Marcapasso cerebral pode curar depressão, diz estudo da BBC, em Londres
Colocar um tipo de marcapasso no cérebro de pacientes pode acabar com depressões de difícil cura, de acordo com especialistas britânicos.
A tecnologia, já em uso para o tratamento do mal de Parkinson, emprega fios e uma fonte de energia para estimular partes profundas do cérebro com correntes elétricas.
Além de ajudar pacientes com depressão que não responderam a nenhuma outra terapia, o marcapasso pode ser benéfico ainda no tratamento do transtorno obsessivo compulsivo.
Depois do sucesso alcançado em testes clínicos nos Estados Unidos, os especialistas britânicos devem fazer provas do tratamento também na Grã-Bretanha.
O novo tratamento se baseia em estudos da acadêmica Helen Mayberg, da Faculdade de Medicina da Universidade Emory, nos Estados Unidos, que começou a analisar o uso de estímulos das profundezas do cérebro para o tratamento de depressão há 15 anos.
Ao observar imagens do cérebro de pessoas com casos graves de depressão que podiam ser aliviados com medicamentos, psicoterapia ou outros tratamentos já disponíveis, Mayberg constatou que eles tendiam a ter atividade muito intensa em uma área do cérebro dentro do sistema límbico que, sabe-se, está envolvido com o humor do indivíduo.
Atividade cerebral
Estas pessoas também têm um nível de atividade abaixo do normal no lobo frontal, que parece estar ligado à atividade anormalmente elevada em partes do sistema límbico que Mayberg chama de "área 25".
A pesquisadora achou que, ao estimular a região com correntes elétrica, a atividade do cérebro se reequilibra e ocorre o alívio da depressão.
Um artefato que ela utilizou consistiu de um gerador movido a bateria, do tamanho de uma caixa de fósforos, colocado no peito do paciente, de maneira semelhante a um marcapasso, e que produz corrente elétrica.
A corrente é enviada para a área desejada dentro do cérebro através de minúsculos fios, colocados sob a pele de um dos lados do pescoço.
Sua equipe implantou o artefato, usando anestesia local, em seis pacientes com depressão grave, resistente a tratamento.
Um ano depois, quatro dos pacientes afirmam que notaram uma grande melhora no seu humor sem efeitos colaterais.
Atividade cerebral
Mapeamentos do cérebro mostraram que agora os pacientes têm uma atividade cerebral menor na área 25 e mais atividade no lobo frontal.
Mayberg disse em um encontro no Science Media Centre em Londres: "Esta é uma forma muito nova de pensar sobre a natureza da depressão."
"Nós não estamos apenas estimulando o cérebro, nós estamos usando eletricidade para resintonizar e remodular."
Cerca de 10% das pessoas passarão por um momento de grande depressão em sua vida.
Tratamentos convencionais vai fracassar em cerca de 10% dos casos e estes pacientes é que poderão se beneficiar do marcapasso cerebral, disse Mayberg.
Da mesma forma, alguns pacientes com obsessão compulsiva também podem ser beneficiadas, de acordo com Naomi Fineberg, psiquiatra do Hospital Rainha Elizabeth 2ª, em Londres.
Mas ela acrescentou que este será sempre um tratamento raro e excepcional.
http://noticias.uol.com.br/bbc/2005/06/27/ult2363u3527.jhtm