Fim melancólico da Era BushOs oito anos de George W. Bush à frente do governo dos Estados Unidos estão acabando exatamente como começaram: com o chefe supremo da nação aparecendo em rede nacional de TV para alertar que o país enfrenta uma crise sem precedentes. Em 2001, seu primeiro ano como presidente, Bush foi à TV logo após os ataques de 11 de setembro para avisar aos americanos que tempos difíceis estavam por vir. Era o começo da chamada "Guerra contra o Terrorismo". Agora em 2008, seu último ano na Casa Branca, o mesmo Bush volta a usar a cadeia nacional para dizer, mesmo a quem não queria ouvir, que a economia dos Estados Unidos corre risco de entrar em colapso.
Há um mês, a revista americana
Newsweek fez o que manda o bom jornalismo. Foi mostrar o "outro lado", investigando onde e como, em meio a tantos erros históricos, o governo Bush havia acertado. "O presidente George W. Bush entra agora em seu 23º mês consecutivo com uma taxa de aprovação abaixo dos 40% (no momento está em 32%). Não importa o que ele faça, ou o que aconteça no mundo, o público parece ter decidido que Bush foi um fracasso", escreveu o experiente editor Fareed Zakaria, antes de lembrar que o presidente americano fez uma tardia, mas concreta e positiva, mudança de rumo em parte de sua política externa.
Nos dois últimos anos de governo, pragmatistas como o atual secretário da Defesa, Robert Gates, substituíram ideólogos do neoconservadorismo, como Paul Wolfowitz ou Donald Rumsfeld, no comando de assuntos cruciais como Iraque e Coréia do Norte. O resultado foram avanços nessas duas frentes, com os Estados Unidos abandonando a ainda jovem Doutrina Bush (o ataque é a melhor defesa) e tirando da pauta planos mirabolantes de uma invasão do Irã. Alguém ainda acredita que os Estados Unidos, em meio ao furacão de Wall Steet, gastando quase US$ 1 trilhão para salvar seu sistema financeiro, possa enfrentar o país dos aiatolás? Possível é, mas ficou muito mais difícil.
Em seu artigo Zakaria pedia que nos lembrássemos que o mundo a ser herdado pelo futuro presidente americano será o de 2009, não o de 2003, ano da invasão do Iraque. Portanto é necessário, argumentava o editor da
Newsweek, que valorizemos o fato de que Bush mudou em seu final de governo, para melhor. Mas aí veio a fase mais aguda (até agora, porque o pior ainda pode estar por vir) da crise econômica iniciada no ano passado, com o estouro da bolha imobiliária. Depois da tragédia em que se tranformou o Iraque, do furacão Katrina, do agravamento da situação no Afeganistão, do abalo da imagem internacional dos Estados Unidos, o próprio Bush veio a público dizer que a maior potência do mundo "pode cair em uma grande recessão". Antes mesmo de o mundo admitir que Bush acertou em alguma coisa, a crise econômica desabou sobre a cabeça do presidente americano.
É um fim ainda mais melancólico do que já se vislumbrava. Com a disputa entre Barack Obama e John McCain próxima de seu clímax, muitos acreditavam que Bush se recolheria na Casa Branca e se contentaria em esperar pelo dia em que deixará a famosa residência presidencial. Mas ele voltou à TV, para alertar para mais um possível Armagedom. O terrorismo deu lugar a a um possível colapso econômico. Um 11 de Setembro ainda mais assustador. Mais um motivo para os historiadores se debruçarem sobre a inesquecível e incomparável Era Bush.
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