Autor Tópico: Flanelinhas, Rio Rotativo e etc.  (Lida 935 vezes)

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Offline Donatello

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Flanelinhas, Rio Rotativo e etc.
« Online: 19 de Julho de 2008, 09:31:53 »
Eu não tenho carro, então esta é uma questão que não me atinge diretamente... mas sempre achei o absurdo dos absurdos a existência no Rio (não sei em quais mais cidades do país esta praga foi inventada) dos flanelinhas. Se alguém não sabe do que se trata eu explico: flanelinhas são/eram pedintes que se alastraram pela capital fluminense lá pelos 90 e que extorquiam/extorquem dois, três reais de cada motorista que resolve estacionar nos pontos mais movimentados da cidade valendo-se de ameaças veladas de que alguma avaria ocorra com o carro caso não seja paga a taxa (tipo: retrovisor quebrado, antena entortada, pintura arranhada). Eu sempre birrei com a visão que alguns têm de que os flanelinhas fossem apenas trabalhadores pobres, sempre achei que fossem assaltantes pobres uma vez que exigiam (não apenas pediam, se só pedissem e não fisessem nada contra quem não pagasse não representariam problema algum) o pagamento de taxas que não podiam cobrar.

Bom, passou um tempo. As autoridades se viram obrigadas a fazer alguma coisa e fizeram. Deram um crachá para cada um desses sujeitos, meteram um jaleco verde horrivel neles e transformaram em lei a obrigação de que os motoristas pagassem uma taxa X aos agora "guardadores cooperativados"; da qual x/2 ficaria para a Prefeitura e x/2 para os antigos flanelinhas. Eu achei que ou eu ou o mundo tinha pirado de uma vez por todas.

Eis que agora a Prefeitura muda de novo as regras do jogo e transfere para uma empresa privada o direito de cometer o mesmo absurdo que os flanelinhas começaram a cometer faz duas décadas: qual seja, o de cobrar uma taxa para não oferecer serviço nenhum. Sim, porque aqui no Rio (talvez seja diferente em outras cidades) o pagamento destas quantias nunca assegurou qualquer serviço ou garantia. Não é um seguro, por exemplo, contra possíveis assaltos ou inci/acidentes. O boleto de pagamento do imposto privado (o que, na verdade, esta taxa representa) não serve como garantia legal de nada: se o carro for roubado nem a Prefeitura, nem os flanelinhas (ou "guardadores autônomos cooperativados" como preferia chamar o prefeitinho), nem esta nova empresa se responsabilizam; já houve casos assim, inclusive .

Quem pagava a tal taxa para os flanelinhas, e depois passou a pagá-las aos mesmos flanelinhas vestidos com jaleco verde, e agora vai pagá-las a uma empresa que já prometeu contratar os mesmo flanelinhas caso eles demonstrem interesse em continuar no ramo sempre só teve uma garantia: a de que da próxima vez que estacionar (em um ponto permitido) para deixar a filha no colégio vai ter que pagar de novo.

É no mínimo engraçado lembrar que nesses 20 anos a cidade sempre foi administrada pelo DEMOcratas. Engraçado porque os DEMOcratas são o partido que (pelo menos a julgar pela cartilha ideológica) mais se opõe à cobrança de impostos inúteis. Parece que pelo menos o alcáide demonista carioca não é tão contra a cobrança de tributos inúteis assim. Só quando estes são cobrados pelo Estado.
« Última modificação: 19 de Julho de 2008, 09:37:30 por Donatello van Dijck »

Offline Dbohr

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Re: Flanelinhas, Rio Rotativo e etc.
« Resposta #1 Online: 19 de Julho de 2008, 09:44:53 »
É a mesma demagogia quanto ao dito transporte "alternativo". Começa um chororô dizendo que o pobre precisa trabalhar, que o mercado tá difícil etc. As autoridades vão tolerando, tolerando... e quando a gente vai ver, já tem bandido explorando o filão. Daí o Estado resolve dar uma de moralizador, bate no peito e diz que vai legalizar. E quem paga a conta, óbvio, é a gente.

Bah.

Offline Herf

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Re: Flanelinhas, Rio Rotativo e etc.
« Resposta #2 Online: 19 de Julho de 2008, 12:12:23 »
Os flanelinhas são um problema que existe em todas as grandes cidades do Brasil. Mas essa medida da prefeitura do Rio, que coisa absurda.

Offline Dodo

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Re: Flanelinhas, Rio Rotativo e etc.
« Resposta #3 Online: 19 de Julho de 2008, 15:03:20 »
Os flanelinhas são um problema que existe em todas as grandes cidades do Brasil. Mas essa medida da prefeitura do Rio, que coisa absurda.

Em Curitiba existia uma proposta parecida:

Citar
O Vereador, Ney Leprevost, infra-assinado, no uso de suas atribuições legais, submete à apreciação da Câmara Municipal de Curitiba a seguinte proposição:

Requerimento: À Prefeitura de Curitiba
   SÚMULA:
   Solicita a Prefeitura Municipal através da Secretaria Municipal de Defesa Social e Fundação de Assistência Social um programa para fiscalizar e regulamentar a atuação dos chamados "flanelinhas".


Requer à Mesa, na forma regimental, que seja encaminhado expediente ao Excelentíssimo Senhor Prefeito Municipal, solicitando a elaboração de um programa conjunto entre a Secretaria Municipal de Defesa Social e a Fundação de Assistência Social para fiscalizar e regulamentar a atuação dos guardadores de carros os chamados "flanelinhas".

Ney Leprevost
Vereador

Justificativa

Objetivamos com a elaboração deste instrumento a elaboração de um programa conjunto entre a Secretaria Municipal de Defesa Social e Fundação de Assistência Social que vise regulamentar e fiscalizar a atuação dos guardadores de carros, mais conhecidos como "flanelinhas".

Temos atualmente na cidade de Curitiba um grande número de pessoas que sobrevivem graças a esta atuação, porem nem todos a exercem de maneira honesta, sendo que muitas vezes os motoristas são coagidos a dar "gorjetas" para não terem seus veículos riscados, avariados ou até mesmo furtados.

Outra denúncia é a suspeita que estes maus "flanelinhas" estariam servindo de informantes para auxiliar ladrões de veículos que agem em nossa Capital.

Pelo apresentado em tela e para que possamos garantir maior segurança a população curitibana é que solicitamos esta importante ação por parte da Prefeitura Municipal.

O projeto foi apresentado em 2001 e é muito parecido com o do RJ, os flanelinhas terão de se cadastrar e usar coletes. Segundo uma reportagem, isso  iria acontecer este ano, 2008, mas alguém de Curitiba teria de confirmar isso.
É algo muito parecido ao que acontece com os camelôs e outras categoria, eles criam uma associação e passam a reivindicar direitos. Conseguem um padrinho político e tem algumas garantias regulamentadas através de alguma lei municipal.


Você é único, assim como todos os outros.
Alfred E. Newman

Offline Donatello

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Re: Flanelinhas, Rio Rotativo e etc.
« Resposta #4 Online: 19 de Julho de 2008, 18:28:13 »
O Dodo relacionou o caso aos camelôs, o DBhor aos motoristas de vans... tá, concordo. Estes são outros problemas a serem resolvidos, mas a questão deles é só de desordem urbana, pelo menos a priori. O camelô vende produtos (algumas vezes contrabandeado, muitas outras não) e não obriga ninguém a comprar qualquer produto. O motorista de van ou o mototaxista também prestam serviços de fato e não exigem que ninguém vá de mototaxi ou de kombi. Muitas vezes se aproveitam de brechas deixadas pela própria administração e pelas empresas(passagens de ônibus exorbitantes, bairros vizinhos sem ter qualquer linha regular que os ligue, poucos ônibus cobrindo determinadas linhas)

Não, eu não estou absolvendo nem um nem outro; os mototaxistas, então, eu abomino: andam a 70, 100 por hora nas calçadas, fazem bandalha, cortam caminho por passarelas quando estas têm rampa e não escadaria... os motoristas de van avançam os sinais... os vendedores de churrasquinho armam barracas imensas que tomam calçadas inteiras e não dão espaço para o pedestre passar... os vendedores de balas nos ônibus entram em coletivos lotados dando cotoveladas nos passageiros, berram tornando a viagem extremamente incômoda, largam os ganchos nos balaústres deixando-os bater nos pobres coitados dos passageiros e por vezes até causando acidentes, chingam os motoristas que se negam a deixá-los vender¹.

Ocorre que todos estes casos são de pessoas que realmente estão de alguma forma trabalhando. Se esforçar por organizar a baderna e deixar que elas continuem vendendo churrasco, pipoca ou refrigerante; ou que transportem pessoas em locais onde ônibus não chega talvez seja realmente uma boa idéia numa cidade com tanta gente e tão pouco emprego.

Mas o problema dos flanelinhas é muito pior, ao meu ver. É roubo! Eu até acho que dê para regularizar e organizar a venda de pipoca e cerveja na frente do estádio. Regularizar e organizar as kombis é mais complicado, mas tá... vejamos. Mototaxistas regularizados? Deus nos livre, mas va lá...

Agora, regularizar a extorsão? Tornar lícito que entidades privadas (não é o Estado! não é o Estado!) cobrem taxas (=impostos) de um cidadão para estacionar num local que já tinha sido definido (sim, pelo Estado!) como de estacionamento permitido? E sem ao menos exigir que tal entidade privada ofereça serviços e garantias em troca do valor cobrado arbitrariamente? Putas que parrola!!!! Isto realmente parece piada de português; se contarmos essa em Lisboa os lusos vão falar que estamos a caçoar deles, o pá!

¹Nota: há menos de um ano eu era um deles (camelôs de ônibus). Jamais entrava em coletivos cheios; nunca berrava; de jeito algum largava o meu gancho solto (o carregava no braço para que não esbarrasse em ninguém), nunca reclamei dos motoristas que me negavam carona para vender. Mas sou obrigado a admitir que este tipo de comportamento definitivamente não é a regra.
« Última modificação: 19 de Julho de 2008, 18:44:18 por Donatello van Dijck »

Offline Luis Dantas

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Re: Flanelinhas, Rio Rotativo e etc.
« Resposta #5 Online: 19 de Julho de 2008, 20:11:17 »
Em Brasília HOUVE algo assim, repentinamente, sem aviso prévio à população.  Chamava-se "Vaga Fácil".  Pegou tão mal que voltaram atrás.
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The stanza uttered by a teacher is reborn in the scholar who repeats the word

Em 18 de janeiro de 2010, ainda não vejo motivo para postar aqui. Estou nos fóruns Ateus do Brasil, Realidade, RV.  Se a Moderação reconquistar meu respeito, eu volto.  Questão de coerência.

 

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