Autor Tópico: Vícios de linguagem e lugares-comuns  (Lida 1602 vezes)

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Offline Dr. Manhattan

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Vícios de linguagem e lugares-comuns
« Online: 13 de Agosto de 2008, 12:51:14 »
Depois de ler o suposto off-topic no tópico das Olimpíadas, fiquei me perguntando: de onde virao esses lugares-comuns
que costumam infestar o texto jornalístico e os discursos políticos?

Se tem uma coisa que eu acho insuportável é quando alguem, querendo parecer profundo, afirma que alguma atitude
"nao é republicana". Fico com vontade de dizer: "Meu caro, me responda o seguinte: Que porra é uma atitude republicana?
Defina isso pra mim, por favor?"

Houve a época do "agregar" também. Até alguns anos atrás, todo mundo parecia decidido que era importantíssimo agregar uma
coisa a outra. Agregar talentos. Agregar idéias. Agregar valor. Agregar agregados.

Uma que ainda continua é a tal da cidadania. Em alguns casos, seu uso é até justificado. Mas já vi gente reclamando: "essas pessoas
que jogam papel no chao nao têm cidadania." Ou: "devemos incentivar a cidadania".

Mas o pior de tudo é quando algum infeliz resolve agregar listas de lugares-comuns em uma espécie
de trem-da-alegria. Daí saem monstruosidades como:

"Precisamos ter a atitude republicana de agregar cidadania aos brasileiros das classes populares de forma sinergética."

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Alan Watts

Offline Herf

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Re: Vícios de linguagem e lugares-comuns
« Resposta #1 Online: 13 de Agosto de 2008, 13:03:02 »
Enfiar um "social" ou um "democrático" em algum lugar do texto para fazer a idéia parecer melhor do que realmente é também é muito comum.

Offline Dr. Manhattan

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Re: Vícios de linguagem e lugares-comuns
« Resposta #2 Online: 13 de Agosto de 2008, 13:05:24 »
Ah é. Consciência social. Açao social. Sociedade social...

Mais: porque as pessoas parecem ter medo de chamar os pobres de... pobres?

Em princípio, todos os bairros sao populares. Afinal de contas, o povo mora lá. Mas apenas os bairros pobres sao chamados
de "populares".
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Alan Watts

Offline Herf

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Re: Vícios de linguagem e lugares-comuns
« Resposta #3 Online: 13 de Agosto de 2008, 13:08:54 »
Mais: porque as pessoas parecem ter medo de chamar os pobres de... pobres?
Pois é, aí acho que é pelo politicamente correto, que também diz que um negro não é negro, mas sim "afrodescendente", um drogado não é drogado, mas sim "toxicodependente", etc.

Offline Donatello

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Re: Vícios de linguagem e lugares-comuns
« Resposta #4 Online: 13 de Agosto de 2008, 13:09:55 »
Hehe, que bom que você tratou de transformar o meu suposto off-topic em algo supostamente útil.  :)

Cara, eu estudei jornal algum tempo e te garanto que não é das faculdades, pelo menos não das públicas, donde saem quase todos os profissionais da mass-media, que se aprende estas joças, muito pelo contrário. Mas eu acho que há uma certa inerência na profissão em querer escrever de uma forma inovadora. Todo repórter quer ter o texto do Boechat... é como nas ciências com C maiúsculo todo iniciante querer fazer uma descoberta histórica, e a gente acaba vendo uma tonelada de verbas escorrendo em pesquisas pouco úteis; talvez uma ponta de linha a ser puxada seja esta...

Agora, no quesito assassinar o Português a Administração bate de frente com o Jornalismo. Aliás, esta de agregar valor e agregar etc é do jargão dos administradores, não é dos repórteres não.

Well, encontrar as causas pra estes jargões eu acho meio difícil prum tópico do CC (quando eu fazia jornal até pensava em fazer um trabalho acadêmico sobre o tema, a monografia talvez), mas que é uma coisinha estranhazinha, é.
 :|


« Última modificação: 13 de Agosto de 2008, 13:12:23 por Donatello van Dijck »

Offline Laura Demarchi

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Re: Vícios de linguagem e lugares-comuns
« Resposta #5 Online: 13 de Agosto de 2008, 13:13:50 »
"A NÍVEL DE...." é um vicio de linguagem, né?
"NÉ" também, né?
Porque concluir é melhor que acreditar!

Offline Dbohr

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Re: Vícios de linguagem e lugares-comuns
« Resposta #6 Online: 13 de Agosto de 2008, 13:24:24 »
Eu nunca gostei do tal "risco de morrer" que substituiu o "risco de vida"...

Offline Andre

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Re: Vícios de linguagem e lugares-comuns
« Resposta #7 Online: 13 de Agosto de 2008, 13:34:32 »
"A NÍVEL DE...." é um vicio de linguagem, né?
"NÉ" também, né?
"A nível de", sim. "Né" já acho que seja mais um traço de oralidade do que um vício, até porque é difícil alguém usar né em situações que não sejam bastante informais.
Se Jesus era judeu, então por que ele tinha um nome porto-riquenho?

Offline Fenrir

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Re: Vícios de linguagem e lugares-comuns
« Resposta #8 Online: 13 de Agosto de 2008, 13:57:39 »
"A NÍVEL DE...." é um vicio de linguagem, né?
"NÉ" também, né?
"A nível de", sim. "Né" já acho que seja mais um traço de oralidade do que um vício, até porque é difícil alguém usar né em situações que não sejam bastante informais.

Deve ser um tique vocal
"Nobody exists on purpose. Nobody belongs anywhere. Everybody's gonna die. Come watch TV" (Morty Smith)

"The universe is basically an animal. It grazes on the ordinary. It creates infinite idiots just to eat them." (Rick Sanchez)

Offline Fabi

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Re: Vícios de linguagem e lugares-comuns
« Resposta #9 Online: 13 de Agosto de 2008, 15:00:15 »
Ah é. Consciência social. Açao social. Sociedade social...

Mais: porque as pessoas parecem ter medo de chamar os pobres de... pobres?
Porque pode ser ofensivo...afinal o que é ser pobre? é aquele que mora em casas sem luz e água encanada? É aqueles que ganham um salário mínimo mas tem televisão, dvd e mp3 em casa?
Difficulter reciduntur vitia quae nobiscum creverunt.

“Deus me dê a serenidadecapacidade para aceitar as coisas que não posso mudar, a coragem para mudar o que posso, e a sabedoria para saber a diferença” (Desconhecido)

Offline Dodo

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Re: Vícios de linguagem e lugares-comuns
« Resposta #10 Online: 14 de Agosto de 2008, 02:08:48 »
Eu posso imaginar uma explicação para o "a nível de". Desde a infância somos bombardeados com a expressão "ao nível do mar", ela é uma das primeiras que ouvimos, graças aos livros de ciência. Alguém, em algum lugar, resolveu adaptar esta expressão e então surgiram:
A nível de joelho, a nível de crueldade, a nível de resultados, etc.

Cidadania é fácil, ela se tornou um lugar comum nos movimentos sociais devido a sua própria definição. Quando alguém recebia o direito de residir em um país, que não aquele em que nasceu, ele também recebia o direito (ou quase todos) de interferir na realidade daquele país, seja através do voto ou pagamento de impostos. Com o tempo, a idéia de que a impossibilidade de exercer plenamente esses direitos, mesmo sendo natural do lugar, fosse devido a uma falha do Estado em prover o bem-estar de sua população, principalmente os mais pobres, levou a conclusão de que estes cidadãos não o eram de fato, pois não tinham como interferir na realidade de seu país.
O jornalista Gilberto Dimenstein, na década de 90, escreveu um livro abordando este assunto, ou pelo menos parte dele. O titulo é "Cidadão de Papel."

O afrodescendente substituindo o negro para definir uma etnia ou raça, aconteceu devido a expressões populares que incutiam a idéia, pelo menos para nós ocidentais, de que o negro era ruim, maléfico, ou então, representava coisas negativas: a morte, a noite, etc. Até onde eu sei foi importado dos EUA.
Alguns chegam também a defender o uso da expressão afro-americano ao invés de afro-brasileiro, alegando que somos todos americanos, ao passo que os EUA são estadunidenses.

Risco de morte em substituição a risco de vida.
Certos estudiosos da língua afirmaram que a linguagem também tem de obedecer a lógica, principalmente quando é usada para informar, então concluíram que só correria risco de vida quem estivesse prestes a ressuscitar e não o contrário.

Viciado ou drogado.
Viciado é quem possui algum vício, drogado é uma situação que decorre do uso de alguma substância. Como nem todo viciado usa drogas e nem todo drogado é viciado (alguém que tomou um medicamento, por exemplo), muitos jornais e documentos médicos passaram a usar as palavras dependente químico para quem usa alguma droga e compulsão para quem possui algum outro transtorno: alimentar, sexual, jogos, etc.

Não quero bancar o sabichão, apenas entrei no espírito do tópico.  :hihi: :hihi:
« Última modificação: 14 de Agosto de 2008, 02:43:17 por Dodo »
Você é único, assim como todos os outros.
Alfred E. Newman

Offline uiliníli

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Re: Vícios de linguagem e lugares-comuns
« Resposta #11 Online: 14 de Agosto de 2008, 16:28:37 »
São os memes. Se tem uma coisa em que a espécie humana se destaca é na capacidade de aprender e qual é o processo mais básico de aprendizado? Ela mesma, a imitação. Como não são só coisas úteis que aprendemos nosso comportamento é bastante influenciado por modismos e não apenas a nível de de linguagem, mas também em termos de hábitos, lazer, vestuário... Um exemplo que me vem em mente é a mania entre os jovens hoje de ansar com a calça baixa e a cueca (se não até o cofrinho) aparecendo. Um adereço ainda mais antigo que se tornou até um ícone de elegância é a gravata - cara, para quê diabos serve uma gravata? Em minha humilde opinião trata-se de uma das coisas mais idiotas já inventadas... Resta torcer é para que, ao contrário das malditas gravatas, a maioria desses vícios não tardem em passar.

Offline Fenrir

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Re: Vícios de linguagem e lugares-comuns
« Resposta #12 Online: 14 de Agosto de 2008, 17:15:05 »
Uilinili, eu vou estar respondendo seu post a nivel das influencias sinergeticas do meio no falar coloquial dos individuos socialmente inseridos em microcelulas tribais mas excluidos de outras a nivel de assumirem formas de comunicacao de tribos antagonicas.

A nivel de linguagem, os vicios decorrem, tipo assim, nao somente da imitacao , como tambem da necessidade de pertencer a uma turma, ne?

Porque uma vez, vi uns mano falar uns bagulho que um maluco nao tinha entendido e ai ele virou e falou assim que, tipo, nao tinha entendidu nada naum e ai eli naum podi entra na konversa e era estranhu purque eles falavam achim.
né?

Mas ai eu virei e falei assim pro maluco: sai fora meu, que isso ai é tudo emo!
E ai eu voltei para casa porque iria estar fazendo uns trampo e tava sem tempo, hã?
né?
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Offline Donatello

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Re: Vícios de linguagem e lugares-comuns
« Resposta #13 Online: 14 de Agosto de 2008, 17:18:18 »
Eitha que o cara é poligrota! :D

Offline Nina

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Re: Vícios de linguagem e lugares-comuns
« Resposta #14 Online: 14 de Agosto de 2008, 17:19:22 »
Ah é. Consciência social. Açao social. Sociedade social...

Mais: porque as pessoas parecem ter medo de chamar os pobres de... pobres?

Em princípio, todos os bairros sao populares. Afinal de contas, o povo mora lá. Mas apenas os bairros pobres sao chamados
de "populares".


Falando de eufemismos com "pobre", ontem li uma boa... o concurso do INPA dá a opção de o candidato preencher uma ficha de "hipossuficiência financeira"... tudo isso para pedir isenção da inscrição!

:medo:
"A ciência é mais que um corpo de conhecimento, é uma forma de pensar, uma forma cética de interrogar o universo, com pleno conhecimento da falibilidade humana. Se não estamos aptos a fazer perguntas céticas para interrogar aqueles que nos afirmam que algo é verdade, e sermos céticos com aqueles que são autoridade, então estamos à mercê do próximo charlatão político ou religioso que aparecer." Carl Sagan.

Offline Donatello

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Re: Vícios de linguagem e lugares-comuns
« Resposta #15 Online: 14 de Agosto de 2008, 17:30:28 »
O problema é que somos condicionados a acreditar, e não sem bons motivos, que a imprensa deveria ser uma das instituições menos susceptíveis às manias linguísticas. E o que vemos? Um nascedouro delas onde deveria haver uma muralha de proteção contra.

Agora, quanto aos jargões de ADM é bem mais fácil entender as razões: a necessidade natural que eles tem de eufemizar. Administrador é via de regra o cara que tem que convencer o empregado de que ele ganha muito bem, trabalha muito pouco, e tem grandes chances de trabalhar menos ainda e ganhar mais se ele se esforçar bastante. Mesmo que seja tudo o contrário, como geralmente é. É aí que o "precisamos que você trabalhe mais quatro horas por semana sem abono" vira "precisamamos que você agregue mais valor ao seu trabalho para que no mercado globalizado as suas múltiplas competências possam servir como um diferencial" :D



Offline Donatello

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Re: Vícios de linguagem e lugares-comuns
« Resposta #16 Online: 14 de Agosto de 2008, 17:36:50 »

Falando de eufemismos com "pobre", ontem li uma boa... o concurso do INPA dá a opção de o candidato preencher uma ficha de "hipossuficiência financeira"... tudo isso para pedir isenção da inscrição!

:medo:
Em qualquer edital de concurso "hipossuficiência financeira" é sinônimo de "falta de dinheiro pra pagar a inscrição". Ruim é que periga de o cara achar que tinha que ter alguma doença rara para ser isento e deixar de participar do concurso.
« Última modificação: 14 de Agosto de 2008, 17:52:17 por Donatello van Dijck »

Offline uiliníli

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Re: Vícios de linguagem e lugares-comuns
« Resposta #17 Online: 14 de Agosto de 2008, 17:44:38 »
A nivel de linguagem, os vicios decorrem, tipo assim, nao somente da imitacao , como tambem da necessidade de pertencer a uma turma, ne?

Sim, mas essa necessidade de pertencer à turma também é resolvida por imitação, nesse caso imitação dos membros do grupo. Acho que tem a ver com a hierarquia da manada, o macho alfa se comporta de um jeito e os betas copiam.

Offline Herf

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Re: Vícios de linguagem e lugares-comuns
« Resposta #18 Online: 14 de Agosto de 2008, 17:55:48 »
Falando de eufemismos com "pobre", ontem li uma boa... o concurso do INPA dá a opção de o candidato preencher uma ficha de "hipossuficiência financeira"... tudo isso para pedir isenção da inscrição!

:medo:
Ahsadfsdfsadfg

"Hipossuficiência financeira" foi dose...

Offline Luciana N

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Re: Vícios de linguagem e lugares-comuns
« Resposta #19 Online: 14 de Agosto de 2008, 22:36:22 »
O resgate da memória, do passado, da cultura. Tanta coisa para sequestrar, por que só memória, passado, cultura?

A modelo almoçou feijoada, com direito a sobremesa no final. E com direito a clichê. "Mas sem nunca perder o bom humor", até porque está "vivendo um momento único, iluminado", e nega qualquer envolvimento com o "ator global" (da Globo, não internacional): "somos apenas bons amigos".

[]s
Luciana

 

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