O Sr. Murray certamente não pode ser acusado de ser racista. Mas eu ainda não estou convencido de que as diferenças entre o QI médio de brancos e negros não poderia ser explicado somente por fatores ambientais, afinal, também é notório que os brancos têm renda maior que os negros tanto nos EUA, quanto no Brasil, quanto em qualquer lugar do mundo. Se os brancos ganham mais porque são mais inteligentes ou se são mais inteligenets porque vêm de famílias que ganham mais, isso é o enigma do Tostines.
Eu não sei se podemos descartar se ele é racista, mas isso nem vem tanto ao caso. De qualquer forma, acho que o "racismo científico" hoje recentemente teve uma evolução meio análoga ao "criacionismo científico". Tal como o criacionismo científico ou meramente bíblico de antigamente eram mais "bobos" e ingênuos, também era o racismo. Havia até o "racismo bíblico", "Caim foi marcado" e esse tipo de coisa, até argumentos mais simplesmente de dedução precipitada com base nas aparências, e como o "Intelligent Design", gradualmente foi ficando mais sofisticado e com aparência científica.
Mas como no criacionismo, tanto as versões mais primitivas e as modernas, a sustentação da proposta se dá essencialmente na falta da consideração de todos os dados e possibilidades, e interpretação meio tendenciosa de uma só em particular.
A coisa toda praticamente desmorona só com o "efeito Flynn", uma tendência ao aumento de QI a cada geração, em todos os países em que se tem registro, evidenciando que simplesmente não pode haver uma correlação genética tão forte e estreita, porque a velocidade desse aumento do QI é muito maior do que a velocidade necessária para que pudesse ser baseada em evolução genética normal. A menos que se propusesse que praticamente todo mundo está tendo mutações benéficas ao mesmo tempo, o que é ficção científica.
E não é só isso. Tem coisas como, mesmo níveis anteriormente considerados seguros de contaminação de chumbo afetarem o QI, e correlação disso e de outras coisas com níveis sócio-econômicos, e "corrigindo", levando-se em conta esses aspectos, não se acha diferença entre as raças.
Os deterministas, de qualquer forma, continuam sempre insistindo que quando se corrige as coisas por classe social, e dessa forma eliminando as diferenças, na verdade está também por acaso se selecionando seletas estirpes mais geneticamente bem dotadas dos grupos que supostamente seriam de modo geral, geneticamente menos dotados. Isso lembra uns estudos antigos, em que os pesquisadores iam medir crânios e cérebros de brancos e negros para comparar, e, não detectando diferenças consistentes, concluiu que se deve ao fato de que a maior parte dos corpos de brancos para analisar eram de linhagens meio degeneradas, ruins, que largavam seus corpos por aí, e que se tivesse acesso a amostras de brancos de melhor qualidade, iria comprovar que tinham maior capacidade craniana consistentemente.
Mas acho que na verdade é possível, se levando em consideração uma porção de coisas, solucionar esse aparente paradoxo tostines, sendo a resposta a inversa daquela dos deterministas, ao menos para a questão das diferenças entre raças (e até sexos, em um grau em algo menor). Por exemplo, diferentemente das assunções do Murray, os EUA não são uma sociedade perfeitamente meritocrática, e não acho que possamos imaginar que os efeitos do racismo vão "desaparecendo" estatisticamente.
Murray assume basicamente que, a sociedade é perfeita, já se corrigiram as injustiças do passado, e hoje se chega sócio-econômicamente aos níveis "biologicamente determinados". As flutuações ocorreriam tanto para um lado quanto para outro, e se anulariam.
Mas na verdade não é assim, há diversos fatores atrapalhando esse cenário ideal, desde racismo mesmo, comprovado em estudos (currículos com nomes tipicamente negros, tem menor chance de serem chamados para entrevistas, até se comparados a currículos com nomes mais tipicamente brancos, que incluam o "fato" de que a pessoa é ex-presidiária), até efeitos mais sutis, coisas ainda um pouco parecidas com racismo ou sexismo, mas algo mais inconsciente e não necessariamente relacionado a qualquer desgosto/racismo, apenas maior identificação com pessoas mais parecidas, é mais fácil se simpatizar com elas se vemos algo de nós mesmos. Como as pessoas historicamente no poder são homens brancos, há um leve desvio, uma inércia nesse sentido.
Ao mesmo tempo, medidas que visaram corrigir desigualdades sociais, acabaram na verdade as agravando. A "affirmative action", cotas, welfare e esse tipo de coisa, segundo vários estudos, não só nos EUA mas de modo geral, tenderam a acabar piorando a situação das pessoas que deveriam ajudar, de diversas formas. A propósito, é irônico que o próprio Charles Murray tenha sido um dos que detectaram primeiro esses problemas das falhas das políticas sociais. Talvez ele tenha interpretado como resultado biológico, não sei. Outros autores que estudaram esses temas são John McWorther e Thomas Sowell. Tem um outro cara, Ira Katznelson, que aponta que uma das primeiras empreitadas de assistência social nos EUA, após a depressão, visando ajudar também (principalmente) brancos, teve aspectos racistas, ao mesmo tempo em que, diferentemente das outras políticas que foram mais focadas nos negros, eram melhor planejadas e acabaram dando certo como forma de proporcionar maior concentração de riqueza.
McWorther, Sowell, e também o comediante Bill Cosby ainda levantam outro ponto que acho que pode ser significativo, mas não sei em quanto, que é o de uma certa decadência cultural, um tipo de culto ao fracasso. Há inclusive a expressão "agir como branco" nos EUA, usada por negros com sentido pejorativo, se referindo meio que a se empenhar, se esforçar para obter sucesso.
Outros dois pontos interessantes de palestras que ouvi do site da WGBH forum network: defasagens de desempenho relacionadas com o estilo dos pais de criação dos filhos, que difere culturalmente entre grupos, e o papel um pouco negligenciado da riqueza que já se tem em facilitar uma porção de coisas na vida, em vez de se considerar a renda em si. O ponto sendo que, para famílias brancas, que geralmente concentram mais riqueza do que famílias negras, por indivíduo, mesmo que a renda não seja tão discrepante, ainda há facilidades como a escritura de uma casa ajudar a pagar a faculdade, como hipoteca.
E tem ainda mais... por exemplo... em outros países, a diferenças entre brancos, negros e asiáticos são diferentes, geralmente menores do que nos EUA, se não me engano (ao menos na Inglaterra são, ainda que existam)... e no Japão, se encontra diferenças equiparáveis entre castas de japoneses, não biologicamente distintas, por exemplo... enfim... não acho que já tenhamos chegado num ponto em que a sociedade e os resultados nos empregos sejam meio como de competições atléticas perfeitas, sem dopping e com condições iguais de treinamento, e números iguais e representativos dos indivíduos dos grupos sendo comparados.
Se falamos sem problemas que tal raça de gatos aprende truques mais rápido do que raça outra, porque entre seres humanos isto teria que ser uma mentira?
Porque entre humanos não há diferença genética o suficiente para constituir raças. Aliás, lembro vagamente de um estudo que mostrava que geneticamente alguns grupos negros tinham mais proximidade com caucasianos do que entre eles próprios.
Salvo alguma definição de mais clara de raça que me fuja, sempre me pareceu que etnia é um mero eufemismo para raça. Talvez não seja, mas é o que me parece... e de qualquer forma, continuo não entendendo... se a pequena variação genética entre um Tutsi e um Han podem definir com clareza uma maior probabilidade de um sujeito daquele grupo ser bem dotado de pênis ou de bunda em relação um indivíduo deste, não vejo o porquê de esta mesma diferença mínima de genes não poder fazer com que um "modelo encefálico" X predomine neste grupo enquanto um modelo Y predomine naquele outro.
Nota... não estou dizendo que realmente haja este tipo de diferença ou que, dadas as evidências, elas sejam prováveis. Só que me parece muito pouco "científico" alegar que somos todos homens então somos todos iguais e ponto acabou.
Por outro lado talvez seja melhor deixar o vespeiro quieto mesmo... vá que as causas de diferentes QIs não sejam só ambientais e a desgraça está feita. 
Etnia é usado quase como um "eufemismo" para raça, mas na verdade deveria ser só cultural, e não biológico. Ter mais ou menos melanina é algo biológico, não faz parte de uma etnia, mesmo que tenham variações associadas a etnias. E acho que nenhum antropólogo praticamente (exceto por "nacionalistas raciais") deve defender que "brancos", "negros" e "asiáticos" são etnias, esses grupos contém porrilhões de etnias, cada um deles, algumas vezes mais, outras menos, correlacionadas com diferenças biológicas. Uma tribo mais biologicamente aparentada pode se dividir em etnias distintas, e tribos mais distantemente aparentadas poderiam se fundir numa etnia só, por exemplo.
O problema todo é que taxonomia é um negócio complicado e meio arbitrário. Por exemplo, já li um resumo de artigo que dizia haver mais diferenças entre humanos e chimpanzés, espécies da mesma classe, que já propuseram que devessem ser até do mesmo gênero, do que entre
subordens de anuros (sapos, pererecas e rãs), um ranking que deveria representar mais diferenças.
Ou seja, os rankings taxonômicos não tem necessariamente um "valor" constante de diferença. Ainda que raças de outros animais tenham mais variações entre si que as raças humanas, teoricamente poderia ainda se defender que um punhadinho de genes específicos que se agrupam nessas diferentes populações são o que definem as raças no nosso caso (argumento defendido como sendo "a falácia de Lewontin" a idéia de que não há base para raças humanas por haver mais variação genética geral dentro de uma só população do que entre elas, o que foi sugerido por Lewontin).
Fica sendo meio arbitrário então, se são esses pequenos conjuntos de diferenças genéticas específicas, e não o volume de diferenças de modo geral. Já se defendeu que existissem de 3 a quase 40 raças humanas, mas teoricamente se poderia ir para mais de 40, porque praticamente se pode encontrar sempre pequenos aglomerados de genes que possam servir de identificação, até em famílias.
Com isso eu nem estou dizendo que por isso não há sentido nesse critério "taxonômico", talvez faça até mais sentido se falar dessas "racinhas" menores pela maior especificidade, da mesma forma que faz mais sentido para sentido para questões médicas eu saber do meu histórico familiar do que de "brancos" de modo geral.
E um tanto como esse caso dos judeus asquenazes também, que não são nem os judeus em geral, mas um grupo que sofreria mais comumente de uma doença comumente letal, mas que em heterozigose, ou algo assim, poderia ter diferenças positivas para a inteligência. Isso não só por "chute", mas pelos mecanismos da condição mesmo. Só que nem isso foi ainda totalmente comprovado, apesar de ser de longe a coisa mais bem embasada que já vi sobre diferenças de inteligência genéticas entre grupos.
Eu juro que tinha um ponto mais claro onde queria chegar quando comecei a escrever, mas me perdi. Acho que era que, o problema dessas arbitrariedades na taxonomia é que, essas diferenças menores sob o rótulo de "raça", na nossa espécie, podem ser usados para agravar (ou resultar nisso sem ser de propósito) os preconceitos, já que, fora dos humanos, os grupos que chamamos de raças tem diferenças mais significativas (e acho que ainda assim exageradas em muitos casos, especialmente em animais de estimação, apesar de também serem quase com toda certeza as raças mais diferenciadas). Talvez facilite a generalizar, achar que comportamentos e capacidades totalmente sócio-culturais têm fundo biológico.