Acaba de sair pela Editora Campus
Cool it - Muita calma nessa hora! O guia do ambientalista cético para o aquecimento global, de Bjorn Lomborg, o cientista político dinamarquês que causou alvoroço em 2001 com o livor
O Ambientalista Cético (que por acaso eu não li ainda...). Aqui vai uma resenha feita pela rewvista Exame:
Cool it
O "ambientalista cético" volta a atacar, mas traz poucas idéias novas
Sérgio Teixeira Jr.
Revista Exame - 10/10/2007O dinamarquês Bjorn Lomborg ficou conhecido internacionalmente como o "ambientalista cético" por causa de um livro de mesmo nome que ele lançou em 2001. Mas chamá-lo de ambientalista é inexato, para dizer o mínimo.
Lomborg não é nem nunca foi um grande estudioso dos fenômenos da natureza. Ele é formado em ciência política e ocupa o posto de professor adjunto da Escola de Administração de Copenhague.
Seu trabalho está mais próximo das análises estatísticas, e é com base nos números que ele se dispõe a contradizer afirmações genéricas e invariavelmente catastróficas sobre o futuro do planeta e da humanidade. Foi com uma enorme coleção de dados que ele afirmou, em O Ambientalista Cético, que os recursos naturais do planeta não estão próximos do esgotamento e que as florestas não vão desaparecer da face da Terra, apenas para ficar em dois exemplos.
Pois agora Lomborg voltou ao ataque. Seu tema, claro, é o aquecimento global. Seu mais novo livro chama-se Cool It - The Skeptical Environmentalist's Guide to Global Warming, que ainda não foi lançado no Brasil, mas pode ser traduzido como "Calma lá - o guia do ambientalista cético para o aquecimento global". Dá para imaginar as reclamações dos ambientalistas de verdade antes mesmo de terminado o primeiro capítulo.
Lomborg não pode ser acusado de falta de coragem. Pelo contrário. As provocações do livro começam pela dedicatória - "Para as gerações futuras" - e se estendem até a última página. Mas ele não perde tempo em colocar sua premissa básica: a temperatura do planeta está aumentando, é verdade, e o culpado é homem.
As emissões de dióxido de carbono estão crescendo num ritmo sem precedentes e o resultado disso são mudanças climáticas que podem ter conseqüências graves para o planeta. A questão, argumenta Lomborg, é não perder de vista a racionalidade. Tratar o assunto com o que ele chama de histeria é tão arriscado quanto não fazer nada.
O livro começa tratando do caso do urso polar, símbolo dos riscos do aquecimento. Enquanto a mídia se ocupa em mostrá-los em blocos de gelo à deriva, Lomborg aponta alguns dados interessantes a respeito das populações do animal. Uma delas, que vive na baía de Hudson, no Canadá, diminuiu de 1.200 ursos em 1987 para menos de 950 em 2004, uma redução de 17%.
"O que não é mencionado, porém, é que desde 1981 a população aumentou dramaticamente de uma base de apenas 500 animais (...) E em nenhum lugar do noticiário se encontra a informação de que, em média, 49 ursos são mortos a bala a cada ano naquela região." Ou seja, os caçadores são uma ameaça muito mais grave ao urso polar do que qualquer aumento na temperatura do planeta.
É esse tipo de análise que incomoda tanto os defensores do meio ambiente. Histórias como a do urso canadense vão sempre de encontro ao senso comum e são baseadas em números: das 253 páginas de Cool It, 77 são dedicadas a notas de rodapé e à bibliografia consultada.
O estilo fluido e descomplicado de Lomborg ajuda a reforçar a sensação de ouvir uma mesma história contada por outro personagem, sob outro ponto de vista. E é claro que a extinção dos ursos polares é apenas uma isca para fisgar a atenção do leitor para a questão central do livro: até que ponto vale a pena cortar as emissões de CO2?
É aí que, paradoxalmente,Lomborg entra num território pantanoso. A grande discussão sobre os cortes de emissões de carbono tem a ver com o impacto econômico dessas medidas, um dos assuntos prediletos do autor - mas algo que há algum tempo já deixou de ser puramente uma questão matemática.
As mudanças no clima hoje são assunto da vida dos cidadãos, das empresas e da política e não cabem mais numa simples planilha. Mas é essencialmente esse o esforço de Lomborg, e ele tem argumentos - alguns de peso, outros nem tanto - para que os poderosos pensem duas vezes antes de decidir.
O primeiro deles é que o discurso precisa seguir a prática. Ele aponta para o exemplo do Reino Unido, um dos países que lideram a campanha pela redução de emissões. Segundo Lomborg, o então primeiro-ministro Tony Blair e os trabalhistas prometeram, dez anos atrás, diminuir o despejo de gases de efeito estufa em 15% até 2010.
Desde então, as emissões britânicas cresceram 3%. Para alcançar as metas, Lomborg afirma que a resposta não são novos impostos sobre os poluidores, por mais tentadora que a resposta possa parecer. Ele afirma que um compromisso com investimentos em tecnologias de energias limpas seria uma alternativa mais inteligente do ponto de vista econômico e social. "O custo de 25 bilhões de dólares por ano seria relativamente baixo (um sétimo do custo do Protocolo de Kyoto e muitas vezes mais em conta que um Kyoto 2)", escreve Lomborg.
Faz sentido cobrar coerência de governantes? Sem dúvida. Mas o fato é que as pressões por medidas de controle nunca foram tão grandes - e cidadãos e empresas parecem concordar, ao menos em princípio, que todos terão de pagar do próprio bolso para evitar as conseqüências do aquecimento global.
Além disso, impostos e investimentos em novas tecnologias não são mutuamente excludentes. Pelo contrário: as fontes de energia limpa só serão viáveis se houver subsídios oficiais - financiados pela sobretaxação das fontes sujas. Lomborg diz que este século não deve ser avaliado apenas pelo número do termômetro, pois uma parcela enorme da população do planeta pode ficar privada de benefícios do crescimento econômico em nome de medidas tomadas para a pura e simples redução de emissões.
Mas isso é o óbvio. Lomborg sugere que o aumento da temperatura global está derretendo o bom senso dos líderes mundiais. Cool It traz um olhar diferente sobre o problema da mudança climática, mas suas conclusões parecem saídas da cabeça do "ambientalista óbvio".
Por que ler: Para enxergar o problema da mudança climática pela lente do cético Lomborg.
O dinamarquês Bjorn Lomborg ficou conhecido internacionalmente como o "ambientalista cético" por causa de um livro de mesmo nome que ele lançou em 2001. Mas chamá-lo de ambientalista é inexato, para dizer o mínimo.
Lomborg não é nem nunca foi um grande estudioso dos fenômenos da natureza. Ele é formado em ciência política e ocupa o posto de professor adjunto da Escola de Administração de Copenhague.
Seu trabalho está mais próximo das análises estatísticas, e é com base nos números que ele se dispõe a contradizer afirmações genéricas e invariavelmente catastróficas sobre o futuro do planeta e da humanidade. Foi com uma enorme coleção de dados que ele afirmou, em O Ambientalista Cético, que os recursos naturais do planeta não estão próximos do esgotamento e que as florestas não vão desaparecer da face da Terra, apenas para ficar em dois exemplos.
Pois agora Lomborg voltou ao ataque. Seu tema, claro, é o aquecimento global. Seu mais novo livro chama-se Cool It - The Skeptical Environmentalist's Guide to Global Warming, que ainda não foi lançado no Brasil, mas pode ser traduzido como "Calma lá - o guia do ambientalista cético para o aquecimento global". Dá para imaginar as reclamações dos ambientalistas de verdade antes mesmo de terminado o primeiro capítulo.
Lomborg não pode ser acusado de falta de coragem. Pelo contrário. As provocações do livro começam pela dedicatória - "Para as gerações futuras" - e se estendem até a última página. Mas ele não perde tempo em colocar sua premissa básica: a temperatura do planeta está aumentando, é verdade, e o culpado é homem.
As emissões de dióxido de carbono estão crescendo num ritmo sem precedentes e o resultado disso são mudanças climáticas que podem ter conseqüências graves para o planeta. A questão, argumenta Lomborg, é não perder de vista a racionalidade. Tratar o assunto com o que ele chama de histeria é tão arriscado quanto não fazer nada.
O livro começa tratando do caso do urso polar, símbolo dos riscos do aquecimento. Enquanto a mídia se ocupa em mostrá-los em blocos de gelo à deriva, Lomborg aponta alguns dados interessantes a respeito das populações do animal. Uma delas, que vive na baía de Hudson, no Canadá, diminuiu de 1.200 ursos em 1987 para menos de 950 em 2004, uma redução de 17%.
"O que não é mencionado, porém, é que desde 1981 a população aumentou dramaticamente de uma base de apenas 500 animais (...) E em nenhum lugar do noticiário se encontra a informação de que, em média, 49 ursos são mortos a bala a cada ano naquela região." Ou seja, os caçadores são uma ameaça muito mais grave ao urso polar do que qualquer aumento na temperatura do planeta.
É esse tipo de análise que incomoda tanto os defensores do meio ambiente. Histórias como a do urso canadense vão sempre de encontro ao senso comum e são baseadas em números: das 253 páginas de Cool It, 77 são dedicadas a notas de rodapé e à bibliografia consultada.
O estilo fluido e descomplicado de Lomborg ajuda a reforçar a sensação de ouvir uma mesma história contada por outro personagem, sob outro ponto de vista. E é claro que a extinção dos ursos polares é apenas uma isca para fisgar a atenção do leitor para a questão central do livro: até que ponto vale a pena cortar as emissões de CO2?
É aí que, paradoxalmente,Lomborg entra num território pantanoso. A grande discussão sobre os cortes de emissões de carbono tem a ver com o impacto econômico dessas medidas, um dos assuntos prediletos do autor - mas algo que há algum tempo já deixou de ser puramente uma questão matemática.
As mudanças no clima hoje são assunto da vida dos cidadãos, das empresas e da política e não cabem mais numa simples planilha. Mas é essencialmente esse o esforço de Lomborg, e ele tem argumentos - alguns de peso, outros nem tanto - para que os poderosos pensem duas vezes antes de decidir.
O primeiro deles é que o discurso precisa seguir a prática. Ele aponta para o exemplo do Reino Unido, um dos países que lideram a campanha pela redução de emissões. Segundo Lomborg, o então primeiro-ministro Tony Blair e os trabalhistas prometeram, dez anos atrás, diminuir o despejo de gases de efeito estufa em 15% até 2010.
Desde então, as emissões britânicas cresceram 3%. Para alcançar as metas, Lomborg afirma que a resposta não são novos impostos sobre os poluidores, por mais tentadora que a resposta possa parecer. Ele afirma que um compromisso com investimentos em tecnologias de energias limpas seria uma alternativa mais inteligente do ponto de vista econômico e social. "O custo de 25 bilhões de dólares por ano seria relativamente baixo (um sétimo do custo do Protocolo de Kyoto e muitas vezes mais em conta que um Kyoto 2)", escreve Lomborg.
Faz sentido cobrar coerência de governantes? Sem dúvida. Mas o fato é que as pressões por medidas de controle nunca foram tão grandes - e cidadãos e empresas parecem concordar, ao menos em princípio, que todos terão de pagar do próprio bolso para evitar as conseqüências do aquecimento global.
Além disso, impostos e investimentos em novas tecnologias não são mutuamente excludentes. Pelo contrário: as fontes de energia limpa só serão viáveis se houver subsídios oficiais - financiados pela sobretaxação das fontes sujas. Lomborg diz que este século não deve ser avaliado apenas pelo número do termômetro, pois uma parcela enorme da população do planeta pode ficar privada de benefícios do crescimento econômico em nome de medidas tomadas para a pura e simples redução de emissões.
Mas isso é o óbvio. Lomborg sugere que o aumento da temperatura global está derretendo o bom senso dos líderes mundiais. Cool It traz um olhar diferente sobre o problema da mudança climática, mas suas conclusões parecem saídas da cabeça do "ambientalista óbvio".
Por que ler: Para enxergar o problema da mudança climática pela lente do cético Lomborg.