O mais cobiçado prêmio literário do mundo vai para escritor que já admitiu influência de Euclides da CunhaESTOCOLMO - O mais prestigioso e cobiçado prêmio literário do mundo vai para o escritor Jean-Marie Gustave Le Clézio, anunciado nesta quinta, 9, o vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 2008. A Academia considerou Le Clézio "um escritor da ruptura, da aventura poética e do êxtase sensual, explorador de uma humanidade além e acima da civilização reinante".
Com mais de 30 livros publicados, é o primeiro escritor nascido na França a ganhar o prêmio após Claude Simon, em 1985. Em 2000, o Nobel foi concedido ao escritor nascido na China, mas naturalizado francês Gao Xingjian.
Le Clézio disse ter ficado "muito comovido" ao saber que foi o escolhido. Contou que foi sua mulher quem atendeu ao telefone e recebeu a notícia, enquanto ele estava lendo. Em entrevista a uma rádio sueca, agradeceu "com muita sinceridade à Academia Nobel", dizendo que também irá ao país em 25 de outubro para receber o prêmio literário sueco Stig Dagerman, que foi atribuído a ele em junho. Pouco antes da notícia do prêmio, Le Clézio falou a uma emissora de rádio francesa que a possibilidade de ganhar o Nobel "é algo que faz você continuar publicando, que dá vontade de seguir escrevendo... Nós escrevemos para ser lidos, para encontrar respostas e essa é uma resposta".
O prêmio Nobel de literatura consiste em 10 milhões de coroas suecas (US$ 1,3 milhão ou R$ 2,63 milhões), uma medalha de ouro e um diploma.
Le Clézio, de 68 anos, vive entre Albuquerque, no Novo México, a ilha Maurício e Nice, cidade francesa onde nasceu em 13 de abril de 1940. Sua forte ligação com a ilha Maurício, antiga colônia francesa conquistada pelos britânicos em 1810, vem do fato de seus pais terem nascido lá. Seu pai era um médico inglês e sua mãe, francesa. É casado e tem duas filhas. Sempre dominou o francês e o inglês. Formado em Letras, é autor de romances, contos, ensaios, novelas, literatura infanto-juvenil, e ainda jovem, aos 23 anos, ganhou o prêmio literário Renaudot pelo seu livro Le Procès-verbal, chamando a atenção para sua literatura.
No Brasil, tem alguns livros publicados, entre eles, À Procura do Ouro (Brasiliense, 1985) O Deserto (Brasiliense, 1986); Diego e Frida (Escrita, 1994) A Quarentena (Companhia das Letras, 1997) e Peixe Dourado (Companhia das Letras, 2001) e O Africano, (Cosac & Naif, 2007). Os três últimos ainda podem ser encontrados nas livrarias.
Por ocasião do lançamento de seu livro A Quarentena no Brasil, em 1997, o escritor concedeu uma entrevista ao jornalista José Castello, à época colaborador do Estado, em que admitia influência de Os Sertões, de Euclides da Cunha, para compor um tipo de história que gosta, a da luta do homem com seus limites. Seu romance reflete a aventura de sua família, que emigrou da Bretanha, na França, para a Ilha Maurício - antiga Ilha de França, no Oceano Índico -, ainda no século 18. Segundo Le Clézio, os livros que o influenciaram definitivamente para compor sua obra foram os de Robert Louis Stevenson, como A Ilha do Tesouro e Kidnapped, "para mim o romance mais espetacular que Stevenson escreveu". Outro, segundo o escritor, foi Os Sertões, de Euclides da Cunha. "Eu diria que, ao começar a escrever A Quarentena, quis fazer um livro que ficasse entre Kidnapped e Os Sertões, isto é, que ficasse entre uma aventura literária e uma reportagem.
No início da tarde, o escritor falou com os jornalistas na sede da editora Gallimard, que publica seus livros, em Paris, cidade onde estava de passagem, fazendo uma escala entre a Coréia do Sul e o Canadá, fiel à sua fama de viajante incansável. "Escrever não é apenas sentar à mesa consigo mesmo, é escutar o ruído do mundo. Quando você está na posição de escritor percebe melhor o ruído do mundo, vai de encontro ao mundo", disse. Para Le Clézio, recomendou a leitura de romances, como "uma forma de questionar o mundo. O romancista não é um filósofo ou um técnico da língua, é alguém que faz perguntas e se há uma mensagem que eu gostaria de passar é que se façam perguntas."
Le Clézio afirmou que se sente francês, mas disse que sua pátria está nas ilhas Maurício, ex-colônia francesa de onde procede sua
família. Além disso, o escritor se definiu como um apaixonado pelo México e a cultura latino-americana.
O prêmioO vencedor do Prêmio Nobel de Literatura é sempre divulgado pelo secretário permanente Horace Engdahl, nos escritórios do século 18 da entidade, na parte histórica de Estocolmo. Engdahl causou polêmica ao menosprezar a literatura norte-americana na disputa pelo prêmio na semana passada. Disse que o país é demasiado insular e ignorante para competir com a Europa como centro literário do mundo. "Eles não traduzem o suficiente e não participam realmente do grande diálogo da literatura", disse Engdahl. "Essa ignorância é limitante", acrescentou.
Vários nomes figuraram entre os favoritos do ano, como o italiano Claudio Magris, o sírio-libanês Adonis, o americano Thomas Pynchon, a canadense Margaret Awood e o japonês Haruki Murakami encabeçavam a lista de apostas para o prêmio deste ano.
A casa de apostas britânica Ladbrokes deu ao jornalista e acadêmico italiano Claudio Magris uma chance em três, seguido pelo israelense Amós Oz e pela norte-americana Joyce Carol Oates até a semana passada. Ontem, talvez como efeito das declarações de Engdahl, a cotação indicava Claudio Magris em primeiro, o poeta sírio Adônis em segundo e Oz em terceiro. Phillip Roth, o favorito de 2007, caiu para quinto lugar na lista da Ladbrokes. No último lugar, com uma chance em 150, ficou o cantor e letrista norte-americano Bob Dylan.
A romancista britânica Doris Lessing foi uma vencedora surpresa no ano passado.
Alfred Nobel, que fez fortuna ao inventar a dinamite, criou os prêmios para a paz, a literatura e várias ciências em seu testamento, em 1895. Os prêmios foram entregues pela primeira vez em 1901 e um prêmio adicional, para a economia, foi estabelecido em memória de Nobel, em 1968.
Os prêmios são entregues em 10 de dezembro, data da morte do fundador do prêmio, Alfred Nobel, em 1896.
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