Autor Tópico: Deus é um personagem como o Buzz Lightyear  (Lida 762 vezes)

0 Membros e 1 Visitante estão vendo este tópico.

Offline Juca

  • Nível 00
  • *
  • Mensagens: 5
Deus é um personagem como o Buzz Lightyear
« Online: 01 de Setembro de 2008, 08:18:59 »
"Deus é um personagem como o Buzz Lightyear"

O filósofo argentino Alejandro Rozitchner defende uma educação ateísta a seus três filhos e diz já saber o que falar quando um deles lhe perguntar sobre Deus. "Vou dizer que é um personagem como o Buzz Lightyear ou o Woody do Toy Story." Ele e a mulher, a psicoterapeuta Ximena Ianantuoni, escreveram o livro Filhos sem Deus, recém-lançado no Brasil.
Juliano Machado
 
O casal, com os filhos Andrés, Félix e Bruno (esq. para a dir.). O pai, Alejandro, se refere a eles como "os três ateuzinhos".Andrés é uma criança de apenas cinco anos, mas seu pai, o argentino Alejandro Rozitchner, de 47, já sabe o que dizer ao filho quando ele lhe perguntar pela primeira vez sobre a existência de Deus. “Vou explicar que Deus é só uma idéia criada pelos homens como uma necessidade de explicar o mundo. E que, por isso, não deixa de ser um personagem, tal como o Buzz Lightyear ou o Woody do Toy Story (desenho animado dos estúdios Disney-Pixar).”

Rozitchner e sua mulher, Ximena Ianantuoni, de 37, não querem traumatizar o filho mais velho (eles têm outros dois: Bruno, de 2 anos, e Félix, de 5 meses). Até porque ele é filósofo e ela, psicoterapeuta especializada em crianças. Os dois são ateus e defendem a liberdade de criar seus filhos sem a influência de qualquer religião, apesar de ele vir de uma família judia e ela, de uma católica. Por isso, desde o começo o casal quer mostrar a eles uma visão atéia do mundo. "As pessoas sempre educam os filhos de acordo com suas crenças. Nós vamos educá-los por nossas convicções. E achamos que a fé não é algo saudável para eles", afirma Rozitchner, que se refere aos filhos como "os três ateuzinhos".

O casal, que vive em Buenos Aires, não teve medo de expor suas idéias e publicou no ano passado o livro Filhos sem Deus – Ensinando à Criança um Estilo Ateu de Viver. A obra chega agora às livrarias brasileiras em uma edição da Martins Fontes – o lançamento foi na Bienal do Livro, encerrada no dia 24. Além disso, os dois mantêm blogs na internet, onde divulgam suas idéias – 100Volando, de Alejandro, e Vamosviendo, de Ximena.

Em entrevista a ÉPOCA, os dois dizem por que são favoráveis a uma educação ateísta, mesmo respeitando os que optam pelo ensino religioso, e supõem que haja mais ateus na sociedade do que se imagina.

ÉPOCA – Vocês já pensaram o que vão dizer a seus filhos quando eles perguntarem pela primeira vez sobre Deus?
Rozitchner - Vou explicar que Deus é só uma idéia criada pelos homens como uma necessidade de explicar o mundo. E que, por isso, não deixa de ser um personagem, tal como o Buzz Lightyear ou o Woody do Toy Story. Por mais que eu respeite quem dá aos filhos uma educação religiosa, nada me faz demover da idéia de que a fé é algo daninho, pouco saudável. Enfim, vou falar a minha verdade. Que Deus é uma idéia um tanto primitiva, uma figura cuja existência faz com que as pessoas nunca sejam totalmente donas de si e responsáveis por seus atos.

ÉPOCA – Essa posição não impede que seus filhos tenham liberdade para se interessar por alguma religião?
Rozitchner – É claro que vamos conduzir nossos filhos para uma forma ateísta de ver a vida, mas as pessoas sempre educam os filhos de acordo com suas crenças. Nós vamos fazer o mesmo: educá-los por nossas convicções. Não me parece que na escola isso vai ser algo problemático para eles. O tema tem de ser conduzido com naturalidade. Só assim eles podem se acostumar com os pais que têm.

ÉPOCA – Em que tipo de escola estuda seu filho mais velho? Foi escolhida a dedo?
Ximena – Sim. É um jardim de infância privado e laico, que aceita alunos cujos pais seguem qualquer credo – e os que não seguem nenhum. Nessa escola a religião simplesmente não é um tema discutido dentro da sala de aula. Mas essas instituições ainda são poucas em Buenos Aires, e caras. É um fenômeno recente. Muitos colégios, principalmente os públicos, oferecem o catecismo como um currículo extra. Vivemos numa sociedade muito necessitada de algo que ordene a educação, e a religião cumpre esse papel.

Rozitchner - Eu não matricularia meus filhos em uma escola religiosa. Em Buenos Aires a educação pública vê a religião como um componente importante.

ÉPOCA – Para quem é destinado o livro?
Rozitchner – Muitas pessoas me agradeceram porque enxergaram no livro uma chance de encontrar argumentos para esclarecer sua posição e dar uma formação a suas crianças sem o vínculo da religião. Eles identificaram algo que já tinham em mente, mas não conseguiam expressar. Acredito que exista muita gente que é atéia e não tem consciência disso. Diz que acredita em Deus por costume, mas, se você confronta essas pessoas sobre a questão, elas acabam admitindo que Deus não é algo que lhes importe no dia-a-dia.

ÉPOCA - Houve críticas ao livro por parte de grupos religiosos na Argentina? O que vocês esperam da reação aqui no Brasil?
Rozitchner - O livro não causou nenhum escândalo na Argentina, mesmo para a Igreja. Ninguém se indignou. Acredito que isso é decorrência de uma sociedade mais ampla. Há extremistas, mas eles não são a maioria. O mais comum é uma fé tolerante. Não conheço a fundo o Brasil, mas imagino que a reação não vá ser muito diferente. No livro, não pretendemos converter ninguém ao ateísmo. Respeitamos muito quem tem uma religião. Só queremos ter o direito a dar uma educação ateísta.

ÉPOCA – No Brasil, uma lei estabelece a obrigatoriedade do ensino religioso nas escolas públicas. Qual a sua opinião sobre esse tipo de norma?
Ximena – Acredito que seja algo negativo, porque não dá a possibilidade às crianças de perguntarem coisas como a origem do Universo e o que ocorre depois da morte. São questões para as quais, num ensino guiado pela religião, as respostas são inflexíveis. Isso intimida o aluno.

ÉPOCA – A senhora se “converteu” ao ateísmo. Como foi isso?
Ximena – Quando eu tinha 16 anos, por aí, comecei a ganhar responsabilidades na vida, passar por algumas experiências que me fizeram duvidar de Deus. E fui me dando conta de que não havia uma figura divina. O sentido da vida mudou totalmente para mim. Percebi que a chave do cotidiano era viver o presente sem fugir de suas obrigações, sem delegar a um ser superior. Conheci o Alejandro só com 25 anos e logo me identifiquei com a sua perspectiva de vida. Ele não me "converteu", mas nosso relacionamento deixou mais claro para mim o que era uma visão ateísta do mundo.

Fonte:
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI11379-15228,00-DEUS+E+UM+PERSONAGEM+COMO+O+BUZZ+LIGHTYEAR.html

Offline uiliníli

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 18.107
  • Sexo: Masculino
Re: Deus é um personagem como o Buzz Lightyear
« Resposta #1 Online: 01 de Setembro de 2008, 12:45:11 »
Bela inciativa de publicar um livro sobre esse assunto, mas acho bizarro que um casal de ateus tenha que se justificar por dar uma educação ateísta a seus filhos, quando se encara com naturalidade que pais religiosos os dêem uma educação religiosa.

Offline Herf

  • Nível 37
  • *
  • Mensagens: 3.380
Re: Deus é um personagem como o Buzz Lightyear
« Resposta #2 Online: 01 de Setembro de 2008, 13:59:10 »
Citar
"Vou dizer que é um personagem como o Buzz Lightyear ou o Woody do Toy Story."
Com a diferença de que ninguém realmente acredita que o Buzz ou o Woody existam.

Offline Eremita

  • Nível 38
  • *
  • Mensagens: 3.833
  • Sexo: Masculino
  • Ecce.
Re: Deus é um personagem como o Buzz Lightyear
« Resposta #3 Online: 01 de Setembro de 2008, 20:46:12 »
Citar
"Vou dizer que é um personagem como o Buzz Lightyear ou o Woody do Toy Story."
Com a diferença de que ninguém realmente acredita que o Buzz ou o Woody existam.
As crianças acreditam, oras.
O que faz do teísmo um conto de fadas para adultos.

Achei legal a perspectiva deles. Maaaaaas... há algo que, se as condições me permitirem, quero fazer aos meus [futuros] filhos.

Levá-los a centros religiosos diversos, assim que tenham idade para tal. Mostrar a eles uma mesquita, um templo harekrishna, uma igreja católica, etc. De preferência, um em cada semana. E ir mostrando a eles como os fiéis contradizem uns aos outros, e explicar o motivo de eu ser ateu. Se por um lado isso dará conhecimento a eles, pode ser que dê respeito, também. E talvez, uma das coisas mais difíceis de se entender, que respeitar e concordar são completamente diferentes.
Latebra optima insania est.

Offline Tupac

  • Nível 39
  • *
  • Mensagens: 3.905
Re: Deus é um personagem como o Buzz Lightyear
« Resposta #4 Online: 03 de Setembro de 2008, 17:59:37 »
boa idéia Eremita, vou anotar aqui... quando tiver pimpolhos pretendo usar as melhores idéias que eu encontrar...
"O primeiro pecado da humanidade foi a fé; a primeira virtude foi a dúvida."
 - Carl Sagan

"O que é afirmado sem argumentos, pode ser descartado sem argumentos." - Navalha de Hitchens

 

Do NOT follow this link or you will be banned from the site!