Quem é Adnan Oktar, o polêmico pregador islâmico acusado de exploração sexual20 julho 2018
Adnan Oktar é uma controversa figura pública na Turquia, onde é conhecido por ser um televangelista, um pregador na TV
Os dias de extravagância na vida de Adnan Oktar podem ter ficado para trás.
Bastante famoso em seu país, a Turquia, o famoso pregador televisivo, que aparecia sempre ostentando joias e marcas de luxo, foi preso, acusado de crime organizado, fraude e exploração sexual.
A operação policial que levou à prisão de Oktar e mais 234 pessoas envolveu cinco províncias na Turquia e contou com buscas em várias de suas propriedades, segundo a agência turca de notícias Anadolu.
Esta não é a primeira vez em que esse personagem controverso tem problemas com a Justiça. Em 1999, foi acusado de intimidação e de criação de uma organização criminosa - foi detido, mas liberado mais tarde.
Nas redes sociais, ele ostenta um estilo de vida luxuoso, mas sua renda não é comprovada
Oktar despontou para a fama nacional - e depois regional - na década de 1980, quando estabeleceu sua organização religiosa islâmica em Istambul e começou a acumular riqueza e influência.
Contra Darwin
Na Turquia, alguns o veem como um perigoso fanático religioso, outros, como um influente pensador.
No início de sua trajetória como líder de seita, Oktar era abertamente antissemita e negava que o Holocausto tivesse existido.
Além disso, defendia o criacionismo - a visão de que o mundo e a vida foram criados por uma entidade superior - e manifestava uma profunda aversão à teoria da evolução.
O
pregador tem ideiais criacionistas e um de seus livros mais famosos é o Atlas da Criação, que ele assina com o pseudônimo Harun Yahya
Em uma entrevista de 2010 à BBC, Oktar defende que Darwin - o pai da teoria da Evolução - teria inspirado ditadores e terroristas.
"Hitler, Mussolini, Stalin e muitos outros terroristas famosos, todos dizem claramente que estiveram sob a influência de Darwin (...) Sem Darwin, o terrorismo é quase impossível", disse ele à época.
Depois dos ataques de 11 de setembro de 2001 nos EUA, Oktar começou a se apresentar como ativista inter-religioso que defendia o diálogo e uma frente comum contra o terrorismo internacional.
Ele publicou vários livros sob o pseudônimo de Harun Yahya.
Nos últimos anos, Oktar inaugurou um canal de televisão, que usava como plataforma para promover suas crenças e sua interpretação bastante particular do Islã.
Durante suas transmissões, aparecia cercado por telas e mulheres seminuas.
Harém de 'gatinhas'
Um dos aspectos mais polêmicos do pregador religioso é o seu "exército" de seguidores - mulheres supermaquiadas e com roupas sensuais, descritas como seu harém de "gatinhas".
Ex-integrantes de sua organização contaram que a maioria dessas mulheres enfrenta lavagem cerebral, ameaças e chantagem - e que elas são escravizadas sexualmente.
Outras acusações dão conta de que a organização liderada por Oktar envia "devotos" para "caçar" possíveis jovens seguidores, principalmente em famílias abastadas.
As mulheres, uma vez recrutadas, perdem contato com suas famílias e nunca mais conversam com elas.
Quando testemunharam perante a polícia em 1999, algumas mulheres disseram que eram persuadidas a participar de sessões de sexo nas quais eram filmadas e/ou fotografadas. As imagens eram então usadas para chantageá-las caso tentassem sair do grupo.
Na televisão, Oktar aparece pregando ao lado de mulheres com pouca roupa que ele chama de 'gatinhas'; ele é acusado de exploração sexual
Há relatos de "gatinhas" mais próximas a Oktar que passaram a ser chamadas de "irmãs".
Uma vez considerada uma "irmã", nenhum dos discípulos de Oktar - que são chamados de "leões" - tinha permissão para fazer sexo com ela.
Se não eram "irmãs", as mulheres do grupo eram "motores", como eram chamadas as mulheres que podiam dormir com vários homens.
Quando Oktar foi confrontado com estas alegações, ele disse ter sido vítima de uma conspiração global, liderada pelos serviços de inteligência britânicos, para prejudicar tanto ele quanto sua organização.
Vida luxuosa
Além de suas visões controversas sobre o mundo, Oktar ficou famoso por seu estilo de vida luxuoso, constantemente exibido nas redes sociais.
Ele mora em uma vila suntuosa em Istambul, onde é frequentemente fotografado ao lado de mulheres sem muita roupa.
Sabe-se que seus seguidores vivem em apartamentos em bairros mais abastados de Istambul, geralmente em grupos de três ou quatro pessoas.
Oktar foi preso em Istambul numa grande operação policial
Ele também ficou conhecido pelos jantares organizados durante o Ramadã, o mês sagrado do islamismo, em um hotel exclusivo em Istambul - para os quais são convidados celebridades, mídia, membros de organizações internacionais e políticos.
Amigo de Israel
Apesar das críticas ao judaísmo e das visões antissemitas que expressou no passado, Oktar recentemente estreitou seus laços com Israel.
Ele e os membros de sua organização visitaram o país em diversas ocasiões e se reuniram com rabinos e políticos dos altos escalões do governo.
Altos funcionários israelenses retribuíram com visitas na Turquia.
Um deles foi Ayoub Kara, ministro das Comunicações de Israel e membro do partido Likud no Parlamento israelense.
Da mesma forma, o rabino-chefe de Tel Aviv, Yisrael Meir Lau, disse na televisão: "Eu quero lhe agradecer pela hospitalidade e pelo convite para vir nos conhecer".
Um ano atrás, Oktar enviou uma delegação para visitar o Parlamento israelense.
Eles tiveram a oportunidade de se reunir com altos funcionários e se apresentarem pessoalmente ao primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu.
https://www.bbc.com/portuguese/geral-44845646