"Abiogênese", mais do que uma hipótese, é um evento, a origem da vida a partir de matéria não-viva. E sobre esse evento, existem diversas hipóteses, mas não se tem ainda como se falar com solidez em probabilidades disso ocorrer de novo e em que proporções ocorreria pelo universo afora. Seriam praticamente apenas especulações beirando à fantasia, apenas chutes bem educados. Estimativas de quantos planetas suficientemente similares à Terra devem haver; estimativas de quão provável seria a repetição de situações similares à(s) primeira(s) ocorrência na Terra novamente, e etc. Coisas que não estou em condições de fazer, e duvido que a maioria das pessoas esteja, ao menos não sem uma boa dose de ressalvas de todo tipo.
Só uma coisa. Lendo um pouco a sua descrição, dá um pouco uma imagem de um evento meio singular, algo como, estava lá uma poça da sopa primordial, só cheia de porcariazinhas que não eram de forma alguma vivas, e eis que de repente, um sopro de vento faz todos os componentes certos se misturarem da forma correta, formando o único primeiro ser vivo, e dele todos descendemos. Mas talvez essa seja só minha impressão do texto, e não o conceito que tem. De qualquer forma, a coisa é um pouco menos "golpe de sorte" que isso.
De forma bem geral, a idéia seria de uma produção mais ou menos contínua dessas "sopas" e de seus ingredientes ou entidades "proto-vivas". Por exemplo, talvez houvesse a formação espontânea de vesículas, pequenas "bolhas" de algum material que apenas tendem a se acumular e manter uma certa estabilidade interna, mas não tem material genético algum. Ao mesmo tempo, poderiam estar surgindo os substratos genéticos de forma totalmente separada. Talvez "vírus", que não são tecnicamente vivos, tivessem surgido antes num ambiente que fosse de certa forma meio como um tubo de ensaio onde vírus podem se replicar sem estar sendo hospedados por células, por conterem alguns dos componentes das células que permitem sua replicação. Ao mesmo tempo, alguns desses "vírus" poderiam "infectar" as vesículas e nelas encontrar um ambiente mais favorável, eventualmente evoluindo uma espécie de "simbiose" entre o vírus e a proto-célula, originando algo já mais aproximado de vida propriamente dita, e graudualmente, aperfeiçoando essa relação e se tornando vida "de verdade".
Isso é só um "cenário" possível, descrito de forma bem superficial; há diversas possibilidades de ambientes e materiais; há quem pense que as próprias vesículas já possam de certa forma armazenar algum tipo de informação genética primitiva sem um outro substrato especializado, etc.
A idéia era só ilustrar a coisa toda mais como um processo de múltiplas e contínuas "tentativas", mais um pouco parecido com uma erosão gradual esculpindo uma forma curiosa numa rocha em vez de um acidente súbito.