Autor Tópico: A Psicologia do Ateísmo  (Lida 1659 vezes)

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A Psicologia do Ateísmo
« Online: 05 de Outubro de 2008, 00:36:15 »
A Psicologia do Ateísmo: Motivações psicanalíticas.

Professor Paul Vitz, Ph.D (Stanford University, 1962) é professor de Psicologia da Universidade de Nova Iorque. É membro da Comunidade de Acadêmicos Católicos e mantêm contato com muitos Protestantes, e Judeus

Como sabemos, o centro da critica Freudiana à crença em Deus é que tal crença não é confiável por causa de sua origem psicológica. Isto é, Deus é uma projeção de nossos próprios e intensos desejos inconscientes; Ele é a satisfação de um desejo derivado das necessidades infantis de proteção e segurança. Visto que esses desejos são inconscientes, não deve ser dado muito crédito a qualquer negação de tal interpretação. Devemos notar que ao desenvolver esse tipo de crítica, Freud formulou um argumento ad hominem de grande influência. É na obra O Futuro de Uma Ilusão (1927, 1961) que Freud explica sua posição:

Idéias religiosas surgiram das mesmas necessidades de que surgiram todos as conquistas da civilização: da necessidade de defender-se da impetuosa e superior força da natureza. (p.21)

Logo, crenças religiosas são:

Ilusões, satisfação dos mais antigos, mais fortes, e urgentes desejos da raça humana… Como já sabemos, a pavorosa impressão de abandono na infância fez surgir o desejo de proteção – de proteção pelo amor – que foi provida pelo pai… Dessa forma a benevolente regra de Providência Divina apazigua nosso medo dos perigos da vida. (p.30)

Vamos examinar esse argumento cuidadosamente, pois apesar da aceitação entusiástica do argumento pelos ateus e céticos não-críticos, é um argumento muito frágil.

No primeiro parágrafo Freud falha em notar que seu argumento contra as crenças religiosas é, em suas próprias palavras, igualmente válido contra todas as conquistas da civilização, incluindo a própria psicanálise. Isto é, a origem psíquica de uma conquista intelectual invalida sua veracidade, então a física, a biologia, e a própria psicanálise, são vulneráveis a mesma acusação.

No segundo parágrafo Freud faz outra alegação estranha, de que os mais antigos e urgentes desejos da humanidade são de proteção e orientação amorosa por um poderoso Pai de amor, pela divina Providência. Entretanto, se esses desejos fossem tão fortes e antigos como ele alega, era de se esperar que as religiões pré-cristãs enfatizassem Deus como um pai benevolente. Em geral, isso é bem distante do caso das religiões pagãs do mundo Mediterrâneo - e, por exemplo, ainda não é o caso em muitas religiões populares como o Budismo ou o Hinduísmo. De fato, o Judaísmo e mais especificamente o Cristianismo são em muitos aspectos distintos em sua ênfase em Deus como um Pai de amor.

Entretanto, deixemos de lado essas duas gafes intelectuais e voltemos para um outro entendimento da teoria da projeção de Freud. Pode ser demonstrado que essa teoria não é realmente parte integrante da psicanálise - e, dessa forma não tem a teoria psicanalítica como fundamento de apoio. É essencialmente um argumento autônomo. De fato, a atitude crítica de Freud em relação à religião é enraizada em suas predileções pessoais e é um tipo de meta-psicanálise - ou se origina em fundamentos sem relação com seus conceitos clínicos. (Essa separação ou autonomia em relação a muito da teoria psicanalítica muito provavelmente é responsável pela influência do argumento fora do âmbito da psicanálise). Existem duas evidências para essa interpretação da teoria da projeção.

A primeira é que essa teoria foi articulada claramente muitos anos antes por Ludwig Feurbach em seu livro A Essência do Cristianismo (1841, 1957). A interpretação de Feurbach foi popular no meio dos intelectuais europeus, e Freud, quando jovem, lia Feurbach avidamente (veja Gedo & Pollock, 1976, pp.47,350) Seguem algumas significativas citações de Feurbach que esclarecem isso:

O que o homem sente necessidade - seja essa uma necessidade articulada, portanto consciente, ou uma necessidade inconsciente - é Deus (1841, 1957, p. 33)

O homem projeta sua natureza no mundo exterior a si mesmo antes de encontrá-lo dentro de si (p.11)

Viver por meio de sonhos projetados é a essência da religião. A religião sacrifica a realidade em prol do sonho projetado. (p. 49)

Muitas outras citações de Feurbach poderiam ser usadas para descrever a religião em termos “Freudianos” como satisfação-de-desejo (wish-fulfillment), etc. O que Freud fez com esse argumento foi reconstruí-lo em uma forma mais eloqüente, e publicá-lo num período posterior onde a audiência ansiosa por ouvir uma teoria como essa era muito maior. E, é claro, de alguma forma as descobertas e a própria teoria psicanalítica foram utilizadas como se apoiassem fortemente a teoria. O caráter Feurbachiano da posição de Freud que taxa a religião de ilusão é demonstrado também em noções como “a esmagadora força superior da natureza” e a “apavorante impressão de desamparo na infância”, que não são psicanalíticas em terminologia ou sentido.

A outra evidência que comprova que as bases da teoria da projeção não são psicanalíticas, vem diretamente do próprio Freud, que explicitamente afirma isso. Numa carta escrita em 1927 para seu amigo Oskar Pfister (um antigo psicanalista e pastor protestante), Freud escreveu:

Vamos ser bem claros quanto à questão de que as opiniões difundidas em meu livro (O Futuro de uma Ilusão) não são parte da teoria analítica. São minhas visões pessoais. (Freud/Pfister, 1963, p; 117)

Há outra interpretação um pouco diferente da crença em Deus que Freud desenvolveu também, mas apesar de essa teoria ter um certo embasamento psicanalítico, é na verdade, ainda, uma adaptação da teoria Feurbachiana da projeção. É a interpretação negligenciada de Freud quando ao ego ideal. O super-ego, incluindo o ego ideal é o “herdeiro do complexo de Édipo”, representando a projeção de um pai idealizado e presumivelmente do Deus-Pai (veja Freud, 1923, 1962, pp. 26-28; p.38)

A dificuldade aqui é que o ego ideal não recebeu muita atenção ou desenvolvimento nos escritos de Freud. Além do mais, é facilmente interpretado como uma adoção da teoria da projeção de Feurbach. Assim, podemos concluir que a psicanálise na verdade não provê conceitos teóricos significativos para caracterizar a crença em Deus como neurótica. Freud tanto usou a antiga teoria de projeção ou ilusão de Feurbach como incorporou Feurbach em sua noção de ego ideal. Presumivelmente, essa é a razão por que Freud reconheceu a Pfister que seu livro O Futuro de uma Ilusão, não é parte integrante da psicanálise

Ateísmo como Satisfação-de-Desejo Edipiano

Apesar de tudo, Freud de certa forma está certo ao se preocupar que a crença em Deus possa ser uma ilusão por se derivar de desejos poderosos - tanto necessidades inconscientes quanto infantis. A ironia é que ele claramente proveu uma poderosa e nova forma de entender as bases neuróticas do ateísmo. (Para um desenvolvimento detalhado dessa posição veja Vitz e Gartner, 1984a, b; Vitz, 1986, in press.)

O Complexo de Édipo

O conceito central na obra de Freud, além do inconsciente, é o bem conhecido complexo de Édipo. No caso do desenvolvimento da personalidade masculina, os aspectos essenciais desse complexo são os seguintes: Por volta do período que vai dos três aos seis anos o filho desenvolve um forte desejo sexual pela mãe. Ao mesmo tempo o filho desenvolve um intenso ódio e medo do pai, e um desejo de substituí-lo, uma “ânsia por poder”. Esse ódio é baseado no conhecimento que o garoto tem de que o pai, com sua força e tamanho, obstrui o caminho do seu desejo. O medo da criança do pai pode explicitamente ser um medo de castração pelo pai, mas mais tipicamente, tem um caráter menos especifico. O filho não quer realmente matar o pai, é claro, mas é presumido que o patricídio é uma preocupação comum em suas fantasias e sonhos. A “solução” do complexo deve ocorrer através do reconhecimento de que ele não pode substituir o pai, e através do medo da castração, que eventualmente leva o garoto a se identificar com o pai, se identificar com o agressor, e recalcar os pavorosos componentes originais do complexo.

É importante ter em mente que, de acordo com Freud, o complexo de Édipo nunca é totalmente solucionado, e é passível de retorno em períodos posteriores - quase sempre, por exemplo, na puberdade. Assim os poderosos ingredientes do ódio homicida e do desejo sexual incestuoso no contexto familiar nunca são removidos de fato. Ao invés disso, eles são cobertos e recalcados. Freud explica o potencial neurótico dessa situação:

O complexo de Édipo é o núcleo da neurose… O que permanece do complexo no inconsciente representa a disposição ao desenvolvimento de neuroses no adulto (Freud, 1919, Standard Edition, 17, 0. 193; also 1905, S.E. 7, p. 226ff; 1909, S.E., 11, p. 47)

Resumidamente, todas as neuroses humanas se derivam desse complexo. Obviamente, na maioria dos casos, esse potencial não é expresso em nenhuma maneira neurótica séria. Ao invés disso, o complexo é expresso na relação com autoridades, sonhos, atos falhos, irracionalidades transitórias, etc.

Agora, ao postular um complexo de Édipo universal como a origem de todas as neuroses, Freud inadvertidamente desenvolveu um entendimento racional da origem da rejeição de Deus na Satisfação-de-Desejo.

Além de tudo, o complexo de Édipo é inconsciente, é estabelecido na infância e, acima de tudo, sua motivação dominante é o ódio pelo pai e o desejo de sua não-existência, especificamente representada pelo desejo de substituí-lo ou matá-lo. Freud freqüentemente descrevia Deus como psicologicamente equivalente ao pai, então uma expressão natural da motivação Edipiana seriam desejos poderosos e inconscientes da não-existência de Deus. Logo, sob o ponto de vista Freudiano, o ateísmo é uma ilusão causada pelo desejo Edipiano de matar o pai e substituí-lo por si mesmo. Agir como se Deus não existisse é obviamente, uma máscara sutil do desejo de matá-lo, do mesmo modo num sonho, a imagem de um parente indo embora ou desaparecendo pode representar um desejo como esse: “Deus está morto” é simplesmente uma Satisfação-de-Desejo Edipiana desmascarada.

Certamente não é difícil de entender o caráter edipiano no ateísmo e ceticismo contemporâneos. Hugh Hefner, até James Bond, com sua rejeição a Deus mais suas inúmeras mulheres, estão obviamente vivendo o Édipo de Freud e a rebelião primitiva (e.g. Totem e Tabu). Assim também estão inúmeros outros céticos que vivem variações do mesmo cenário de permissividade sexual exploradora combinada com auto-adoração narcísica.

E, é claro, o sonho de Édipo não é apenas matar o pai e possuir a mãe ou outras mulheres no grupo, mas também retirá-lo de seu lugar. O Ateísmo moderno tem tentado alcançar isso. Agora o homem, não Deus, é conscientemente a fonte Última de bondade e força do universo. Filosofias humanistas glorificam o homem e seu “potencial” quase da mesma forma que a religião glorifica o Criador. Saímos de um Deus para vários deuses e agora cada um como deus. Essencialmente, o homem - através de seu narcisismo e desejos Edipianos - tem tentado fazer o que Satanás não conseguiu, se assentar no trono de Deus. Graças a Freud agora é mais fácil entender a profundidade neurótica e não confiável da descrença.

Um exemplo interessante da motivação Edipiana proposta aqui é Voltaire, um expoente do ceticismo que negou a noção judaico-cristã de um Deus pessoal - de Deus como Pai. Voltaire foi um teísta ou deísta que acreditava num Deus cósmico, impessoal de caráter desconhecido.

O questão psicológica importante sobre Voltaire é que ele insistentemente rejeitou seu pai - tanto que ele rejeitou o nome de seu pai e usou o nome “Voltaire”. Não é certo de onde o nome veio, mas uma interpretação aceita pela maioria é que o nome foi construído a partir das letras do sobrenome de sua mãe. Quando Voltaire estava nos seus vinte anos (em 1718), ele publicou uma peça intitulada “Édipo”, a primeira de suas peças a ser apresentada ao público. A peça reconta a clássica lenda com fortes alusões a rebelião religiosa e política. Por toda sua vida, Voltaire (assim como Freud) brincou com a idéia de que ele não era filho de seu pai. Ele aparentemente ansiava por ser de uma família aristocrática e mais importante do que sua família de classe média. (Uma expressão dessa preocupação de ter um pai mais digno é a peça Cândido). Resumidamente, a hostilidade de Voltaire ao seu próprio pai, sua rejeição religiosa ao Deus-Pai, e sua rejeição política do rei - também uma figura do pai - são todas reflexões dos mesmos desejos básicos. Psicologicamente falando, a rebelião de Voltaire contra seu pai e contra Deus são facilmente interpretadas como Satisfação-de-Desejo Edipiana, como ilusões confortadoras, e logo, seguindo Freud, como crenças e atitudes indignas da mente madura.

Diderot, o grande Enciclopedista e um renomado ateu - de fato ele é um dos fundadores do ateísmo moderno - também tinha insights e preocupações Edipianas. Freud em tom de aprovação cita a observação de Diderot:

Se o pequeno bárbaro fosse deixado por si mesmo, preservando toda sua tolice e adicionando ao pequeno sentido de criança no berço as violentes paixões de um homem de trinta anos, ele estrangularia seu pai e se deitaria com sua mãe (de Le neveau de Rameau. citado por Freud na Lição XXI de suas Lições Introdutórias (1916- 1917), S.E., 16, pp. 331-338).
Os que se perdem como vocês sobrevivem de uma fixação perfeccionista, ou de uma nostalgia culposa. Por hora, meu juízo absolutiza quase tudo para todos e relativiza quase tudo para mim mesmo, dependendo de onde eu estou como ser

Offline Buckaroo Banzai

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Re: A Psicologia do Ateísmo
« Resposta #1 Online: 05 de Outubro de 2008, 08:02:07 »
Qual seria a "explicação" freudiana para a descrença em mais de um deus? Porque essa "explicação" se aplica apenas ao conceito de deus figura-paterna. E é meio obscuro quem seria a mãe, paixão platônica aqui. Maria, Nossa Senhora? Nunca ouvi falar de tal parafilia, mas se supusesse que existe, minha intuição seria procurá-la entre religiosos, não entre ateus.

A vontade de ser polígamo também não me parece ser um gatilho édipico suficiente, uma vez que há alternativas monoteístas/abraâmicas poligâmicas; o sujeito não precisa "negar" a existência de um deus, apenas acreditar que ele acha que está tudo bem ser polígamo - algo que nem é proibido na bíblia, se não me engano. Poderiam então fazer um tipo de culto à Maria meio esquisito, no qual talvez Javé de alguma forma morresse por algum motivo sobrenatural qualquer que inventassem, inclusive. Mas não seria exatamente ateísmo.

Sei lá, me parece algo não muito mais forte do que um castelo de cartas.

Falhas esperadas de um esforço desesperado em desdenhar uma posição mais intelectualmente embasada antagônica a uma crença arraigada e comum, com ajuda de teorias no mínimo pobres, ainda que de importância não totalmente descartável.


O mais próximo disso que vejo como plausível é simplesmente uma eventual repugnância de alguns a um tipo de super-cara autoritário, uma aversão à autoridade de modo geral, mas mais provavelmente ao comportamento desse ser, diante do seu poder e provavelmente da questão da origem do mal, e sua relativa indiferença, ou mesmo presença ativa na origem dele. O que também não implica necessariamente no ateísmo, mas provavelmente na maior parte do tempo em interpretações mais brandas do deus abraâmico, até talvez indo contra suas descrições de forma arbitrária. Mas em alguns talvez essa revolta possa eventualmente levar a questionar se esse super-cara existe num sentido mais profundo, levando a questionamentos epistemológicos e ontológicos, em vez de uma mera maquiagem mais agradável.

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Re: A Psicologia do Ateísmo
« Resposta #2 Online: 05 de Outubro de 2008, 11:45:46 »
Citação de: Buckaroo Banzai
Qual seria a "explicação" freudiana para a descrença em mais de um deus? Porque essa "explicação" se aplica apenas ao conceito de deus figura-paterna. E é meio obscuro quem seria a mãe, paixão platônica aqui. Maria, Nossa Senhora? Nunca ouvi falar de tal parafilia, mas se supusesse que existe, minha intuição seria procurá-la entre religiosos, não entre ateus.

Mas (como sempre) está se interpretando as palavras de Freud de forma errada. QUando Freud, nas citações, falou que deus representa uma figura paterna ? Ele fez menção somente à proteção, e ele estava absolutamente certo nisso.

Qual seria a "explicação" freudiana para a descrença em mais de um deus? Uai, Buckaroo, o entendimento racional de que é um impulso inconsciente, uma tendência a procurar um 'pai celestial'.

Você está se deixando levar por uma leitura leviana de Freud...
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Re: A Psicologia do Ateísmo
« Resposta #3 Online: 05 de Outubro de 2008, 11:48:00 »
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No primeiro parágrafo Freud falha em notar que seu argumento contra as crenças religiosas é, em suas próprias palavras, igualmente válido contra todas as conquistas da civilização, incluindo a própria psicanálise. Isto é, a origem psíquica de uma conquista intelectual invalida sua veracidade, então a física, a biologia, e a própria psicanálise, são vulneráveis a mesma acusação.

Não é uma explicação 'contra' nada e sim uma explicação de sua origem. Freud nem mesmo diz se isto é ruim ou não. O resto é um non sequitur.
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Re: A Psicologia do Ateísmo
« Resposta #4 Online: 05 de Outubro de 2008, 11:49:35 »
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Devemos notar que ao desenvolver esse tipo de crítica, Freud formulou um argumento ad hominem de grande influência.

Ad hominem contra quem, cara pálida ?  :enjoo:

Não seria ad hoc ?
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Re: A Psicologia do Ateísmo
« Resposta #5 Online: 05 de Outubro de 2008, 11:55:30 »
Citar
No segundo parágrafo Freud faz outra alegação estranha, de que os mais antigos e urgentes desejos da humanidade são de proteção e orientação amorosa por um poderoso Pai de amor, pela divina Providência. Entretanto, se esses desejos fossem tão fortes e antigos como ele alega, era de se esperar que as religiões pré-cristãs enfatizassem Deus como um pai benevolente. Em geral, isso é bem distante do caso das religiões pagãs do mundo Mediterrâneo - e, por exemplo, ainda não é o caso em muitas religiões populares como o Budismo ou o Hinduísmo. De fato, o Judaísmo e mais especificamente o Cristianismo são em muitos aspectos distintos em sua ênfase em Deus como um Pai de amor.

Sim, e o autor faria melhor em ler 'Totem e tabu' para entender a explicação de Freud de outras formas de veneração, no caso às forças mágicas que dominam a natureza. O 'pai benevolente' que nos protege é somente uma dessas facetas, e a outra é o pai colérico que nos castiga quando fazemos as coisas 'erradas' ou 'contra a natureza' (inclusive casar entre irmãos ou outros tabus).

Mais do que problemas com Freud eu vejo é desconhecimento sobre a sua teoria do que outra coisa... querer misturar 'neurose' nisso tudo também é ridículo, é uma interpretação que pode estar errada até, mas não tem relação com a explicação psicológica da adoração a seres criadores sobrenaturais.

O resto é um 'mimimi' sobre Diderot ou Voltaire gostarem ou não dos seus pais, algo completamente irrelevante. Aliás, eu sou ateu, adoro o meu pai, é meu pai e foi professor da minha profissão. E aí ?

« Última modificação: 05 de Outubro de 2008, 12:05:44 por JCatino »
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Re: A Psicologia do Ateísmo
« Resposta #6 Online: 05 de Outubro de 2008, 12:47:37 »

Qual seria a "explicação" freudiana para a descrença em mais de um deus? Uai, Buckaroo, o entendimento racional de que é um impulso inconsciente, uma tendência a procurar um 'pai celestial'.

Você está se deixando levar por uma leitura leviana de Freud...

Não me perguntava "de verdade" qual seria a explicação freudiana para descrença nos outros deuses além de Javé, apenas coloquei isso ironizando essa linha de argumentação de ateísmo como um tipo de problema psicológico/complexo de Édipo. Evidenciando que por coerência se deveria tentar "problematizar" psicologicamente as descrenças nos outros deuses também, como alguma forma de "negação", não apenas coincidentemente o deus em que por acaso se crê.

Talvez seja meio como uma paixão doentia, na qual as pessoas praticamente negam a existência de todas as outras e cultuam abnegadamente, religiosamente, a pessoa amada, pela qual são obsessivos e submissos, praticamente escravos. Vêem-na como exageradamente especial, se tornam até capazes de matar por amor, e etc. Poderia então se passar um verniz freud-jungiano para dar um melhor ar de erudição e autoridade.

Offline Buckaroo Banzai

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Re: A Psicologia do Ateísmo
« Resposta #7 Online: 05 de Outubro de 2008, 12:54:13 »
Citar
Devemos notar que ao desenvolver esse tipo de crítica, Freud formulou um argumento ad hominem de grande influência.

Ad hominem contra quem, cara pálida ?  :enjoo:

Não seria ad hoc ?

É de certa forma "ad hominem" se ao argumentar sobre a inexistência de deuses nos focamos no fato de ser invenção das pessoas e dos motivos que as levam a acreditar, em vez de se ater apenas aos aspectos epistemológicos da proposição do conceito de deus que defendem ser real.

Não que não seja uma questão interessante e perfeitamente válida, tentar entender as origens das crenças. Isso pode até ter alguma significância meio epistemológica para algumas argumentações, como para a alegação de que seria um tipo de evidência o fato de que muitas pessoas e culturas ao redor do mundo creem em algo sobrenatural, em seres superpoderosos e etc. Em vez de apenas descartar isso como falácia ad populum (não que não seja), é interessante entender as razões biológicas/psicológicas que poderiam resultar nessa popularidade de um tipo de crenças que não correspondem à realidade.

Offline Buckaroo Banzai

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Re: A Psicologia do Ateísmo
« Resposta #8 Online: 05 de Outubro de 2008, 12:58:02 »
O resto é um 'mimimi' sobre Diderot ou Voltaire gostarem ou não dos seus pais, algo completamente irrelevante. Aliás, eu sou ateu, adoro o meu pai, é meu pai e foi professor da minha profissão. E aí ?


Pelo que entendi (ou que me lembro ao ter lido isso hoje mais cedo), não é sugerido que o ateísmo tenha a ver com um complexo "normal", mas de um "outro nível", não teria a ver com não gostar do pai biológico ou humano, querer que ele não existisse, mas de "Deus Pai". Talvez por uma tara esquisita por Maria, implicitamente...

Offline Luis Dantas

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Re: A Psicologia do Ateísmo
« Resposta #9 Online: 05 de Outubro de 2008, 13:11:43 »
Psicanálise já é difícil de entender, além de ser mitologia aplicada.  E o ateísmo é uma posição tão natural.

Uma explicação psicanalítica para o ateísmo me parece um tanto difícil de justificar.
Wiki experimental | http://luisdantas.zip.net
The stanza uttered by a teacher is reborn in the scholar who repeats the word

Em 18 de janeiro de 2010, ainda não vejo motivo para postar aqui. Estou nos fóruns Ateus do Brasil, Realidade, RV.  Se a Moderação reconquistar meu respeito, eu volto.  Questão de coerência.

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Re: A Psicologia do Ateísmo
« Resposta #10 Online: 05 de Outubro de 2008, 19:04:55 »
Não creio que esteja associado ao método psicanalítico e sim à forma que um psicólogo entende a psique, isto é, as formas psicológicas que entram em jogo na mente de um ser humano, e suas origens nos nossos medos, preocupações, e formas de driblar desafios.
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