coca, produziam a pasta básica e a vendiam adiante.
É óbvio que a ofensiva militar encurralou os guerrilheiros, mas o principal mérito dos golpes aplicados às Farc é político. É o fato de que uma imensa maioria dos colombianos apoiou a política do presidente. Ou é para esquecer o impressionante protesto anti-Farc no final do ano passado?
Alguns formuladores de política externa em Brasília devem ter ficado constrangidos. Participaram de uma palhaçada circense encenada por Chávez, no ano passado, para libertar os reféns hoje resgatados por uma brilhante operação militar. E, involuntariamente, apoiaram hoje a política “militarista” de Uribe. O chanceler brasileiro declarou na noite de quarta feira que, agora enfraquecidas, as Farc talvez topem negociar de verdade.
Ou seja: a pressão militar é que levará o que sobrou dos narco guerrilheiros à negociação.
William Waack
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