Brasil tem vantagens no mercado de tecnologias verdesDesde os anos 1980, Álvaro Gonçalves opera fundos especializados em investir em empresas, os chamados fundos de private equity. Trabalhou nos Estados Unidos antes de começar a operar no Brasil e em 1999 tornou-se sócio fundador do Grupo Stratus, hoje um dos mais atuantes gestores de recursos com quase meio bilhão de reais em investimentos.
Quando desembarcou no Brasil, Gonçalves percebeu que investir em negócios locais pressupunha avaliar como os concorrentes estrangeiros poderiam prejudicar empresas brasileiras. Há quatro anos, no entanto, o Stratus entrou num novo segmento: investimento em tecnologias verdes. Para sua surpresa, Gonçalves descobriu que nessa área é preciso exercitar o olhar inverso.
“Em tecnologias limpas, o Brasil está na frente”, diz Gonçalves. “Opções feitas no passado, como desenvolver o etanol e priorizar hidrelétricas, fizeram com que a discussão em torno de energias limpas ocorresse bem mais cedo aqui, fomentando uma cultura empresarial por negócios verdes.” Segundo Gonçalves, o País é naturalmente um exportar nessa área. “No que se refere a tecnologias verdes, nosso trabalho é olhar para quais mercados vamos levar esse negócio.”
Setores emergentesO Stratus investe em três empresas ligadas a tecnologias limpas por meio de um fundo batizado de CleanTech. A primeira vista, os setores nos quais elas atuam parecem um tanto nebulosos para se ganhar dinheiro. A Brazil Timber, por exemplo, é especializada na gestão de florestas. Seu trabalho é monitorar árvores e indicar quais podem ser derrubadas dentro de certos critérios ambientais.
Trata-se de um trabalho muito especializado. De acordo com a área da floresta, só é possível retirar uma árvore a cada cinco anos, num espaço do tamanho do estádio do Maracanã. Pode parecer um trabalho insano, mas o retorno compensa. O metro cúbico da madeira certificada chega a valer cinco vezes mais do que o da convencional.
Outra empresa que recebeu investimento foi a Ecosorb, que atua no mercado de serviços ambientais. Uma de suas especialidades é limpar portos. “Até trabalhar com esse fundo, não fazia a menor idéia de que portos podem ser lugares muito sujos”, diz Gonçalves. “Os produtos usados para lavar os navios e o cais vão se depositando na água e no solo com prejuízos incalculáveis ao meio-ambiente.”
A empresa agora está se equipando para atuar na limpeza de plataformas de petrolíferas. “A exploração do pré-sal vai aquecer o setor e a cadeia de petróleo e gás oferece boas oportunidades nessa área”, diz Gonçalves.
Recentemente, o Stratus passou a investir também na Amyris Brasil, subsidiária da Amyris Biotechnologies, empresa que desenvolve, produz e comercializa tecnologias para fabricação de combustíveis e materiais químicos renováveis. A Amyris é norte-americana, mas seu projeto de desenvolvimento e produção de gasolina a base de cana-de-açúcar está no Brasil porque o País é líder na fabricação de etanol a base de cana.
Mudanças no clima e na economiaPara os ambientalistas é uma decepção, mas o maior atrativo de fundos como o CleanTech não é o fato de eles salvarem árvores e ajudarem o mundo a ser um lugar melhor. Investimentos como esses miram nas mudanças climáticas e seus efeitos sobre a política e a economia.
Nos próximos anos, a legislação ambiental tende a ficar mais rigorosa, obrigando alterações nos processos de produção e de prestação de serviços. Assim, quem investe em tecnologia verde está de olho no potencial de crescimento e de retorno de jovens empresas que conseguem transformar sustentabilidade em bons negócios. Para o Stratus, o CleanTech está na lista dos investimentos com alto potencial de crescimento – e de lucros.
Para dimensionar a expectativa em relação ao retorno basta avaliar o porte dos investidores. Os R$ 60 milhões do fundo foram desembolsados por grandes empresas e bancos institucionais: o Petros, fundo de pensão dos funcionários da Petrobras, a empresa química alemã Basf, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a FINEP e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social.
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